Quando O Amor Acontece

By tammyOliveira

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Um conto do universo O Capo. #1.5 More

Capítulo I
Capítulo II
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI

Capítulo III

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By tammyOliveira

Você deixou uma mancha
Em todos os meus dias bons
Mas sou mais forte do que você pensa
Tenho que te deixar ir

Matchbox Twenty - Disease

***

Após passar a maior parte do meu dia com camilla finalmente nos decidimos por um apartamento. Sim, isso mesmo estou indo ter uma colega de quarto aos 27 anos e é tão cômico quanto trágico.

O apartamento é perfeito, literalmente ao lado da confeitaria onde nós tomamos café todos os dias e fica a apenas duas quadras do hospital. Ele é razoavelmente grande e muito confortável, nada como a cobertura onde eu morava com Oriana.

Como se tivesse sido convocada pelo meu pensamento seu nome iluminou a tela do meu celular.

Pensei em rejeitar a ligação exatamente como fiz com todas as demais, mas minha advogada me lembrou pela manhã que tentar resolver as coisas amigavelmente sempre será a melhor saída e embora eu não acredite que ser amigável ajude quero me livrar o mais rápido possível de Oriana.

Antes que pudesse atender a porta do meu consultório foi aberta e ela entrou, logo em seu encalço veio a recepcionista desesperada.

"Está tudo bem, Claire, eu vou receber esta Senhora." Oriana bufou e virou os olhos verdes pra mim, seu cabelo ruivo estava preso em uma trança lateral e seu belo e longuilíneo corpo delineado por um vestido preto. "O que está fazendo aqui?"

"Vim visitar meu marido, não posso?" Ela torceu o nariz para meu consultório e a contragosto se sentou na cadeira de plástico. "Jamais irei entender o motivo de desperdiçar tanto tempo com esses perrapados." Franzi o cenho me perguntando como pude estar com essa mulher por tanto tempo. "Hospital público no Harlem? A maior parte destas pessoas são deliquentes e prostitutas, pelo amor de Deus."

"Fale o que quer e saia, meu tempo é destinado apenas à pessoas que realmente são merecedoras." Ela cruzou os braços e suspirou dramaticamente.

"Eu sinto muito, sei que ajudar a ralé..." Lhe dei um olhar severo. "Estas pessoas é importante pra você. Pode não acreditar, Vince, mas eu te amo."

"Tem razão, eu não acredito em você." Ela balançou a cabeça. "Olhe, Oriana, eu não tenho tempo e muito menos paciência para os seus joguinhos."

"Não são joguinhos, eu sinto sua falta." Sua mão agarrou a minha e rapidamente a puxei. "Volte pra casa, volte pra mim."

Desviei meu olhar do dela, minha mulher sempre foi mestre na arte da manipulação. Quando me fitava com os olhos verdes, a fala mansa, era como estar diante da minha doce amora. A garota que roubou meu coração antes que soubesse que isso era possível, mas sei que é uma farsa. Em algum lugar a doce e inocente garota se tornou essa mentirosa patológica.

"Ouça, eu estou disposto a ceder. A cobertura é sua, escolha o valor que quiser para a droga da pensão, mas assine os papéis." Ela se levantou e começou a rir histericamente.

"É por causa dela, não é? Acha que nunca percebi a forma como olhava pra ela?" Revirei os olhos, jamais seria capaz de entender a merda da obsessão dela pela Helena.

"A Helena não tem absolutamente nada a ver com isso." Oriana balançou a cabeça e riu.

"Não estou falando dela, estou falando da amiguinha." Recuei sem entender onde ela queria chegar. "A cada jantar comemorativo ou encontro casual, você nem mesmo disfarçava."

"Você está ainda mais louca do que pensei." Ela se aproximou e sua unha vermelha ergeu meu queixo.

"É bom que eu esteja imaginando coisas, Vincenzo." Com isso ela pegou sua bolsa e se sentou novamente. "Você é meu marido e vai continuar sendo, não importa qual proposta tenha na mesa nada jamais irá me fazer assinar aqueles malditos papéis."

Ela abriu a bolsa pegou um pequeno espelho e um batom, incapaz de desviar o olhar a observei retocar seus lábios de um vermelho vivo e sedutor.

