Acabo de receber uma notícia, que para uma mãe, talvez seja a pior notícia para se ouvir. Há poucos minutos, Lord Supremo me disse que Henrik tem menos de dois dias de vida.
O motivo?
É aí que está... Eu não sei.
Quando questionei Lord Supremo... Ele simplesmente se virou e foi embora. No momento em que tentei ir atrás dele, um Lord apareceu na minha frente dizendo que não tenho permissão para deixar o quarto. Ouço conversas do lado de fora, e pouco tempo depois, Lord entra segurando uma bandeja com frutas.
- Olá, Ally. Tudo bem?
- Não.
- O que houve? - Ele coloca a bandeja em cima da cama.
- Lord Supremo veio até aqui me dizer que meu filho está morrendo.
- Ele lhe disse isso?
- Disse...
- Estranho, porque seu filho está ótimo. Aliás, eu vim buscá-la para que possa vê-lo.
- Sério? - Meu peito se enche de alegria.
- Mas antes deve comer. - Ele aponta para a bandeja.
- Finalmente posso comer alguma coisa sem sangue e...
- Sim.
- Sim o quê?
- Estava pensando se colocávamos sangue nas refeições enquanto estava grávida.
- E colocavam?
- Sim. Sangue de Lord é bem melhor do que de Demônio, não acha?
- Bem melhor. - Sorrio.
- Não consigo comer mais nada. - Jogo o último morango na bandeja.
- Precisamos esperar Lord Supremo deixar o Castelo.
- Está desobedecendo ordens?
- É... Acho que estou. - Ele ri... Eu acho.
- Vocês podem assumir suas formas verdadeiras?
- A de quando eramos Humanos?
- Sim.
- Podemos. Por quê?
- Porque os médicos não eram iguais a você.
- Bela observação.
- Por que não assume sua forma verdadeira?
- Já assumi uma vez...
- Eu quero ver.
- Minha forma Humana? Ah, nem pensar.
- Por quê?
- Porquê... - Ele para e me olha por um momento, eu acho. - Você é linda, sabia?
- Não mude de assunto...
- É sério, você é linda.
- Obrigada. Mas ainda quero ver sua forma Humana.
- Não vai desistir tão fácil, não é?
- Não. - Sorrio.
- Está bem. - Lord se levanta e para. Suas mãos, que antes eram apenas ossos, começam a formar carne e pele, o corpo por baixo do grande manto aumenta e o pano vai moldando os músculos. O vazio que existia sobre o seu pescoço vai sendo preenchido por uma pele morena, cabelos negros, olhos verdes e uma boca que está me dando vontade de beijar.
- Você é lindo... Quer dizer... - Droga.
- Tudo bem... - Ele sorri. Agora sim, tenho certeza.
- Posso te chamar de Rodrigo?
- Claro... Afinal, esse é o meu nome.
De repente, a porta se abre e um médico aparece.
- Lord Supremo deixou o Castelo.
- Obrigado, Samuel. - Diz Rodrigo. Ele estende a mão para mim. - Vamos?
Estamos caminhando por um corredor extenso. Ao passar pelas janelas, percebo que todos os quartos estão ocupados por mulheres... Algumas grávidas, outras com bebês no colo.
- São todas mulheres de Demônios. - Diz Rodrigo.
- E por que estão aqui?
- As resgatamos. - Ele para e frente a uma janela de um dos quartos, cuja a paciente está em trabalho de parto. - Não acha que merecem uma vida melhor?
- Por isso as resgatam... Acham que merecem liberdade.
- Vamos.
Voltamos a caminhar.
- Por que devíamos esperar Lord Supremo sair do Castelo se estamos no hospital? - Pergunto.
- Todo o sistema de segurança deste hospital está instalado no quarto do Lord Supremo. Ele pode ver e ouvir tudo o que acontece em todos os quartos... Em todo o hospital.
- Todo o hospital é de vocês?
- Somente o último andar, o resto do prédio pertence aos Humanos.
- O que eles pensam que vocês fazem aqui?
- Bem... Para os Humanos, este andar serve para pesquisa. Por isso os Lords assumem suas formas Humanas. Caso algum Humano entre aqui, não vai ter problema.
- Entendi. Mas como sabe que Lord Supremo não está vindo para cá? Ele saiu do Castelo e...
- Neste exato momento, Lord Supremo está na casa da floresta conversando com Caleby.
- Como pode ter tanta certeza?
Ele para e me olha de lado, um sorriso lindo se formando em seus lábios.
- Você é teimosa.
- Eu sei... - Sorrio.
