-Lolo? -Camila chamou depois de alguns segundos em silêncio entre as três. -Você quer que eu fique? -ela perguntou e aquilo foi suficiente para que as outras duas garotas se dessem conta de sua presença.
-Não. -a morena disse se virando para olhar em seus olhos. -Tá tudo bem.
-Tem certeza? -a cubana precisava da confirmação verbal da outra mais uma vez.
-Tenho. -ela sorriu de lado. -Eu te vejo a noite, certo? -ela perguntou e Camila assentiu.
-Me liga se você precisar de alguma coisa. -a cubana pediu e foi a vez de Lauren assentir. -Eu te vejo em algumas horas. -ela sorriu e a morena depositou um beijo na sua testa. Camila aproveitou o momento envolvendo a cintura da maior rapidamente para que pudesse falar algo em seu ouvido sem que a outra garota escutasse. -Não seja tão dura com ela. -ela pediu e Lauren assentiu novamente depois delas se afastarem.
Camila sorriu ao passar por Veronica na porta e a garota fez o mesmo.
-Entra. -Lauren pediu assim que a cubana desapareceu no corredor. Ela guiou a outra até o sofá e as duas sentaram sob o peso de um silêncio constrangedor e recheado de culpa. As duas nunca mais haviam conversado desde a morte de Alexa, mesmo que a garota na sua frente tivesse feito questão de tentar alcança-la. Para Lauren, Veronica sempre seria um lembrete doloroso da garota que havia perdido, ela e a Alexa eram basicamente inseparáveis desde que se conheceram em um projeto em grupo para a faculdade. -O que você tem pra falar, Veronica?
A garota respirou fundo antes de responder e ter coragem de olhar em seus olhos.
-Há alguns dias uma advogada me procurou. -ela começou e Lauren franziu o cenho. -Aparentemente eles descobriram os culpados por abusar a Alexa naquela noite.
-Como eles podem saber isso? A gente nunca procurou a polícia.
-Eu sei. -Veronica começou dessa vez com mais confiança. -Foi exatamente o que eu pensei. Aparentemente, um dos garotos que fazia parte do grupo era forçado a assistir os estupros e ele mesmo sofria abusos constantemente porque ele é gay. Ele nunca fazia parte, mas era sempre quem tinha que abordar as vítimas.
-Vero, com calma. Você tá dizendo que foi mais de uma pessoa? -ela perguntou e Veronica assentiu. -Eu preciso beber alguma coisa porque não vai dar pra fazer isso sobrea. -ela disse antes de se levantar e ir até a geladeira pegar duas cervejas. Ela já sentia as ondas de tremores atingindo suas mãos e seu pulmão colapsar por uma falta de ar que sabia ser ilusória. -Continua. -ela pediu antes de dar um gole, enquanto Veronica apenas segurava a garrafa de vidro em suas mãos.
-A Alexa não foi a única garota que eles abusaram. -Veronica continuou. -A essa altura esse garoto estava começando a filmar os eventos escondido para que ele pudesse entregar as provas para a polícia. E na noite da festa... -ela limpou a garganta. -Ele filmou o abuso dela.
As duas ficaram em silêncio por um tempo. Para Lauren, descobrir o responsável pelo estupro de Alexa nunca pareceu uma opção. Ela sempre torcera para que ele sofresse a mesma dor que sua namorada sentiu e depois de sua morte, desejou que ele sentisse o ódio que de alguma maneira ela destinava àquele desconhecido, mas sob hipótese alguma esperou dar rosto ou rostos para quem cometeu aquele ato de crueldade.
Apesar disso, Lauren estaria mentindo se dissesse que ao andar pelo campus ela não procurava por algum sinal que indicasse o culpado, como se fosse possível que a maneira como alguém andava, falava ou mesmo respirava mostrasse para ela quem tornou seu paraíso particular em um inferno sem fim.
-Por que só agora? Faz mais de dois anos... -ela disse.
