Eros
A situação parece bem mais sombria agora, enquanto eu observava a Zoe se afastar de mim e ir se refugiar no seu quarto, percebi que estava tudo perdido. Nada do que eu fizesse ou falasse naquele momento a faria mudar de ideia.
Elisabeth tenta me dizer algo, mas desisti, enquanto eu olho para ela e caminho em direção a saída, pensar na ideia de não pisar mais os pés naquela casa e essa sensação é aterrorizante para mim, porém mais ainda é não ter a minha Zoe em meus braços.
Maldita hora em que eu concordei com aquela mentira! Maldita hora em que o Arthur entrou em nossas vidas.
Sei que não deveria, mas talvez fosse bem melhor se ele realmente tivesse morrido. Meu coração começa a acelerar quando imagino os dois juntos novamente. Por que a Zoe tinha que ser tão inconsequente? Por que ela não esquecia e seguia a sua vida ao meu lado? Enquanto procuro as respostas, choro novamente pelo fim do nosso relacionamento.
Minha mãe sempre me achou um tremendo idiota, por eu ser sempre quieto, na minha por viver sempre calado pelos cantos, nem mesmo no colegial eu fiz muitos amigos. Escolhia eles a dedo, por que não era qualquer um que merecia ser chamado assim. Namoradas? Eu jamais havia namorado garota alguma e houve um tempo em que meus pais duvidaram da minha opção sexual. Ouvir dona Amélie me perguntar se eu era gay, havia sido a coisa mais engraçada que eu a ouvira dizer em toda a minha vida. As cobranças da parte dela eram constantes sobre eu ter ou não uma namorada e quando enfim eu arrumei uma, ela simplesmente virou o mundo de ponta cabeça. Quando souber que está tudo terminado, certamente dará uma festa.
Quando enfim cheguei ao portão de casa, endireitei-me, enxuguei as lágrimas e entrei com tudo para que qualquer um que eu encontrasse no caminho não viesse me perguntar o que havia acontecido, porém nada disso foi possível.
– Eros, meu filho, – meu pai era tão diferente da minha mãe que dava pena do velho por ter que aturar ela por tanto tempo – o que a Zoe queria com você?
Eu não queria ter que responder aquilo. Enquanto caminho para dentro de casa, em direção a cozinha encontrando minha mãe por lá, percebo que não adianta esconder, uma hora eles descobririam.
– Não vai mais haver casamento. – Eu disse, enquanto um nó se formava em minha garganta – A Zoe terminou tudo comigo.
– Mas que abusada aquela garota hein! - Dona Amélie disse aquilo com tanta satisfação que deu para ver os seus dentes em um sorriso de pura maldade – Foi melhor assim meu filho, aquela moça não serviam para você.
– Nós já conversamos sobre isso mãe. Quem decide o que serve ou não para mim sou eu. – Eu parei um pouco e me contive para não chorar na frente deles – Vocês deveriam pelo menos se solidarizar com minha dor em vez de ficarem aí comemorando.
- Comemoraremos então! – Ela me disse e eu não me assustei com a sua sinceridade – Alias deveríamos fazer uma festa por isso, não pela sua dor, mas pelo livramento que Deus te deu. Vai passar meu filho, – ela deu um leve tapa nas minhas costas – logo você encontra alguém para te consolar.
Eu não precisava ficar ouvindo aquilo. Virei as costas e me afastei em direção ao meu quarto, talvez fosse melhor fazer exatamente o que a Zoe fizera, me trancar para chorar em paz.
– Eros, espere. – Meu pai puxou o meu braço, me obrigando a parar bem no meio do caminho – Tem certeza que não quer conversar filho? Isso pode ser bom para você.
– Talvez, – eu agradeci a sua preocupação com um breve sorriso – mas hoje não, e eu espero que o senhor entenda.
Ele apenas balançou a cabeça e me deixou ir.
Eu havia fracassado com a Zoe, era tudo o que eu conseguia dizer para mim mesmo. Deixei escapar entre os meus dedos a pessoa mais incrível que já conheci, aquela que amo, que não consigo deixar partir. Como viverei com isso? Enquanto afundo o meu rosto sobre o colchão, relembro de toda a nossa história, de quando a vi pela primeira vez na biblioteca. Quando pousei meus olhos nos dela, soube naquele instante que ela seria minha, nem que fosse apenas nos meus pensamentos. Me lembro também de quando Elisabeth veio até mim com aquela ideia de matarmos o Arthur – Não ao pé da letra – mas de uma forma que fizesse com que Zoe acreditasse. Mentimos para ela, matamos um homem vivo e agora esse mesmo homem ressurge das cinzas para roubá-la de mim. Talvez eu esteja enganado, talvez a Zoe não volte de fato a ter algo com o Arthur, mas quando penso que ela o verá novamente, isso me angustia ao ponto de eu querer jamais ter existido um dia.
Não vejo as horas passar, adormeço no meio da minha dor e desespero e acordo no dia seguinte já com o clarear do dia batendo em meu rosto. Me arrumo de um jeito qualquer e saio, disposto a tomar café da manhã fora de casa. Não estou com ânimo de ouvir a ladainha de Amélie novamente. Então decido por impulso seguir para o colégio onde ela dá aula. Queria vê-la, nem que fosse ao menos de longe. Fico parado lá, na esquina há uns vinte metros de distância da entrada, quando ela chega de carro com uma outra mulher, desce. Está triste, preocupada e o meu coração se angustia. Resolvo ficar ali até que ela entre, porém seus olhos se encontram com os meus. Levo um susto quando percebo que ela me avistou – claro eu não fiz questão de me esconder – estava parado ali bem próximo, com as mãos nos bolsos olhando fixamente para ela. Zoe não esbanja nenhum sorriso, continua seria e magoada comigo. Se vira e caminha a entrada até eu não poder vê-la mais.
Eu não sei por quantos minutos ainda permaneço ali, mas meu coração queria acreditar que ela saíria novamente e viria em minha direção e então tudo ficaria bem, mas sei que não será assim. Caminho agora, em direção a biblioteca porque hoje é dia de trabalho. Conto para Nicole o que havia acontecido e é tudo o que conversamos. Ela se abala porque sabe que a reação da Zoe será a mesma com todos. Sei como ela se sente e ela sabe como me sinto e é bom ter isso. Nos consolamos em silêncio, porque palavras não seriam suficiente para justificar os nossos atos. As vezes agimos errado com a pessoa certa porque a amamos e isso era naturalmente normal, uma vez que somos humanos. Mas como explicar isso a Zoe? Como explicar a ela que em muitos momentos eu me coloquei em seu lugar e acredite, seria capaz de perdoá-la? Mas ela estava furiosa comigo e eu não via saídas seguras para toda essa confusão. O medo nesse momento é maior do que minha fé que tudo ficará bem um dia.
As horas passam, são exatamente três horas da tarde quando meu celular toca pela primeira vez.
Aparece o número de Elisabeth.
Meu coração acelera.
Eu atendo e ela me diz desesperada:
– A Zoe está indo para Suíça.