Omar e a esposa estacionaram no prédio dele e subiram para o apartamento, encontrando a tia a dar instruções à empregada que cuidava de ambas as residências.
Marina viu o sobrinho mudado, radiante e feliz como não o via desde criança. Ao seu lado estava a mulher da vida dele e notou logo as alianças.
– Finalmente o destino corrigiu as coisas, filho – abraçou Júlia, sorrindo. – Estás linda como nunca, Júlia. E a vossa filha?
– Ficou em Santo Agostinho por causa da faculdade. Fim de semana, vamos para lá.
Enquanto a esposa instalava-se, Omar foi para a polícia e encontrou o chefe no seu gabinete. Entrou carregando dois cafés e sentou-se estendendo um deles.
– Oi, Paulo. Café?
– Vem mesmo a calhar, Omar. Eu já estava indo lá pegar um porque minha térmica ficou vazia. Voltaste hoje?
– Voltei. A federal local já pode caminhar por si mesma com os levantamentos que fiz. O triste, Paulo, é que alguém me traiu e acho que é daqui.
– Como deduziste isso? – perguntou o chefe, espantado. – E o que te aconteceu?
– O Cobra de há dezessete anos tinha um irmão gêmeo e ele estava por trás do crime organizado de lá. A boate, na verdade, era dele e usada para lavagem de dinheiro. Alguém passou a informação sobre a minha filha e ela foi sequestrada. A coisa ficou preta, muito feia mesmo. – Omar tomou um gole de café e continuou a contar a história. – Precisei de invadir a favela e detonar com tudo. E eles assassinaram o irmão da chefe da polícia federal de lá.
– Ouvi dizer que é uma tremenda gata, Omar.
– Bah, bota gata nisso, meu caro. Um verdadeiro espetáculo de mulher. Bonita, gostosa, inteligente...
– E essa aliança? – Paulo interrompeu, rindo.
– Casei com a minha Júlia, Paulo. – Omar sorriu, feliz. – A melhor coisa que me aconteceu na vida.
– Bah, mas então a bela delegada chefe não virou a tua cabeça, tchê? – perguntou o chefe, debochado. – Considerando o histórico da Angélica...
– Prefiro não falar nela, Paulo. Até hoje ainda sinto muita dor pela morte tão estúpida, sem falar do meu filho.
– Desculpa. Bem, o que aconteceu por lá? – Omar contou tudo exceto a ajuda dos amigos do esquadrão, enquanto o chefe ouvia em silêncio.
– Vejo que a limpeza foi total e fiquei realmente muito triste em saber que Orlando era corrupto – comentou Paulo. – Jamais imaginei isso e o cara era meu amigo do tempo da escola primária!
– As pessoas mudam com o tempo, Paulo – disse o subordinado, encolhendo os ombros. – Não te aborreças que não vale a pena.
– O que pretendes fazer agora? – perguntou Paulo. – Afinal ias tirar férias, lembras? Sem falar que agora tens três anos pendentes!
– Só depois que eu descobrir o terceiro Cobra. Ou faço isso, ou me arrisco a que matem a minha família. Mesmo eu corro um certo risco de ser apanhado à traição.
– Mas, Omar, se te casaste, posso dar-te uma semana de lua de mel. Afinal não creio que haja algum perigo nesse período. Queres?
– Prefiro terminar tudo primeiro e resolver as coisas logo de uma vez. Depois disso, tirarei as minhas férias.
– Tens razão, tchê. Como tá tudo calmo, dedica-te a isso prioritariamente. Pede ajuda prá Isabela que autorizo desde já. – Paulo digitou um e-mail para o setor. – Pronto, ela já recebeu a ordem.
– Farei isso, chefe. Obrigado. – Omar levantou-se.
– Espera. – Paulo também se levantou. – Vou contigo que quero pegar mais um café.
― ☼ ―
Omar entrou no setor da inteligência e foi para o gabinete da colega, que se atirou ao seu pescoço e beijou-o nos lábios. Delicadamente, Omar afastou a moça, sorrindo para ela.
– Estás diferente, amor – disse a garota, sempre fogosa. – Mais tarde podemos jantar juntos?
– Não vai dar, Isa,
– Eu entendo. – Ela viu a aliança no dedo do colega, ficando aborrecida. – Bem, Omar, parabéns. Agora entendo essa felicidade toda. Vocês voltaram.