-Eu sei, eu também pensei a mesma coisa. Ele estava com medo que apesar das provas que tinha juntado contra os outros, eles pudessem se vingar, mas ele se formou esse ano e achou que era a hora de entregar os pontos. A advogada quer encontrar com nós duas para conversar sobre o que aconteceu. Na verdade, a Alexa é apenas mais um nome em um papel cheio de outras garotas que vão responder pelo que aconteceu no tribunal, mas ela não pode fazer isso, então cabe a nós duas fazer isso por ela. Eles basicamente já estão condenados porque as provas são muitas e nem por um milagre eles conseguiriam escapar, mas não se trata disso, Lauren. Se trata da gente fazer justiça por ela. É sobre a gente tentar colocar fim a esses atos mostrando o quanto pode custar para alguém.
-Então é isso? -Lauren perguntou sentindo sua raiva começar a crescer em seu peito.
-Lauren, isso não vai trazer ela de volta e eu sei disso melhor do que ninguém. -Veronica começou com lágrimas nos olhos. -Isso não vai diminuir o vazio que a morte dela deixou em você e isso talvez não diminuísse o sofrimento dela mesmo que ela estivesse viva, mas pelo menos a gente vai saber que eles não vão fazer isso com outra pessoa.
-Eu sei... -ela respondeu baixo com os nós de sua mão ficando brancos pela força com que apertava a garrafa.
-Você não precisa fazer isso se não quiser, mas ter a sua perspectiva daria mais valor ao caso. -Veronica se levantou e deixou a garrafa intocada em cima da mesa de centro. -Eu vou encontrar com a advogada amanhã as 13h no The Beekman, você ainda trabalha lá, não é? -ela perguntou e Lauren assentiu. -Eu espero te ver lá, mas eu vou respeitar a decisão que você tomar e eu tenho certeza que a Alexa também. -ela se virou e foi em direção a porta. -Eu sinto muito, Lauren. -ela começou sem voltar a olhar para a outra que permaneceu no sofá. -Por não ter sido capaz de proteger ela quando ela mais precisou de mim e eu sinto muito que isso tenha custado tanto pra todas nós. -ela completou e saiu deixando Lauren com lágrimas escorrendo pelo seu rosto.
Como seu dia tinha começado tão bem e se tornado um transtorno de seu passado em questão de minutos?
-Lauren? -uma voz chamou da entrada. -Eu vi a Vero saindo daqui... -Dinah disse enquanto caminhava em sua direção. -O que aconteceu?
A loira viu que a outra estava chorando e a abraçou pelo ombro depois de se sentar ao seu lado.
-Encontraram os culpados do abuso da Alexa. -ela disse entre soluços e se acomodou no contato reconfortante da maior.
Depois de alguns minutos na mesma posição em silêncio, Lauren finalmente perguntou.
-O que eu vou fazer, Dinah?
-Agora? -a loira perguntou e apesar de Lauren não estar encarando a mais nova ela sabia que a outra estava sorrindo. -Eu vou te ajudar a escolher que roupa usar porque você tem um encontro com uma garota incrível em algumas horas e os seus problemas ainda vão estar aqui quando você voltar.
Lauren sorriu ao se lembrar da cubana.
-Espera, você sabe pra onde a gente vai? -ela se ergueu para encarar a polinésia que apenas sorriu, fazendo com que a morena virasse os olhos.
-Ela não podia deixar você ir de motoqueira fantasma, então ela me mandou mensagem com os planos para que eu pudesse dar uma de fada madrinha.
-Você sabe que tudo fica mais fácil se você me contar pra onde a gente vai, né? -a morena perguntou na esperança de que a polinésia deixasse sair sem querer para onde Camila iria leva-la.
-E qual seria a graça? -a maior perguntou se levantando e estendendo a mão para Lauren. -Vamos, a gente precisa ver se tem alguma coisa que não pareça a capa de um vampiro dentro daquele armário.
No Soho, a reação de Ally e Normani para o que Camila contava foi de confusa, para animadas, para confusas novamente.
-Tá bom, deixa eu ver se eu entendi direito. -a menor começou. -Você contou para a sua mãe que gosta de uma garota, foi atrás dela de madrugada, passou a noite com ela e agora vocês vão ter um encontro?
-Basicamente. -a cubana respondeu enquanto voltava para o quarto com algumas roupas.
