Ela estava numa praia, diante do mar. As ondas se quebrantavam devagar, calmas. Ao seu lado, de repente viu que uma senhora se aproximava e disse:
— Que dia lindo, não?
Nicole concordou com observação da senhorinha e apresentou-se:
— Sou Nicole. Qual o seu nome?
A doce senhora sorriu e disse:
— Sou a Mansidão.
— Como? Está brincando. Quem se chama assim? – ela sorriu, mas a senhora disse com seriedade:
— Faço parte do fruto do Espírito Santo.
Nicole franziu o cenho e ainda não percebeu que sonhava, parecia tão real...
— Não acredito na senhora. Mas, se fosse mesmo a mansidão, por que estaria aqui?
— Nicole, deixou de buscar Deus, Ele está triste com você.
— Mas eu sou mansa.
— Não, você tem permanecido triste. E tristeza não é mansidão. Quem tem comunhão, afinidade, intimidade com Ele, tem doçura no coração e no falar. Mas vem de dentro. Quando Ele mora em você e O obedece, é natural produzir o fruto Do Espírito como diz em Sua palavra. Até quando permanecerá assim? – falou com doçura.
Um vento forte soprou sobre elas e a senhorinha desapareceu.
As ondas, antes calmas, começavam a ficar revoltas. Ao lado de Nicole, uma jovem que parecia sua irmã gêmea idêntica, vestida com a mesma roupa com a qual ela havia ido à festa meses atrás, disse:
— Sabe, eu, ou seja, você, não tem mais jeito.
— Quem é você? – perguntou Nicole assustada.
— Tenho vários nomes. Bebedice, Prostituição, Glutonaria, Impureza, Lascívia, você escolhe. – deu uma gargalhada macabra, fazendo um frio percorrer a espinha de Nicole. A estranha à sua frente, continuou:
— Nunca era para ter pisado sequer numa igreja. Ou leva as coisas a sério, ou não. Vi como se sentiu quando aquele cara te agarrou. Vi também que aquela bebida te levou a outro mundo, você queria voltar a sentir aquilo de novo?
A verdadeira Nicole arregalou os olhos e tentou se afastar da moça que parecia ser a versão má dela, no entanto, a estranha passou a caminhar de frente para ela, continuando a falar enquanto ria com os olhos um pouco esbugalhados:
— Aquela droga que existia naquele copo, fez você ficar doidona né? Tem muito mais naquelas festas, coisas que ainda não conheceu.
Aquela voz era quase insuportável, sem aguentar mais ouvir calada, Nicole disse:
— Está louca? Eu não voltarei a ir numa festa daquelas novamente! Deus pode nem gostar mais de mim, ou ter me esquecido, mas algo me diz que não. Algo aqui dentro de mim, diz que Ele só está triste, por eu ter me afastado Dele. Não sei, estou confusa.
Um som, como de uma trombeta soou. Nicole teve medo, mas logo, sua versão má sumiu e um gentil rapaz apareceu ao seu lado, caminhando com ela pela praia.
— E quem é você? – achava loucura falar já esperando que aquele fosse a personificação de algo e ele respondeu gentilmente:
— Me chamo Domínio Próprio.
— Ah, disso eu sei que não preciso. Eu disse à outra senhorinha que eu era mansa, ela me provou que não. Mas domínio próprio, sei que isso eu tenho.
— O domínio próprio, Nicole, é parte do fruto Do Espírito Santo que faz com que diga não ao pecado. Sabe, a carne milita contra o espírito. Se o cristão, não estiver afinado com Deus, ele cairá, pois, sua carne está mais forte que seu espírito.
Pararam de andar e o mar estava calmo novamente. A voz firme daquele rapaz ruivo fez ela relembrar como fora sua vida espiritual no último ano e disse:
— Senhor Domínio Próprio, eu reconheço que não fortaleci muito meu espírito, sempre deixando as coisas de DEUS para depois, fiquei fraca, fiz coisas das quais me arrependo. – começou a chorar e o rapaz disse:
— JESUS está pronto a te perdoar, saber que Ele é o seu Porto Seguro, é muito importante no meio de uma tempestade como a que tem passado por tanto tempo. Por fora parece calma. Mas por dentro, se sente destruída e sem perspectiva de vida. Ele é sua única Esperança, Nicole.
Ela sentou-se na areia molhada e um sorriso abrilhantou seu rosto. Fechou os olhos caramelados e quando os abriu, o rapaz não estava mais lá. No entanto, havia esperança para ela, nada estava perdido como pensava.
— Acreditou nele? – disse uma linda mulher espalhafatosa, com vestido vermelho, cabelos negros e longos, e olhos azuis que reluziam com o sol que parecia estar na hora mais quente.
— Quem é você?
— Tenho vários nomes, querida. Inimizade, Porfia, Ira, Discórdia, Dissensão, Facção, Inveja. Pode escolher um. – sorriu mostrando dentes perfeitos e continuou:
— Eu tenho observado que, tem entrado em algumas confusões com primos quando criança e quando adolescente. Eu percebi que naquela faculdade, a inveja da popularidade da linda Rebecca, do dinheiro dela, dos amigos, carro, tem feito seus olhos brilharem! O desejo de ter o que ela possui está aí, dentro de você e isso é ótimo!
— Eu não!
— Você sim! E mentir também é ótimo para esse mundo ao qual eu convidei que vivesse, Nicole! – disse a jovem que parecia a versão má de Nicole, sim, ela voltou.
— Okay, eu tive inveja dela, mas percebi que aquilo não era pra mim! Não! Eu tenho esperança de que DEUS me ajude a ser uma pessoa melhor. Agora, a vida de Rebecca não me parece mais tão atraente.
Sentiu a mão da mulher segurar em seu rosto e virar para ela, para adquirir sua total atenção, dizendo com voz firme:
— Não querida, a inveja impulsiona a crescer e ser mais que Rebecca! Não deixe isso sair de seu coração!
— Verdade! Não deixe! – respondeu a personificação má de Nicole com a maquiagem borrada, lembrando à verdadeira Nicole de que nunca mais queria ir parar num hospital por causa de bebidas ou drogas e ela disse:
— Não! Quero Jesus para minha vida. A certeza de que Ele me ama aumentou! ELE me ama, me quer perto Dele e não O entristecendo ou ao Seu Espírito Santo!
Uma intensa ventania se iniciou. Nicole viu que as duas se assustaram com algo e levantando-se, correram, desaparecendo em seguida.
Ela olhou para o mar e ao longe, percebeu que um homem andava sobre as águas, mas parecia ainda distante. Era como um borrão. Ela ficou de pé para observar melhor, os dedos dos pés afundaram na areia fria e molhada, enquanto o vento balançava seus longos cabelos dourados. Naquela altura, poderia ser qualquer um, o que estava vivendo era surpreendente e qualquer coisa poderia acontecer...
*Música do capítulo, "Aquita minh'alma" do ministério Zoe.