Suraya
A cada dia que passa não tenho mais a certeza que vou conseguir manter essa máscara. Taylor faz coisas para que eu me derreta, mas não posso facilitar as coisas para ele assim. Não agora!
Fiquei emocionada ver aquele colar, ele guardou por tanto tempo, só para depois me devolver? Não aguentei e me perdi um pouco vendo ele, mas tive que adiantar o pequeno para fugir dessa situação.
Quando vi a casa toda decorada com enfeites de natal, não vou mentir que eu quase que ia beijar ele por fazer essa surpresa para as crianças. Eles nunca tiveram isso, não exagerado como este aqui, mas eu fazia tudo para estar bem emocionalmente.
A felicidade dos meus filhos é a minha, apesar de tudo que Taylor fez para não merecer o amor deles, eu desejo que eles o amam, é o pai deles.
Ouvir e ver eles dois naquele piano tocando, um sorriso brotou em meus lábios e não consegui conter a emoção. Apesar de tudo, Lion sofre, ausência de um pai não o deixou ser uma criança de verdade, livre sem carregar nenhum peso. Admito que eu tive culpa nisto, muita talvez.
Decidi ajudar eles a serem mais companheiras, pelo bem de Lion, ele precisa mais de que o próprio pai, um pai de verdade, que se preocupa e cuida com as irmãs, para ele ser uma criança.
Na mesa, a conversa fluía entre o pai e as meninas. Lion ria e participa uma vez outra, ele está fazendo esforço para não transparecer a sua tristeza de querer um carinho.
Comemos, eu por exemplo comi uma boa parte de todos os doces que tinham na mesa. Fazia tempo que não comia assim, para dar exemplo nas crianças que comer doces pela manhã não é certo, mas hoje é o natal, as restrições ficam de lado por hoje.
Me levantei da mesa primeiro e caminhei para a cozinha, hoje eu quero ajudar a preparar o almoço para todos que chegar ao em breve. Vejo Jasmim, a irmã e sua sobrinha na cozinha. Quando me vejam sorriem e eu retribui.
— Feliz natal! — falo me aproximando delas, dou a volta para o balcão e vou olhando o que elas estão preparando. — Qual será o prato? Saibam que eu não sei muito sobre as comidas daqui, sou mais da minha cultura de um bom calulu de peixe e funje.
Elas sorriem, porque não fazem ideia de como seja esse prato. Com os meus filhos, eu só fazia pratos angolanos, minhas especialidades, vez outra eu cozinha alguns pratos portugueses e típicos dos E.U.A para eles estarem acostumados com as variedades, e também na linguagem.
Meus meninos são fluente nos idiomas de Língua Portuguesa e Inglesa, mas apesar de tudo, ninguém falou inglês para eles, achando que eles não devem saber. Sorrio só de pensar na surpresa que eles terão quando descobrirem que também falam inglês.
— Hoje o almoço é por nossa conta, você vai aproveitar esse primeiro natal junto com a família. — Jasmim me afasta do balcão.
— Hoje eu quero ajudar, não me negue isso.
— Já está negado, vai, nós temos coisa a fazer.
— Que má! — resmungo.
— Maléfica! — sorri.
— Pelos menos podem colocar a mesa no jardim? O dia está bonito hoje, o sol está derretendo o gelo todo.
— Claro!
— Obrigado. — dou beijo nela no rosto.
Dou por vencida e saio da cozinha. Eles estão na sala de estar. Taylor sendo agredido pelas meninas e Lion no canto olhando para eles. Meu pequeno também quer estar entre eles, mas seu orgulho e medo não permite.
Sento ao seu lado ele me olha um tanto arregalado, mas depois descontrai e deita a cabeça na minha perna. Ele suspira e fecha os olhos.
— Mamã, os tios vão demorar? — pergunta.
— Não sei. — suspiro. Penso um pouco na forma de como distrai-lo enquanto eles não chegam. — Que tal você me ouvir a tocar um pouco? Não que eu ainda sabe corretamente, estou com uns arranhões.
— Eu também quero você tocar mamãe. — Lilly corre para mim.
— Vamos? — ele afirma e fomos todos para a sala de música, incluindo Taylor.
A ideia é só eu e o meu filho, agora todos estão na sala. Pego o violino pendurado e na sua pastinha, está igual como deixei, não empoeirado.
— Eu também vou tocar com você. — Taylor se pronuncia. — A música que tocamos juntos no seu aniversário, pode ser?
O que ele pretende com isso? Me lembrar coisas boas que ele fez? Uma coisa que ele tem que aprender é que, por mais que tenhas feito coisas boas, mas se a maior parte for má, não há lembrança boas que fazem apagar as más.
