Anna deu uma última olhada no banco de trás do seu carro para se certificar de que não restava mais nada lá. Ela abraçou as sacolas de compras contra o seu corpo e usou uma das pernas para fechar a porta do carro. Lá na frente, Bradley tocava a campainha da casa e segurava um buquê de flores.
- Anna colheu algumas para você. – Bradley falou, se referindo às flores, assim que sua mãe abriu a porta da casa.
- Eu estava mesmo querendo algo para colocar na mesa. Obrigada, querida. – disse a senhora enquanto ajudava Anna com as compras.
Os três entraram e foram direito para a cozinha, onde uma mesa cheia esperava por eles.
- Vocês já se decidiram se vão fazer a cerimonia no mesmo lugar da festa? – Sônia, mãe de Bradley, perguntou para o casal enquanto colocava a massa de panqueca na frigideira.
- Não. Anna disse que está sem tempo essa semana. – Bradley respondeu, dando de ombros.
Anna recebeu o olhar reprovador da sogra e se apressou em se defender.
- Eu disse que ele poderia decidir sozinho, eu precisava terminar de preencher a papelada do trabalho.
- Eu não sei nada sobre casamentos, eu sou o que concorda com tudo e você é quem decide. – o noivo da garota rebateu na defensiva. Anna revirou os olhos, mas tinha um sorriso divertido nos lábios.
- Nós vamos decidir sobre o local esse fim de semana, eu prometo. – Anna afirmou para Sônia.
- Não, você prometeu que iria descansar esse fim de semana, Anna.
- Na verdade, ela prometeu que iria comigo no meu jogo e que depois me levaria para algum restaurante pra recompensar a semana que ela passou trabalhando. – Bradley olhou para sua mãe com as sobrancelhas erguidas, disputando a atenção de sua noiva.
Sônia balançou a cabeça e soltou um suspiro. Ela descordava com toda aquela conversa.
- Você tem trabalhado demais, Anna. Você deveria tirar férias ou sei lá, fará bem pra você.
Anna estava realmente cansada. Os últimos meses tinham sido pesados, e ela tentava estar presente em cada momento de sua vida - os planos do casamento, a reforma de sua nova casa, a floricultura, o voluntariado - mesmo que ela sentisse que, no fundo, tudo e todos estivessem passando na frente de seus olhos e ela não conseguisse seguir em frente e acompanhá-los.
Ela tinha a sensação de que estava vivendo uma vida que não era mais dela.
- Sim! Eu dei opções de vários lugares para nossa lua de mel, e acho que eu e a Bananinha precisamos disso, mãe. – o garoto tinha atenção das duas mulheres da casa e revirava os olhos como se sua mãe estivesse lendo seus pensamentos.
- Eu estou falando sobre ela, Bradley. Sobre Anna tirar férias do trabalho, dos planos do casamento, de tudo. Tempo para ela respirar. – a sogra da garota colocou as panquecas na mesa e finalmente se juntou ao casal para comer. Anna sentiu o cheiro fresco da massa e sentiu seu estômago embrulhar.
Sônia percebeu que a garota começara a passar mal e logo afastou a comida de perto dela. Ela disse:
- Eu sempre esqueço que você não come mais panquecas. Você amava tanto quando eu fazia.
Anna não comia panquecas fazia meses. E diferente do que quase todo mundo que ela conhecia em Los Angeles pensava, ela não era alérgica aos ingredientes da panqueca, só não gostava das memórias que apareciam em sua mente toda vez que experimentava uma.
- Eu também acho que ela devia tirar férias, mas o casamento está quase chegando e precisamos decidir algumas coisas. – Bradley encheu sua xícara com café e continuou: - Os convites já foram enviados, e não temos tempo para mudar mais coisas.
Ele ofereceu café para Anna, e ela recusou.
- Eu não posso tomar café, Bradley. – ela o lembrou. Anna sempre tinha que repetir para Bradley que ela não podia tomar café, ou que era alérgica à amendoins.
Bradley deu de ombros pela segunda vez e encheu o seu prato de panquecas.
- Eu estive pensando em ir para Itália. – Anna fitou o garfo que segurava, e antes que sua frase ficasse presa no ar, ela continuou: - Minhas madrinhas sugeririam essa viagem como um presente de casamento, ou algo do tipo. São sete dias em um resort. Eu ainda não decidi se quero ir.
- Itália, uh? Você não me falou sobre isso. – Bradley fitou Anna com os olhos semicerrados. Do outro lado da mesa, Sônia mastigava desconfortavelmente.
