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Quando a raiva passou, o arrependimento entrou no lugar. Talvez eu tenha exagerado um pouquinho em mandar Dom mudar de país. Mas não é como se ele fosse acatar uma ordem minha.
O final de semana chegou e ao contrário do que eu tinha planejado no meio da semana, eu não sai de casa e sim, fiquei enfurnada no meu quarto lendo a saga Hush Hush. Recomendo.
Eventualmente eu trombei com meu pai pela casa, mas nenhum dos dois disse uma palavra sequer. Eu sabia que uma hora ou outra voltaríamos a nos falar. Estávamos nos evitando. Eu só trocava algumas palavras com minha irmã e nada mais.
Meus amigos diziam estar preocupados comigo. Eles eram dramáticos demais. Só porque eu não aceitei sair final de semana não seria motivo de preocupação.
Ryan me evitou a semana inteira na faculdade. Mandei mensagem para ele sábado e ele não me respondeu. Era domingo e eu não tive forças para sair da cama.
Eu estava em estado de negação e queria afastar todo mundo de mim e ao mesmo tempo precisava de atenção. Minha mente era problemática e eu sabia disso.
Eu não podia continuar minha vida desse jeito. Eu precisava reagir.
Levantei da cama e fui procurar meu pai pela casa. Fui até os quartos e ele não estava. Desci a escada quase tropeçando e fui até a sala. Nada. Procurei pela cozinha e nem sinal dele. Fui até o jardim e percebi uma movimentação na estufa.
— Pai?
Ele não me respondeu. Continue andando até a estufa. Quando entrei dentro ele estava regando uma planta.
— Já faz uma semana que está me evitando.
Continuou mudo.
— Eu já terminei com Dom e você sabe disso — falei, enquanto acompanhava ele pela estufa.
Ele pulava de planta em planta com o regador e fingia que eu não estava ao seu lado monitorando seus movimentos.
— Estive pensando em buscar ajuda profissional. O que você acha de uma psicóloga? — insisti.
— Acho ótimo — respondeu, me pegando de surpresa.
Então seria isso. Voltei para meu quarto e me joguei na cama. Peguei o livro que estava lendo em cima do criado mudo e me aconcheguei nos travesseiros para continuar a leitura de onde tinha parado.
{...}
A segunda chegou e eu pulei cedo da cama. Na noite passada fiquei pesquisando uma psicóloga pelo Google até encontrar uma que eu fosse com a cara. Agora era hora de ligar para marcar uma consulta.
— Então Alexia, tem um horário disponível às três da tarde. Pode ser? — disse, a assistente pelo celular.
Concordei e desliguei a chamada. O horário da consulta havia chegado e eu já estava esperando ser atendida. Talvez tenha sido uma péssima ideia.
A assistente chamou meu nome e me levou até a psicóloga que estava me esperando na porta da sua sala. Eu estava um pouco acanhada e ela pediu que eu sentasse no divã para conversarmos. Houve as apresentações de ambas e depois ela perguntou o motivo de eu ter procurado ajuda.
— Essa é uma boa pergunta — falei, pensando a respeito.
— Não tem problema não saber a resposta. Vamos descobrir isso juntas — Leny me disse.
— Ultimamente tenho feito escolhas das quais me arrependo — eu comecei, reunindo coragem para me abrir. — sabe, toda escolha tem sua consequência e não sei se serei capaz de enfrenta-las.
— Você pode pensar que agora não é capaz de enfrentar as consequências, mas eventualmente você vai encontrar o seu caminho para isso.
— E se eu não encontrar? — perguntei, olhando para o teto.
— Você deixa de seguir sua vida pela morte de alguém? Os dias passam e a dor diminui, mas a saudade continua. Você aprende a conviver com a saudade do mesmo jeito que vai aprender a conviver com suas escolhas. Pode parecer o fim, mas se você querer sempre tem um recomeço para tudo.
Suas palavras me fizeram refletir. Por hoje eu estava satisfeita com a consulta e Leny me liberou esperando que eu voltasse.
Talvez eu voltaria. Talvez não.
