CORAGEM- A Ordem Dos Escolhid...

By YasMonte

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Num mundo onde o universo dos bruxos e dos meio-sangues se une, muita coisa pode acontecer. Silena Jack... More

Nota da autora
PARTE UM- Coragem para enfrentar
O EXPRESSO
O CHAPÉU SELETOR
POÇÕES
A BRIGA
O GATO MENSAGEIRO
O TESTE DE QUADRIBOL
INTRIGAS
SEGREDOS
HALLOWEN
O SOLSTÍCIO DE INVERNO
A TOCA
PARTE 2- DORES PASSADAS
O PÉGASO
A FESTA DE NATAL
O EXPRESSO DO SALGUEIRO LUTADOR
O JOGO DE QUADRIBOL
O ROSTO SEM NOME
PARTE 3- PASSADOS SOMBRIOS
O CADERNO DOS HORRORES
O PRESENTE DE FIM DE ANO DOS LEITORES
ATAQUE EM HOGSMEADE
FLASHBACK
LEMBRANÇAS SOMBRIAS
AMEAÇA
SOBRE PASSADOS E MENTIRAS
A MENTIRA TEM CINCO PERNAS CURTAS
FRAQUEZAS
O PLANO PERFEITO
A ÚLTIMA DANÇA
PARTE 4- FINAL
O BAILE DA VITÓRIA
O PIOR DOS INIMIGOS
CICATRIZES
RECOMEÇO
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS+Nota da Autora

MEA CULPA, MEA MAXIMA CULPA

763 63 32
By YasMonte

 
    Título em referência a Instrumentos Mortais porque sim 😂😂😂😂😂😂 Desculpem o atraso. Recadinhos no fim do capítulo!

**************

"Por quanto tempo você vai esperar? Por quanto tempo você vai pagar por isso?
Por quanto tempo você vai esperar? Oh, por isso, sim.
Eu estava assustado
Cansado e despreparado
Mas vou esperar
E se você partir
E me deixar aqui sozinho
Ainda esperarei por você
-Coldplay( In my Place)"

TIAGO

(Dia do Baile da Vitória, Hogwarts)

- Mas que droga, Mason!- Murmurei, correndo com a capa de invisibilidade num braço e a varinha na mão.

Os corredores estavam vazios, todos preocupados com os últimos preparativos do Baile, ensaios, vestidos e tudo mais. Passei na frente de uma janela e vi o sol se pondo do lado de fora do castelo, se escondendo atrás das árvores da floresta proibida. Havia uma espécie de agitação na minha mente, uma sensação de algo estar tremendamente errado. Era como uma força invisível me empurrando para trás, não querendo permitir que eu chegasse até Mason. E com razão.

Alcancei a passagem da bruxa de um olho só e entrei na escuridão. Coloquei a capa de invisibilidade e corri o mais rápido que a passagem estreita permitia. Eu teria que falar com Fred para melhorarmos aquilo um dia. Estava frio lá embaixo. Muito frio. Ou talvez fosse apenas o medo de não conseguir chegar a tempo. Forcei minha visão para enxergar mais longe e avistei uma figura se movendo rapidamente mais à frente, andando a passos largos para longe de mim. Corri mais rápido. Meus pés doíam, minhas mãos suavam. Algo estava errado. Ao me aproximar mais avistei os cabelos loiros de Mason e senti um alívio imediato.

- Mason!- Chamei e tirei a capa de invisibilidade.

Mason não se virou para me encarar, mas parou de andar exatamente no lugar em que estava. Fui até ele e toquei seu ombro.

- Você está maluco? Vamos voltar para o castelo, otário. Ir para Hogsmeade é burrice. Não tem nada lá.

Mason virou seu rosto para mim lentamente e então me encarou. Não havia expressão em seu rosto, mas seus olhos me transmitiam algo que eu não soube identificar o que era. Aquilo me assustou.

- Mason- Chamei, balançando seu braço- Você está bem.

