Addison se incomodou e sentiu uma leve falta de ar enquanto olhava para o teto do aparelho de ressonância magnética que estava muito perto de seu rosto. Ela não podia se mexer, então apenas seu globo ocular transitava. Nunca podia imaginar que aquela experiência poderia ser tão incomoda.
Depois de alguns minutos sentiu a maca em que estava deitada deslizando suavemente e finalmente ela se viu de frente com o consultório e puxou o ar fresco como se estivesse segurando a respiração até o momento.
- A senhora está bem? _ perguntou um residente do hospital, que tinha os cabelos claros e os olhos castanhos.
- Sim. Só que... Esse aparelho dá uma certa claustrofobia _ ela disse sentando com a ajuda do jovem, que segurava a sua mão.
- Todo mundo tem essa sensação. A senhora pode trocar de roupa.
- Ok.
Ela rapidamente andou até a pequena cabine onde estavam as suas roupas e colocou-as novamente. Quando saiu dali, ajeitando o jaleco branco por cima dos ombros. Parou ao lado de Julia Dumas, uma das neurologista do hospital.
- Então? _ perguntou a ruiva.
- Vendo assim... No computador... Sua tomografia está limpa.
- Limpa? _ perguntou Addison.
- Sim. Não tem nada que indique qualquer anormalidade. Eu não estou entendendo porque você pediu esse exame. Você está sentindo dores na cabeça?
- Não...
"Você não entenderia...". A médica, que tinha os cabelos ondulados presos em um rabo de cavalo, contraiu levemente os lábios.
- Bom, eu vou pedir para imprimir as placas e analisar de forma mais detalhada, então eu mando os resultados pra você.
- Obrigada _ disse Addison.
Ela saiu da sala de exames e voltou ao trabalho. No intervalo de almoço, andou até o pequeno restaurante que tinha na parte de trás do hospital e quando entrou ali, pareceu atrair muitos olhares, como se sua ida até o lugar não fosse muito frequente. "Onde eu almoço?" ela se perguntou, enquanto andava até o balcão para comprar algo para comer.
Ao sair com uma bandeja, Addison olhou para o lado e sem querer viu Nancy, sentada sozinha em uma mesa, levando o garfo à boca enquanto olhava para a tela de seu celular. A ruiva andou até a cunhada e sentou-se à frente dela, fazendo com que ela lhe olhasse com um olhar de muita surpresa. Addison estranhou.
- P-Posso sentar aqui com você? _ perguntou.
- C-Claro. Fica a vontade.
Nancy deixou o aparelho de lado, ajeitou os fios de cabelo castanhos e curtos atrás da orelha, e voltou a comer, olhando para a comida, claramente evitando contato visual com a ex-cunhada. Addison começou a comer e também evitou olhar para Nancy, já que não sabia o que conversar com ela. A ruiva olhava para os lados, vendo muitas mesas desocupadas. Porque ela havia escolhido aquela? Foi um impulso. Ou um erro, ela começava a pensar.
- Ai, Addison! Eu não aguento. Porque você está aqui? _ perguntou Nancy.
- Eu...
- Você nunca almoça nesse hospital, têm muitas mesas vazias, mas você... Porque você sentou aqui comigo?
- Eu não sei.
- Aconteceu alguma coisa? Aconteceu alguma coisa com a menina?
- N-Não. Não aconteceu nada com ela. Eu não sei por que eu estou aqui. Desculpa _ disse Addison levantando-se _ Eu...
- Não. Fica. Tudo bem _ disse Nancy.
- Não. Ok. Eu tenho que ir.
- Mas você nem comeu nada.
Addison deixou a comida que havia comprado ali na frente da cunhada e saiu do restaurante envergonhada. Nancy a seguiu, mas não conseguiu acompanhá-la. Parou na porta do local, preocupada imaginando que algo havia acontecido com a sobrinha. Afinal, qual outro motivo faria com que Addison tentasse uma reaproximação?
***
- Não! Eu não tenho hora marcada, eu sou a cunhada dela! _ disse Addison à secretaria de Kathleen _ Apenas, avise à dra. Shepherd que eu estou aqui. A cunhada dela.
- A dra. Shepherd está em uma consulta nesse momento...
A porta se abriu e Kathleen saiu com uma moça. Surpreendeu-se em encontrar com a ex-cunhada e imaginou que ela estava ali pelo mesmo motivo do dia anterior.
- Addison?
- Eu preciso falar com você _ disse a ruiva.
Kathleen apenas assentiu. Ela despediu-se da paciente, em seguida adentrou o consultório com a ex-cunhada.
- Eu preciso que você me conte tudo de uma vez por todas, Kath. Eu não aguento mais essa loucura _ disse Addison sentando-se em um sofá.
- Do que exatamente você está falando ?
- De Derek não ter contato com a própria filha, de vocês se referirem a ela como "a menina", de nós não termos mais uma relação... O que está acontecendo? O que foi que eu fiz? Em que circunstancias eu me separei de Derek? Eu preciso que você me responda isso, Kath.
- Addison, se você...
- Para de me chamar de Addison! Você nunca me chama de Addison! _ disse a ruiva _ É Addie... Lembra?
- Isso foi há uns três anos atrás. Antes de você e Derek enlouquecerem completamente.
- Ham?
- Você não tem noção...?
- Não.
Kathleen ficou em silêncio e sentou-se em uma poltrona, de frente para a ex-cunhada.
- Eu preciso que você faça uma tomografia...
- Eu fiz.
- E então?
- Limpa. Eu não tenho nada no meu cérebro.
- Jura?
- Sim.
