O dia está chuvoso e cai uma tempestade que nunca vi antes. A luz dos raios no céu me dão medo e o barulho dos trovões me causam arrepios. Ou então, isso só é uma desculpa para ignorar o fato de eu estar com medo e tremendo de ter recebido a notícia que estou grávida. Isso foi um erro e agora isso é claro. Estar grávida no penúltimo semestre da faculdade de medicina para mim é fatal. Minha avó irá me matar e não pagará mais a minha faculdade e isso será pior que a morte, não posso deixar essa criança nascer. Ou posso? Um filho ou meu sonho?
Corro o mais rápido que posso para o apartamento dele, preciso contar o que houve. Preciso contar que estou grávida e o filho é dele. Toco o interfone totalmente molhada pela chuva. Meu cabelo pingando e minhas roupas tão molhadas que me causaram frio. Ele me viu pela câmera de segurança e liberou minha entrada. Corri do gramado até chegar a entrada de sua mansão e o vi enrolado em seu roupão. Sua testa franzida ao não entender o que eu estava fazendo ali às 23 horas da noite.
- O que houve? - Ele perguntou ao se aproximar de mim.
- Precisamos conversar. - Eu disse vendo suas empregadas me trazerem toalhas e roupas quentes.
- Vamos. - Ele me chamou para entrar.
Depois de trocar de roupa e me sentir mais quente, ele me esperava em sua sala de estar de frente para a lareira onde tinha duas xícaras do que era provavelmente chocolate quente.
- Por favor. - Ele apontou para a poltrona em sua frente e me sentei. - O que é tão importante a ponto de vir aqui em uma noite chuvosa como esta?
- Eu estou grávida. - Falei por vez e ele riu.
- Não brinque comigo. - Ele disse bebendo seu chocolate quente.
- E por que eu brincaria? Tenho eu motivos? - Eu disse e ele se mostrou paciente.
- Quantos meses? - Perguntou rígido.
- Dois. - Ele respirou fundo.
- Por que não tomou as pílulas? - Me encolhi ao ouvir seu tom de voz aumentar.
- Eu não posso tomar, já te falei. - Olhei sua expressão de ódio. - Posso ter câncer se eu tomar as... - Vi sua xícara voar no chão e se quebrar em pedaços.
Me assustei e me encolhi segurando firme a minha xícara. Seus olhos estavam possessos de raiva, coisa que nunca tinha visto antes, desde o tempo que nos conhecemos.
- Dá seu jeito! - Ele gritou. - Eu não vou ser pai de maneira alguma!
- Mas é seu! Não tem escolha! - Eu disse com medo dele que riu.
- Que tal fazermos assim? - Ele disse calmo novamente. - Vamos a uma clínica de aborto e resolvemos o problema.
- Quer dizer que nosso filho é um problema? - Eu perguntei irônica.
- Na verdade é e isso não é meu filho. Quero deixar claro. - Ele se levantou andando de um lado para outro.
- Eu não sei, sabia que isso é crime?
- É claro que eu sei, serei um advogado daqui a dois meses e não vou largar tudo que construí por causa de um pentelho. - Ele me olhou. - Já pensou na sua faculdade de medicina? Se não aceitar vai se virar sozinha e também não terá mais faculdade. Pense nisso. - Ele disse se aproximando de mim.
- Seria só eu trancar a faculdade e... - Parei ao ver que lágrimas caiam dos meus olhos e ele revirou os olhos.
- Me poupe! É só um embrião! Daqui a cinco anos você terá mais, fará diferença? - Me levantei indignada. Como ele falava assim do filho?
- Cala a boca! - Eu gritei. - Você se ouve? Ouviu o que você disse? Você deveria ir... - Meu rosto virou com força ao a mão dele entrar e contato com o meu rosto.
Minha bochecha queimava e eu tinha certeza de que ficaria a marca exata. O olhei com medo e surpresa me afastando e ele por sua vez me olhava com indiferença formando uma sombra atrás de si por causa da lareira.
- Nunca mais grite comigo. - Ele disse calmo. - Quem você é? - Ele passou a mão pelo cabelo. - Irá fazer o aborto. Tudo bem meu amor? - Ele me olhou e concordei.
Parte de mim concordava por medo do que ele poderia fazer comigo, a outra concordava por sair uma responsabilidade das minhas costas e eu poder seguir a vida normalmente. Que futuro eu teria com um filho? Mãe solteira abandonada pela família? O que eu iria fazer?
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A clínica é branca e silenciosa. Não ouço passos ou telefones tocando. A ponta dos meus dedos estão brancos de culpa e nervosismo. Olho para o lado e o vejo mexendo em seu celular jogando jogos de carta. Como ele consegue estar calmo?
- É a vez de vocês. - Disse uma mulher com avental branco e sorriso cordial.
Como ela também consegue estar calma a poucos minutos de matar um ser humano? Como eu consegui esconder essa gravidez por mais alguns meses e vir aqui fazer isso? Eu não sei, mas talvez seja melhor assim.
Deitei na cama do pequeno quarto que era reservado para nós e a mulher colocou algo em meu nariz para eu dormir. Foi quando eu senti um chute em minha barriga, mas era tarde demais. Apaguei.
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O primeiro capítulo será postado no dia 01 de outubro de 2016 (sábado) e os outros nos dias que já confirmei. Beijinhos e até lá!