E-mãe a internet me aprontou...

By thaydiasoficial

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Desde a separação de seus pais, Ana vivia em uma pacata cidade do interior com o pai. Tudo ia bem, até que el... More

Introdução
João.com.Marina
Depois do fantástico almoço
Aviso
Conversa difícil
Na escola

Surpresa

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By thaydiasoficial




Todo dia, eu chego da escola morta de fome, largo minha mochila no primeiro lugar que vejo (geralmente no sofá da sala) e vou direto para o fogão. Faço meu prato e ponho no microondas.

A essa hora, normalmente, meu pai já almoçou e está no quarto dele, vendo um pouco de tevê, antes de voltar para o trabalho. Seu horário de almoço não bate com o meu. Ele já tentou mudar, mas não deu certo. É por isso que eu vou para a escola e volto para casa de perua.

Só que, nesse dia, adivinhe quem estava me esperando para almoçar?

- Oi, filhota! Hoje o papai esperou você para almoçar.

Olhei para a cara dele com ar de poucos amigos. E depois para a cara daquela mulher. Com ar de pouquíssimos amigos.

Não falei nada. Queria ver até onde ia a cara de pau dos dois.

- Oi, Ana! Seu pai me convidou para almoçar com vocês. Fiz bem em aceitar ?

Não respondi. Caramba! Tinha cabimento uma coisa dessas?! Trazer alguém para almoçar, no meio da semana, em plena quinta-feira, e nem me falar nada! É logico que eles já tinham armado essa arapuca há muito tempo! Planejaram direitinho, me fizeram de tonta por semanas! Vai ver, desde aquele dia em que ouvi aquela conversinha fiada: "... tenho certeza de que ela vai acabar concordando..."

Enquanto eu pensava em todas essas coisas, meu pai resolveu bancar o simpático e acabou respondendo por mim:

- É claro que eu fiz bem, não é mesmo, Ana Maria?

Ana Maria! Quando meu pai me chama de assim, é porque está morrendo de vontade de me dar um sermão mais tarde. Toda vez que ele quer me dar uma bronca, por mais boba que seja a coisa que eu tenha feito, ele sempre começa assim: "Ana Maria! Blablablá... blablablá... blablablá..."

Nessa hora, a minha vontade, que estava quase explodindo da minha garganta, era de gritar bem alto:

"Dona Marina (eu ia falar dona Marina para a mulher se sentir muito, mas muito velha mesmo! Não que ela fosse tão velha assim. Tinha lá seus trinta e poucos anos. Acho que a idade do meu pai, por aí. Mas o que me importa?), foi uma péssima ideia do meu pai! E põe péssima nisso! Foi a pior ideia que ele teve nos últimos dez anos!"

Mas, claro, não falei nada disso. Meu pai era bem capaz de me dar um safanão tamanho gigante se eu dissesse uma coisa dessas.

Não disse tudo o que tinha pensado, mas conservei uma coisa na minha fala:

- Dona Marina - reforcei a entonação no "dona" -, meu pai é quem sabe se foi uma boa ideia...

Mesmo assim, sendo tão sutil, ele ficou bravo. Deu pra perceber pelo tom de voz com que ele falou:

- Ana Maria...

E deixou a frase suspensa no ar. A mulher resolveu falar:

- Me chame só de Marina, Ana.

Respondi com um sorrisinho amarelo. Aliás, o sorriso já foi muito. Ela não merecia nenhum sorriso, fosse branco, azul, verde ou amarelo!

Já ia me dirigindo para o fogão para fazer o meu prato, como faço todo santo dia, quando meu pai me segurou pelo braço:

- Deixe, filha, vou por a comida na mesa. Já está tudo quentinho...

- Como assim, quentinho? Que eu saiba, você sempre faz o jantar pra nós ( de novo, aquela reforçada no "nós") esquentarmos no outro dia, na hora do almoço.

Adorei ter falado aquilo. Por dois motivos: primeiro, para a tal da Marina ver que aqui em casa não tem moleza, não! Não tem empregada para ficar fazendo jantar, almoço, nada disso. Só uma faxineira vem uma vez por semana para dar uma "geral" na casa. Eu e meu pai é que cuidamos de tudo. Segundo, porque, quem sabe, ela ia achar que lugar de homem não era no fogão. Resolvi arriscar.

Então o meu pai veio com esta:

- O nosso almoço, filha não é p jantar de ontem. Fomos buscar comida no restaurante agora há pouco. Eu e a Marina.

Não era possível! Aquilo só podia ser provocação! Só por causa dela meu pai resolveu comprar almoço e dispensar o jantar da noite anterior, que até estava bem gostoso? Almoço pronto ele só comprava no final de semana! Isso quando a gente não ia almoçar na casa da vovó.

Além de tudo, ele tinha levado a tal Marina para escolher o cardápio? Era só o que me faltava! Por isso, decidi que ia odiar o cardápio, qualquer que fosse.

- Tem lasanha, arroz, frango, batata frita e maionese.