-Vocês repararam que fizeram tudo ao contrário né? -Ally perguntou e Normani riu.
-Ally, não existem regras para esse tipo de coisa. -a negra disse enquanto passava os olhos pelas roupas que Camila havia deixado em cima da cama. -Mila, você não vai usar isso daqui. -ela completou levando os cabides de volta para o seus lugares no closet.
-Eu sabia que era idiotice chamar você agora. -a cubana disse quando mais algumas de suas opções foram rejeitadas pela modelo.
-Idiotice seria você vestir aquilo em um encontro. -Normani respondeu a procura da peça de roupa ideal para a cubana vestir.
-Espera, então Camren ainda é real? -a menor perguntou animada.
-Que porra é 'camren'? -Camila respondeu confusa.
-Você e a Lauren... -Ally disse. -Tipo Camila e Lauren...
-Vocês inventaram o nome de um ship pra gente? -a cubana parecia prestes a explodir em uma risada.
-Na verdade, foi a Dinah. -a negra respondeu ainda do outro comodo. -Mas a gente gostou.
-Tá bom, chamem isso de como vocês quiserem, mas vocês podem por favor me ajudar a escolher uma roupa logo?
-Eu nunca sei porque as pessoas ficam animadas, primeiros encontros são horríveis. -a negra deu de ombros.
-Que bom então que esse é o segundo delas. Porque o primeiro foi realmente um fiasco. -Ally observou rindo e Camila jogou um travesseiro em seu rosto.
-Se não for ajudar, vai embora. -ela disse tentando esconder um sorriso.
-Credo, tá bom. -a menor respondeu antes de ir até o closet com Normani. -Eu não sei porque ela tá nervosa, se ela fosse vestida de banana a Lauren ia pirar a cabeça. -ela disse baixo e a negra gargalhou.
-A gente devia fazer ela ir assim. -Normani respondeu rindo. -É melhor do que algumas roupas que estão aqui.
-EU ESTOU OUVINDO VOCÊS! -Camila gritou do quarto arrancando risada das outras duas.
Play: Breathe - Lauv
Camila estacionou o carro e olhou o seu reflexo no retrovisor pela última vez antes de encarar o prédio em que Lauren estaria esperando por ela. A cubana sentia o nervosismo invadindo seu peito e ela abriu a porta quando viu a morena descer os degraus da entrada do prédio. Como ela podia ter se esquecido de como Lauren era linda se elas se viram há apenas algumas horas?
Ela encostou na porta do passageiro depois de ter dado a volta e viu a morena caminhar em sua direção, seu coração parecia bater mais alto a cada passo que a outra dava.
-Isso definitivamente não é um saco de lixo e eu já posso sentir os olhares. – a cubana disse quando Lauren se aproximou o suficiente para escuta-la.
-Olha quem tá falando. -a morena respondeu sorrindo. -Você pode por favor, parar de tentar me matar?
-Você tá linda, Lolo. -ela se aproximou para deixar um beijo no rosto de Lauren.
-Você também, Camz. -a morena disse e agradeceu quando Camila abriu e fechou a porta do passageiro pra ela. -Você vai me contar pra onde a gente tá indo? -ela perguntou depois da cubana colocar o carro em movimento.
-Não. -Camila sorriu antes de dar play no rádio e deixar que a música em espanhol preenchesse o silêncio entre as duas. Lauren reconheceu a música rapidamente e começou a cantarolar baixinho.
-Não é justo que a Dinah saiba onde a gente está indo e eu não. -ela disse depois de algum tempo.
-Não seja dramática, você vai saber logo. -Camila falou entrelaçando os dedos com os de Lauren no colo da morena que apenas sorriu com o contato. Quando a cubana estacionou o carro ela pediu que Lauren esperasse por um momento e deu a volta para abrir a porta para ela.
-Você é fofa assim sempre? -a morena perguntou e Camila apenas deu de ombros.
-Eu nunca tive a chance de fazer isso pra alguém, então eu achei que seria legal. -ela respondeu e sua mão procurou a de Lauren enquanto ela a guiava até o restaurante que havia escolhido. -Você disse que sentia falta da comida latina, então eu pensei que seria legal te trazer para o meu restaurante cubano favorito. -ela completou quando parou em frente ao restaurante simples.