"Ainda que não queira assinar nossa separação é um fato, esse divórcio vai acontecer, mesmo que demore anos vou conseguir me livrar de você, Oriana. A diferença é que minha paciência se esgota mais a cada dia, amanhã posso decidir tirar tudo o que tem e te deixar na rua da amargura." Me levantei e caminhei lentamente até a porta. "Eu fui um marido exemplar ao contrário de você, tenho provas de suas traições e testemunhas do fato. Tenho certeza de que seu advogado te advertiu que eu tenho uma causa ganha, por isso volto a te dizer. Assine os papéis e aproveite o quão benéfico estou sendo, Oriana."

Abri a porta e fiz sinal para que ela saísse.

"Wou, você está tão... Confiante." Um largo sorriso tomou seus lábios enquanto suas longas pernas a traziam pra mim. "Eu acredito que saiba o quanto adoro um desafio, meu amor."

Ela tentou me beijar e rapidamente a afastei.

"Saia daqui." Rosnei as palavras e bati a porta com força quando ela se foi.

***

"Vai me dizer o que está te incomodando?" Camilla perguntou entre uma mordida e outra em seu lanche. "Não me olhe assim, você tem que ser a pessoa mais esfomeada que já conheci e nos últimos 20 minutos só comeu meia batata frita."

Quanto mais eu olhava pra ela mais as insinuações de Oriana ganhavam força.

"Não é nada." Ela bufou e deu a última mordida em seu seu hambúrguer, fechou a embalagem e limpou o rosto com um guardanapo. "Apenas não estou com fome, Camilla."

"Sabe o que eu acho?" Questionou antes de tomar um gole de cerveja e colocar a garrafa vazia na mesa de cabeceira. "Que você está cheio de merda."

Sorri, eu adorava a forma como ela era diferente. Camilla poderia realmente comer, o que quisesse e quanto quisesse sem aquelas neuras sobre peso ou etiqueta, ela bebia com gosto e sua boca conseguia ser mais suja que a de um marinheiro. Ela não é nada como pensei que fosse e isso de certa forma é refrescante. Fiz uma careta ao me lembrar dos jantares com Oriana, apenas uma salada e carne branca, um vinho e uma conversa maçante. Não existia companheirismo entre a gente, a primeira vez que notei isso foi quando Helena e eu nos aproximamos.

Rapidamente a morena se tornou minha melhor amiga e a irmã que nunca tive, com ela eu poderia falar sobre qualquer coisa e não ser julgado. Agora experimento essas mesmas coisas com Camilla, com a diferença que existe algo mais.

Eu jamais me senti atraído por Helena, não vou negar que ela é uma mulher maravilhosa, mas o sentimento apenas não estava lá. Já com Camilla é diferente, eu noto pequenas coisas como o belo contorno dos lábios cheios, a pequena mancha de nascença em formato de meia lua que atraía meu olhar para a bela clavícula e até mesmo seu cheiro. Merda, eu jamais me senti balançado por perfumes florais, mas o cheiro dela me deixa louco.

Merda, talvez Oriana tenha razão.

"Anda logo, me diga o que está tirando sua fome." Sua mão cobriu a minha e olhei para elas, a dela metade do tamanho da minha.

Limpei a garganta e puxei minha mão.

"Oriana apareceu no hospital comunitário hoje e disse algumas coisas que me pertubaram, apenas isso." Seus olhos se estreitaram e sua boca pressionou, droga ela estava fazendo aquele rosto.

O rosto irritado e decepcionado que vem antes de uma bronca daquelas.

"Não me diga que está pensando em voltar para aquela vagabunda." Empurrei o prato com meu lanche e me deitei, estávamos no meu quarto e pela primeira vez pensei no quão pequena aquela cama parecia. Estava bem ciente da proximidade dos nossos corpos e o estardalhaço que isso estava fazendo em meus nervos me assustava.

Camilla não é para mim, eu sei que ainda ama Fernando e provavelmente irá se fechar para o amor até o fim dos seus dias. Me permitir sentir mais que amizade por ela vai nos afastar e não quero mais sofrer, fui a sombra de meu irmão por anos e não quero ser o prêmio de consolação de mais ninguém.

