Eu fui para o meu quarto, Gabriel subiu logo em seguida. Queria ter subido para a boca, observar o que estava acontecendo dentro do meu morro, mas saber que havia alguém aqui dentro, que eu não tinha o conhecimento e queria o meu mal, me fez querer ficar dentro de casa.
O motivo era nítido, isso estava me amedrontando, estava me coagindo, eu sempre tive noção de tudo que iria enfrentar, sempre soube quem era meus inimigos, quem queria o meu mal e quem não iria hesitar na hora de me matar, mas agora, eu nem ao menos sabia quem era.
- Já decidiu o que vai fazer? - ele perguntou curioso, sempre que estou pensativa, é sinal de que algo maléfico passou por minha mente.
- Sim. Vou matar todo mundo! - sorri ao fim e ele riu.
- É muita gente, não acha?
- O Madrugadão não é problema, não me importo com o Ruan e nem com os morros que ele escolheu, eu preciso saber quem é a pessoa que está no meu morro, não gosto da ideia da Helen e a Taciane estarem no mesmo lugar e tramando o meu mal. Quando eu pegar as duas, pode ter certeza que a morte delas não será bonita!
- Você é do mal! - ele gargalhou junto comigo e a porta se abriu, ninguém bateu na porta ou pediu licença, entrou a tropa inteira.
- Pode me explicar o que o Pablo e o TG estão fazendo lá em baixo na cozinha? - Celo perguntou cruzando os braços, irritado.
- E o que o Gabriel está fazendo aqui? - Jonathan perguntou aproveitando a brecha.
- É o quê? - Julia arfou no final, enciumada.
- O bicho está pegando não é? - Nando perguntou olhando no fundo dos meus olhos.
- Cadê as respostas para as perguntas? - Jade perguntou estranhando meu comportamento.
- O que tenho a dizer é que quero que voltem a não falar comigo, estava tudo perfeito, não vou falar nada por que não é da conta de nenhum de vocês, e da próxima bate na porta, agora que respondi podem ir embora.
- Eu disse que ela não iria falar, ela nunca vai mudar! - Catt entrou no quarto irritada, com as mãos na barriga, eu aceitei tudo que ela falou comigo, agora ela estava abusando de toda a minha paciência.
- Chega de "mimi"! Eu sei muito bem quem eu sou, e não pretendo mudar, você teve 17 anos para se adaptar, para reclamar, você abriu a porra da boca antes? Se não aprendeu a lidar comigo o problema é seu, não me importo, quer que eu morra? Tem certeza? É só mais uma Catarina, a partir da hora que viraram o rosto para mim, eu não devo satisfação.
- Eu pensei que aprenderia com o desprezo. - Celo disse preocupado.
- Eu fui desprezada a minha vida inteira por gente bem inferior a mim, e eu mudei em algum momento da minha vida antes? Não, pois bem! - dei de ombros. - não vou mudar agora.
- Como ficou assim Luísa? - escutei a voz por detrás deles, Gilberto apareceu, ele estava o dia todo fora, escutar isto dele me surpreendeu.
- Perdi minha mãe quando era criança, você me abandonou, me deixou com mais dois irmãos sem ter o que comer, sem ter como me cuidar, eu fiz os meus corres, eu fui muito humilhada, ou eu virava o carrasco que sou hoje, ou continuaríamos na mesma merda que você nos deixou.
Eu tentei não exaltar no tom da voz, mas não consegui. Eu simplesmente começava a me lembrar de tudo que eu tive que passar nesta vida, a raiva me dominou, eu me perguntava se caso eles estivessem aqui, se eu teria o sangue de pessoas na minha mão e um alvo em minhas costas.
- Por que você culpa as pessoas pelo que é? - Catarina gritou brava.
- É por culpa deles que sou assim. - meus irmãos sempre souberam da luta que eu tive que travar, das humilhações que tive que passar para quê pudéssemos ter o conforto que temos hoje, mas há certos acontecimentos que tive que esconder para que eles não olhassem para mim como olham agora.