– Desculpa meu anjo, mas não havia mais nada que nos impedisse e ela sempre foi tudo para mim. Olha, eu preciso da tua ajuda e o chefe autorizou.
– O que foi, amor?
– Alguém aqui dentro é um traidor. Gostaria de começar pesquisando as fichas de todos. – Omar contou em detalhes o que aconteceu em Santo Agostinho, apenas omitindo novamente a ajuda do primo e dos amigos.
– Caramba, quer dizer que o assassinato da Diabinha foi premeditado!
– Exato, e agora quero matar este último desgraçado antes que ele me mate.
– Bem, somando dois e dois – começou ela pensativa –, acredito que umas certas folgas de dois dias e nada bem justificadas tenham a ver com isso tudo, né?
– Tem sim. Omar deu uma gargalhada. – És mesmo uma boa tática, mas o Paulo não pode saber porque não autorizou qualquer ação.
Ficaram o resto do dia pesquisando dados, até que Omar foi para casa, satisfeito por saber que não estaria sozinho e sim com a esposa. Encontrou-a junto com a tia e o primo, os três tomando um cafezinho e batendo papo.
Omar beijou a mulher e também serviu-se, sentando ao seu lado.
– Ei, Omar, por que tu não pediste as tuas benditas férias? – Mateus deu uma risada alegre. – Afinal estão em lua de mel, tchê!
– Eu e Júlia concordamos que é melhor apanhar o último Cobra antes dele agir porque tenho medo de represálias, Mateus. Depois disso, vou pedir para sair do esquadrão negro. Tu vais assumir o comando, então vai-te habituando.
– Bah, tchê, agora que eu pensava seriamente em me mudar de volta para Santo Agostinho! – Ele deu uma risada sempre bem-disposta. – Xiru, eu tô muito apaixonado pela Diabinha.
– Bem, vejamos o que vai acontecer, mas acho que ela virá para cá, para o esquadrão.
– Sério!? – Mateus arregalou os olhos. – Tu achas?
– O meu instinto jamais erra, Gavião. Ela virá, podes estar certo disso e o motivo serás tu.
― ☼ ―
Três dias depois, Isabela e Omar entraram na sala do chefe. Como de hábito, levava dois cafés na mão, porque tanto ele quanto o chefe adoravam a bebida. Omar pediu para a colega fechar a porta e Paulo ergueu os olhos, sorrindo e aceitando o copo.
– Bah, porta fechada! – Olhou para os subordinados enquanto sorveu um gole da bebida. – Obrigado pelo café. Pelo jeito, descobriram algo.
– Parece que sim, chefe.
– Sou todo ouvidos.
– O Cobra restante deve ser filho ou algo equivalente de um dos dois que matei e isso só pode ser óbvio, embora sem um fundo de lógica. Pode também ser um pupilo treinado para ser como eles.
– Bem, até aí não vejo nada que o identifique como sendo um dos nossos – comentou Paulo, distraído.
– Mas ele sabia sobre mim, logo só podia ser alguém bastante próximo a mim, já que apenas três pessoas sabiam que a filha da Júlia era, na verdade, minha filha. Por isso, a minha primeira desconfiança caiu na Isabela. Desculpa, lindinha, mas era a lógica. Logo depois, conclui que era absurdo imaginar isso, já que ela teve milhares de oportunidades de me matar e se vingar, uma vez que dormimos juntos muitas vezes.
– Logo, só pode ser um dos outros dois, Omar – concluiu Paulo, curioso.
– Pode, mas não creio. Acho que há um quarto. Afinal, os outros dois, são minha tia, mãe do Gavião e ele mesmo.
– Se te lembrares o que te contei, Paulo – continuou Omar, muito sério –, Cobra mandou matar Angélica porque queria vingar-se de mim e sabia da sua gravidez. Acontece que minha tia Marina não sabia nada até depois da morte dela e Mateus só soube disso no dia em que largamos Angie no aeroporto.
– Caralho, Mancha, por mais que doa, só pode ser ele.
– Ele é como um irmão para mim e nos criamos juntos em Santo Agostinho. Eu teria descoberto um desvio de caráter e ações escusas desse tipo há muito tempo, sem falar que não daria tempo de preparar uma ação daquelas. Não, não pode ter sido ele, pois me ajudou a matar ambos os Cobras. Ele desobedeceu uma ordem tua e levou Vespa mais Lobo Mau para me apoiarem. Estou vivo só por isso, eu acho, pois não creio que venceria sozinho.