-Camz. -Lauren sorriu.
-A gente pode ir para outro lugar se você prefe-
-Não. Isso é incrível. -ela sorriu e Camila sentiu seu rosto queimar enquanto abria a porta para Lauren passar.
As duas se sentaram de frente para a outra e pediram algumas porções das comidas cubanas típicas.
-Você sente falta de Cuba? -a morena perguntou quando o garçom começou a se afastar.
-Muito, pra ser sincera. Da comida, de festas com uma grande família, da língua, das pessoas em geral.
-O que foi mais difícil sobre se adaptar em um país novo? -Lauren perguntou genuinamente interessada.
-A língua foi difícil no começo, mas ainda mais difícil foi lidar com como as pessoas são diferentes dependendo da cultura e do contexto do local.... Então eu tinha bastante dificuldade pra fazer amigos. -ela respondeu dando de ombros. -Você sabe espanhol, sua família é latina?
-Minha mãe nasceu em Cuba e se mudou pra cá quando Fidel Castro assumiu o poder, eu cresci com os meus avós e eles só falavam espanhol, então acabou que foi minha primeira língua, mas eu nunca fui pra lá... -Lauren disse sorrindo e a cubana assentiu.
-Qual foi a lembrança mais divertida da sua infância com eles? -Camila perguntou.
-Eu acho que uma das mais engraçadas foi quando eu, o Chris e a Tay fingimos que o controle remoto tinha desaparecido e quando minha avó estava assistindo a TV a gente ficava desligando nos momentos mais importantes. -a cubana começou a rir.
-Por que não me surpreende o fato de você ser uma peste?
Lauren virou os olhos.
-Demorou quase 30 minutos pra ela perceber que a casa estava silenciosa demais e sair correndo atrás da gente, mas valeu a pena. -ela terminou e as duas riram.
Elas ficaram em silêncio por um momento.
-O que aconteceu mais cedo? -Camila perguntou. -Se você não se importa de responder.
-Encontraram os culpados pelo abuso da Alexa. -ela respondeu como se não fosse nada. -E uma advogada queria encontrar comigo e com a Vero amanhã para saber os detalhes.
-Eu posso ir com você, se você quiser. -a cubana disse depois de dar um gole na água em sua frente.
-Camz, você não precisa...
-Eu sei que não. -ela respondeu colocando a mão sobre a de Lauren em cima da mesa. -Mas se você precisar de apoio, eu quero estar lá.
Lauren sorriu.
-Eu adoraria isso. -a morena conluiu enquanto o garçom se aproximava com os pratos que elas haviam pedido.
O restante do jantar aconteceu de forma natural e a maior parte do silêncio foi preenchida pela música latina que tocava em caixas de som espalhadas pelo lugar. No final das contas, Camila foi a responsável por pagar naquele dia, apesar das tentativas frustradas da morena.
-E agora? -Lauren perguntou enquanto as duas saiam do restaurante juntas.
-Boa tentativa, Lauren, mas eu não vou falar pra onde a gente vai. -a cubana disse fazendo com que a morena virasse os olhos mais uma vez naquela noite. Dessa vez, quando Camila abriu a porta do carro para Lauren a morena não resistiu.
-Eu sei que eu deveria esperar até o fim da noite, mas eu juro que tá ficando cada vez mais difícil quando você continua fazendo coisas desse tipo. -ela se encostou no carro e olhou para Camila que segurava a porta aberta.
-A Ally disse que a gente fez todas as coisas ao contrário, então, eu acho que você não precisa esperar até o fim da noite. -a cubana respondeu dando de ombros. Lauren a puxou pelo braço e abraçou sua cintura enquanto Camila colocava as mãos em seu rosto e se inclinava para beijar suavemente seus lábios. Como cada beijo com a cubana podia ser diferente e como os lábios dela pareciam ter o tamanho exato para completar o espaço entre os seus? Milhares de perguntas desse tipo passavam pela cabeça de Lauren enquanto ela saboreava lentamente o gosto da boca da outra. -É melhor a gente ir... -Camila disse alguns segundos depois e Lauren assentiu, entrando no carro e deixando a cubana fechar a porta.