Mason não respondeu, apenas continuou petrificado onde estava. Senti uma arrepio na minha nuca, minhas costas gelando, e quando me virei, havia uma figura nas sombras olhando para mim. Quando eu percebi que se tratava de uma armadilha, já era tarde demais. A figura veio até mim, tocou meu braço e me encarou através dos buracos da máscara. Seu corpo começou a se dissolver, virando uma espécie de fumaça negra e a circular ao meu redor, enquanto eu estava paralisado no lugar, encarando Mason. A fumaça foi se dissipando e a figura desaparecendo por completo a medida que eu perdia a consciência e caia em direção à escuridão. Tudo depois eram flashes. Fred, Alvo e Scorpius enfeitiçados no saguão. Avistei Silena e Mason de longe. Uma sala quebrada. O olhar apavorado de Silena diretamente para mim. Eu nunca esquecerei aquele olhar. Era o medo puro, um pavor profundo que marcou minha mente com aquela imagem. Quando estava na floresta, prestes a atirar a faca nela, sem ter nenhum controle sobre meu corpo, tudo que consegui foi desviar, mas não adiantou. O próximo flash foi Silena, com seu vestido branco manchado de sangue e me encarando com seus grandes olhos verde-mar. E tudo depois disso foi uma dor tão grande que poderia me consumir.

* * *

MASON

( Dia do Baile da Vitória, Hogwarts)

O fim da tarde se aproximava quando a coruja pousou na minha frente, numa das janelas do salão comunal. Uma carta do meu pai. Fazia tanto tempo que eu não o via. Eu precisava de suas palavras de conforto para me acalmar, naquele dia que prometia ser horrível. Eu poderia perder a única garota que conseguiu despertar algum sentimento diferente em mim. Mas não foram palavras de conforto que encontrei na carta. Ele me contou sobre pistas numa casa próxima à Dedos de Mel. Eu poderia ir até lá e tentar descobrir algo antes do Baile. Coloquei um casaco qualquer e corri para fora, minha varinha no bolso da calça. Estava prestes a sair, mas me lembrei de minha combinação com Tiago, de não irmos sozinhos para Hogsmeade. Eu não tinha tempo para procurá-lo, então anotei num pedaço de pergaminho o que estava indo fazer e corri. O caminho parecia um borrão. Atravessei a passagem da bruxa de um olho só e corri em disparada. Mas não fui muito longe. Fui atingido por um feitiço poucos metros depois da passagem e bati com tudo numa parede da passagem. Me levantei, sentindo uma dor aguda nas costelas, mas fui jogado para o outro lado, batendo a cabeça também dessa vez e senti minha visão embaçar. Mas figura parou próximo a mim e tocou meu braço. Algo estranho aconteceu. Meu corpo não obedecia mais a mim. Eu lutei, mas se sentia exausto. A pior parte é que eu enxergava tudo o que eu "fazia", mas não conseguia me controlar. E aquela foi uma das piores sensações do mundo. Ter que levar Silena para uma armadilha me matou por dentro, me consumiu, e nem mesmo o toque de seus lábios nos meus amenizou a minha dor. Acordei na enfermaria com Myrella, Alvo e Scorpius desesperados e querendo saber onde ficava a pedra na floresta. Mas era tarde. Não houve o que pudéssemos fazer. As portas da enfermaria se abriram e Aurores entraram carregando uma maca. Todos nós reconhecemos os cabelos vermelhos de Rose no mesmo instante. Scorpius ficou paralisado, encarando enquanto a colocavam numa das camas. Depois entraram trazendo Mex e Tiago. Tiago estava horrível, sangrando, mas Mex parecia ter caído de um penhasco. Todo sujo de sangue no rosto e no corpo. A última maca era alguém coberto por um tecido branco. Era um corpo. Myrella levou as mãos à boca, horrorizada, e seus olhos de encheram de lágrimas ao ver a família de Lena sendo consolada. Não. Não podia ser. Logo a notícia se espalhou e curiosos se juntaram nas portas da enfermaria apenas para serem expulsos pela diretora Mcgonagall. Eu tentava me manter acordado, mas estava ficando difícil. Eu não sabia o que estava sentindo. E uma parte era culpa minha. Era difícil de acreditar que o corpo levado para a salinha da enfermaria e que logo levaram embora era o de Silena Jackson. E ela estar morta me consumia. Marcie havia aparecido, sua face triste, mas não conseguiu me consolar. Logo caí no sono, depois de passar horas com lágrimas escorrendo silenciosamente de meus olhos. Em meus sonhos, eu ouvi sua voz e seu riso ao longe, e isso apenas fez eu me sentir pior a cada segundo que passava.

