Assim que acordei a minha cabeça latejava e eu sabia só por isso que eu ontem tinha exagerado na dose. Olhei para o meu lado assustando-me ao ver a presença de Harry lá com o seu tronco exposto. Sentei-me, primeiro de tudo tentei acalmar-me e depois tentei puxar pela minha cabeça o que raio se tinha passado na noite anterior... Olhei em torno do quarto e percebi como tanto as minhas como as roupas de Harry estavam espalhadas no chão, então percebi que eu estava completamente nua.
Cuidadosamente fui até a minha mala cobrindo o meu corpo com uma manta, retirei de lá uma muda de roupa e dirigi-me até à casa de banho para tomar um banho. Sequei o meu corpo e depois vesti-me.
Quando voltei a entrar no quarto, notei o Harry sonolento a levantar-se da cama vestindo apenas os seu boxers brancos. Amarrou o seu cabelo e de repente os seus olhos estavam pousados em mim que lhe dei um sorriso mínimo encarando o chão de seguida.
- Bom dia... - Ele afirma num tom quase como se estivesse envergonhado.
- Hm... Bom dia... - Eu retribuo no mesmo tom.
O silêncio entre nós era um pouco constrangedor e nenhum de nós parecia estar disposto a mudar isso de tão sem norte que estávamos com o que se tinha passado antes.
Coloquei os meus livros para hoje na mala e depois amarrei o meu cabelo num coque desajeitado que por incrível que pareça, não me fez parecer um ananás. Coloquei um pouco de perfume e um colar ao pescoço.
- Queres tomar um banho? - Eu perguntei reparando que o mesmo olhava o nada.
- Eu não tenho muda de roupa... - Ele diz.
- Espera um pouco.
Vou então até uma das gavetas da minha cômoda vendo que ainda estavam lá algumas roupas de Zac que eu nunca tinha sido capaz de me desfazer.
- Eu acho que isto é capaz de te servir. - Eu afirmo estendendo um par de boxers e meias ao mesmo. - Eram de Zac, acho que vocês vestem o mesmo número...
- Obrigado. - Ele pega nas peças de roupa caminhando até a casa de banho.
Deixei que ele ficasse à vontade no quarto e desci as escadas tendo breves flashbacks do que se tinha passado na noite anterior. Ao olhar para a mesinha de centro lembrei-me de como tinha vomitado quase os meu pulmões sobre a mesma, neste momento ela estava imaculada então presumi que Harry a tivesse limpo.
Já na cozinha, fervi um pouco de leite suficiente para duas pessoas, coloquei um cestinho com algumas bolachas e os últimos croissants sobre a mesa e também o chocolate em pó e café pois não sabia o que ele iria querer.
Pouco depois o cabeça de alforreca desce as escadas vindo na direção da cozinha, o seu cabelo estava solto e molhado e eu não conseguia parar de o olhar por muito que a minha consciência me estivesse a cobrar.
- A mesa de centro... - Eu comecei e ele olhou para mim enquanto se sentava à mesa.
- Eu limpei ontem, quando te vim preparar o chá... - Ele sorri e eu aceno. - Obrigado pelo pequeno almoço.
O clima entre nós estava muito estranho, quem nos visse de fora parecíamos duas pessoas normais apenas a tomar o pequeno almoço juntas. Mas era mais do que isso.
- Harry... - Eu chamo fazendo o mesmo olhar para mim. - Desculpa... Pelo meu comportamento ontem, devo ter feito umas figurinhas horríveis...
- Acho que já toda a gente fez figuras tristes, não te preocupes com isso. - Ele ri levemente.
- Mesmo assim, obrigada pelo que fizeste por mim... - Eu afirmo. - Quando eu estava agarrada ao sofá da casa do Marvin, claro. - Ele gargalha baixinho abanando a cabeça.
- Não me custou nada, além do mais até que ficas uma bêbeda engraçada... Chata, porém engraçada. - Ele afirma metendo-se comigo.
- Que engraçadinho...
- Então, não é hoje que voltas para casa ? - Ele pergunta mudando o assunto enquanto acaba de comer o seu croissant.
- Sim... - Eu digo acabando de beber o leite que estava na minha caneca. - Como é que está o meu pai ?