Na viagem até o próximo lugar desconhecido, as duas discutiram qual era o melhor cantor latino, mas nenhuma das duas parecia pronta para ceder, Camila insistindo que era Alejandro Sanz e Lauren apontando as qualidades de Carlos Vives. Em algum momento na discussão da qual no final elas concordaram em simplesmente discordar, a morena deixou sua mão repousar na coxa da cubana que apenas sorriu.
Camila estacionou em frente um lugar escuro e quase deserto.
-Esse é o momento que eu descubro que você é uma assassina em série? -a morena perguntou enquanto soltava o cinto e a outra apenas riu, antes de sair do carro para abrir a porta para Lauren.
Assim que ela saiu do carro o som de música latina invadiu seus ouvidos.
-O que é isso? -ela perguntou olhando pra Camila.
Play: Corazon Partio – Alejandro Sanz / Cant't Fight it (Stripped) - Ravyon Owen
-Você disse que sente falta da música latina e por mais que eu goste da ideia de simplesmente ouvir elas no carro com você, tem algo melhor em estar em um lugar com pessoas cantando e dançando elas. -ela disse sorrindo sem graça e Lauren mordeu o lábio. Por Deus, como era possível aquela mulher existir?
Elas entraram no clube que estava cheio, mas longe de atingir sua capacidade máxima e foram de uma única vez impactadas pela música alta e pelo jogo de luz azul.
-Você sabe que vai ter que dançar comigo agora, né? -Lauren perguntou se aproximando do ouvido da cubana para que ela pudesse escutá-la.
-Eu não danço, Lolo. -ela respondeu rindo.
-Você me trouxe pra uma boate pra deixar que eu encontre outra pessoa pra dançar comigo? -a morena perguntou erguendo as duas sobrancelhas.
-Eu acho que não pensei bem. -Camila deu de ombros.
-Ninguém aqui conhece a gente, Camz. -Vamos lá... -ela pediu. -Eu te ajudo.
-Tem alguma coisa que você não consiga? -a cubana perguntou virando os olhos.
-Provavelmente não. -ela respondeu rindo e puxou Camila em direção a pista de dança.
Quando elas alcançaram um lugar entre os poucos casais mais velhos que estavam dançando, Lauren segurou a cintura da cubana, enquanto a menor encaixava suas mãos em seu pescoço.
A morena pôs sua perna entre as de Camila e começou a mexer o quadril enquanto sorria no ombro da cubana e não demorou muito para que a outra garota encontrasse o ritmo com ela. Nenhum casal pareceu se importar com o fato de serem duas garotas dançando juntas e a cubana começou a se soltar e deixar que seus movimentos ficassem mais lentos e sensuais, quase uma tortura para a morena que sentia o ritmo frenético e descompassado da respiração das duas.
Camila permitiu aproveitar a proximidade com o corpo de Lauren e tentou decorar o cheiro da morena, as curvas de seu corpo, a maneira como ela segurava com firmeza a sua cintura, uma das mãos da garota propositalmente colocada na curva de seu corpo e a outra a aproximando com força.
-Você se subestima, Camz. -ela disse no ouvido de Camila que apenas sorriu sentindo seu rosto queimar de vergonha.
Quando a música conhecida começou elas estavam na pista de dança há alguns minutos e Lauren achava que a mais nova não pudesse fazer nada para deixá-la ainda mais encantada, mas no refrão de 'Corazon Partio' a cubana começou a cantar baixinho em seu ouvido.
-¿Quién me va a entregar sus emociones? ¿Quién me va a pedir que nunca la abandone? ¿Quién me tapará esta noche si hace frío? ¿Quién me va a curar el corazón partío?
Lauren continuou a arrepiar enquanto as palavras de Camila atingiam sua pele e ela tentou trazer a garota para mais perto de seu corpo, apesar de não haver mais espaço algum entre elas.
-Dios mio. -a morena suspirou alto rindo e a cubana sorriu entre as palavras pelo uso do espanhol da outra. Camila continuou cantando e Lauren apenas repousou a testa em seu ombro enquanto tentava recuperar o fôlego, os corpos das duas nunca perdendo o ritmo estável que haviam criado.