* * *

SILENA

( Momentos Atuais )

Eu estava com eles. Eu vi Tiago. Eu me sentia feliz e apavorada ao mesmo tempo. Eu estava viva. Era inacreditável. Nunca havia sentido algo como aquilo em toda minha vida. Estar novamente ali, ao lado dos meus amigos, era a melhor coisa que já havia me acontecido, mas ao mesmo tempo eu sentia um medo enorme das consequências. Todos achavam que eu estava morta. Eu, de fato, estava, mas voltei. Agora, como explicar isso sem causar pânico, caos e tumulto desnecessário? Impossível. E nem mesmo minhas capacidades de inventar uma mentira conseguiam pensar em uma desculpa meramente aceitável.

Olhei para meus amigos, todos ali e tão felizes. Rose não parava de sorrir, Scorpius e Alvo pareciam incrédulos, Mex mantinha aquela pose dele, mas com um sorrisinho de canto de boca. Sally foi a que mais me surpreendeu com sua reação. Quando ela me abraçou eu percebi que nunca havíamos feito aquilo na vida. E tinha Tiago. Era como se um peso tivesse sido tirado de seus ombros- e dos meus também- quando ele me viu. Nunca conseguirei descrever a reação dele, mas era a mais pura felicidade. Depois do choque, Scorpius e Alvo começaram a me bombardear com perguntas, mas me desviei da maioria graças a Sally, que me puxou na hora.

- Temos que falar com a mamãe e o papai- Disse ela, me arrastando na direção das portas da enfermaria- Eles estão arrasados.

Olhei para meus amigos por cima do ombro e Rose assentiu. Eu tinha que falar com minha família. Encarei Tiago por alguns segundos, que parecia triste por me ver ir tão cedo, mas havia algo mais em sua expressão. Franzi as sobrancelhas enquanto Sally me puxar e fechava a porta quando nós passamos para o lado de fora.

Os corredores estavam vazios. O castelo parecia completamente abandonando, mas eu sabia que não era isso.

- Alguns foram embora- Disse Sally, percebendo o que eu estava pensando- A notícia de que uma aluna havia sido morta chocou todo mundo. Alguns pais levaram os filhos para casa até terem certeza do que realmente aconteceu, mas a maioria está simplesmente impedida de sair do dormitório.

- Imagino. Quais são as teorias que estão rolando por aí?- Perguntei, tentando encontrar algo engraçado naquela situação.

- O de sempre! Alguns estão achando que foi um ataque de alguns comensais da morte antigos querendo abalar o significado do Baile da Vitória. Outros já estão em pânico dizendo que há um novo Lorde das Trevas- Franzi as sobrancelhas e Sally me encarou- A notícia dos cadáveres vazou de vez e descobriram que não foram os quintípedes que mataram aquelas pessoas. Rose fez um escândalo algumas horas atrás e Hagrid a apoiou, além do Sr. Scamander. O ministro está investigando o que aconteceu no Profeta Diário para eles omitirem o caso daquele jeito. Está tudo a maior bagunça.

- Eu não morri nem a vinte e quatro horas e vocês quase destroem o mundo mágico. Não me surpreende- Respondi, rindo.

- Falando em destruir... Temos mais um problema- Sussurrou Sally, enquanto descíamos as escadas em direção ao saguão.

- Por favor, me diga que vocês não destruíram realmente o mundo mágico- Pedi, arregalando os olhos.

- Sabe... Mais gente acabou envolvida nisso, Silena- Respondeu Sally, parando de andar e parei na sua frente- A Macusa entrou na confusão, tem um grupo de representantes aqui, além do diretor da própria Ilvermorny. E... O Tio Jason meio que trouxe uma parte dos romanos na bagagem para cá. E alguns gregos revoltosos com o que aconteceu. E pais de meio-bruxos. E você não vai querer saber o resto.