- Eu desisto Luísa, faz o que bem entender, eu não me meto mais, por mim, eu não irei mais pisar na boca. - Celo disse decepcionado.
- O Léo vai fazer o mesmo. - Catt completou.
- Tudo bem! Não vou precisar de nenhum de vocês. - disse num sorriso amargo.
- Mas vai precisar de mim, é por isso que estarei aqui! - Nando disse se afastando deles e vindo para o meu lado.
Meu sorriso se alargou assim que vi a sinceridade em seus olhos, Nando me ensinou tudo que sei, e saber que ele ficaria comigo até o fim, me fazia ficar feliz em meio a tanto sofrimento.
- Gabriel? - Júlia perguntou, mas ele continuou sentado na cama em silêncio.
Eles saíram, Gilberto tentou falar comigo, mas eu o cortei imediatamente, não queria escutar nada do que ele tinha para dizer, eu tinha problemas demais para escutar seus arrependimentos e conselho.
- Então, me atualizem, eu mandei mal, mas voltei... - Nando disse me dando um abraço apertado.
- Você mandou mal pra caralho! - Gabriel disse rindo.
- Não vacila de novo em! - eu avisei a Nando e ele prometeu permanecer ao meu lado ate o fim.
- Gabriel liga para o Fernando e manda ele elaborar um mapa do morro do Mangueira, eu quero isso para amanhã.
- Este é o seu plano A? - ele me perguntou audacioso.
- Não, é o plano B!
Passei a noite com o Pietro, ele dormiu muito tarde, mas não me importei. Gabriel ligou para o Fernando e depois se juntou aos demais para irem em uma boate perto daqui, Nando ficou comigo até Pietro dormir, ele foi ajudar Fernando a olhar a boca para mim.
Acordei tarde no dia seguinte, Celo me acordou falando que havia visitas lá em baixo, eu me arrumei rapidamente e desci, não olhei para os degraus e desci com tanta presa que meus pés se embolaram e eu caí, foi um tombo horroroso que me rendeu uma mão dolorida pra cacete!
Quando me levantei, olhei para dentro da cozinha, Fernando, Pablo e TG se seguravam para não rir, minha mão doía pra cacete!
- Se rir eu corto o salário! - disse furiosa e eles viraram de costas para mim, escutei as risadas baixinhas. - Porra!
- Machucou? - Fernando perguntou atencioso.
- Isso é o de menos! - disse fazendo careta. - trouxe o que eu te pedi?
- Se liga, tem todas as saídas. - Fernando estendeu o mapa desenhado na mesa da cozinha, meus olhos brilharam ao notar que estava detalhado.
Eu fui até o outro lado e peguei uma xícara e coloquei um pouco de café, enquanto terminava de comer, ele me explicava todos os detalhes.
- Esse é o morro todo? - perguntei para provocar.
- Sim! Eu te mostrei as melhores entradas. - Fernando disse um pouco chateado.
- Quem te passou as informações? - perguntei curiosa.
- O Cabeça! Ele sabe do morro, e tem um informante.
- Então cadê a porra do Cabeça? Não é ele que sabe do morro inteiro? - eu gritei irritada, e eles passaram o rádio para o Cabeça, ele desceu em dez minutos.
- O que você deseja? - Cabeça disse sorrindo ao me ver, ele me deu um abraço apertado. - faz muito tempo que não te vejo.
- Desapega! - disse brincando. - Te chamei por que foi você que mostrou a quebrada lá, o Fernando sabe explicar, mas quero que você me explique.
- Você vai invadir o Mangueira? - ele sussurrou para que as outras pessoas que estavam lá em casa não escutassem.
- Estou cogitando a ideia! Preciso saber quem está aqui. - cruzei os braços esperando que eles me explicassem o mapa.
- Você só vai saber quando bater de frente. - Gabriel disse o que os outros não queriam dizer.
