Olá, minhas lindas! Uma das coisas que me impulsiona a postar no Wattpad é ter esse retorno imediato enquanto estou escrevendo o livro. No último capítulo, os comentários de vocês me deram o que pensar, então decidi fazer algumas mudanças.
Recomendo que leiam o capítulo anterior, que foi repostado, antes de prosseguir a leitura deste. Espero que gostem das mudanças. Beijão e obrigada por acrescentarem tanto à minha escrita!!!
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BOLO DE CHOCOLATE
A pouca claridade permite que eu abra os olhos sem dificuldade, tentando descobrir onde estou. A TV está ligada, mas não consigo enxergar nada, além disso, devido à escuridão. Um cheiro tóxico e familiar penetra os meus sentidos e me dou conta de que Nicholas não pode estar muito longe. Puxo a almofada e levo ao nariz, o que faz com que meu sangue enerve e minha pele aqueça instantaneamente.
Eu preciso controlar esses pensamentos errantes. Nicholas definitivamente não é a pessoa certa para mim.
– Alô! Sim... É sério?
Tomo um susto quando a luz se acende e sou pega com a almofada enfiada no nariz. Mas que droga! Ele estava aqui na sala esse tempo todo?
O safado me oferece um sorriso travesso de quem me pegou em flagrante e volta a falar no telefone com bastante entusiasmo. Minha curiosidade para saber quem é do outro lado da linha está a nível máster.
– Que maravilha!... Quando vem para a capital?... Está bem. Veja tudo por aí e depois me ligue. Vou te apresentar a alguém muito especial... Sim, é uma mulher e o nome dela é Catarina... Tchau, minha Juju.
Perco minha mente no decorrer da conversa. Com quem ele falaria de forma tão carinhosa desse jeito? Não deve ser uma amante já que ele praticamente quebraria uma regra me apresentando a ela. Juju... Quem poderia ser Juju?
– Quem é ela? – atiro assim que ele termina a ligação.
– Uma pessoa muito importante para mim.
Ah, que avanço! Mudamos de uma pessoa sem importância para uma muito importante. Que mania de ser tão obtuso!
– Nós combinamos de não mantermos segredos.
– Não há qualquer segredo. Você a conhecerá em breve.
Balanço a cabeça, assentindo, sem ter muita opção além disso. Quando esse homem quer manter algum mistério, ele mata qualquer um de curiosidade. Decido sossegar. Além de tudo, o cansaço está me vencendo, meus olhos pesando.
– Acho melhor você voltar para o seu apartamento. Ainda é madrugada e eu terei um dia puxado amanhã. Boa noite, Nicholas.
– Ei, eu não ouvi um "muito obrigado pelo jantar, Nick".
– Vai para o inferno, Nick!
Ele se aproxima e me dá um beijo no rosto, pega sua chave e caminha em direção à porta com seu riso delicioso enchendo o ambiente.
– Vou interpretar isso como um agradecimento, Tomatinho. Até amanhã!
Acompanho cada passo dele com o olhar fixo como se estivesse sob efeito de hipnose. Engulo em seco, tentando encontrar os movimentos do meu corpo e controlar minha respiração irregular.
– Eu já estou no inferno – sussurro para mim mesma enquanto me direciono para o quarto, questionando-me que destino devo dar ao sentimento tão crescente e forte em meu peito.
Uma coisa é certa: eu mereço mais do que Nicholas está disposto a oferecer no momento. Ah, se mereço!
***
A disposição é minha principal aliada quando acordo. Faz dois dias que tive aquela conversa com Nicholas e, não sei dizer se isso tem a ver, só sei que não sinto mais o peso de uma noite mal dormida em minhas pálpebras nem a coluna doer por virar de um lado para o outro com insônia. Esta noite, dormi como uma pedra e acordei tão renovada que decido fazer um bolo e a jarra de café que estou devendo ao novo vizinho.
Nicholas está de folga esta manhã e eu só vou para a academia na parte da tarde conforme combinei com Tiago. Eu tenho o último ensaio para o casamento em instantes e daqui a três dias Eros estará casado com Paula. Solto um suspiro, me perguntando se encontrarei um amor tão verdadeiro assim qualquer dia.
