𝐄𝐍𝐓𝐑𝐄 𝐆𝐔𝐄𝐑𝐑𝐀

By kellykaliban

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Irina e Christopher estão casados há cinco anos. Ele é um soldado americano, ela é uma empresária conhecida m... More

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9 (PARTE 1)
Capítulo 9 (PARTE 2)
Capítulo 11
Tributo
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
O INÍCIO DO FIM
Novo Ano
Epílogo

Capítulo 10

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By kellykaliban





SARGENTO CHRISTOPHER WILLIAMS - base militar americana, Norte do Iraque.

Abro a bíblia e meus dedos chegam até onde eu realmente queria estar. Começo a ler mentalmente, mas logo estou de joelhos recitando o Salmo 27 em voz alta. Esse capítulo sempre me deu segurança. Irina e eu sempre o líamos... Eu já estive em vários conflitos e pequenas guerras. Mas, claro, que guerra se compara com uma Mundial? Agora é briga de cachorro grande. E eu temo. Não só por mim. Eu só não quero morrer sem obter o perdão de Irina antes. Ela sempre esteve certa. Eu não devia tê-la deixado sozinha, jamais. Que merda de companheiro eu fui. Ela merece ser feliz, mesmo que não seja comigo. Admiro como ela aguentou tanto tempo... Vai doer, muito. Mas eu prefiro que ela viva bem, mesmo que não seja eu a pessoa quem causará isso. Passei todos esses anos sendo um maldito egoísta. Eu preciso ao menos me redimir.

- Sargento!

Termino de ler o salmo e só então olho em direção a porta. Will ainda está em continência. Levanto-me lentamente e sento na cama.

- Está na hora, Senhor - ele diz.

- eu sei - pigarreio enquanto guardo a bíblia na escrivaninha - minha arma já está limpa?

- Sim, senhor - ele sorri - fiz todas as tarefas hoje de manhã.

- bom garoto - bato em seu ombro enquanto saio do quarto, logo o garoto me alcança.

- em quanto tempo o senhor acha que vamos tomar Bagdá? - Will pergunta. Ele parece nervoso.

- não tenho a mínima idéia. A cidade já foi bombardeada essa manhã, eles devem estar bem mais vulneráveis. Talvez em umas semanas... Ou meses. Eu ainda não sei o que vamos encontrar lá - sou sincero.

Entro em uma tenda e então pego minha FN SCAR.

Sinceramente, amo minha M4, mas a scar é uma opção melhor para combate. De qualquer forma, também terei a M4 à disposição. Coloco duas pistolas em meus coldres e logo sou surpreendido quando alguém pula em minhas costas. Reviro os olhos de imediato quando vejo que é Oliver Young.

- vamos explodir algumas cabeças! - ele diz enquanto faz uma dancinha, colocando sua M4 pro alto.

- até parece um traficante com essa arma pra cima - Connor zomba de Oliver e me cumprimenta. Liam Harris também entra na tenda e logo começamos a conversar.

Nós quatro temos estado muito unidos desde nossa última missão. Quem diria... Eu, amigo de Oliver Young. Esse é o resultado de não se ter Netflix no deserto.

- eu estou armado até os dentes! - Oliver se gaba.

- só tente não levar um tiro - Liam alerta.

- nós vamos estar em postos diferentes, então não vamos proteger uns aos outros - Connor diz - mas dêem um jeito de sobreviver. Apesar de tudo, não quero enterrar esses seus traseiros gordos.

- você disse traseiro? - Oliver diz e então abaixa suas calças e vai em direção a Connor, que sai correndo da tenda. Logo, uma cômica perseguição começa... Oliver corre atrás de Connor pelo pátio com as calças abaixadas, fazendo todos os soldados rirem.

Rio até sentir uma dor na costela. Olho em direção a Liam, ele está sentado na saída da tenda, fumando um cigarro e olhando para o nada. Ou melhor, para o deserto. Liam é o mais calado de nós, o que me leva a crer que ele é o mais sábio. Puxo uma cadeira e me sento ao seu lado.

- no que está pensando? - pergunto.

Ele passa o cigarro para mim e logo dou uma profunda tragada.

- você sabe que Oliver está cagando de medo, certo? - Liam diz, por fim.

- não parece - respondo.

- ele só tenta nos fazer rir para que não possamos pensar na merda que há por vir. Ele faz todas as brincadeiras para tentar enganar até a si mesmo. Mas eu sei... Ele só não quer morrer no meio de um combate.

- provável - concordo - eu também não quero.

- nenhum de nós - ele pega o cigarro das minhas mãos - mas não vamos fugir como maricas.

- então vamos logo fazer essa merda - levanto-me e saio da tenda.

Vivo ou morto. Eu vou lutar até meu ultimo suspiro.




IRINA WILLIAMS - Aeroporto Roissy-Charles de Gaulle. Paris, França.