Demorei alguns segundos para entender o que ela estava dizendo, mas o barulho repentino vindo do Salão Principal fez meu corpo gelar.

- Sally... O que está acontecendo exatamente?

Sally olhou para os próximos pés.

- Pode-se dizer que estamos a ponto de uma discussão não muito amigável entre dois grupos que já tinham uma grande tensão entre si. Possivelmente nada de bom sairá disso.

Voltei a descer os degraus em disparada e Sally veio atrás de mim. Mas que droga. Parece que a coisa toda saiu do controle. Cheguei às portas do Salão Principal e, sem pensar direito no que eu estava fazendo, a empurrei e me deparei com uma cena inacreditável. A Diretora Mcgonagall estava em pé, em frente à mesa dos professores, ao lado do ministro, pedindo calma. Tio Harry, Rony, Hermione, Luna, Prof. Longbottom e os outros Weasley tentavam acalmar os ânimos no meio do salão. De um lado eu pude ver Tio Jason, Leo, Frank, Nico, Grover, tia Piper, Hazel e Reyna, além de outros amigos do meu pai dos dois acampamentos. Até mesmo Quiron estava ali, com sua metade de cavalo branco sem o disfarce da cadeira de rodas. Do outro lado haviam outros grupos mesclados, como um grupo mais contido de bruxos e outros particularmente revoltados. Os professores tentavam parar os gritos e os xingamentos vindo de ambos os lados- obviamente Hagrid era quem estava tendo mais sucesso com isso-, mas tudo parou segundos depois que eu abri as portas e todos olharam para mim. Me perguntei se era tarde demais para dizer que entrei na sala errada e sair correndo dali, mas todos já haviam me visto. Vi uma porção de faces pálidas, algumas exclamações e um grito dizendo "Agora a coisa está ficando boa! ". Sally parou ao meu lado e me encarou com uma expressão que era um misto de pena e tédio. Pela primeira vez na vida eu entendia minha irmã. Minha mãe e meu pai empurraram duas pessoas para longe e me encararam por longos segundos, que mais pareceram horas, e então correram na minha direção. Todos no Salão permaneciam imóveis. Meu pai se abaixou na minha frente e me segurou pelos ombros, me encarando sem acreditar.

- É você mesma?- Perguntou ele, com os olhos cheios de lágrimas.

Assenti com a cabeça, tentando segurar o choro e falhando quando ele me abraçou e logo minha mãe fez o mesmo. E depois de alguns segundos começou o barulho novamente. Várias pessoas queriam se aproximar, os professores voltaram a tentar acalmar a multidão, mas tudo só parou quando a Diretora Mcgonagall lançou faíscas para o topo do Salão. Ela parecia zangada.

- Silêncio- Disse ela e passou os olhos pelo salão, desafiando alguém a desobedecê-la- Apenas aqueles diretamente envolvidos no caso devem vir comigo até o meu escritório. E isso não inclui todo o Acampamento Júpiter, Sr. Grace. Aos demais, peço que acalmem os ânimos e, se tiverem algo realmente importante a tratar, que venha falar comigo amanhã. Esta reunião está encerrada.

Algumas pessoas começaram a sair, assim como a Diretora, que chamou minha família com um aceno de cabeça. Fomos atrás dela enquanto a grande maioria do salão ia embora.

- Eu vou ficar com a Bella e o Charles- Disse Sally e mamãe assentiu.

Tudo estava uma bagunça enorme. Todos olhavam para mim e sussurravam coisas que eu não conseguia entender direito. Ouvi palavras como "morta" e "bizarra" enquanto seguia a Diretora Mcgonagall para fora do Salão. Olhei por cima do ombro esquisito avistei meus tios me encarando. Todos pareciam assustados, confusos e até mesmo felizes. Logo viramos nos corredores e os perdemos de vista.

A Sala da Diretora Mcgonagall era grande. Haviam vários quadros de vários bruxos pelas paredes e uma infinidade de objetos que minha mente não conseguiu assimilar direito. Assim que passamos pela porta ela se voltou para mim e encarou meus olhos.

- O que aconteceu?- Ela perguntou simplesmente.