- Eu acho que está bem, dentro dos possíveis... - Ele sorri referindo-se indiretamente ao facto de nós estarmos chateados. - Ele e a minha mãe, disseram num destes dias que estão a pensar em algo, mas que ainda não era algo concreto e quando fosse eles queriam que estivéssemos todos presentes.
- Ui... O que será que vem dali agora ? - Eu questiono e o mesmo encolhe os ombros.
- Esperemos que não seja um irmãozinho... - Ele afirma sabendo a reação que eu iria ter e eu encolho o meu nariz só de imaginar essa eventualidade.
- Esperemos mesmo que não seja. - Eu afirmo e o Harry gargalha pela minha expressão facial.
Já estávamos na universidade, mas uma coisa que me fazia pensar muito era como será que o Harry fez para me levar a casa ontem sobre aquele automóvel assassino sem que eu caísse no estado embriagado que eu estava.
- Olá, olá... - Ouço a voz de Demi enquanto se aproxima. - Como estás ?
- Com um pouco de dor de cabeça, mas passa... - Eu sorri. - Podes explicar por que é que não foste dormir a casa ?
- Só quis dar um empurrãozinho na tua vida amorosa, de nada. - Ela sorri e eu abano a cabeça negando a audácia dela. - Tenho aqui um comprimido para a ressaca.
- Agradeço. - Afirmo.
- Mas conta-me como foi ontem... - Ela pede enquanto tira o comprimido da mala para me dar.
- Honestamente, tudo o que me lembro são flashbacks... Imagens soltas mas consigo dizer que ele foi muito cuidadoso comigo... Sei que me preparou chá depois de eu quase vomitar em cima dele e hoje de manhã as coisas começaram um pouco constrangedoras mas depois foi um clima muito saudável até. - Eu sorri. - Já não sinto que ele seja uma ameaça ao meu espaço como antes e de alguma maneira também tenho uma sensação de que o conheço à muito mais tempo, como se fosse alguém que eu já tenha tido muita afinidade.
- Meu Deus... - Demi diz ainda sem conseguir acreditar.
- Tu sabes quem é que ele me parece... Não preciso de me adiantar muito...
- Achas mesmo ? - Ela pergunta.
- Eu sei que isto parece ridículo, mas é tão similar as coisas.
- Nada do que acontece é por acaso, além de que tu nunca lhe deste abertura para ele tentar se aproximar e no fundo agora baixaste a guarda, acho que pode ser por isso... - Demi afirma. - Acho que ele pode ser um rapaz doce também.
No fim das aulas, já eu estava a retornar a casa com as minhas malas em meu encalço pois Gemma tinha passado para me apanhar e ajudar a trazer as bagagens. Não queria admitir mas de alguma forma até que eu sentia saudades daqui.
Quando cheguei o meu pai não estava em casa e honestamente ainda bem. Fui organizar as minhas coisas deixando tudo direitinho no quarto e depois disso fui até à cozinha para comer alguma coisa.
Assim que entrei dei de caras com o meu pai e a Anne o que me fez pensar duas vezes se deveria entrar ou virar costas.
- Já voltaste ? - O meu pai questiona fazendo-me permanecer ali.
- Ao que parece... - Eu respondo sem qualquer humor na voz. - Honestamente, acho que devias de ter prolongado o castigo.
- Pensei que voltarias com uma postura diferente, que um tempo longe te fizesse tranquilizar um pouco... - O meu pai afirma suspirando enquanto que Anne lhe afaga o braço.
- Pois, temos pena... Parece que a Drama Queen está de volta. - Eu digo pegando num pacote de sumo para beber.
- Cada dia pior... - Ele murmura.
- Não te preocupes, não tarda eu estarei com 18 anos e nessa altura tu não voltarás a ver esta peruca lilás à frente. - Eu afirmo. - Se te aflige tanto aturares a tua filha, eu liberto-te desse peso.
- Blayane, sabes perfeitamente que em momento algum eu te estou a retirar das nossas vidas muito menos a colocar-te fora de casa.
- Mas eu quero ir, eu também mereço ter uma vida fora daqui, eu mereço encontrar alguém que me ame e construir uma família. - Eu afirmo saindo da cozinha.
- Eu não consigo entender o que se passa com ela, nem o que é preciso eu fazer para que ela volte ao que era antes. - Ele diz.
- Tens que ter mais paciência, querido... Talvez ela ande a passar por uma má fase, precise de uma conversa... - Anne afirma calmamente.