- Eu vou ter que esperar tentar me matarem para descobrir? - perguntei puta da vida.
- Sim!
- Sim, porra nenhuma Fernando! Eu te pago para descobrir quem vai querer me derrubar. - disse batendo na mesa e ele coçou a cabeça, eu sei que seria difícil, mas ele teria que descobrir.
- Voltando ao assunto, Ruan é descuidado, ele deixa muitas pessoas para tomarem conta das armas e drogas, ele mesmo que pega e entrega as encomendas, ou seja, é fácil chegar nele e na Helen. Soube que ele gosta muito dela, então se pegar a garota, ele vai fazer tudo que quiser.
- Se eu pegar essa menina, eu mato ela! - estava prevendo que esse assunto iria me render uma dor de cabeça terrível. - Celo e Catarina, estão "bicando" a minha conversa por quê?
- Só estou tomando café! - Celo disse erguendo sua xícara de café.
Eu sai da cozinha, pois iria tomar um banho, eu tinha que levar Pietro ao médico novamente e eu queria olhar minha mão, estava doendo demais. Quando estava saindo, Catarina também precisava ir, mas não quis pedir uma carona, implorou ao Celo para leva-la, e deixo detalhado que usaram um dos meus carros.
Se quiserem fazer pirraça, eu vou dar a eles um bom motivo para chorarem.
- Deixa que eu dirijo para você! - Mia disse pegando minhas chaves, vendo que realmente minha mão doía.
- Obrigada! - eu sorri, assim que entrei no carro e fomos saindo do morro.
- Luísa, eu não sei qual foi o seu erro, mas acredito que todos estão errados. Você por nunca escutar e eles por fazerem do jeito que querem, as pessoas mudam quando recebem confiança e bondade, não quando são desprezadas e rebaixadas por erros.
As palavras de Mia ficaram o caminho inteiro na minha cabeça, eu pensei tanto em tudo que ela falou que me distrair na ida e na volta. Minha mão não era nada demais, ainda hoje ficaria bem e Pietro estava ótimo e saudável.
Quando voltamos deixei Pietro com Mia, eu fui para a boca e passei a tarde e a noite lá, pensando em tudo. Mia estava certa, mas como eu iria mudar? Se eu ficasse boa, eu abriria brechas para as pessoas machucarem não só a mim, mas a minha família inteira.
Pergunto-me como essas três semanas se passaram tão rápido. Eu estou uma pilha, meu morro está quieto, e isso me incomoda muito, pois sempre que isso acontece sou pega de surpresa por uma invasão.
Os outros, nem olham para a minha cara. É horrível saber que os dois irmãos que você criou a vida inteira finge que você não significa nada para eles. Celo só aparece na boca quando estou em casa, ele sobe, conversar com meu pessoal e ainda por cima usa minhas drogas, eu finalmente decidi fazer o que pretendo em relação a isso e eu quero ver se eles vão gostar.
Fora meus problemas que ainda não foram resolvidos, tenho um novo! Celo está há três semanas com Fabiana, algo me diz que é apenas para me irritar, ele colocou essa puta pra dentro da minha casa sabendo de todos os B.O que ela já me gerou.
Catarina está passando mais tempo na casa que ela e Léo estão decorando para morarem, particularmente não vejo motivos para ela ir embora, e estou sabendo que ela definitivamente parou de estudar, o que me irrita o dobro do que saber que o meu irmão namora uma prostituta. Eles não valorizam o esforço que fiz por mim mesma e por eles.
Jade e Julia, não falam comigo. Eu vejo a força que fazem para que eu peça desculpas e tente mudar, mas não vou fazer isso. Julia pensa que estou tendo um caso com Gabriel ou influenciando ele a terminar o relacionamento que tem com ela de alguma maneira, paranoia de mulher ciumenta. Jonathan também não fala comigo, ele vive a me olhar de longe, mas não diz nada quando estamos perto. Essa semana Mia e Pietro foram para o morro do Vitor, ele faz muita falta, mas já passou da hora dele voltar a ser cuidado pela verdadeira família dele.
