Após planejarem seus falsos nomes Sweeney e Nellie procuraram uma pensão que ficasse mais perto da saída da cidade possível. Tiveram que andar bastante e a única a qual encontraram, ficava em uma parte rural e menos movimentada da cidade de Londres.
Tocaram a campainha e uma senhora aparentando ter mais de cinquenta anos os atendeu, não deixando de notar é claro, a aparência suja deles.
A mulher franziu o cenho e logo disse:
- Mendigos não são aceitos, para viver aqui terão de pagar. - em seguida ameaçou fechar a porta.
Mas Nellie impediu de ela fechar e disse:
- Não, não! Nós não somos mendigos minha senhora, e sim, nós vamos pagar.
A senhora então abriu a porta com um olhar desconfiado.
- Tudo bem, podem entrar. - os dois entraram.
Não era como um hotel cinco estrelas, mas era uma casa de três andares bem grande, arrumada e aconchegante. Perfeita para que eles pudessem se esconder da policia. A mulher foi até o balcão onde ela atendia aos clientes geralmente e entregou um papel onde estava escrito o valor dos quartos e da estadia.
- Vocês vão querer um quarto ou dois?
- Um/dois - Mrs Lovett e Mr Todd disseram ao mesmo tempo.
- Com licença - Mrs Lovett deu um sorriso sem graça para a senhora e chamou Sweeney para conversar em um canto.
- Nós não podemos dormir no mesmo quarto, não somos casados. - Sweeney argumentou.
- Mas eu não vou pagar por dois quartos, você já olhou o preço?
A mulher observava confusa os dois sem saber o que gesticulavam com as mãos. Até que depois de um tempo eles voltaram até o balcão e Mrs Lovett diz.
- Nós ficaremos apenas com um quarto.
- Tudo bem. Com esse preço está incluído roupa lavada e comida garantida.
- Ótimo! - Mrs Lovett respondeu pegando o dinheiro e pagando a dona da pensão.
- Agora assinem aqui, por favor. - a mulher entregou um papel e caneta para assinarem o contrato.
Então Nellie assinou. A mulher leu o nome e disse:
- Senhora Helena Carter, seja bem vinda! - Ela diz - Eu sou Margô Morel.
- Obrigada senhora Morel. - Nellie respondeu.
A senhora entregou a caneta para Mr Todd.
- Aqui está senhor Carter.
- Não sou o senhor Carter. - Sweeney disse - Sou John Christopher.
- Mas vocês não são casados? - A senhora perguntou estranhando.
- Não. - Ele diz.
- Ainda não, não é querido? - Nellie tentou disfarçar a situação embaraçosa.
Sweeney olhou sem entender nada para a Mrs Lovett.
- Nós estamos noivos, e vamos casar em breve. - Nellie mente.
- Ah, sim. Então tudo bem. Esta é a chave do quarto de vocês. O número é o 25 e fica no segundo andar.
Nellie pega a chave e depois pergunta.
- A que horas será o café da manhã?
- Será as sete horas, daqui á... - A mulher olha a hora no relógio da parede - 40 minutos.
- Tudo bem. Ah! e mais uma coisa, quando nós vínhamos para cá nós fomos assaltados na estrada. - Nellie mente e Sweeney a observa confuso. - E por isso estamos sujos e mal vestidos, mas por sorte eu havia escondido o dinheiro antes que os ladrões pudessem ver.
- Que perigo senhorita!! - A mulher mostra preocupação. - E vocês estão bem?
- Sim nós estamos, porém nossas roupas foram levadas, será que você não poderia emprestar algumas para que pudéssemos usar?
- Mais é claro!! O que mais tem nessa pensão são roupas dos outros que sempre ficam para traz. Eu passo e levo para vocês no quarto.
- Eu fico grata! A senhora é um anjo senhora Morel, tenha um bom dia! - Mrs Lovett sorri e Mrs Morel retribui o sorriso, em seguida Nellie vai em direção às escadas acompanhada de Mr Todd.
Quando estão subindo as escadas ele a questiona pelo que ela disse.
- Assaltados é?
- Bom, tive que inventar alguma coisa, já que você só ficava calado.
- Não estou criticando, foi uma boa idéia.
Nellie fica feliz em ouvir um elogio dele é um sorriso involuntário se forma em seus lábios. Porém Mr Todd se lembra de algo.
- Mas por que disse que nós estávamos noivos? - ele pergunta.
- Você não notou a expressão da mulher? Não acha que seria suspeito em vários sentidos se um casal de estranhos dormissem no mesmo quarto sem ter algum compromisso?
- Eu não ligo. Não vai acontecer nada entre esse casal de estranhos no quarto.
- Mas eu ligo! É a reputação da mulher que sempre fica em jogo e não a do homem! E além do mais temos que chamar menos atenção possível nessa casa. E para isso é melhor que não passemos de um simples casal de noivos que está passeando pela cidade.
Após pensar um pouco Sweeney acaba concordando com ela, eles não podiam chamar a atenção de ninguem.
Sweeney e Nellie chegam no quarto e ao entrarem notam que apesar de simples era espaçoso e bem arrumado. A janela tinha a vista para a parte de trás da casa, com a vista do jardim e bem atrás ficava um grande pasto. Era um lugar calmo de se viver, e por um instante Mrs Lovett imaginou como seria bom viver assim. Em um lugar tranquilo com o homem que ama. Sim ela o ama, e já tentou demonstrar isso várias vezes, mas nunca foi correspondida da maneira que ela sonhava.
