O ÚLTIMO CASO

By letvitallie

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Ao tomar conhecimento das acusações feitas em relação a Matthew Garcia, Helena Collins se dispõe a colaborar... More

Antiga Losses To Remember
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By letvitallie

Holborn, 15 de março de 2017


Na minha família todos costumam levar acordos muito à sério; seja qual for. Não importa se foi um grande negócio ou até mesmo uma brincadeira boba, para os Collins ambos têm o mesmo peso. O acordo que fiz ontem foi o primeiro dentro de anos, a responsabilidade que ele carrega é tremenda. Um bom pai tentaria acalmar sua filha para que seu desempenho na tarefa fosse beirando a perfeição, é uma pena que não tenho um bom pai.

Desci a escada com ligeireza, por pouco meus pés não se enroscaram um no outro, ao chegar na cozinha me deparei com a cena já imaginada. Augusto tem em sua mão direita o seu jornal predileto e na esquerda uma pequena xícara de café. Gracie está em pé a poucos metros de distância, para mostrar-se ágil caso seu patrão precise de alguma coisa.

"Bom dia, pai." Ele respondeu com um aceno enquanto eu me ajeitava no assento. "Bom dia, Gracie." A governanta deu um sorriso animador, tal como sempre faz.

Ela passou a mão por cima de seu coque impecável, nem mesmo um fio de seu cabelo ruivo está fora do lugar. "Bom dia, Helena." Ao ouvir meu nome ser dito sem formalidade, meu pai lançou um olhar ameaçador para a senhora. Quando percebeu o que havia dito, Gracie tossiu disfarçadamente e tratou de se corrigir. "Sinto muito, senhorita Collins."

"Isso não é necessário", afirmei.

"Somos os patrões dela, respeito sempre é necessário. Ela deve saber seu devido lugar." Odeio a terrível mania que ele tem de se achar superior a todos. Gracie faz mais parte da família para mim do que ele próprio.

Vendo que ela ficou constrangida, pedi para que a ruiva se retirasse e nos deixasse a sós. Enchi meu copo com suco, apanhei alguns pãezinhos e os levei até a boca. "Pai", o chamei em voz baixa, "O senhor vai chegar cedo?"

Seus olhos azuis finalmente se fixaram em mim, "O dia do acampamento está chegando, você sabe muito bem que nesse período eu trabalho dobrado." Já havia me esquecido do acampamento. Essas duas semanas sozinha em casa são uma calmaria no meio da tempestade que é minha vida. "Por que me queria cedo em casa? Não ia pedir ajuda, certo?"

"Uh", dei uma leve risada para disfarçar, "Não, foi apenas uma curiosidade." Ao que parece, Augusto não vai me dar nenhum suporte no meu trabalho. Que belo jeito de me incentivar.

Como toda manhã, permanecemos em silêncio até que um de nós se retirasse. Meu pai, ansioso para ir ao trabalho, sequer terminou sua panqueca e abandonou a mesa. Apanhou sua maleta, alinhou seu terno, logo deixando a residência. Sem me desejar boa sorte. Sem abraços. Como se estivesse sozinho aqui. Como se eu fosse parte da mobília antiga que habita essa casa. E é assim que tenho me sentido.

"Helena?" Gracie pronunciou meu nome em voz baixa, provavelmente com medo de seu patrão ainda estar aqui. Pedi para que ela entrasse e se sentasse na cadeira ao lado. "Está bem? A noite de ontem foi bem interessante."

Devo concordar. Mas interessante não é bem a melhor definição, talvez assustadora se encaixe melhor. "De fato. E sim, estou bem. Obrigada por perguntar." Conforme as torradas foram terminando, continuei não me sentido saciada. Sei que poderia devorar toda a comida da casa e Gracie nunca revelaria ao meu pai. Porém, se ele não ver progresso no regime, essa tortura pode permanecer por mais tempo.

Com um leve receio, a ruiva colocou uma fatia de bolo em seu prato. Disse que o suco está divino e que ela deveria experimentar, a servi, sorri ao ver seu desconforto desaparecer aos poucos. Queria que ela entendesse que não sou como meu pai, ele é o patrão rigoroso, não eu. Gracie começou a trabalhar aqui com vinte e sete anos, foi a nossa primeira governanta jovem que sorria para mim e sempre esteve disposta a conversar. Esse ano faz cinco anos de sua estadia aqui, tenho ela como uma prima mais velha. Sei que ela sente o mesmo por mim, mas o medo de passar dos limites e perder o emprego a assombra a todo momento.

"Tem ideia de como vai começar a procura?" Soou curiosa.

Tive várias ideias, algumas úteis, outras nem tanto. Passei a noite inteira pensando em maneiras para encontrar o Matthew. Dentre tantas opções, a mais eficaz -e mais fácil também-, é ir atrás de seus amigos e familiares. Farei algumas perguntas simples, espero que elas me levem à pistas. Caso contrário, estou perdida. "Sim, planejei algumas coisas." Sorri tentando não parecer tão nervosa quanto realmente estou.

A ruiva sorriu orgulhosa, "Sei que irá se sair bem." Me pergunto se caso ela soubesse como de fato estou, ainda teria toda essa confiança. Provavelmente não. É por isso que não deixo o medo transparecer.

"Não tenho dúvida quanto a isso."

Olho para a grande casa verde. Após insistir muito, a secretária arrogante do meu antigo colégio aceitou me fornecer o endereço da família Garcia. Para minha infelicidade, não consegui o telefone dos outros alunos, muito menos a morada deles. O rumo que as coisas estão tomando não me agradam.