– Depois vão ouvir. – Paulo não gostava de ser enganado. – Não admito insubordinações.
– Não creio que vão, chefe. – Omar terminou o café e pousou a xícara na mesa. Recostou-se na cadeira e continuou. – Tinha forçosamente de haver um quarto homem a saber disso. Então me lembrei de uma coisa. Lembrei para quem foi a única pessoa que mencionei a gravidez da minha ex-mulher, pedindo para ela não ser enviada para a ação na Colômbia, justamente por isso...
– Escuta aqui, Schmidt, eu não suporto palhaçadas...
– Não sou dado a palhaçadas ou brincadeiras quando se trata disso. – Omar falou muito sério. – E depois me lembrei para quem eu contei a minha vida, pois só assim eu consegui autorização para ir a Santo Agostinho. O resto foi fácil: bastou consultar registros no RH e ver algumas imagens antigas. Pois é, Cobra, eu achei o sujeito que é responsável pelas mortes da minha mulher e filho. Eu vivi quatro longos aninhos com a melhor chefe da inteligência do país, cara, não achas que aprendi algo com ela? Agora, o que tu pensas que te vou fazer?
Rápido com um raio, Paulo tentou pegar a arma para se deparar com uma nove milímetros a meio metro do seu rosto.
– Por quê, Paulo, por quê? – perguntou Omar, muito triste e mantendo a arma bem firme. – Já devias saber que não existe ninguém tão rápido quanto eu, porra!
– Mataste o meu pai, filho da puta, e o meu tio também.
– Matei-o, mas só depois que ele matou os meus, Cobra, e tu sabias muito bem disso. Só uma perguntinha: és religioso?
– Não, por quê?
– Porque sobram-te – Omar consultou o relógio –, quarenta e três segundos de vida. Caso queiras fazer as pazes com Deus... é contigo.
– Há gente muito graúda atrás de mim, Mancha Negra, e a minha morte vai remexer um ninho de marimbondos bem perigosos. Então, acho melhor nem pensares em me matar.
– Tarde demais, Paulo, começaste a morrer há pouco mais de cinco minutos, tal e qual o teu papaizinho. Mas eu acho que posso enfrentar alguns políticos podres. Afinal, todos bebem café... ou chá, sei lá.
Apavorado, o chefe olhou para o copo plástico vazio ao mesmo tempo que começou a passar mal, terrivelmente mal. As cólicas aumentam muito e sentiu o descontrole do intestino, incapaz de se conter e borrando-se todo.
– Adeus, assassino – disse Omar. – Dá um beijo no Diabo por mim.
– Caramba, amor, que morte horrorosa. Precisava de ser algo tão humilhante?
– Ele matou o meu filho, lindinha e quase a minha filha. Infelizmente eu sou assim, implacável. Mas agora acho que acabou, exceto pelos políticos. Mas isso pretendo deixar para o meu sucessor porque vou-me aposentar desta vida.
Ambos levantaram-se e foram embora.
― ☼ ―
Três dias depois, Omar estava sentado no seu gabinete quando entrou um homem dos seus sessenta e poucos anos. Nas mãos, carregava dois cafés. Ao ver o visitante, o delegado levantou-se com um sorriso no rosto e muita alegria nos olhos. O homem pousou os cafés na mesa e abraçaram-se.
– Chefe. Como é bom rever o senhor. Sente-se. – Omar sentou-se e pegou um dos cafés. – Pensei que se ia aposentar, mas vejo que ainda está na ativa. Por onde anda?
– Na cúpula, filho, lá em Brasília. Soube que promoveste um estrago terrível por estas bandas. Então o Cobra eram dois sujeitos.
– Três. O nosso chefe era o terceiro.
– Nunca gostei dele, Omar, se bem te lembras do que te disse naquela época. – Beberam um pouco em silêncio, apreciando a companhia um do outro. – Vejo uma aliança nessa mão. Dados os fatos, concluo que finalmente te acertaste com a tua namorada da juventude.
– Sim, chefe. – Omar pousou o copo vazio. – Ela agora é a minha esposa. Graças a Deus, a minha filha me aceitou bem.
– Tua filha?
– Ela é minha filha, chefe, mas para a proteger, precisei manter segredo disso todos estes anos. Afinal, o que o traz aqui?