"Jamais irei perdoá-la, não a amo mais há um bom tempo e nada vai me fazer voltar para aquela mulher." Após alguns segundos ela soltou um suspiro aliviado. "Eu apenas estou pensando na briga judicial que irei travar, apenas isso."

"Sinto muito, não quis ser invasiva. Eu apenas me preocupo com você, Vincenzo." Pela primeira vez meu corpo respondeu ao som do meu nome saindo de seus lábios, não pude deixar de imaginar como seria ouvi-lo enquanto...

O som da campainha seguida de uma sequência de batidas me tirou dos meus devaneios, troquei um rápido olhar com Camilla antes de me levantar.

Ao abrir a porta dei de cara com meu primo, Ignácio estava escorado no portal com um olhar vago e eu apenas soube.

"É a Helena, ela fugiu." Suas palavras afundaram em minha mente. "Matteu precisa de você."

Rapidamente apanhei meu celular e minha carteira, travei ao ver Camilla me seguindo.

"Onde pensa que vai?" Ela me empurrou e fechou a porta antes de se virar pra mim.

"Junto com vocês, Helena também é minha amiga." Abri a boca para contrariá-la, mas ela apoiou as mãos na cintura e arqueou a sobrancelha como que se me desafiasse a impedi-la.

"Não temos tempo para isso." A voz de Ignácio fez com que desviássemos o olhar.

O caminho até a mansão foi feito em silêncio, cada um de nós perdido em sua mente.

Me lembrei de dois dias atrás quando encontrei com Helena, de suas palavras e da forma como me abraçou. Foi ali que esta sensação me bateu, eu soube que ela iria fugir e alertei a todos. Inferno, Ignácio ficou encarregado de segui-la e após o belo discurso de irmandade eu apenas ignorei meus instintos.

Helena não abandonaria a família que ainda lhe restava, o problema é que a mulher que passou por tantas perdas e desilusões se transformou em alguém que eu desconhecia.

Quando chegamos na mansão o barulho de vidros quebrados e gritos eram impossíveis de ignorar, hesitei por um segundo antes de cruzar a porta.

"Como diabos você a perdeu?" Matteu gritava enquanto jogava Giovanni de um canto para o outro, fiz uma careta ao ouvir um crac seguido de um grito de dor. "A confundiu com aquela piranha, como isso é possível?"

"Matteu, já chega." O empurrei e fiz um sinal para que tirassem um Giovanni gritando de dor dali, dei um olhar para a fratura exposta de seu braço e fiz uma careta. "Você precisa se recompor, espancá-lo até a morte não trará Helena de volta."

"Eu não vou deixá-la ir, não vou permitir que me deixe." Seus olhos brilharam com loucura, olhei em volta para o escritório totalmente destruído.

Havia sangue no tapete, livros rasgados e cacos de vidro por toda parte. Mamãe fitava Matteu com medo enquanto que Marco tinha um olhar clínico para toda a situação, Ignácio parecia prestes a vomitar e meu irmão... Bem, ele parecia prestes a explodir.

"O que temos?" Perguntei ao perceber que todos apenas estavam presos em suas mentes, Marco foi o único a me responder.

"Foi tudo muito bem planejado, ela arrastou Giovanni para uma boutique onde trocou de roupa com a acompanhante." Ele deu um olhar de soslaio para Matteu antes de prosseguir. "Só descobrimos há pouco o que lhe da uma vantagem de algumas horas, rastreamos seu celular até o Brooklin, ela provavelmente o escondeu no táxi para ganhar ainda mais tempo. O motorista disse que ela desceu duas quadras antes do JFK."

"Duas quadras antes do aeroporto, pode me mostrar a área?" Questionei para o homem vidrado no notebook e me sentei ao lado dele no sofá que era uma das únicas coisas intactas no escritório, assim que ele ampliou a área balancei a cabeça. Como ninguém notou isso? "Ela não foi para o aeroporto." Pressionei a tela com meu dedo. "Uma quadra de onde ela desceu fica o café que sempre frenquentamos, o mesmo lugar..."

"Onde ela se encontrava com Woodnov." Matteu completou e determinação brilhou em seus olhos, troquei um olhar com Marco, mas antes que pudéssemos dizer algo meu irmão saiu feito um louco pela porta.

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