- Eu sei, eu sei. É que temos tanta coisa pra fazer que eu esqueço de falar quando estamos juntos.
- E quem vai com você? – Sônia perguntou.
- Eu provavelmente não vou mesmo. Mas se eu fosse, gostaria de ir sozinha. – Anna falou. Assim que Bradley abriu a boca para discordar, o celular da garota tocou. Ela agradeceu mentalmente e deslizou para fora da cozinha para atender.
***
Algumas horas depois, Anna entrou no carro de Bradley e junto com a sogra, os três foram para o ateliê de alta costura, o qual Anna praticamente se sentia em casa. Nos últimos meses, ela passou bastante tempo naquele lugar experimentando vestidos e fazendo ajustes. Aquele ateliê tinha seu vestido de noiva e só faltava alguns detalhes para que ele ficasse do jeito que Anna sempre sonhou.
- Você emagreceu mais. – comentou uma das costureiras de costas para noiva. Anna tinha no corpo o seu vestido, e ajudava algumas funcionárias à alfinetar o tecido para que ele se ajustasse corretamente em seu corpo. Em cima do pequeno pedestal, a garota conseguia se ver em todos os ângulos nos espelhos e analisar se queria mais alguma mudança.
- Me desculpa, eu...
- Não precisa se preocupar, querida. – disse a mulher com um sorriso gentil. – É o seu grande dia, o meu trabalho é fazer um vestido perfeito pra você. Eu não me importo de ajustá-lo sempre que vier aqui.
- É realmente perfeito. Esse vestido é a cara de Anna. – Sônia pegou um lenço e secou algumas lágrimas que se acumulavam na sua linha d'água.
A sogra de Anna era como uma segunda mãe. Ela acompanhou, não só todos os momentos da vida da garota, como todos os momentos do pré-casamento.
- Está tudo bem? – perguntaram para Anna depois de alguns segundos. Anna tinha os olhos fixos no espelho e analisava cada milímetro de seu reflexo.
- Eu não sei... Parece que tem alguma coisa faltando.
Bradley tirou os olhos da tela do celular e encarou a noiva. Ela estava linda. E por isso ele não entendia o olhar tão insatisfeito dela. Anna falava sobre esse vestido desde que estavam na escola, ele foi feito exatamente para ela, então o que poderia estar faltando?
- Eu vou pegar um copo d'água pra você. – disse ele ao se levantar e sair pela porta.
Antes que alguém falasse mais alguma coisa, Johanna chegou. A mãe da noiva estava com as mãos lotadas de coisas e tentava equilibrar tudo enquanto falava no telefone. Ela despejou sua bolsa e a papelada em uma das mesas e acenou com a cabeça para todo mundo antes de se despedir da pessoa do outro lado da linha.
- Desculpa, é sobre o abrigo. – Johanna jogou o celular na mesa e deu uma olhada para filha. – Esse vestido está estranho.
- Eu sei! – Anna exclamou com a voz aguda. Era tão bom ter sua mãe por perto. Normalmente, quando só ela e Sônia iam resolver assuntos do casamento, as decisões sempre saíam de seu controle, e quase nada era feito do jeito que Anna queria.
- Não parece algo que você usaria.
Todo mundo que estava na sala olhou para o reflexo de Anna no espelho e não conseguiriam ver o que a mãe e filha concordavam sobre. O vestido estava lindo, e Anna parecia pronta para casar quando estava com ele.
- Talvez seja algo da minha cabeça, eu não sei. – Johanna deu de ombros sentando-se ao lado de Sônia. Ela prendeu o cabelo escuro em um coque alto para analisar sua filha melhor.
Johanna trabalhava junto com Anna. As duas eram fundadoras de um abrigo para pessoas necessitadas em Los Angeles, e como o negócio ainda era recente havia muita coisa a ser feita. Quando Anna não estava, a empresa estava nas mãos de Johanna. E depois que Anna decidiu que gostaria de abrir uma floricultura no mesmo lugar, os compromissos aumentaram.
Johanna era mãe e sócia de Anna. E nenhuma das duas coisas eram fáceis de ser.
- Deve ser algo da sua cabeça. – Sônia confirmou e acariciou os ombros da amiga. – Não temos tempo para fazer grandes mudanças. O casamento está perto e um vestido como esse demora anos para ser feito!
- É só que... Você mudou tanto de uns tempos pra cá, filha. Eu não acho que essa nova Anna combina com esse vestido.
- Será que alguém pode ir chamar o Bradley? Quero ver o que ele acha.