Todo o percurso que fizemos desde o meu quarto até a Ala dos recém-nascidos, Rodrigo segurou a minha mão... E é claro que retribuí o gesto. A Ala dos recém-nascidos é grande, cada bebê fica em um quarto, e cada quarto é equipado conforme o bebê hospedado nele. Em todas as portas há uma pequena placa de metal com o nome do bebê. Nos aproximamos de uma porta azul, no alto está gravado o nome "Henrik". Rodrigo se vira para mim antes de abrir a porta.
- Está pronta?
- Estou.
- Não tenha medo... - Ele abre a porta.
O quarto é amplo e azul... Bem azul. Cortinas azul-claras impedem que a luz do sol atravesse as janelas, um sofá azul-marinho está no canto. Ouço gemidos vindos de um berço azul-claro com desenhos de chupetas decorando as grades. Me aproximo do berço e vejo uma pessoinha enrolada em um manto... Claro que também da cor azul. Henrik me fita com olhos verdes, contrastando com o quarto azul. Ele abre um lindo sorriso.
- Oi... - Sussurro. Lágrimas caem dos meus olhos. Com cuidado, pego Henrik no colo.
Sua pele é de um rosa forte, quase vermelho. Com sua mão pequena, ele agarra o meu dedo indicador com firmeza. Parece que tudo o que passei antes e durante a gravidez, todos os sentimentos ruins. Tudo se perde nesse momento. Nunca pensei que sentiria algo assim... Eu sou mãe.
- Ele reconhece você. - Rodrigo que me tira do devaneio.
- Por que a pele dele é dessa cor?
- Não se preocupe... A cor vai mudar. Essa é a cor da pele nova.
- Você é lindo... - Sorrio para a criaturinha em meus braços. - Por que os olhos verdes?
- É uma característica dos Bruxos...
- Tinha razão... Ele é a cara do Lúcifer.
- Temos que dizer alguma coisa par o Caleby... - Ele sorri para Henrik.
- Por que não contamos logo a verdade? - Olho para ele.
- Não faça isso...
- O quê?
- Me olhar desse jeito... Meigo.
- Está bem. - Sorrio e volto meu olhar para Henrik. - Eu te amo...
- Ele vai receber alta amanhã... Vamos poder voltar para o Castelo.
- Como assim "vamos"?
- Bem...
- Ficou aqui esse tempo todo?
- Fiquei...
- Por quê?
- Não queria abandonar você.
- Não queria me abandonar? - Fico tensa.
- Não, eu...
Somos interrompidos pela entrada de Lord Supremo.
Droga.
- Estou vendo que não conseguiu manter sua promessa, Rodrigo. - Lord Supremo fecha a porta ao entrar.
- Senhor, eu...
- Cale-se! Você me desobedeceu.
- Senhor...
- Cale-se! Vai ser punido por isso.
- Não foi culpa dele. - Coloco Henrik no berço.
- Com todo respeito, Ally... Você não está a par da situação.
- Ele só me trouxe aqui para ver o meu filho, já que você não foi capaz de fazer isso. - Pronto, falei.
- Como ousa se dirigir a mim com este tom? - Lord Supremo dá um passo a frente.
- Usei o mesmo tom que você usou comigo quando me proibiu de ver o meu filho.
- Eu estava zelando pela sua segurança.
- Eu estou bem...
- Não sabe o perigo que está correndo ao lado desse Monstro. - Ele aponta para o bebê adormecido no berço.
- Monstro? Não, eu corro perigo ao seu lado. - Tento não aumentar o tom de voz para não acordar Henrik.
- Como pode ser tão ingrata? Tirei você das garras do Lúcifer, te dei uma vida.
- Não... Rodrigo me tirou das garras do Lúcifer, ele me deu uma vida.
- Já chega. Vamos voltar, Ally. - Rodrigo segura a minha mão.
- Por que não conta a verdade, Rodrigo? - Lord Supremo barra a nossa saída.
- Por favor, Senhor... Não. - Rodrigo está tenso.
Lord Supremo se aproxima e fica cara a cara com Rodrigo, ele segura firme a minha mão.
- Vai chegar o momento em que vai precisar contar a ela. E quando este momento chegar, não conte comigo. - Lord Supremo sai do quarto sem olhar para trás.
Rodrigo não se mexe, não fala... penas fica olhando pela janela. Ele está assim desde que voltamos para o meu quarto, depois de eu ser praticamente arrastada pelos corredores depois da saída conturbada de Lord Supremo.
Já tentei conversar, mas Rodrigo não demostrou reação alguma. A porta está trancada com magia, então não posso sair. Não que eu tenha medo dele, mas... Não sei como completar está frase.
- Eu não queria envolvê-la nisso... Mas não pude controlar, é mais forte do que eu pensei. - Rodrigo finalmente mostra sinais de vida.
- Do que está falando? - Estou muito confusa.
Rodrigo tiras os olhos da janela e me encara, sua expressão é de dor.