– Eu recebi a difícil missão de te eliminar, Mancha Negra.
Lívido, Omar olhou para o café, pois foi seu chefe que lhe ensinou o truque e a fórmula do veneno.
– É, Omar, quando escolhem alguém, usam uma pessoa à prova de qualquer desconfiança. – O delegado olhou para o seu pupilo mais querido, vendo a palidez do rosto. – Muita gente detestou os teus últimos feitos, mas podes estar descansado que o café era café mesmo, filho, pois eu jamais aceitaria uma missão destas. Os teus pais eram os meus melhores amigos da mais tenra infância e eu sentiria como se os matasse, sem falar que sou o teu padrinho.
– Obrigado, chefe. – Omar suspirou aliviado.
– Mancha, eu convenci o pessoal lá de cima que tu não só és muito mais útil vivo, como os convenci a te mudarem de posto. Eu dei a entender que, como chefe de uma delegacia, tu ficarias muito mais calmo e manterias a região bem limpa. Por isso, serás destacado para chefiar Santo Agostinho. A delegada Michaela pediu para reintegrar o esquadrão negro e deseja vir para Porto Alegre. Eu queria mesmo era saber o que deu na veneta dela para fazer isso.
– Um sujeito chamado Gavião, chefe.
– Sério? – O homem riu. – Será que teu primo vai-se acalmar?
– Tenho a certeza. – disse Omar. Após, ficou mais sério. – Obrigado por me defender, chefe. Eu já estava com o meu pedido de baixa do EN pronto. Só não esperava uma promoção.
– Mas vê se paras de matar chefes de polícia, tchê.
– Quem vai assumir este departamento?
– Por enquanto eu serei o novo chefe e Gavião assumirá o esquadrão, mas ficarei apenas dois anos. A partir de amanhã, entras de férias e, depois, assumes imediatamente a chefatura. Tens uma semana de lua de mel e noventa dias de férias, contando os atrasados.
Passam o resto da tarde conversando amavelmente e Omar convidou o chefe a jantar com ele e a esposa.
― ☼ ―
Depois das férias, onde Omar entre outras coisas preparou a mudança, ele assumiu o novo comando. Encontrou Michaela já pronta para sair e feliz da vida.
– Então, Diabinha – disse, após abraçá-la. – Pronta para a nova vida?
– Sim, Mancha – respondeu a delegada, visivelmente transformada, irradiando alegria. – Estou com saudades do Gavião.
– Caramba! – Omar riu. – Vocês viram-se há dois dias!
– É, mas a gente acostuma bem rápido.
– Tens razão. Cuida do meu apartamento viu?
– Cuido sim, Omar – respondeu ela. – Sinto-me mal em não me cobrares aluguel! Onde fica?
– Pede para Mateus te mostrar o local. – Ele deu uma risada alegre. – Tenho certeza que vais adorar.
– Estás fazendo um mistério disso! – resmungou a delegada Michaela. – Porra, não sacaneia com uma colega e amiga, tchê, além de quase prima!
– Queres que te conte?
– Sim!
– A porta em frente à minha é onde mora meu primo.
– Ai, safado – a delegada deu uma risada feliz –, isso não vai prestar.
– Imagino. – Ele riu.
– Omar – disse Michaela, agora séria. – Vamos para o teu novo gabinete que te quero pôr a par de algumas investigações sobre a boate e as ligações entre o Cobra e alguns políticos.
– Claro, vamos lá.
– Não vais sentir falta do esquadrão, Mancha?
– Estou cansado de apagar alvos, anjo. – Omar ficou sério, ao se lembrar do trabalho. – Mato gente há uns vinte anos e agora quero saber de curtir a minha família, mas vou sentir falta da camaradagem que tinha com aquele grupo maravilhoso. Tu vais gostar muito da equipe. Afinal, somos os melhores do Brasil.
Na sua nova mesa, ele e delegada começaram a ver os relatórios apurados e ela mostrou pesquisas e levantamentos feitos com as documentações apreendidas. O trabalho da equipe da Márcia foi meticuloso e preciso.
– Este material já foi entregue para o Ministério Público, Michaela?
– Não. Márcia ainda faz alguns levantamentos. Isso será contigo.
– Eu não vou tolerar que isso fique impune – afirmou, resoluto e decidido. – Não mesmo.