Os passageiros vão descendo as escadas do avião, um por um. Eles não parecem apressados e abraçam uns aos outros como se fossem amigos há anos. Uns fazem questão de vir falar comigo, outros apenas sorriem. Eu continuo sentada em uma poltrona qualquer, com a mente vazia, somente olhando pra cada um.

Ainda não consigo acreditar. Que eu passei por uma situação dessas. Quer dizer, eu salvei essas pessoas! Minha vida ultimamente tem estado tão louca... Acho que nem o Chris me ganha na questão aventura. O lado bom disso é que eu realmente vou ter uma história incrível pra contar pros meus filhos. Se um dia eu tiver...

Esse desejo parece cada vez mais inatingível pra mim. Sempre tive uma enorme vontade de ser mãe. E essa vontade só aumentou com Christopher ao meu lado. Porque eu sei que ele seria um pai incrível. Mas, agora... Eu não sei se vou estar viva após essa guerra, ou se ele vai estar. Talvez não reste vida alguma depois dessa guerra. Talvez eu perca a coragem de colocar meus filhos em um mundo como este. São muitos empecilhos... Mas eu preciso continuar positiva. Ainda estamos no início de tudo, muita coisa ruim ainda há por vir. E eu não sei se estou preparada pra isso.

- no que está pensando? - Aleksander senta ao meu lado.

- Em nada - suspiro - ou em tudo. Quer dizer, minha mente está uma bagunça. É o nervosismo por causa do que passamos... O medo do futuro.

- eu também estou com medo - ele me olha nos olhos - achamos que o pior já passou, mas eu sei que ainda tem muita encrenca vindo. Estava indo pro Brasil pra fugir da guerra, mas olha aonde eu vim parar! Na França! Dá pra acreditar? É como se estivéssemos no olho do furacão.

- exato - admito - o EI é inimigo declarado da França. Acho que é o país que eles mais odeiam.

- você sabe o por quê? - ele pergunta.

- eu nunca procurei me informar sobre o EI, acredite se quiser, mesmo tendo um marido soldado - digo - mas acho que tem a ver com o fato da França atacar algumas cidades com pessoas inocentes da Arábia? Atacar com aviões, algo do tipo.

- Ah, nossa, ótima explicação - ele sorri - então você tem um marido...

- Sim - sorrio de lado - Christopher Williams.

- um soldado americano... - ele encara o chão por alguns segundos.

- Sim - suspiro - espero que ele esteja bem.

- eu não desejaria ser um soldado nesse momento. Sou muito covarde pra isso.

- qual é. Você salvou mais vidas hoje do que muitos soldados em anos - bato em seu ombro.

- não, Irina. Você as salvou. Eu só dei uma mãozinha.

- a única coisa que eu fiz sozinha foi matar um terrorista. O resto eu não conseguiria sem você - digo com firmeza.

- justamente por isso você é a heroína. Eu não teria feito nada se não fosse por você. Acabei de dizer que sou um covarde, lembra?

- Ah, por favor - levanto-me - sem mimimi, Aleksander. Você foi muito corajoso, e sinto muito informar, mas vai precisar ser mais ainda durante essa guerra.

Finalmente crio coragem pra sair do avião. Ando até a porta e me impressiono com a vista de fora: Vários carros de polícia cercando o local e ambulâncias atendendo os passageiros. Já é noite e o céu está estrelado como nunca. Desço as escadas e mal coloco os pés em terra firme, quando um policial vem em minha direção.

- Irina Williams? - ele pergunta.

- Sim - concordo - em que posso ajudar?

- sou o delegado Jean Sartre. Gostaria que respondesse algumas perguntas. Os passageiros só falam de você. Meus parabéns pela atitude, mesmo sendo bem suicida.

Sorrimos.

- Momentos loucos geram medidas loucas - respondo - fique à vontade para perguntar.

- primeiramente, como vocês vieram parar aqui? - ele pergunta, parecendo intrigado.

A imagem do terrorista tatuado vem à mente.

- Bom... - e começo a contar tudo o que lembro, desde quando entrei no avião.


SARGENTO CHRISTOPHER WILLIAMS - Bagdá, Iraque.

O Apache aterrissa e antes mesmo de sair, consigo ouvir a loucura vinda de fora. Tiros, explosões, gritos desesperados... Fecho os olhos por uns segundos, mas a luz do dia me faz abrí-los novamente. Saio do avião e logo os soldados se separam. Meu grupo para e espera minhas ordens. Antes de virmos, todas as posições foram planejadas. A missão do meu pelotão é ir para uma das entradas da cidade e não permitir a entrada ou saída de ninguém.

- Atenção! - grito - vamos precisar correr muito. A entrada que iremos ficar está há vários quilômetros daqui. Vocês vão suar, vão ficar sem fôlego, vão querer desistir, isso tudo estando no meio de uma maldita guerra onde vocês podem levar um tiro a qualquer momento! Se alguém quiser desistir, esse é o momento!

Olho para todos firmemente. Todos continuam imóveis e decididos, principalmente Will. Coloquei-o em meu pelotão, realmente quero ficar de olho nele.