Olhei para a cara do meu pai assim que ele acabou de dizer aquilo. Agora eu tinha certeza: ele estava mesmo querendo me provocar. Escolheu o meu prato preferido! Na certa, desconfiou de que eu podia dizer que não gostava da comida, só para não almoçar com eles. E aí, o que foi que ele fez? Comprou tudo o que eu mais gosto de comer! Adoro batata frita, adoro maionese e, lasanha, ai meu Deus, nem se fale! Que ódio!

- Sente-se no seu lugar, Ana - disse meu pai, apontando para um lugar á mesa. - Já vamos servir você.

Não gostei do "vamos". Nem um pouco. E desde quando preciso de alguém para me servir? A única coisa que eu precisava era do meu microondas. Com ele, estava tudo certo.

Eu me sentei e fiquei esperando para ver quem ia falar primeiro.

- Você gosta de lasanha, Ana?

Cara de pau! Até parece que ela não sabia!

- Gosto - falei, sem olhar de frente pra ela. Eu estava mexendo nos talheres, batendo de leve com eles na mesa. Sei que é falta de educação. Por isso mesmo estava fazendo aquilo.

Ela nem se importou. Continuou falando: - Sabe, eu sei fazer uma lasanha deliciosa!


"Por que não fez, então? Por que deixou o meu pai comprar?", foi o que pensei e tive vontade de dizer. Aliás, acho que ando tendo vontades de mais e ações de menos. Respondi apenas: - Ah é?
E ela continuou fazendo propaganda de seus dotes culinários:
- Qualquer dia você poderia ir almoçar lá em casa para experimentar a minha lasanha. Você e seu pai.
Aí eu não aguentei:
- Muito obrigada, viu dona Marina, mas acho que prefiro a comida do meu pai.
- Ana Maria! Que falta de educação, menina!
- Deixa, João. Está tudo bem - ela falou, com aquela cara de santa. Me deu uma raiva! Não sei se mais dela ou de mim, que fui responder só para o meu pai chamar a minha atenção e ela me defender. Eu mereço!
- Não deixo, não! - meu pai falou, louco da vida. Não sei por que ele perdeu a paciência comigo. Só por causa daquilo que eu tinha falado? Queria ver se ele pudesse ouvir os meus pensamentos... - Cuidei desta menina praticamente sozinho, e de uma coisa eu sei: não deixei de dar educação a ela, muito menos de ensina-lá a se comportar na frente de uma visita!
Visita? Ah, bom! Assim ficava mais fácil. Se a tal Marina era só uma visita, eu não tinha com que me preocupar. Estava tudo beleza.
- Tenho certeza de que você deu boa educação a ela, João.
- E deu mesmo! - resolvi abrir a minha boca. - O meu pai sempre foi pai e mãe! Nunca me faltou nada, até agora.
- Ana, eu tenho certeza de que seu pai sempre cuidou bem de você. E sozinho. Talvez seja por isso que ele se tornou uma pessoa maravilhosa...
Pronto! Até nisso ela via pontos a favor do meu pai. Assim não era possível! Eu estava sempre em desvantagem! Precisava arrumar um jeito de fazer com que os dois não se gostassem mais. Ou melhor, achar uma maneira de fazer com que eles só vissem os defeitos um do outro. Mas como? Como?
Vi quando meu pai deu um sorrisinho cheio de baba para ela, depois de ouvir aquilo. Deve ter se sentido um super-herói ou coisa assim.

Aquela cena me deu nojo. Foi por isso que resolvi não almoçar. Nada de lasanha ou batata frita! Que tudo fosse para o Diabo! Ou para a lata de lixo!
Então, bem cínica, falei:
- Com licença, mas estou sem fome. Vou para o meu quarto fazer lição.
Já estava me levantando quando meu pai me segurou pelo braço:
- Fique aí, Ana Maria!
De novo, Ana Maria. Só que dessa vez eu não estava com a mínima vontade de obedecer.
- Não vou ficar, não, pai! Não estou com fome e não vou comer! Me dá licença de estar sem fome?
Ele olhou feio pra mim. A intrometida segurou a outra mão dele e deu um apertãozinho, vi muito bem. Eu estava parada, em pé, esperando. Ou ele tirava a mão de mim ou ficava me segurando para sempre.
Ele soltou.
- Tudo bem, Ana. Se não tem fome, paciência.
Fiz um gesto, esticando o braço que até então estava preso. E fui para o meu quarto. Fechei a porta e me atirei com tudo na cama. E chorei. Chorei tá tô que ensopei minha almofada.
Puxa vida! Eu não queria uma namorada para o meu pai! Por que isso agora? Já faz tanto tempo que ele é minha mãe se separaram! Por que ficar com alguém outra vez? Ele já não estava acostumado a viver só comigo? Não podia ser assim a vida inteira? Já tínhamos os nossos costumes, as nossas manias, agora ia entrar uma pessoa nova na nossa vida? Pra que? Pra bagunçar tudo? Não era justo! Não era!

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