- Eu não sei- Menti, tentando manter minha expressão neutra e não me entregar, o que estava sendo muito difícil.

Ela se sentou atrás de sua mesa e olhou para meus pais. Havia algo em sua expressão que me deixou intrigada. Olhei para os dois, sérios e encarando a diretora, como se estivessem tendo uma discussão silenciosa. Me cansei de ficar os observando e resolvi falar.

- O que foi tudo aquilo no Salão? Tem algo acontecendo?- Perguntei, olhando para a diretora.

- Os acontecimentos do Baile tiveram sérias consequências- Respondeu a diretora.

- Você morreu, Lena- Respondeu meu pai, sério- Você faz parte do nosso mundo, mas morreu no mundo mágico de uma forma misteriosa. Os gregos e os romanos não ficaram felizes com isso, especialmente os que não confiam nos bruxos.

- Os bruxos da Macusa deveriam ter investigado os corpos, mas não o fizeram. Por isso vieram para cá. O diretor da Ilvermorny é uma figura significava, veio devido ao fato de que você deveria ter sido mandada para lá ao invés de vir para Hogwarts. Os pais dos meio-bruxos reclamaram da forma como seus filhos são tratados em ambos os mundos e por aí vai- Respondeu minha mãe- Tudo quase entrou em colapso.

- Eu não entendo- Sussurrei, franzindo as sobrancelhas- O que aconteceu com a Macusa? Por que eu não fui para a Ilvermorny e o que tem acontecido com os meio-bruxos?

- Sobre a Macusa, as investigações irão ser iniciadas, não deve se preocupar com isso. Você não foi para a Ilvermorny porque seus pais prestaram um grande serviço a todos nós e como recompensa Hogwarts irá receber qualquer Jackson ou Chase nascido bruxo- Respondeu a diretora- Já a questão dos meio-bruxos é mais antiga. Desde que foram inseridos na nossa sociedade eles foram postos de lado e cada vez mais são alvo de preconceitos. Os bruxos os tratam dessa forma e afirmam que eles são "instáveis"- A Diretora Mcgonagall respirou fundo e se apoiou na mesa, me encarando- Silena, eu gostaria que você me dissesse exatamente o que aconteceu ontem. Sabemos que algo se apossou do corpo de Tiago Potter graças às informações da sua amiga, Srta. Reng. Os outros foram adicionando detalhes, mas não sabemos o que aconteceu para você estar aqui. Afinal, fazem poucas horas que vimos seu corpo numa das salas da escola.

Olhei para baixo, onde eu torcia meus dedos, nervosa. Eu tinha medo do que aquilo tudo podia causar. Teria sido muito bom se eu tivesse Arthur ali comigo. Ele dava os melhores/piores conselhos do mundo. Eu estava com a explicação na ponta da língua, quando de repente algo me impediu. Havia algo dentro de mim que berrava para eu não contar a ninguém sobre o que aconteceu comigo.

- Eu... Não sei ao certo- Murmurei, reforçando a confusão em minha voz e fiz uma cara pensativa, como se estivesse tentando me lembrar de algo- Eu me lembro de estar na floresta, de tudo ficar escuro. Então eu acordei e vi Rose e Mex na sala onde eu estava. Eu não sei o que aconteceu. De verdade.

- Então você não se lembra de nada?- Perguntou a Diretora Mcgonagall, me avaliando atentamente.

- Não- Concordei com a cabeça e olhei diretamente em seus olhos para reforçar minha afirmação- Nada mesmo.

* * *

Quando finalmente consegui sair de perto da minha família, já era muito tarde da noite. Eu me sentia sufocada. Não encontrei com os outros, pois foram mandados para o dormitório, onde os alunos estavam desde a noite do Baile, sem autorização para saírem. Cumprimentei o fantasma de Nick-quase-sem-cabeça quando parei na frente da porta da enfermaria. Eu estava com um mal pressentimento. Não que aquilo fosse novidade, mas era como se algo ruim fosse acontecer. Eu nunca soube explicar ao certo. Respirei fundo e abri a porta, vendo-o me encarar imediatamente com seus olhos castanhos. Entrei e fechei a porta atrás de mim, indo até a beirada de sua cama e o encarando, enquanto ele me encarava de volta. Havia algo em seu olhar que eu não reparara mais cedo e aquilo me assustou. Culpa.