- tudo bem então, vamos lá! - digo e começo a correr.

Tecnicamente já estamos dentro da cidade, mas a verdadeira Bagdá está depois das pontes. Pego meu GPS e analiso. Já estamos na pista principal, só precisamos segui-la para chegar até uma das pontes. Estar aqui, nessa circunstância é meio frustrante. Não vou mentir, sempre quis vir para Bagdá. Como um bom intelectual, sempre gostei de história... Só de me imaginar vindo até a antiga Mesopotâmia meus olhos brilhavam. Há dois rios em Bagdá: O grande rio Tigre e um menor, chamado Diyala. A ponte em que ficaremos situa-se sobre o rio Diyala. O que sempre me deixou fascinado é o fato dessa região ser árida, mas à medida que nos aproximamos dos rios a paisagem vai ficando mais verde. E é assim que eu noto se já estamos perto. Não há tantas casas e pode-se ver o horizonte de areia branca quando olhamos para o lado. Após vários minutos de corrida, começo a notar que há mais plantações e o verde das folhas me deixa encantado. Logo, a pista se separa em três. Os soldados param, exaustos até para falar. Olho no GPS e vejo que não é só uma ponte, mas sim duas. Uma de cada lado. As pistas que levam a elas são a da esquerda e a do centro. A da direita leva para outro caminho.

-- são duas pontes - informo - vamos nos separar. Will! vá com metade para a pista da esquerda. O resto me acompanhe.

-- sim, senhor! - ele dá um sorriso secreto.

Quero que ele se sinta importante, sem notar que estou protegendo-o demais. Will não é uma criança. Ele é um soldado americano e fez por merecer estar aqui. Sua coragem será posta a prova.

Andamos rapidamente e quanto mais me aproximo, mais ouço o barulho de guerra. Tiros, gritos e fumaça, muita fumaça. As colunas de fumaça são vistas do céu.

Uma parte do exército já atravessou as pontes, são eles que lutam nesse momento. Há barreiras de ferro e arame farpado bloqueando as pontes, então logo montamos guarda. Posiciono minha arma e tento olhar para dentro da cidade. Posso ver alguns soldados correndo, alguns iraquianos inocentes. Isso é o pior, estamos todos misturados. Os muitos pagam o preço pelo que poucos fizeram. Isso é guerra. Alguns iraquianos surgem correndo em nossa direção e logo os soldados atiram. Eu não me movo em nem uma das vezes. Ainda não quero, mas é inevitável, alguma hora vou ter que matar alguém. Eu já matei mais de cinquenta pessoas, mas isso foi há muitos anos e em outros conflitos. Agora, sinto vergonha... É por causa dessas mortes que eu sou sargento. Assim é nos Exércitos. Quanto mais vidas tiradas, mais degraus você sobe. Você até recebe medalhas. Uma vida vale uma medalha? Não tenho tempo para responder. Um caminhão vai com toda velocidade pela outra ponte e ultrapassa a barreira, atropelando dois soldados. Tudo o que consigo ver é Will e outros soldados atravessando a ponte, indo atrás do caminhão.

-- NÃO ABANDONEM OS SEUS POSTOS! - grito, mas eles já não ouvem - Gelleger! Assuma o comando.

-- Sim, senhor! - ele responde e eu corro até o fim da ponte. Maldito, eu vou matar Will! Eu devia imaginar... Esses jovens soldados sempre querem provar a si próprios. As duas pistas continuam indo sempre em linha reta. Há vários carros abandonados e uso-os como escudo. Corro mais, Will e os outros já estão há vários metros longe de mim. Atiro em dois iraquianos e continuo correndo.

-- WILL! - Grito.

Eles saem da pista e dobram, entrando numa rua. Minha fúria aumenta gradualmente, eles estão desobedecendo a ordens claras. Não sei qual castigo eu darei, mas vou planejar um bem doloroso. Entro na mesma rua e vejo que eles estão trocando tiros com iraquianos. Há uma barricada de sacos entre eles. Me junto a eles e após recarregar minha arma três vezes, finalmente matamos todos.

-- o que vocês pensam que estão fazendo? - pego Will pelos ombros e o chacoalho.

-- senhor me desculpe senhor! Mas eles mataram dois dos nossos, temos que ajudar os outros que estão em combate - Will responde.

-- o dever de vocês é proteger a entrada! - estou tão nervoso que sinto as veias saltarem de meu pescoço - voltem seus merdas! Rápido!

Começamos a fazer o caminho de volta, mas paro quando ouço Will falar.

-- Desculpe Chris, eu não posso fazer isso.

Viro-me só a tempo de vê-lo pular a barricada e correr em direção a outra rua. Os segundos seguintes passam como um filme de terror na minha mente. Ele não chega até a outra rua.

Porque uma granada o explode antes disso.

Não consigo me mexer, nem acreditar...

-- Will... Wi... WILL!


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