Hoje pela manhã, estava ouvindo Louis Armstrong. E enquanto levo minha mão até meus cabelos ressecados depois de uma semana de frio repentino no Rio de Janeiro. Percebo que, afinal, minha vida estava realmente correndo nos trilhos corretos.
Começamos a namorar a cerca de 2 meses e alguns dias. Ela me apresentou a seus avós e assim me mostrando que realmente estava feliz em me ter ao lado dela. Mesmo com sua vó contando os inúmeros segredos e apelidos, ela gostava disso. Gostava da sensação de ter pela primeira alguém para chamar de ''namorado.''
E as vezes, enquanto ela se arrumava para ir a aula em algumas manhãs, eu a observava descer pelas escadas do meu quarto. Usando a minha camiseta do Pink Floyd e minha toca de crochê que ganhei numa visita a minha vó em Paris. Tantos presentes e recebo logo uma toca - esse era meu pensamento na pré adolescência. Mas hoje, percebo que ela era muito mais do que isso. E eu nunca imaginaria que aquela toca um dia portaria os cabelos que me apaixonei, os mesmos pelo qual fiquei boquiaberta durante alguns minutos ao ver ela no pátio com seu fone de ouvido escutando alguma música que eu nunca se quer imaginaria o nome.
Todas as sextas-feiras, sentávamos na mesma mesa da cafeteria em que íamos quando éramos melhores amigos, - não que tenhamos deixados de ser, claro. E como de costume, falávamos o que vivemos nos dias anteriores, era engraçado. E por mais idiota que seja, igual da vez em que ela foi subir na ponta dos pés para pegar o sorvete na última fileira do congelador no supermercado e acabou escorregando e quase caindo em cima das compras de uma senhora que estava atrás dela esperando ela pacientemente pegar seu sorvete de flocos. Ou da vez em que ela teve crise de riso ao ouvir a palavra '' Borbulha '' - até hoje eu não entendi isso.
No começo do namoro eu pensei diversas vezes em terminar, isso é normal, quando alguém nos machuca sempre temos medo de confiar novamente nessa pessoa. É algo como um instinto primordial.
Mas todas as vezes em que pensei nisso, eu era surpreendido com mensagens, ou até mesmo ligações repentinas em plena madrugada. Teve um dia em que ela me ligou pra saber se eu tinha jantado. Como alguém liga em plena madrugada somente pra saber disso? Essa era Isabelle.
Mas nem sempre de finais felizes vivem os amores de hoje em dia. E nessa manhã, nessa mesma manhã em que escutei Louis Armstrong, tomando minha xícara de café, logo após de levar minhas mãos até os cabelos, recebo a seguinte mensagem.
'' Precisamos conversar. ''
Minhas pupilas dilataram, minha xícara foi entregue a mesa com uma leve rispidez, minha respiração ficou um pouco mais pesada, e meu sorriso foi substituído por uma testa franzina. Quando amamos alguém, e eventualmente recebemos uma mensagem desse tipo, essas são os principais sintomas. E nessas situações não a nada que possamos fazer a não ser esperar e imaginar o que poderia ser.
Respiro fundo, pego meu celular e respondo.
― Posso ir até sua casa hoje?
― Sim, pode. - Ela responde friamente.
Chegando até a casa dela, depois de 4 horas de espera e ansiedade. Ela me recebe no portão. Ela estava com um tom de frieza no olhar, e chegando lá, fui em direção a ela para dar um beijo, e percebi que a frieza não estava somente no olhar, mas também nos seus lábios.
Eles não tinham o mesmo sabor de antes, e seu olhar estava disperso.
E sem ao menos me convidar para entrar, permanecemos no jardim. Ela me olha nos olhos e diz.
― Gregório, eu queria te agradecer por todos os dias pelo qual passou do meu lado. Você foi um namorado incrível.
― Como assim Isa, o que aconteceu? - perguntei - Você esta bem?
― Eu apenas percebi que alguns amores foram feitos para terem prazo de validade... E o nosso, está incluindo neles. Me desculpe.
― [...] - suspiro me segurando pra não chorar e pergunto - Então, isso é um adeus? Daqueles que eu saio pelo seu portão e nunca mais nos falamos ou trocamos mensagens? Isa, por favor, não. Eu te perdi uma vez, e não sei se aguentaria outra vez. Eu a amo, não da pra ver?
― Eu sei que você me ama. - Ela responde com um sorriso de canto. - E serei eternamente grata a isso. Mas não da mais, eu sinto muito, Greg.
E foi no mesmo local que ficamos deitados dias antes, rindo e conversando, que terminamos. E mesmo se passando meses, e até mesmo anos, em todos os locais que eu vá, sempre irei tentar acha-la.