Segundos depois, a sra. Garcia vem me atender. Não é necessário ser um gênio para supor que ela estava chorando, seus olhos inchados e o nariz avermelhado lhe entregam. Vejo sua surpresa ao me ver, não nos encontramos desde que eu tinha dezesseis anos. "Helena?" A mulher de longos cabelos castanhos claros esfrega as mãos uma na outra. "O que faz aqui?"

Antes que eu pudesse responder, sra. Garcia abana a cabeça e me pede para entrar. Na medida em que se desculpa pela indelicadeza, ela caminha até a cozinha em busca de algo para me oferecer. A escuto falando sozinha enquanto vasculha alguns armários, sorrio ao ver seu esforço para me agradar. A decoração do cômodo é simples, paredes em tom claro, poucos móveis e porta retratos engraçados. Caminho para me aproximar das fotografias em família, eles parecem felizes nelas. Há uma que se destaca, creio que seja a preferida deles também, pois está na moldura mais sofisticada. Deve ter sido tirada há cerca de quatro anos, me recordo de ter visto esse corte de cabelo no garoto sorridente.

Matthew está sentado em cima de uma cerca, provavelmente estavam em um sítio. Seu cabelo se ilumina por conta da luz do sol, assim como os fios loiros rebeldes de sua irmã. Felicity, a caçula da família, está ao seu lado fazendo uma carranca zangada. Mas pelo brilho em seus olhos presumo que era apenas fingimento. Deitada sobre a grama baixa, sra. Garcia admira seus filhos com um sorriso largo. Certamente eles tiveram um dia especial, daqueles que se ri o tempo todo. É uma bela foto. Gostaria de ter lembranças assim com meu pai.

"Eles são lindos, não é?" O barulho da louça sob a mesa me fez acordar da ilusão de uma menina com olhos azulados brincando no balanço junto com seu pai carinhoso. "Não sei a quem puxaram", sorri.

"Eles lembram muito a senhora", disse sinceramente, "Principalmente os olhos." Mesmo sem dizer nada, vejo seu orgulho ao ouvir meu elogio. Ela é uma mulher bela, mas hoje não é um de seus melhores dias.

Conforme me acomodei no sofá e levei a xícara de chá em meus lábios, sinto o clima pesar entre nós. "Suponho que não seja pelos meus lindos olhos que você está aqui." Concordei num murmuro.

Vê-la assim, arrasada, faz com que a vontade de interrogá-la fique abalada. Porém, infelizmente, não posso me dar esse luxo de adiar meus planos. "Tem razão", olhei fixamente em seus olhos, contato direto costuma passar confiança. "Fiquei sabendo do ocorrido com o Matthew, não se fala de outra coisa nesse bairro. E, como a senhora já deve saber, meu pai está responsável pelo caso. É compreensível que não queira conversar sobre esse assunto, mas caso me dê algumas informações talvez eu-"

"Não", fui interrompida com tamanha brutalidade que acabei saltando levemente. "Não darei nenhuma informação que ajudará levar meu filho para a cadeia, nem perca seu tempo. Tudo que queria dizer, já disse no depoimento para a polícia. Augusto deve ter o decorado." Sua reação áspera e fria foi como um empurrão. Fui pega completamente desprevenida.

Me sinto de mãos atadas, tudo o que tinha programado foi anulado com sua ríspida resposta. "A senhora não entende", depositei toda a emoção que tenho nessas palavras, "Preciso encontrá-lo. Tenho que conversar com ele, acertar algumas coisas. Só eu posso ajudá-lo. Meu pai e a polícia não têm nada a ver com isso." A clareza de minhas palavras foi tão surpreendente que até mesmo eu estou convencida do que disse.

Sra. Garcia está inerte em seus próprios pensamentos. Seu rosto está sereno, fazendo com que minha ansiedade só aumente. Talvez esteja pensando numa maneira sutil de me expulsar, é bem provável que seja isso. Começo a me remexer nervosa e continuo sem resposta alguma. Torço internamente para que Felicity chegue a qualquer momento, convencê- la seria mil vezes mais fácil.

Saindo de seu transe, a mulher abatida passa a mão sobre os olhos, "Promete pra mim que não vai entregar meu filho?" Ela cedeu, "Matty é um menino agitado, nunca foi um anjo", a doçura de sua voz quase disfarça sua dor. "Mas ele nunca faria algo assim. Meu filho não é um assassino." Sra. Garcia tentou abafar seu choro, porém ainda que eu estivesse na última casa da rua, poderia escutar seu fino soluço.
Quero dizer a ela que acredito na inocência dele. Que não irei entregá -lo, mas sim, de fato tentar entender a situação. No entanto, estou confusa demais para ter certeza.

"Sra. Garcia, entendo seu nervosismo mas-", e mais uma vez, fui interrompida. Ela segurou uma de minhas mãos com força, sua pele gélida e ligeiramente molhada me agarrou com tremenda força. A pobre senhora pediu que eu prometesse, como se minha palavra fosse algo que nunca seria quebrado. Sei que se não disser o que ela quer ouvir, não terei ajuda nenhuma. Não acredito que vou fazer isso. "Prometo que não entregarei seu filho sem ter a certeza que ele é o assassino."

Em geral, promessas são coisas sagradas. Quando não se cumpre uma, o caráter da pessoa é colocado em questão. Ao dizer aquilo para a mãe desesperada, inconscientemente assinei um contrato aonde se eu não cumprir o que disse, serei vista como um monstro sem coração. Ninguém vai se interessar em entender o meu lado, me apedrejar será o suficiente. Isso não vai acontecer, não serei a menina sem piedade que ajudou a capturar o garoto inocente. Se eu queria motivação, acabei de encontrar.

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