– Toma cuidado, Mancha – aconselhou-o, preocupada. – Como podes ver, isto vai a nível muito alto e esses políticos corruptos não têm escrúpulos quando se trata de calar algumas pessoas, por isso pensa na tua família, pelo amor de Deus.
– Tens razão, mas mesmo assim, isso não pode ficar impune – concordou o delegado, sério. – Afinal essa corrupção toda assassinou dezenas e mais dezenas de pessoas, especialmente jovens.
― ☼ ―
Omar chegou a casa e a esposa deu-lhe uma notícia que o deixou superfeliz: ele ia ser pai novamente. Ao fim de um mês no novo cargo, as investigações levaram-no a Porto Alegre, para conversar com o antigo chefe.
Foi recebido com abraços pelos antigos camaradas que queriam saber as novidades. Mateus e Michaela cumprimentaram-no ao saberem a grande novidade. Quando tudo se acalmou, ele levou a cópia do dossier em baixo do braço e um café em cada mão. Ao vê-lo, o chefe sorriu. Omar pousou tudo na mesa e fechou a porta.
Ao ver os cafés, ele brincou:
– Não estás, por acaso, pensando em eliminar mais um chefe, espero.
Omar deu uma gargalhada e sentou-se, dizendo:
– Chefe, preciso de conselhos e o senhor é a pessoa em quem mais confio, na verdade a única para este tipo de coisa.
– O que foi, filho? – pegou o café oferecido enquanto o delegado estendeu o material.
– Isso foi o que a equipe apurou, chefe, mas temo que vá dar em nada.
– Minha nossa, Omar! – Ele folheava o material. – Isto vai espalhar muita merda no ventilador.
Após ler uma pequena parte do dossier, continuou:
– Omar, entrega isso ao Ministério Público e esquece.
– Centenas de pessoas morreram, chefe, por causa da ganância de meia dúzia de sujeitos que ainda por cima deviam velar pela nossa segurança e bem-estar...
– Omar, por muito menos, queriam eliminar-te!
– O senhor sabe que isso agora é virtualmente impossível. A única pessoa que poderia fazer isso era o senhor e acabou com o fator surpresa ao me avisar.
– Basta um sniper na hora que menos esperares, filho. A tua sorte é que eles não têm lá muita imaginação. Pensa bem.
O chefe de Santo Agostinho ficou em silêncio por alguns segundos. Ergueu os olhos da mesa e terminou o café.
– Vou ser pai novamente, chefe, e não quero arriscar a minha família. Eu podia resolver o caso facilmente e sair do país, mas uma coisa eu posso garantir. Se acontecer algo à minha família, declaro guerra a toda essa gente e mato um por um antes que tenham a menor chance de descobrirem quem foi o autor. Eu vou entregar para o Ministério Publico e protocolar uma cópia que manterei comigo.
– Isso, filho. Deixa a máquina legal trabalhar e aguarda para ver onde vai dar a coisa.
– Obrigado pelos conselhos. – Ambos conversaram mais um pouco e Omar foi para o centro da cidade levar o dossier ao ministério público. Após, voltou para o aeroporto e retornou para a sua cidade.
Seis meses depois, recebeu a visita do chefe de Porto Alegre. Ele sentou-se de frente para Omar, com ar preocupado.
– Café? – Omar pegou na térmica e dois copos. – O que o aflige tanto, chefe?
– Omar. O dossier sumiu do MP e ninguém sabe o que aconteceu. Infelizmente, voltaram a prestar atenção a ti. Eu destaquei Gavião, Diabinha, Vespa, Lobo Mau e Corvo para virem aqui amanhã e te darem cobertura. Estou demasiado preocupado, filho. Não devias ter entregue o material para a televisão. A única coisa que conseguiste com isso foi chamar a atenção para a tua pessoa. O governo amordaçou a mídia, que precisou de devolver o material.
– Mas que diabo – comentou, muito espantado. – Por acaso passamos a ser uma ditadura?
– Será que alguma vez deixamos de ser uma, filho? – respondeu ele, com outra pergunta. – Especialmente este governo atual que é simplesmente vergonhoso!
– Chefe, o dossier estava empacado no MP e obviamente ninguém ia fazer nada. Por isso tomei a iniciativa, mas não havia como me ligarem às delações!
O telefone tocou, interrompendo o par. Omar atendeu e levantou-se às pressas.
– Júlia entrou em trabalho de parto, chefe, preciso de ir para o hospital.
– Vou contigo, filho.
― ☼ ―