O forno apita, me avisando que o bolo de chocolate está pronto. Retiro ainda quentinho para levar até meu vizinho intrometido. Este é o preferido dele. Aliás, tudo que for feito de chocolate está no topo de sua preferência. Me animo para tomarmos café da manhã juntos e colocar toda conversa atrasada em dias, já que não quero mais fugir da nossa proximidade e estou pronta para lutar contra a forte atração que sinto quando estou ao seu lado. Não é como se eu não pudesse me controlar, pelo amor de Deus.
Abro a porta e me deparo com um casal de velhinhos que mora no prédio há mais tempo do que eu. Eles me saúdam com olhar questionador quando me veem com um bolo numa mão e uma garrafa térmica na outra.
– Bom dia! Seu Cristóvão, dona Fátima, como vão?
– Muito bem, minha filha. E Kimberly, já teve o bebê? – dona Fátima pergunta.
Kim morou comigo durante muitos anos até que conheceu Apollo. Na verdade, esse apartamento pertence a ela, mas eu entraria em uma briga séria se sonhasse em me mudar daqui por conta disso.
– Teve sim. Patrícia é o bebê mais bonito e esperto deste mundo. Kim está muito feliz.
– Manda lembranças nossas para ela, então – é a vez de seu Cristóvão.
– Pode deixar.
Despeço-me dos meus simpáticos vizinhos e dou apenas alguns passos até que esteja diante da porta de Nicholas. Encosto o ouvido para perceber se há algum barulho, mas o silêncio não me dá qualquer pista de que ele esteja acordado. Bato na porta algumas vezes e, como ele está demorando a atender, decido verificar se o trinco está aberto.
Nossa Senhora, como ele se arrisca em plena cidade de São Paulo? Por mais que o condomínio seja fechado, ainda é perigoso ficar com a porta aberta desse jeito.
Entro de ponta de pé, tentando surpreendê-lo tanto quanto ele fez comigo anteontem. Deixo o bolo e o café sobre a mesa e, quando o procuro pela casa inteira e não encontro, decido ir direto para o quarto que está com a porta aberta e a cena que vejo faz-me arrepender amargamente da decisão de invadir sua casa. Parece que a única a ser pega de surpresa sou eu.
Ele está dormindo tranquilamente, vestido apenas em uma boxer branca, enquanto Roberta, sua ex-mulher, ressona profundamente ao seu lado, trajando unicamente calcinha e sutiã. Um passo para frente, dois para trás. Parece que Nicholas resolveu sua vida. Só me resta recolher o resto de dignidade e respeitar a decisão dele, mesmo ciente de que pode se machucar outra vez assim como sinto que está acontecendo com o meu coração neste momento. Essa é uma atitude de amiga, certo?
Decido sair do quarto correndo, fazendo o possível para não chamar atenção do casal adormecido quando Roberta passa a mão em volta da cintura de Nicholas e ele chama o meu nome ao invés do dela. Isso acende uma luz na minha cabeça.
Penso melhor.
Eu estou cansada de fugir, de me sentir humilhada e sempre a vítima. Olhando por outro ângulo, eu não tenho motivos para sair correndo daqui como um ladrão sorrateiro. Vou me tornar a maluca do prédio, se for o caso, mas não sair daqui cheia de dúvidas. Preciso ter certeza de que esse é o mesmo Nicholas que estava amaldiçoando o dia do seu casamento há algumas noites.
Me direciono até a cozinha, pego duas tampas de panelas e volto para o quarto, começando a batê-las uma na outra como uma louca desvairada.
– Bom dia! O café da manhã está servido. É hora de acordar, pombinhos!
Ela desperta assustada e, por um segundo, acho a cena até engraçada. Nicholas está duplamente surpreso.
1- Por eu ter invadido seu apartamento assim como ele fez há alguns dias.
2- Por se deparar com Roberta deitada ao seu lado vestida apenas em lingerie.
