Eu não quero ser consumida pelas trevas da madrugada.
Imagens passam lentamente diante dos meus olhos e vejo um rapaz.
O seu cabelo é comprido, veste um casaco verde e cinzento e tem as suas tipicas calças pretas junto com as suas sapatilhas azuis. O seu olhar é brilhante. Não está sozinho, mas não consigo ver quem está consigo. O seu olhar é um olhar apaixonado. Está mesmo apaixonado ? Quem é ela?
Lentamente passa uma imagem de uma rapariga. Tinha repas no seu cabelo encaracolado e castanho, vestia umas calças de ganga e calçava umas botas castanhas, não permitindo reparar em mais nada, naquela imagem. Os olhos da rapariga também se encontram brilhantes e diria que está apaixonada. Iguais ao do rapaz. E não está sozinha.
De repente as imagens param, mas voltam no instante seguinte. Vejo dois adolescentes juntos e olham-se apaixonadamente. São eles os autores das imagens que passaram diante do meu olhar castanho. Mas quem serão eles?
Tudo para. As trevas da madrugada consomem o meu pensamento e são agora quatro e cinco da manhã e encontro-me a pensar quem serão aqueles dois adolescentes apaixonados.
Adolescentes apaixonados. Onde a perda era o medo de ambos. E foi isso que aconteceu. Perderam-se um ao outro e nunca mais voltaram a reaviver tudo. Os olhares apaixonados que antes eram trocados, foram substituidos recentemente por uma mistura de desilusão, tristeza e perda. O olhar de ambos era vazio. Já não havia amor neles. Tudo acabou. E já não há volta a dar.
Aqueles dois adolescentes cresceram e aprenderam que o primeiro amor nunca se esquece e que vai fazer parte da vida de cada um.
Neste mesmo instante, tudo para. Os rostos daqueles adolescentes já se tornam irreconheciveis. Adolescentes, ansiosos por voltar ao passado e acabando por ser impossivel, tal acontecer. O tempo para e não os deixa recuar para corrigir erros cometidos no passado.
Aqueles adolescentes éramos tu e eu.
Só tu e eu.