- Me desculpe.
- Está me assustando.
- Deixei isto ir longe demais... - Ele passa as mãos pelos cabelos.
- Será que dá pra dizer o que está acontecendo?
- Estou apaixonado por você.
- Apaixonado? - Droga.
- "Muito' apaixonado. - Posso sentir o ênfase no "muito". Ele se aproxima. Não posso dizer se foi algum reflexo, mas dou um passo para trás no instante em que ele se aproxima. - Me perdoe, Ally. Eu te assustei?
- Não... É quê... Está tudo confuso.
- Eu deveria ter te contado antes... - Ele novamente passa as mãos pelos cabelos.
- Por que se culpa tanto?
- Se apaixonar, para um Lord, é diferente.
- Como assim é diferente?
- É mais intenso... Mais apaixonante. Quando nos apaixonamos, nos entregamos de verdade... Todo o nosso mundo gira em torno da pessoa. Tudo o que fizermos é por ela.
- Isso é lindo...
- É uma maldição, Ally.
- Maldição?
- Quando nos tornamos Lords, somos privados de amor... Não podemos amar.
- Por quê?
- O amor nos distrai, nos deixa cegos... E um Lord precisa rer foco.
- Entendi. E o que você prometeu ao Lord Supremo?
- Como assim?
- Quando estávamos no quarto do Henrik, Lord Supremo entrou dizendo que você não conseguiu manter sua promessa.
Rodrigo se vira para a janela de novo. Quando ele fala, sua voz é carregada de dor.
- Prometi a ele que iria esquecer você. Mas isso é dolorido... Não dá... Simplesmente não consigo. - Ele se cala, suas mãos seguram firme o parapeito da janela. - Eu já me apaixonei uma vez, mas foi há muito tempo... Eu saía correndo daquele Castelo, todos os dias, louco para vê-la, beijá-la, sentir o doce aroma que vinha de sua pele. Passávamos tardes maravilhosas juntos, tudo era perfeito ao lado dela... - Ele deixa a janela e se senta na cama, com cautela me sento ao seu lado.
- Não precisa contar se é difícil pra você. - Pego sua mão, ele está tremendo.
- Eu preciso contar... Você precisa saber onde está se metendo. - Ele retribui o aperto carinhoso em minha mão. - Um dia, que parecia como todos os outros, eu fui encontrá-la na floresta... Ela estava linda naquele vestido rosa. Lord Supremo nos surpreendeu na divisa do Castelo, eu sei que fui idiota ao levá-la para lá, mas eu estava cego de amor. Não tive tempo de fazer nada... Lord Supremo a tirou de mim e apagou todas as lembranças que se referiam a mim das memórias dela.
- E o que aconteceu com você?
- Lord Supremo deixou uma marca em mim... - Rodrigo solta a minha mão e ergue seu manto, revelando seu peito. Uma cicatriz fraca em formato de coração está marcada em seu peito, onde deveria haver um coração de verdade.
- Sinto muito...
- Não sinta. Eu mereci o que aconteceu. Você não faz ideia do quanto isso dói, é queimando de dentro para fora... Tenho que conviver com isso todos os dias, por toda a eternidade... É uma dor que não passa.
- Como era o nome dela?
Rodrigo se cala, sua expressão é tensa.
- Mellyssa. Acho que sabe muito bem quem é...
- Minha mãe... Namorou com a minha mãe?
- E foi uma época maravilhosa, pode acreditar.
Sinto uma coisa latejando no meu subconsciente... Ciúmes... Não pode ser ciúme.
- É, deve ter sido maravilhoso. - Abaixo a cabeça.
- Não acredito... Ally Thompysom está com ciúmes? - Ele ri, quebrando o clima tenso.
- Eu... Não...
- Não minta para um Lord, Ally.
- Eu...
- Fica ainda mais linda com ciúmes.
Acho que estou vermelha como um tomate. É melhor eu mudar de assunto.
- Por que o quarto de Henrik é todo azul?
- Sei o que está tentando fazer... - Ele estreita os olhos. - Mas, respondendo a sua pergunta... Todo Bruxo tem uma cor característica... A dor Henrik é azul.
- Mas precisa ser tudo azul?
- Sim, Ally... Precisa. - Ele sorri. Ele me olha com desejo.
- O que foi?
- Queria tanto beijá-la agora. - Logo depois, ele se recompõe. - Me desculpe, Ally. Eu...
- Eu também quero...
Ele fica pasmo... Parece que o ar deixa seus pulmões em questão de segundos. Passo a mão pelo seu rosto, está frio.
- Ally, eu acho melhor...
- Shh... Não pense em mais nada. Agora somos somente eu e você... - Me aproximo, e logo meus lábios estão tocando os seus.