Assim como eu pensava, sua reação mostra que ela tentou fazer alguma espécie de armadilha para ele, quem sabe tentar seduzi-lo ao acordar. Pouco me importa quais eram os planos, desde que acabo de ter certeza que estraguei cada um deles.
– O que essa mulherzinha faz aqui? – ela tem a ousadia de indagar, apontando para mim.
– O que você ainda faz aqui é a questão, Roberta.
Ainda? Então ele sabia da presença dela? Por que alguma coisa parece não se encaixar?
– A nossa conversa ainda não chegou ao fim, Nicholas – ela levanta da cama, me oferece um olhar ameaçador e começa a se vestir nervosamente.
– Que conversa? Aquela que você tentou iniciar quando descobriu que nosso divórcio tinha acabado de sair?
Paro as tampas no ar, paralisada com a revelação que acabei de escutar. A criatura diante de mim fica de todas as cores do arco-íris antes de começar a se tornar agressiva.
– Não pense que conseguiu sua liberdade tão almejada porque pretendo fazer da sua vida um inferno se não estiver disposto a voltar para mim. Eu não sou do tipo use-a e deixe-a, Nicholas. Vou mostrar isso a você da pior forma possível.
Animal peçonhento detectado com sucesso.
– Boa sorte sem mim, Sra. Silva – Nicola abana a mão em despedida. – Bata a porta quando sair.
Ela corre o olhar dele para mim, raiva pesando-o de tal forma que, se pudesse sair um raio dele, Nick e eu estaríamos queimados neste exato momento.
– Nem toda batalha perdida representa o fim da guerra. E a minha só está começando.
Ela sai batendo os pés e, pelo menos, faz o que ele pede. Quer dizer, ela bate a porta com um pouco mais de força do que ele havia sugerido, mas só o fato disso significar que ela está fora da vida de Nicholas, já está valendo.
– Sra. Silva? Me conte essa história direito.
Ele levanta da cama sem um grama de timidez, vestido apenas em uma boxer branca, ostentando seu gominhos que tenho vontade de traçar com a ponta da minha língua.
Ah, fala sério! Ainda que ele seja só meu amigo, não sou cega. E tem mais: será que todas as peças íntimas dele são brancas? Não que eu esteja reclamando, obviamente.
– Uma vez, ela me disse que tinha vergonha do seu sobrenome de solteira. Nós discutimos muito nesse dia, já que eu conhecia um monte de gente honesta e esforçada que tinha esse mesmo sobrenome. Ela dizia que não estava à altura do nível social dela.
– Deus, como você aguentou tanta futilidade?
– Me casar com Roberta era como conquistar mais um troféu dentre tantos que a carreira de jogador poderia me oferecer. Eu queria uma mulher bonita para pousar nas fotos e apresentar ao mundo, embora eu me perguntasse se havia feito uma boa escolha sempre que estávamos sozinhos. Aprendi da pior forma que a resposta era não.
– Entendo. Ela não parece estar muito feliz com o rompimento.
– Não. Ela não está, mas não me importo com nenhuma de suas ameaças desque meu nome não esteja mais ligado ao dela.
Nicholas entra no banheiro do quarto e eu decido esperá-lo na sala. Corto o bolo que deixei sobre a mesa em fatias, e pego duas xícaras e talheres para tomarmos café. Ele não demora a vir para a sala vestido em camiseta e bermuda, acabando mais uma vez com minha visão paradisíaca.
– Nós falamos demais em Roberta. Ela já não merece mais um minuto da nossa atenção – ele senta à mesa e se serve com uma fatia de bolo. – Quer dizer que a vizinha finalmente decidiu ser educada e recepcionar o vizinho novo.
– Isso. Exatamente como manda a etiqueta.
Ele me olha com ar questionador.
– E houve algum outro motivo, Tomatinho?
Engulo em seco pelo tom de insinuação em sua voz. Às vezes imagino que Nicholas apenas espera uma brecha minha para fazer uma investida. Em outros momentos, penso que ele só me vê como uma boa amiga. Esse homem me confunde em demasia.
– Nenhum – Coço a garganta. – Já que combinamos de não termos mais segredos, você precisa saber que pedi aos seguranças para conseguirem informações sobre César.