-¿Quién llenará de primaveras este enero Y bajará la luna para que juguemos? Dime, si tú te vas, dime cariño mío ¿Quién me va a curar el corazón partío?
-Sua voz é linda, Camz. -ela disse depois que a cubana terminava o último refrão, acabando com o show exclusivo da morena. Lauren sentiu Camila sorrir em seu ombro e ela decidiu continuar. -Mas você tá proibida de falar ou cantar em espanhol pra mim.
A cubana se afastou para olhar o rosto da morena.
-Por que? -ela perguntou confusa.
-É sexy demais. -Lauren respondeu dando de ombros e as duas riram.
Elas sentiram um casal de senhores se aproximando delas e pararam a conversa. Eles pareciam ser apenas alguns anos mais novos que seus avós e as rugas ainda não haviam tomado seus rostos completamente. A mulher era ruiva e tinha olhos azuis e o homem tinha uma pele tipicamente latina e seu cabelo já era quase completamente branco.
-Vocês são latinas? -a mulher mais velha perguntou e as duas pararam de dançar.
-Eu sou cubana e ela é filha de cubana. -Camila respondeu.
-Sangue novo latino, é nossa noite de sorte. -o senhor disse e as duas sorriram.
-Não levem ele a mal. -a mulher falou novamente. -Meu nome é Celine e esse é meu marido Juan.
Camila sorriu, eles pareciam um casal de idosos que acabou de sair de um filme de animação. A mulher devia ser do tamanho das outras duas, mas o homem era alguns centímetros mais alto e apesar de parecerem ter uma idade avançada os dois também aparentavam certo vigor.
-Lauren. -a morena disse. -Ela é a Camila.
-Vocês são um casal? -Juan perguntou fazendo com que as duas se olhassem confusas por um instante. Elas definitivamente não eram apenas amigas.
-Eu acho que sim. -Lauren respondeu sentindo seu rosto queimar. De alguma forma ela sentiu que não ouviria alguma espécie de comentário preconceituoso dos dois, mas a pergunta tinha sido um pouco demais para uma resposta exata.
-Tudo bem, filha. -Celine disse. -Não há nada de errado com isso. Na verdade, a gente queria saber se vocês aceitam uma rápida troca de pares.
-Ela é quem faz todo o esforço. -Camila apontou para a morena. -Vocês não gostariam de estar comigo.
-Ufa, porque eu também não sou boa. -a mulher mais velha falou rindo e puxando a mão da cubana. -Tá tudo bem, eu devolvo ela inteira pra você. -ela olhou para Lauren que parecia insegura em deixar a outra ir e sorriu.
-Não liga pra isso, você pelo menos ficou no time dos campeões. -Juan olhou para Lauren que riu e colocou a mãos em seu pescoço e se permitiu ser embalada pelos movimentos dele. Ele era bom e rápido, como se tivesse feito aquilo a vida inteira e Lauren percebeu que sentia falta dos momentos em que costumava subir nos pés de seu avô para dançar com ele quando ainda era uma criança.
Camila e Celine por outro lado se divertiram com a falta de coordenação da mais nova, que parecia conseguir compreender o ritmo apenas quando era a morena segurando sua cintura e continuaram dividindo risadas até o final da música quando Lauren e Juan se uniram a elas para se sentar em uma mesa no canto do salão
-Vocês são daqui? -Lauren perguntou depois de dar um gole na garrafa de água que dividia com a cubana.
-Argentina, a gente veio pra cá na década de 80. -ele contou.
-Vocês foram deportados porque eram parte das guerrilhas ou vieram pra cá pra fugir da guerra? -a morena perguntou e Camila não entendeu do que a outra estava falando até que Celine a respondesse.
-Garota inteligente, pouca gente sabe da história do nosso país. -ela olhou para Camila. -Você deveria ficar com ela. -ela completou e a cubana ergueu as duas sobrancelhas ao dirigir o olhar para Lauren antes de deixar sua mão repousar na coxa da morena.