Eu acordei com muita preguiça de sair de casa, mas eu precisava, pela manhã eu fui até onde ficava meu armamento e conferi tudo, olhei cada encomenda nova, e em seguida olhei meu estoque de drogas, conferi o que eu estava para receber e iria receber pelas encomendas que iria fazer.
Quando fiquei mais folgada dos meus afazeres peguei minhas coisas e fui para a praia de carro, eu estacionei e fui caminhando até a região das pedras, hoje não era um bom dia para praia, pois estava frio e nublado. Eu precisava me afastar um pouco do meu morro, eu queria pensar com clareza em tudo que estava fazendo, onde foi que eu errei com a minha família? Será que eu fiz demais em troca de nada?
- Em quê está pensando? - Me assustei com a voz do Vitor, eu estava próxima da beirada de uma das pedras, meu coração disparou com a ideia de quase cair daquela altura.
- Em tudo! - me virei para ele com um sorriso. - ninguém fala comigo, todos me culpam pelo que sou, mas antes ninguém se importava.
- Não precisa deles, não quando tem a mim para conversar a hora que quiser! - ele piscou, Vitor segurou meu queixo e se aproximou para receber um beijo, eu lhe dei este beijo.
- Vitor, saber disso me faz pensar que estou no fundo do poço. - disse rindo e ele não gostou.
- Como assim? - ele perguntou envergonhado e chateado.
- Até ontem você era meu inimigo, agora que o Pietro está com você... - ele me interrompeu.
- Não vem com essa, acha que ainda quero a sua cabeça? Qual é Luísa eu me meti em uma fria para que pudéssemos continuar no juntos.
- Juntos? - perguntei abismada e ele se aproximou e mordeu de leve minha bochecha.
- Sim! - ele disse malicioso e comecei a rir.
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♚ Vitor ♚
Luísa. Esté nome não sai da minha cabeça. Não mais.
Eu devia fazê-la pagar por tudo que fez a mim e minha família, mas sinto uma maldita atração por ela, era como se os homens da minha família fossem amaldiçoados a gostar daquela mulher.
Vamos ser claros, Luísa tinha um brilho que mulher nenhuma iria ter. Ela conseguia ser perfeita e ainda sim ser o pior pesadelo de um homem.
Eu passei muito tempo com ela, ela fez o que nem os mais próximos fariam por mim, é por isto que não consigo mais prosseguir os antigos planos que eu tinha para ela. Ela era dona de um morro, mas ainda continuava a ser aquela garotinha linda que me fez cometer muitas loucuras na adolescência.
Pietro voltou para casa, e eu não poderia está mais feliz. Esta noite tive dificuldades em dormir, pois ele procurava pela Luísa e eu nem ao menos sabia o que dizer a ele. Eu tive que adulá-lo da maneira que pude, chegou até ser engraçado, ele era a minha calmaria no meio a tanto tumulto.
Meu morro estava uma bagunça, eram policiais subindo o morro, prendendo os mais importantes homens do meu morro, além disso, tinha o Ruan, aquele filho da puta. O cara invadiu o meu morro duas vezes, roubou duas mercadorias minhas, ele estava pedindo para morrer. Encontrei Luísa mais cedo, ela não parecia bem até passar parte da tarde comigo, até combinei de voltarmos a praia mais tarde, mas eu tenho um imprevisto.
Ruan. Ele ia subir o meu morro pela quarta vez.
HAA! DEVEM TER SURTADO COM A PEQUENA PARTE DO VITOR! HAHA
Meninas obrigado por cada voto e comentário, eu fico muito feliz ao saber que ficam ansiosas pelos capítulos!
Espero que tenham gostado, volto depois se Deus quiser com um capítulo bombástico!!!
P.S alguém estará entre a vida e a morte!
beijoooos