— Tudo bem! — suspiro.
— Lion! — Taylor o chama e encaro os dois que se entreolharam. — Que tal você sentar aqui comigo? Aprender um pouco me vendo.
— É, filho, assim você aprende um pouco. — ajudo Taylor, não por ele, mas por Lion.
Vejo um sorriso nascer nos lábios do meu filho e ele corre para perto de Taylor, dá espaço e se senta ao seu lado. As meninas sentam no sofá e nos olham. Sorrio para nossa pequena plateia com os olhos ansiosos.
— Pronto? — Taylor afirma e começamos a tocar.
A melodia parecia profunda, as lembrança viam em minha me mente abraçando toda a minha visão, as surpresas, a declaração, o jantar, a minha primeira vez com ele, parecia tudo perfeito, apesar de sentir falta da minha família agora morta, eu estava feliz, bom, pensava que estava, até a fixa toda cair e o pesado começar.
Os aplausos me afasta dos pensamentos e só agora percebi que já tinha acabado. Olho para todos eles e vejo um sorriso de Lion, um pouco esforçado, as meninas tanto animadas e gostei de ver eles assim, animados.
— Senhor! — Elisabeth surge na sala e chama a nossa atenção. — Tem visitas.
— Os tios chegaram? — Lion levanta animado e corre para fora da sala e as meninas os seguram.
Nos olhamos e seguimos eles. Chegamos na sala e vejo eles abraçando, me aproximo feliz e abraço Erick primeiro, um abraço forte de saudades. Nos afastamos e abraço Isa forte. Tinha saudades deles.
— Que bom que já estão aqui. — falo e ganho mais um abraço e um beijo no rosto de Erick.
— Senti sua falta, tio Erick. — Lion fala pro tio. — E também da tia Isa.
Lion ganha um beijo no rosto dos dois, as meninas não desgrudam dos dois. Olho para Taylor com as mãos nos bolsos se segurando para não fazer besteira, vejo a raiva em seus olhos, talvez seja ciúmes.
— Taylor! — Erick fala assim que vê Taylor.
— Erick! — responde seco e os dois acenam com a cabeça fuzilando com os olhos. — Isabel.
— Como vai. — Isa responde e Taylor balança a cabeça.
Respiro fundo e sorrio para disfarçar o clima um pouco pesado. Olho para os meus amigos, me pergunto como seria se tudo fosse diferente, como antes, e terminar a faculdade.
— Vamos nos sentar, quero saber como foi a viagem de vocês. — falo e indico os assentos.
Sentei num único sofá com Lion, Erick e Isa com as meninas, e Taylor na poltrona. Eles contaram como foi a viagem, calma e tranquila, conheceram um pouco a cidade e agora estão aqui com a gente. Taylor apenas está calado, olhando somente para Erick, só.
— Tia quer ver o que ganhei do papai natal e do meu papai? — Lia fala.
— Claro, querida.
— Também vou mostrar o meu. — Lilly se levanta e corre para pegar seus presentes no quarto, Lia já correu antes.
— Vai buscar o teu também Lion. — Erick fala.
— Está bem, tio.
As crianças desaparecem da sala e ficamos apenas os quatros. Taylor remexe sentando, ele esperava esse momento, sei disso, estava quieto demais.
— Prestem atenção. — diz rude e olhamos para ele. — Apenas deixei vocês virem na minha casa pelos meus filhos, só por eles, que fique claro.
— E nós viemos só por eles, não por você. — Erick rebate.
— Escutem vocês os dois. — falo brava, não vão estragar o natal dos meus filhos, não vou deixar. — Essa vossa guerra de olhares e palavras, não faz mal só a vocês os dois, mas se não percebem, quem mais sofre no meio disto tudo é o Lion, ele precisa de uma figura paterna, e também de um tio que não quer ocupar o lugar do pai. Pelo menos hoje, fingem que se dão bem, por ele.
— A Suraya tem razão. — Isa me apoia. — Taylor, quero que saiba que depois disto, nós queremos limpar todo esse mal-entendido.
— E acabar com essa guerra.
Taylor olha para mim, não consigo decifrar esse olhar, não é de ódio e muito menos de compaixão, esse olhar eu já vi, e sei que é bem pior que os outros. Se levanta e olha para Erick.
— Vamos para o meu escritório? — pergunta.
Erick afirma e se levanta, os dois caminham para o escritório, nos entreolhamos e pensando no que eles vão conversar sozinhos naquele escritório. Espero que tudo fique bem.