- Já pensou em como seria viver assim? Em um lugar sossegado onde não tenhamos problemas e possamos ter para sempre essa bela vista do sol se pondo atrás das montanhas? - Mrs Lovett diz ao observar o sol surgindo aos poucos com os cotovelos apoiados na janela, as mãos no queixo e um olhar sonhador.
Mr Todd havia sentado na cama para tirar os sapatos e ao ouvir isso ele olha para Mrs Lovett. A luz do sol refletia em seu rosto e dava um ar de inocência que o fez por um instante lembrar da sua querida Lucy. Mas ele afastou os pensamentos e disse.
- Pensei que quisesse morar perto do mar.
Mrs Lovett sorri e o responde.
- Claro! Ainda adoraria morar perto do mar, mas às vezes não podemos ter tudo o que queremos, então temos que nos contentar com o que temos a nossa volta, pois se pararmos para observar bem, talvez não seja tão ruim quanto pensamos - Ela diz e continua olhando para as campinas que começam a ficarem mais visíveis ao sol atingi-las.
Sweeney ouve o que ela diz e a olha novamente. As palavras dela ecoam em sua mente. Será que se ele parasse para observar o que ele tinha a sua volta, ele poderia, ter de volta o que perdeu? Talvez, não fosse tão ruim assim.
Depois Sweeney parece despertar do devaneio e desvia o olhar de Nellie tentando afastar os pensamentos de sua mente.
Não! Ele não ficaria com ela, ela não passava nada além de sua cúmplice dos crimes que cometeu. E certamente, não ficaria ao lado dela por muito tempo. Logo ele partiria e a deixaria. Ele tinha o sonho de reencontrar sua filha e conhecê-la. Mas daria tempo ao tempo. Com ele foragido na cidade ficaria difícil encontrar Johanna. Esperou 15 anos para ter sua familia de volta. Poderia esperar mais um pouco. E como não poderia ter a esposa ele cuidaria de sua filha e tentaria compensar o tempo perdido.
Naquela época em que ele era feliz com Lucy ele estava começando a aprender a ser pai. Mas após ser preso injustamente, viver um inferno como o que ele viveu o coração dele se fechou para algum ato que tivesse a ver com o sentimento ou amor. E só redescobriria esse sentimento se fosse aprendendo a ser o pai que sua filha nunca teve.
Alguém bate na porta e Mrs Lovett que antes estava distraída olhando a janela, se dirige até ela. Era a senhora Morel que trazia as roupas para eles se vestirem.
- Obrigada Mrs Morel! Está sendo muito gentil nos ajudando! - Nellie agradece ao pegar as roupas.
- Por nada querida. O café fica pronto daqui alguns minutos. Até lá! -. A senhora Morel se despede e Nellie sorri fechando a porta em seguida.
- Você quer tomar banho primeiro? - Nellie pergunta.
Sweeney não a responde, fica apenas com um olhar frio e pensativo olhando para o chão do quarto.
Niellie revira os olhos e responde:
- Tudo bem, eu acho que vou primeiro então. - Ela põe a roupa dele ao seu lado na cama e depois vai para o banheiro.
No banheiro tinha uma banheira enorme. Nellie precisava de um banho relaxante de banheira seus pés estavam doloridos e cansados de andar. Mas ela optou por tomar uma banho sem muita demora para que Sweeney pudesse tomar banho a tempo para o café da manhã então decidiu não esquentar a água. Ela não sabia por que fazia tudo isso por ele. Ele não a merecia, talvez ele até fosse embora e a deixasse sozinha mesmo depois de tudo o que passaram.
Ela terminou seu banho e estava vestindo sua roupa. Virou para o espelho que ficava acima da pia do banheiro e começou a se olhar. Ela estava com um vestido parecido com os que costumava usar, escuro com mangas até os cotovelos, alguns babados na barra da saia do vestido e os ombros um pouco a mostra. Depois enxugou os seus cabelos com a toalha e os penteou. Já estava prestes a por os grampos para prende-lo, mas pensou um pouco e decidiu deixá-los soltos nesse dia. Ela quase nunca havia parado para reparar o quanto seu cabelo havia crescido por viver com eles presos. Eles definitivamente estavam mais lindos que nunca. Não usava o cabelo assim dês de quando era mais jovem antes de se casar com o falecido Albert Lovett.
Ao abrir as gavetas da pia ela encontra uma pequena mala e abre, lá tinha pó de arroz, um ruborizador para a face e um batom labial. Certamente deveria ser de alguma inquilina que estavam ali antes.
Ela olhou para seu rosto e percebeu que em volta dos seus olhos tinha uma cor muito escura, que dava um ar triste de alguém que não sorria a um bom tempo. Isso a fez se sentir muito mal. Antes de se casar com Albert Lovett, Nellie era uma das moças mais bonitas e disputadas da rua onde nasceu. Seus pais antes de morrerem não eram tão ricos, não chegavam a ser da alta sociedade mas eles tinham uma padaria e confeitaria famosa que ficava na Fleet Street a qual era o sustento da familia, então eles eram bem de vida e nunca precisaram passar necessidade.
Após pensar na época de sua juventude quando era feliz e distribuía sorrisos alegres pelas ruas de Londres, decidiu então se produzir para que ela se sentisse bem consigo mesma, afinal, ela estava começando uma nova vida, e por que não fazer isso deixando o luto para traz e iniciando com uma mudança de visual?
E foi isso que ela fez.