***
A noite chegou e com ela a faculdade. Meu ego estava ferido com Ryan me evitando e isso me acarretou um par de inseguranças. Cheguei a cogitar varias vezes faltar, mas se eu faltasse seria quatro faltas que eu não podia ter.
Durante o intervalo procurei por Ryan, mas não o encontrei. Também não fiz muita questão de procura-lo. Deu onze horas e a aula acabou. Atravessei o patio da faculdade e fui até o estacionamento.
Estava passando entre os carros mexendo no celular quando escutei risos e depois beijos. Eu sei que não deveria olhar, mas eu olhei só por curiosidade. Eu estava próxima do meu carro e quando procurei pelo casal eles estavam se pegando em um carro ao lado do meu.
Ah, que ótimo. Ryan tinha que pegar uma garota exatamente ali? Coincidência? Tenho certeza que não.
Apertei o botão do alarme e o farol do meu carro acendeu atraindo a atenção dos dois. Evitei olhar para eles, só que para abrir a porta do motorista eu teria que passar por eles.
Ryan sabia ser tão infantil que nem parece que tinha 20 anos. Meu celular começou a tocar. Atendi imediatamente.
— Oi, James.
— Oi, gatinha. Amanhã é meu aniversário e vai ter uma festa na minha casa depois da faculdade e não aceito não como resposta.
— Então não tenho escolha— falei e me aproximei do carro.
— Isso mesmo.
Dei a volta por trás do carro e parei na frente de Ryan e a garota que eu não fazia a minima questão de saber o nome.
— Com licença, preciso entrar — pedi no mesmo tom que uso com desconhecidos.
Ryan e a garota liberaram a passagem.
— Não entendi — James respondeu na minha orelha.
— O quê eu tenho que levar? — perguntei abrindo a porta do carro e entrando dentro.
— Além do presente? — ele disse rindo.— Traga bebida ou drogas. Tchau gatinha — disse, e desligou.
Eu com certeza não levaria drogas.
***
Me arrumei no banheiro da faculdade para a festa de James. Quando a aula acabou fui direto para sua casa. Quando cheguei, não tinha ninguém ainda.
— Uau. Você está bem gostosa — James disse, ao abrir a porta e eu dei de ombros.
Meus sentimentos estavam anestesiados.
— Obrigada — eu acabei respondendo.
A campainha tocou e James foi atender. Dei uma olhada na sala de James. Era a primeira vez que eu vinha aqui. Era sala copa. Cozinha e sala juntas. Na sala tinha dois sofás de couro branco com um mesinha de centro, tapete felpudo, um quadro e uma tv enorme em um painel com rack embaixo.
Liguei o Bluetooth do meu celular e conectei com a caixa de som. Esse lugar precisava de música e animação. Um grupinho de seis pessoas entraram na casa e começaram a conversar. Abri o spotify e entrei na minha playlist.
— Não coloque músicas depressivas, por favor — James gritou vindo em minha direção.
Ergui o dedo do meio para ele e selecionei a música Congratulations do Post Malone. Atravessei a sala e cheguei a cozinha. Tinha um baldinho com vinho e vodka em cima do balcão.
Peguei o copo que estava ao lado do baldinho e subi no balcão onde tinha espaço livre.
James parou na minha frente e apoiou suas mãos em cima dos meus coturnos.
— Vai ficar separada das pessoas? — perguntou, e bateram na porta. James viu que eu não ia responder e foi atender.
Dez minutos depois, a sala já estava infestada de corpos dançando. E lá estava eu, ainda em cima do balcão bebendo todo o conteúdo do copo e depois enchendo de novo. Quem me olhava podia ver como eu estava miserável.
James estava tentando dar atenção para todos seus convidados. Desci do balcão e subi a escada para o segundo andar. Abri algumas portas até encontrar o quarto que eu deduzi ser o do James.
Me joguei na cama e as paredes começou a girar. Fechei os olhos com força. A música estava abafada aqui em cima, então fui perfeitamente capaz de escutar quando alguém abriu a porta. Sentei imediatamente na cama.
Continua >
***
Para quem ficou curiosa, essa é a roupa da Alexia para a festa do James :)
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