Bradley não entendia muito de vestidos, e assim como nas provas anteriores, ele disse que Anna era a noiva mais bonita, e que qualquer coisa que ela vestisse ficaria bonita. Ele não estava mentindo, só que sua resposta ainda não era suficiente.
- Talvez você só esteja enjoada de vê-lo sempre, eu não sei. – ele falou, tentando acalmá-la. – Vamos voltar outro dia e ver se você muda de ideia.
- Temos que decidir hoje! O casamento está chegando. – Sônia repetia isso diversas vezes na tentativa de que alguém entendesse a sua preocupação. Mas no fundo ela sabia que a maior parte de sua aflição era sobre Bradley. A mulher sabia que Anna era a melhor chance que Bradley tinha na vida, e não aguentaria vê-la arruinada.
- Estamos atrasadas, Anna. Nós temos que estar no abrigo em vinte minutos, você sabe como são as coisas. – Johanna deu algumas batidinhas no seu relógio de pulso ao falar com a filha.
- Você disse que iríamos no aniversário do meu amigo hoje. – Bradley interviu. Anna imediatamente lembrou da festa o qual seu noivo vinha falando por semanas.
Anna não tinha muito tempo para sair com Bradley e dessa vez ela havia prometido que iria acompanha-lo.
- Eu prometi que ia, mamãe. – ela fez uma careta ao se desculpar. – Eu esqueci completamente.
Jô largou os ombros e suspirou de frustação. Ela pegou as coisas que estavam na mesa e colocou seu óculos de sol no topo da cabeça.
- Vamos fazer assim: hoje você tira o resto do dia de folga. Eu preciso voltar para preencher essa papelada.
- Obrigada, mamãe. – Anna ergueu os braços para abraçá-la mas acabou se espetando com um dos alfinetes que apertavam sua manga. Ela comprimiu os lábios para não gritar mas rapidamente fez um bico e reclamou para Bradley, que encostou seus lábios nos dela para sarar.
- Só não se esqueça de responder os e-mails sobre a construção da floricultura, e de assinar esses papéis. Eu já li, só falta manda-los para o advogado. – Johanna entregou uma pasta preta e pesada, onde tinha contratos e contratos que precisavam da assinatura de Anna. Bradley a colocou perto de sua mãe porque sabia que Anna esqueceria de pegar.
A mãe da noiva tirou um envelope pardo da bolsa com muito cuidado e o apertou com os dedos. Ela fitou a correspondência por um tempo, tendo um pouco de resistência ao olhar para filha.
- O correio entregou isso para você. Estava junto com outras cartas e contas, e eu acabei esquecendo de pegar. Eu gostaria que você abrisse comigo hoje no escritório mas...
- São as lembrancinhas das madrinhas?
Johanna negou com a cabeça.
- Mas são algumas lembranças.
Ela deu um beijo na testa de Anna e se despediu de Bradley com um abraço rápido. Sônia a acompanhou até a saída.
- Você já quer ir ou vai medir mais alguma coisa? – Bradley perguntou quando os dois ficaram sozinhos. Anna se perguntou para onde foram as costureiras e quando elas tinham deixado a sala.
- Vamos embora, temos que nos arrumar para sair.
- Eu amo você, Bananinha. – ele se inclinou e a beijou. – Vou pegar o carro enquanto você termina de se trocar, tudo bem?
Anna concordou e o observou caminhar para longe.
- Brad? – ela o chamou antes que ele saísse. Bradley se virou e arqueou uma sobrancelha.
Na mesma hora, Anna lembrou do que sua mãe disse antes de sair. Ela finalmente tinha uma ideia do que poderia estar no envelope.
- Não é nada, desculpa.
Ela o afastou novamente, e esperou que a porta se fechasse. Anna levantou o envelope pesado e amassado e leu o endereço do remetente.
Ela não conhecia ninguém que morava naquele endereço mas conhecia o dono daquela letra.
Anna tampou a boca com a mão ao tirar o que estava dentro do papel. A carta tinha várias folhas mas o peso também era por causa das dezenas de fotos impressas que estavam no fundo.
Ainda com o seu vestido de noiva, e quase sem nenhum ar no pulmão, ela começou a ler a carta que Harry a mandara.
***
ai jesus, desculpa a demora. pra quem não sabe, eu estou de castigo kkkkkk não posso mexer no computador, nem no celular. raramente, na verdade.
enfim, eu vou postar mais um capítulo hoje.
a carta do harry.
só vou esperar alguns minutos, mas até daqui a pouco (vou responder os comentários do anterior)