Kath pensou novamente. Havia lido muito durante a noite sobre o que possivelmente poderia está causando esse esquecimento em Addison, mas não encontrou nenhuma resposta.
- Isso que você está vivendo é praticamente inexplicável... _ disse a terapeuta _ Quer dizer, é inexplicável. Do ponto de vista psicológico, é inexplicável. Eu pesquisei e não encontrei nenhum caso que pudesse se assemelhar ao seu.
Addison se manteve em silêncio.
- Eu preciso que você me fale...
- Eu não sei _ disse Kathleen _ Como eu posso saber como aconteceu o divórcio entre você e o Derek se isso aconteceu do outro lado do país? Como a gente pode saber qualquer coisa se você e o Derek sempre se acharam suficientemente independentes e excluíam a família da vida de vocês? Tudo o que eu sei é que vocês se separam, a mamãe não gostou nada disso, principalmente quando soube que você havia viajado para morar na Europa e levado a menina com você.
- Eu o quê?
- Você saiu do país _ informou Kathleen _ Após a assinatura dos papéis do divórcio, você saiu do país com a sua filha e morou por meses na Europa.
- Eu e ela?
- Não sei, por que quando vocês voltaram, você já estava com o Mark, vocês já tinham uma filha recém nascida e começaram a construir a cooperativa. Eu não sei muito bem. Tudo o que a gente sabe, era o que comentavam com a gente. Eu só fiquei sabendo que você estava na América novamente porque a dra. Carlsmith comentou com a Nancy e ela falou com a família inteira. Desculpa, mas eu acho que eu não sou a pessoa mais indicada para falar o que aconteceu na sua vida nos últimos três anos, muito menos como você e o Derek se separaram.
- Então depois que nos separamos, eu não tive nenhum conflito com a sua família?
- Não.
- Então porque vocês se afastaram da sobrinha de vocês? Você pode imaginar porque o Derek se afastou da própria filha? Kath, você sempre foi a irmã preferida dele.
- Ninguém se afastou de ninguém, Addison. Foi natural. Vocês moravam lá, a gente aqui. A vida seguia. No mais, veja bem.,, Quando a sua filha nasceu, vocês não avisaram. Durante os dois primeiros anos dela – que foi o tempo em que você esteve junto com o meu irmão, certo? – nós só tivemos contato com ela duas vezes, que foram aqueles natais que vocês vieram para Nova York. Então vocês se separaram, você viajou... Quando você voltou, você não procurou pela gente _ explicou Kathleen _ E mais, você sempre agiu como se quisesse distância de qualquer coisa relacionada à nossa família. Você não trabalha com a Nancy, está sempre evitando ela... Até com a Amelia, que sempre foi a sua preferida, você cortou inteiramente o contato. Eu nem acho que a sua filha conheça a gente. Lizzie disse que a viu duas ou três vezes nos corredores, quando você a leva ao pediatra, disse que é uma criança linda, que tem os olhos do Derek, mas... É só isso que a gente sabe.
Addison estava surpresa com todas aquelas informações.
- Você tem uma vida nova, Addie. Nós não fazemos parte dela.
A ruiva continuou em silêncio, ainda boquiaberta.
- A culpa é minha... _ sussurrou _ Fui eu que afastei a Katie da família dela...
- Não. Eu não acredito nisso _ disse Kathleen _ Você deve ter tido um motivo para tomar essa decisão de sair do país. Essa é uma decisão extrema, que não é tomada do dia para noite. Eu não sei o que aconteceu em Seattle para você e o Derek se separarem, mas seja lá o que tenha acontecido, despertou em você o desejo de fugir para algum lugar em que você poderia recomeçar. Eu não acredito que você tenha feito isso por vingança.
- Mas...
- O que aconteceu foi natural. A menina cresceu longe da gente. É natural que não exista esse contato, esse vinculo...
- É algo irrecuperável?
- Eu não sei.
- Ela sente falta _ disse Addison _ Katie. Ela sente falta de ter uma família. Quer dizer, lá na nossa casa parece tudo perfeito... É tudo perfeito. Ela é muito feliz. Todos são muito felizes. Mas quando eu falo com ela sobre a família dela por parte de pai... Ela fala como se sentisse deslocada da nossa vida, sabe? Ela fala como se quisesse estar no lugar da irmã e quisesse ela ter o pai e a mãe juntos.
- Criança é assim mesmo. Quantos anos ela tem? Cinco?
- Sim. Está prestes a fazer seis. Kath, você pode me ajudar com uma coisa?
- O quê?
- Tenta entender como eu me separei do Derek. Eu preciso saber disso.
- Você deve imaginar o quão difícil pode ser ele atender um telefonema de quem quer que seja daqui de Nova York?
Addison contraiu os lábios, lembrando o quanto Derek odiava quando as irmãs tentavam interferir em suas vidas.
- Mas eu vou tentar...
A ruiva sorriu.
- Como é que ele está? _ perguntou _ Digo... Ele está casado? Com a Meredith? Eles têm filhos?
Kathleen olhou nos olhos da cunhada.
- Você ainda gosta dele...
- Eu...
- Não. Não estou perguntando. Eu estou afirmando _ disse Kathleen _ Você ainda gosta dele.
- Pra mim é como se eu tivesse dormido na mesma cama com ele outro dia. Nós estávamos tentando salvar o nosso casamento... _ disse Addison _ Pelo menos eu estava tentando. Estava tentando com todas as minhas forças. Estava tentando de uma forma que chega a doer aqui dentro de mim porque eu tenho certeza que ele estava ali apenas por obrigação.
Ela puxou o ar e limpou as lágrimas.
- Eu preciso saber qual foi a gota d'água, Kath. Por favor.
Kathleen apenas assentiu.