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< Capítulo anterior: 75§ Fim da linha
A mulher reencontrou o ex-marido e apercebeu-se de quanto a realidade era diferente das ilusões que alimentara... A meio duma última fuga com a menina, tudo se complicou...
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- PAI -
Quando sentiu a filha de novo nos braços, foi incapaz de encontrar palavras que verbalizassem a emoção que o assolava naquele momento.
Embora não se considerasse um homem lamechas, o facto de voltar a acariciar com as suas mãos, os cabelos da sua princesinha, deixou-o completamente rendido.
Só queria agarrar na criança ao colo e levá-la ao encontro da esposa, para poderem os três, agora quatro, voltarem a ser uma família.
– Minha linda! – balbuciou, tentando engolir o choro. – Estás bem?
– Tinha saudades tuas, papá! – disse a voz da criança, ainda abafada no abraço de ambos.
– Trataram-te bem? – questionou-a, encarando-a olhos nos olhos.
– Sim! Tenho estado com a tia! – confessou a menina, apontando para a mulher que continuava imobilizada à distância.
Ele fitou-a, à medida que o padrinho se aproximava nas costas dela, precavendo uma eventual tentativa de fuga. Contudo, a mulher permanecia ali estática, simplesmente ofegante.
Afinal, a "tia", que a menina referira repetidas vezes a ele e à esposa, existia mesmo! A tal amiga imaginária, como se tinham apressado a concluir, era de carne e osso e raptara a filha dele.
Olhou com mais atenção para o rosto da estranha, para a face da sequestradora. Não sabia contextualizar, mas aquelas feições eram-lhe de alguma forma familiares.
– Quem é você? – perguntou à mulher.
No entanto, não precisou de qualquer resposta. No instante que proferiu a questão, iluminou-se no seu cérebro a identidade da mulher misteriosa.
As recordações dele despiram-na daqueles cabelos pintados de negro e repuseram-lhe o louro original, transportando-o para os primeiros meses da sua chegada àquele país.
Estava diante de si, uma das raparigas com quem se cruzara nas suas tentativas temporãs de singrar como ator.
Também ela, naquela altura, lutava por conseguir um papel, mesmo que pequeno, numa peça de teatro.
Se ele nunca tinha conseguido o que quer que fosse, ela já contava com algumas participações esporádicas num par de trabalhos.
Lá atrás, após trocarem meia dúzia de conversas num dos castings, apercebera-se de que a jovem mulher tinha alguns contactos naquele meio e que dispunha de algumas posses.
Não tardou muito até que ambos se envolvessem. Ela era uma rapariga interessante e suficientemente atraente.
Obviamente, que tudo o demais também pesara na hora de ter namoriscado com a rapariga.
Contudo, para ele, aquele relacionamento nunca fora algo sério. Jamais prometera à rapariga um noivado e, muito menos, um casamento.
Era algo natural naqueles meios, estes relacionamentos efémeros, com prazo de validade curto.
Nos primeiros tempos, tudo correra sobre rodas. Fora ela que lhe apresentara o bairro onde ele morava atualmente, cercado de conterrâneos.
A avó dela tinha lá um apartamento, que se ele bem se recordava, não ficava muito distante do bloco de prédios onde ele residia agora.
Tinham sido dias intensos, em que ambos tinham dado largas ao excesso de hormonas que impregnava os seus corpos, acabados de sair da adolescência.
Apesar de bastante fogosa, a rapariga era virgem. Constatara esse facto tarde demais, após ter consumado o ato.
Felizmente, ela encarara tudo com naturalidade, mostrando-se consciente das decisões que tomava.
No entanto, ele não se apercebera de que a rapariga alimentara sonhos desmensurados acerca do futuro daquela aventura entre os dois.
Não tardou muito até ela surgir com cobranças e começar a sufocá-lo com exigências duma relação que ele não estava preparado, nem interessado, em assumir.
Tentou-lhe explicar duma forma cordial que não esperasse nada sério dele, mas sem sucesso!
A rapariga estava obcecada por ele, o mancebo que lhe tirara a inocência, o seu primeiro grande amor.
A ele, não lhe restara outra alternativa senão a de forçar a separação e romper abruptamente qualquer laço entre ambos.
Em resposta, a rapariga articulara todo um jogo de bastidores contra ele, empenhada em destruir-lhe qualquer perspetiva de carreira.
Em questão de dias, ela tinha minando a cabeça a outras atrizes e diretores.
O resto da história era o já sabido. Somente aquele "agente", com uma proposta muito questionável, alertara-o para o estado real da imagem dele nos bastidores dos grandes palcos.
Esse homem pouco idóneo dera-lhe a mão, fazendo-o enveredar pelos caminhos sinuosos de uma carreira de acompanhante de luxo.
Da rapariga, nunca mais soubera nada e dera-se por contente com esse facto.
Contudo, com ela, aprendera uma lição para o resto da sua vida: gerir as expectativas das mulheres com quem se envolvesse.
Ao longo da sua carreira como gigolô, esforçara-se por reduzir ao máximo a repetição de clientes.
– Ligo à polícia? – perguntou-lhe o padrinho, agarrando no braço da mulher.
A vontade dele, num primeiro instante, foi de dizer que sim, que levassem presa aquela louca.
Todavia, queria respostas! Necessitava duma justificação para tudo o que se passara ali. Havia todo um vazio em torno daquela atitude drástica!
Seria possível que o sequestro duma criança fosse o mero produto dum sentimento de rejeição, acalentado durante anos, por uma mulher ferida?
Custava-lhe a acreditar que aquela rapariga, que conhecera no passado, se tivesse tornado numa psicopata!
Para ele, tornara-se indispensável entender até que ponto a sua má atuação, anos antes, pusera a vida da sua filha em perigo, no presente.
– Não! Deixa-a! Eu conheço-a!
Viu o olhar de estupefação do padrinho, algo completamente inédito. Entretanto, apercebeu-se doutro vulto emergir da escuridão, por detrás do padrinho e da sequestradora.
– Isto é verdade? – perguntou a assistente social, revelando a sua presença. – Vocês conhecem-se?
A cada inspiração que fazia, o ar parecia cada vez mais pesado. Era como que enchesse os pulmões de chumbo, sendo incapaz de respirar profundamente.
Em frente a si, podia constatar claramente a tensão que assolava também a sequestradora, uma das suas primeiras aventuras amorosas em solo estrangeiro.
– Sim, é verdade! – contestou por fim a mulher, num misto de lágrimas e raiva. – Este é o homem que destruiu a minha vida por duas vezes!
Ele olhou-a com perplexidade, perante a acusação. Duas vezes? Como o término daquela relação podia ter causado tanto dano, ao ponto de arruinar a vida de alguém duas vezes?
Certamente que a mulher, diante de si, continuava a rapariga mimada e exagerada de outrora.
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Olá a todos,
mais um capítulo cheio de revelações que espero que vos tenha agradado.
Já tinham suspeitado deste laço entre pai e sequestradora?
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Aquele abraço.