-Quando a gente era mais novo, a gente era dos Montoneros. -Juan disse fazendo referência a guerrilha de esquerda que protestava contra o governo argentino. -Mas a Celine engravidou e nós decidimos que seria melhor criar nossos filhos longe da guerra civil que tinha se instalado no país.
-A gente perdeu muitas pessoas. -Celine completou e um clima tenso caiu sobre eles.
-Eu sinto muito. -a morena colocou a mão sobre a da mulher mais velha por cima da mesa.
-Tudo bem. -ela falou com um sorriso triste.
-Como vocês fazem pra continuar juntos depois de tanto tempo? -Camila perguntou tentando mudar de assunto, se lembrando da maneira como eles haviam se cumprimentado com um rápido selinho e como agora estavam de mãos dadas.
-Vocês acabaram de ver, na verdade. -Juan contou apontando para a pista de dança.
-A gente dança. -a mulher completou depois de perceber o olhar confuso das duas. -Se as coisas estão boas ou ruins, se a gente está feliz ou triste, se algo importante aconteceu ou se a gente acabou de perder alguém, a gente dança.
-É por isso que você é tão bom! -a morena exclamou surpresa e todos riram.
-Ajuda que eu tenha sido professor de dança por alguns anos depois de vir para os Estados Unidos. -o homem revelou com um sorriso e Lauren percebeu que ele deveria ser lindo quando mais novo, assim como Celine, apesar dos dois ainda manterem certo charme.
-Vocês disseram que tem filhos. -Camila disse.
-O mais velho mora em Chicago com a família por causa do trabalho e a mais nova está fazendo faculdade na Califórnia. -Celine falou como uma mãe orgulhosa e as outras duas sorriram.
-Vocês estão juntas há quanto tempo? -Juan perguntou e a cubana engasgou com a água que estava tomando, fazendo com que Lauren tentasse abafar uma risada.
-Menos de 24 horas eu acredito. -a morena respondeu com um sorriso.
-Que estranho... -Celine olhou para o marido. -A gente tinha apostado que vocês estavam juntas há pelo menos um ano.
-É um tipo de jogo nosso, a gente tenta adivinhar a quanto tempo um casal está junto e fazia mais de anos que a gente não errava. -Juan disse e as outras duas riram. O que elas tinham que fazia eles imaginarem que estavam juntas há mais de um ano?
-Eu acho que é hora de te levar pra casa. -Camila observou depois de se certificar que já eram quase onze horas da noite e a morena assentiu, um pouco triste por ter que deixar o casal com quem elas haviam feito amizade.
-Eu posso anotar o número de vocês? -Lauren pediu enquanto todos se levantavam para se despedir. -Eu adoraria encontrar vocês de novo.
-Claro. -Celine respondeu e depois de deixar o número do casal no celular da mais nova de forma completamente experiente, eles se despediram.
Elas voltaram para o carro e fizeram a jornada até o apartamento em silêncio até que a cubana perguntasse algo que estava incomodando seus pensamentos.
-Você tá com medo de amanhã? -ela instantaneamente sentiu o carinho circular que Lauren fazia em sua perna parar.
-Eu não sei. -a morena respondeu ainda olhando pra frente. -É mais o medo de ter que reviver tudo aquilo de novo do que qualquer coisa. Eu sei que é fazer justiça por ela, mas ao mesmo tempo-
-É quase injusto que você tenha que reviver toda essa história repetidamente. -Camila completou.
-Eu acho que é isso. -ela deu de ombros com um sorriso triste.
-Eu sei que não vai ser fácil, mas você consegue fazer isso, Lolo. -a cubana segurou a mão que estava em sua perna e entrelaçou seus dedos com os de Lauren que apenas sorriu.
Elas continuaram em silêncio até Camila estacionar o carro e abrir a porta para a morena.
-Obrigada por hoje, Camz. -ela sorriu enquanto a outra se encostava na porta fechada do passageiro.
-Eu espero que tenha ajudado com a saudade dos seus avós. Eu sei que não é nem de perto como estar com eles, mas sempre me ajuda quando eu sinto falta da minha família.
-Foi uma das melhores noites desde que eu me mudei pra cá. -Lauren confessou. -Foi uma das melhores companhias também. -ela completou estendendo a mão para Camila que sorriu ao sentir seus dedos se entrelaçarem com os da morena.