Os crianças voltam com seus presentes, questionam a ausência do tio e do pai, depois de explicar eles conversam com a tia. A sala enche de outras pessoas que acabam de chegar. Theo, Brittany, Anne, Henry e o filho Noah chegam sorrindo. Desejam feliz natal, cumprimentam as crianças e os apresento a Isabel.
— Prazer!
— É todo nosso. — Theo responde. — Onde está o Taylor?
— No escritórios com Erick. — vejo os olhos de Theo preocupado e Henry percebe.
— Nós vamos lá. Já voltamos. — Henry fala e desaparece da sala.
Suspiro e sento no sofá, Brittany e Anne acompanham.
— O que está acontecendo? — Brittany pergunta.
— As crianças. — falo e ela percebe, se cala. Não podemos falar disto frente as crianças, por mais que estejam distraídos na conversa deles, Lion é muito atento nas vozes e pode perceber.
Decidimos conversar com algumas coisas. Isa contou como nos conhecemos, no ciúme que ela teve ao pensar que eu e Erick éramos namorados, em como nos tornamos grandes amigas. Brittany não ficou de lado, contou também como ficamos amigas, Anne deu também a sua versão.
A conversa foi prolongando, e os rapazes também demoravam nesse escritório, só rezo que esteja tudo bem. Que nada aconteça ao meu amigo. Se Taylor fizer algo ele, não só vai magoar a mim, mas também os filhos dele, em especial, Lion.
— Mamãe, pode a gente brincar fora? — Lion pede. — Noah e eu vamos inaugurar a bola.
Ele mostra na mão a bola que ganhou do pai. Apesar de abrir um sol quente, ainda está um pouco gelado aqui. Começou a nevar um dia antes de ceia de natal. Em Angola, neste dia, eu e minha família ficamos na igreja, na qual chamamos, missa do galo, o dia em que o galo canta com o nascimento de Jesus, com bíblia afirma.
— Está bem! Vamos todos lá fora, no jardim, mas antes, vão vestir um casaquinho para não se resfriarem.
— OK mamãe. — eles correm para as escadas e voltam minutos depois, com os casacos. — Pronto mamãe
Saímos todos da sala e fomos para o jardim. O dia está lindo apesar de estar o pouco gelado, mesmo com esse sol quente. Esse disputa de calor e frio, me faz lembrar uma música de C4 Pedro e Big Nelo, uma dupla angolana, a música deu até sucesso e tempo e para mim chega a ser engraçado sentir os mesmos climas ao mesmo tempo
Sentamos nas cadeiras perto da piscina, os meninos correrem para jogar a bola, as meninas vão chamar a atenção dos soldados que caminham pelo jardim e mostram seus ursos de pelúcias dadas pelo pai.
— Suas filhas são tão lindas, Suraya.
— Obrigado Brittany.
— Que sorte, trigêmeos. Queria que tivesse três Noah. — gargalhamos.
— É lindo ver, mas não é fácil cuidar não.
— É Isa, quando descobri que eram logo três, quase tive um infarto.
— E eu estava lá para apoiar você e ajudar. — entrelaçamos as mãos.
— Isso. — sorrimos, olhamos para Brittany e Anne que nos olham com os olhos marejados. — Que foi?
— Lindo essa amizade de vocês.
— Espero que sejamos todas amigas.
— Eu também Suraya.
— Quando vai ter filhos Brittany?
— Estamos tentando, mas enquanto esperamos, estou pensando em adotar um menino que achei sozinho na rua, quando fui visitar minha avô.
— Que lindo, acho que é bom, dar uma família para ele. E onde ele está?
— Orfanato, o levei lá, voltei decidida adota-lo, mas antes tenho que conversar com Theo.
— Ele vai aceitar, esperamos que sim.
— Eu também. Então, Isa, posso chamar assim? — ela afirma. — Quando pensa em ter filhos?
— Ainda achamos cedo para isso, mas falta pouco.
— Quero ver essa casa cheio de crianças vossas. — gargalhamos.
Ouvimos passos e vejo os rapazes saindo de dentro de casa, fico logo preocupada, não vejo Taylor e Erick, só Theo e Henry se aproximando das crianças. Eu e Isa nos olhamos preocupadas, temendo pelo pior.
Levanto da cadeira e caminho até eles, mas paro quando vejo Erick saindo primeiro, está igual como veio, sua expressão não me diz nada. O que aconteceu naquele escritório?
Taylor sai a seguir, com as mãos nos bolsos, mas com o rosto abatido, ele não está bem. Tento me aproximar, mas ele desvia os olhos e vai caminhando até os outros rapazes.
Aconteceu alguma coisa grave naquele escritório, e algo me diz que tem a ver comigo, porque ele está mais abatido que o normal, não vou conseguir dormir essa noite sem saber o que aconteceu.