- Lena- Sussurrou Tiago.

- Ti- Respondi, sorrindo e sentindo meus olhos se encherem de lágrimas.

Me aproximei dele e parei ao seu lado. Eu não conseguia explicar o que era aquilo que eu sentia e pela primeira vez em muito tempo eu não conseguia entender o que se passava na cabeça de Tiago. Subi na cama da enfermaria e me encostei na cabeceira, ao lado dele. O lugar já estava vazio. Tiago olhava para qualquer lugar menos para mim.

- Ti, eu...

- Não, Lena- Disse ele, me surpreendendo- Eu... Não quero você aqui.

- Como é?- Perguntei, incrédula. Ele só podia estar ficando maluco.

- Você entendeu- Disse Tiago, se afastando de mim- Você deve ir. Não... não posso ficar perto de você depois de tudo o que aconteceu.

- Ti, a culpa não foi sua- Disse e toquei seu braço, mas ele se contraiu ao meu toque e se afastou.

     Os olhos dele encontraram os meus e permaneceram ali. Havia dor em sua expressão, e certamente havia na minha também. Era como se houvesse aparecido de repente uma barreira entre nós dois, um grande abismo intransponível.

- Não quero te machucar novamente, Lena- Sussurrou Tiago, desviando o olhar- Foi por isso que eu não queria que você viesse para Hogwarts ou que ficasse aqui. Você se machucou. Você morreu. Eu quase enlouqueci pensando que eu... que eu havia...- Tiago engoliu em seco e balançou a cabeça, se afastando mais ainda de mim- Só vá embora.

- Tiago, você não pode se culpar. Você estava sendo controlado por... Sabe-se lá o que- Respondi, desesperada.

- Você não está me escutando?- Perguntou Tiago, me segurando pelos ombros- Eu não consigo. Toda vez que eu olho para você... Toda vez que eu olho para você eu me lembro de não poder fazer nada enquanto controlavam meu corpo e te atacavam. Me lembro de atravessar aquela lâmina em você... do seu sangue nas minhas mãos...- Tiago me encarou, seu rosto perdido e desesperado- Me lembro do seu corpo nos meus braços e tudo que eu penso é que é sim culpa minha, tudo minha culpa.

     Tiago encarou os lençóis, respirando com dificuldade. Toquei sua bochecha e o forcei a me encarar, mesmo ele tentando olhar para longe. Encarei seus olhos castanhos e senti meu coração se apertar. Estávamos quebrados.

- Podemos recomeçar, Ti. Esquecer tudo. Você é meu melhor amigo- Sussurrei, alisando seu rosto- Nada disso é culpa sua.

     Tiago tocou a minha mão que estava em sua bochecha e a levou até seus lábios. Então ele a soltou e desviou o olhar.

- Não, Silena. Por favor, saia daqui- Disse ele- Você só está tornando tudo mais difícil.

     Doeu. Doeu muito. Eu queria discutir, gritar, fazer qualquer coisa para ele entender que eu estava bem na sua frente, que eu não estava morta, mas ele ainda se culpava. Me machucava vê-lo tão machucado pelo que havia acontecido. Desci da cama e  me virei em direção à porta da enfermaria, saindo e fechando-a atrás de mim sem olhar para trás. Me encostei na madeira trabalhada e permiti que as lágrimas que eu estava segurando finalmente descessem. Meu reencontro com Tiago não foi, definitivamente, da forma como eu imaginei que seria. Nem de longe.

*****************************

    Sei que provavelmente querem me matar, mas o capítulo atrasou devido a uma série de problemas somados a uma infinidade de provas que eu tive nas últimas semanas. Prometo tentar recompensar vocês.

    Estamos quase no fim do primeiro ano dessa galerinha e muita coisa já mudou. Vamos ver agora quais foram os vínculos que toda essa confusão criou e quais foram as pessoas que ela separou ( Além do Ti e da Lena). Beijos e até o próximo capítulo 😘😘😘

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