-É o final da noite... -ela concluiu ao perceber Lauren se aproximando antes de morder o lábio.
-Eu acho que é a hora em que eu devo te beijar então? -a morena perguntou de forma provocativa enquanto colocava as mãos na cintura de Camila.
-Eu acho que é uma tradição a se seguir. -ela respondeu sorrindo e colocou a mão no pescoço de Lauren para trazer ela para mais perto.
O beijo começou de forma delicada, mas rapidamente se transformou em uma disputa por ar e uma dança entre as línguas das duas. Camila abraçou o pescoço da morena como se sua vida dependesse disso e Lauren deixou que sua mão se perdesse por baixo do tecido da blusa branca da cubana, deixando uma trilha de arrepios por onde as pontas de seus dedos tocavam a pele oliva da outra. Ela mordeu o lábio inferior de Camila as duas deixaram um gemido baixo ser abafado pela boca uma da outra enquanto elas se encontravam em outro beijo desesperado que parecia ser também uma disputa por controle.
-O que você tá fazendo comigo? -Lauren perguntou quando elas se separaram, os lábios ainda roçando um no outro.
-Eu pensei que fosse bem óbvio. -Camila disse de forma irônica enquanto tentava recuperar o ar e a morena fechou os olhos. -Lolo? -ela chamou passando a mão pelo rosto da morena na sua frente. Lauren apenas balançou a cabeça e deu um beijo na testa da cubana. -Eu amo quando você faz isso. -ela confessou, logo se sentindo boba pela afirmação e a morena apenas sorriu contra o topo de sua cabeça enquanto envolvia seus ombros em um abraço.
Todos os sentimentos que Lauren tinha estavam se tornando uma certeza em sua cabeça e era muito além de algo físico. Não era apenas sobre como a cubana passava a mão pelo seu rosto, o gosto do seu beijo ou como o toque de sua pele simplesmente parecia certo.
Era a maneira como Camila podia fazê-la rir em qualquer momento do dia, como ela não lutava contra o seu olhar, como ela havia se permitido chorar quando Lauren contou a história de Alexa, como ela tinha milhares de tipos de sorriso e nem tinha consciência disso, como ela mudava a entonação do apelido de Lauren dependendo do que precisava dizer e como sua voz era tão inesquecível e ainda assim parecia surpreender toda vez que ela abria a boca.
-A Ally me procurou há alguns dias atrás. -ela confessou e Camila ergueu o rosto para olhar em seus olhos.
-Por que? -a cubana perguntou confusa.
-Ela me pediu pra esperar por você pelo tempo que eu achasse certo.
-Você teria esperado mais?
-Eu teria esperado mais algumas horas... -ela deu de ombros enquanto tentava esconder um sorriso e a cubana virou os olhos. -Eu não sei por quanto tempo, mas eu teria esperado.
-Por que?
-Porque eu precisava ter você do meu lado, Camz. -Lauren disse beijando o topo da cabeça de Camila mais uma vez e a cubana sorriu.
-É melhor você entrar.
-Ou o que? -a morena perguntou provocativa.
-Ou eu não vou ter autocontrole e vou ficar assim até o amanhecer e a Dinah vai acabar comigo. -ela riu e se afastou de Lauren. -Boa noite, Lolo. -ela deu um beijo rápido nos lábios de Lauren e se virou para dar a volta em seu carro.
-Só isso? -a morena perguntou fingindo irritação. -Cadê seu autocontrole, Camz?
-Eu deixei na sua cama hoje de manhã, se você encontrar pode jogar fora. -ela respondeu arrancando uma gargalhada da outra.
-Boa noite, Camz. -ela disse enquanto Camila abria a porta e se virava para entrar no prédio.
Naquela noite, depois de ir ao banheiro, se trocar e tomar o remédio, Lauren se sentou para escrever sobre aquelas horas e a única coisa que vinha em sua mente eram duas frases simples e foi o que ela anotou.
"Eu não lembro de me apaixonar por você.
Eu só me lembro de segurar sua mão e imaginar como iria doer solta-la."