Ele franze a testa, em seguida passa as costas da mão sobre ela, um tanto irritado.
– Sim, eu sei. Eles me dão relatórios sobre tudo o que possa me interessar.
– Pensei que eles fossem meus seguranças.
– Eles são.
– Então por que é você e não eu quem recebe relatórios?
– Na verdade, é Eros quem está à frente disso. Seu primo só quer te proteger, mas não está em condições de resolver nada enquanto não vir seu nome e o de Paula em uma bendita certidão de casamento – ele bufa. – Estou fazendo esse favor a ele.
Belo favor!
– Ok. Então, eu só preciso relaxar já que tenho verdadeiros heróis me protegendo, certo?
– Mais ou menos isso. Não dê uma de durona e diga que não precisa porque a visita do seu precioso ex-namorado à academia diria o contrário. O cara estava com os dedos cravados em seu pescoço quando cheguei.
Solto uma respiração profunda e levanto o dedo indicador.
– Primeiro, ele não é meu precioso. Já deixou de ser assim que me traiu de todas as piores formas possíveis. E segundo, eu reconheço que talvez precise de alguém por perto. Eu não confio mais em César.
– Não devia mesmo. O que descobriu até agora?
– Os seguranças disseram que ele teve alguns cortes superficiais, mas vai ficar bem. Só não acredito que se manterá afastado depois da surra que você deu nele. Cutucou uma onça, Nicholas. Ele vai revidar.
Ele dá de ombros.
– Eu tenho recebido ameaças anônimas, mas não quero que você se preocupe com isso, Catarina. Já tem gente resolvendo a situação.
Tapo a boca com a mão, claramente assustada.
– Ah, meu Deus! Você acha que são dele?
– Ainda não sei, mas quem teria interesse em me prejudicar?
É verdade. Quem mais poderia estar o ameaçando?
– Não faço a menor ideia.
– Não quero te deixar preocupada. Só comentei com você para que fique atenta e não para que tente resolver. Eros e eu já estamos nisso.
Droga! Como ele pode fazer esse tipo de revelação e querer que eu fique parada?
– Prometo que vou tentar.
– Nina...
Mudo de assunto. Nada do que eu diga vai convencê-lo de que não sou feita de louça.
– Gostou do bolo?
Ele come mais um pedaço e então fecha os olhos, se deliciando. Eu poderia ter um orgasmo só pela reação dele.
– Tão gostoso quanto... – Ele me encara com um riso safado no rosto –, o jantar que fiz outro dia em sua casa.
Nossa senhora! Devo ter me tornado uma pervertida da noite para o dia. Eu juro que pensei em outra resposta.
– A comparação não é justa. Seu jantar estava maravilhoso!
Ele morde outro pedaço e volta a fechar os olhos, degustando como se fosse algo que lhe desse muito prazer.
– Tão delicioso quanto... – Desta vez, ele abre os olhos e me encara com seriedade. – o beijo que eu roubei de você no seu escritório.
Ele aproxima seu rosto do meu vagarosamente, quase como se estivesse pedindo permissão. Eu apenas assinto, sem conseguir proferir sequer uma frase antes que seus lábios quentes estejam sobre os meus e sua pele áspera esteja roçando o meu rosto.
– Eu te quero tanto, Nina...
Perco-me no beijo que tem gosto de chocolate misturado à necessidade de liberação. Suas mãos determinadas demonstram o quanto me querem, todo seu desejo reprimido e renegado por tanto tempo. É assim que me sinto também e, antes que eu perceba, estamos rolando entre as almofadas, nossas respirações pesadas e ofegantes, meu corpo preso ao seu como se ali fosse sua casa.
Perco a cabeça e me deixo levar pela delícia de estar em seus braços. O que virá em seguida é algo que pretendo deixar para depois. Eu sei que ele não é o cara certo. Estou ciente que esta pode ser a pior merda que estou fazendo, mas vá dizer isso ao coração. Neste momento, ele já ganhou a batalha.
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Será que agora esse casal se acerta? Continue acompanhando!!!