Ainda em estado de choque Carlinha me empurra para o palco. - Alisson, vamos. Você vai cantar a primeira música completa e sozinha.
- Carla, eu... - tento argumentar nervosa quando sou interrompida.
- Você precisa treinar. Amanhã vai ter muita mais gente que aqui. - ouso olhar para uma platéia com muitas pessoas eufóricas.
- Mas eu estarei preparada. Estou me preparando durante toda a semana. - argumentei com uma necessidade enorme para que ela entenda que amanhã irei ser louvável, mas hoje... Hoje seria uma vergonha.
- Alisson, não estamos falando do Rock in Rio ou do Lollapalooza! Estamos falando de um pequeno festival que serve para se divertir. É para relaxar e não ficar tensa. Você é artistas e artistas sabem o que fazer. - ela passa a alça do baixo por sua cabeça me surpreendendo. Não sabia que Carla sabia tocar qualquer instrumento.
- Não sou artista.
- Você é. - ela me puxou e me posicionou em frente ao microfone. - É para cantar. - ordenou enquanto eu ficava cada vez mais nervosa e, bem, eufórica.
Devo confessar que de início estava nervosa, mas com o passar da música me senti muito confortável para cantar e bem animada. - Pessoal, há um festival que minha banda não poderá participar. - Nico, o guitarrista da banda começou a falar. - Mas agora vai, vamos tocar para a nossa pequena Ali arrasar! - o povo gritou fervoroso, e eu fiquei cada vez mais confusa. - Só para vocês, A sinfonia de tudo o que há.
Eu arregalei meus olhos surpresa. - Carlinha...
- Você não pode cantar com playback. Os rapazes estão aí! Eles estavam precisando de alguém para hoje e eu fiz um acordo, você ajuda eles hoje e amanhã eles te ajudaram. - ela levantou seu copo de cerveja como em um brinde, virou a bebida e colocou seu copo no chão ao seu lado
Sorrio em agradecimento. Carla é louca, mas é uma boa amiga. Quando terminamos a apresentação descemos do palco, tento ir para o bar, mas as pessoas me param para falar comigo. - Você canta muito bem - era o que elas diziam e eu agradecia envaidecida.
Chego no bar e peço tequila. Após beber duas doses, Vinícius, o baterista - eu já o conhecia das festas com Carlinha -, veio me fazer companhia.
- Não sabia que cantava. - foi a primeira coisa que ele disse enquanto se sentava ao meu lado.
- Pois é. Eu não sabia que tinha uma banda. - dei de ombros.
Ele sorriu. - Nos conhecemos pouco, não é! Para mim você é a Alisson bêbada ou Alisson amiga da louca. - eu ri do comentário dele. - Todos adoram a Carla, mas ela é meio doidinha.
- Sim.
Ele ficou olhando para mim sorrindo e eu retribui o sorriso. Depois de alguns, longos, segundos ele se virou para o bar
- Caio, cadê minha cerveja?
- Já está saindo. - Foi o que Caio respondeu enquanto atendia outra pessoa.
- Manda alguém levar lá para nós! - pediu olhando para mim como se tivesse... flertando?
- Claro.
- Estamos bebendo na nossa mesa, mas conhecida como a mesa dos caras, vamos. - ele fez uma menção com a cabeça para o lugar que estava indo e eu o segui.
Bebemos a noite inteira. Já muito alta e animada resolvi cantar - Beber e amigos ohou - virei uma dose de tequila rindo. - Amanhã eu vou estar acabada para cantar.
- Eu concordo! - Carlinha se pronuncia bebendo e logo depois ri - Não vai poder se embebedar. Tem que está sóbria para tal momento.
- Eu concordo. - Nico concorda bebendo. - A Alisson - ele brinda.
Carlinha me convida para dançar e eu vou. Dançamos alegres e completamente bêbadas.
- Eu quero ser pirata! - gritei enquanto rodopiava com minha amiga.
- Beber e amigos ohou - cantamos juntas enquanto rodopiavamos alegre.
Quando o bar fechou os meninos nos chamaram para ir a uma cachoeira. Eu estava determinada a recusar o convite, mas Carla me convenceu de que não seria nada demais sair para me divertir com amigos recentes. Então eu aceitei. Os meninos guardaram os instrumentos na Kombi deles e depois entraram no carro de Kleber. Nos dividimos em dois carros, pois os garotos estavam com as namoradas/peguetes, sei lá.
Ao chegarmos descemos do carro animados, Kleber segurava uma garrafa de vodca que estava pela metade. Fomos correndo até a cachoeira, arrancamos a roupa, mas eu fiquei apenas semi nua, e pulamos na cachoeira, logo quando entramos tive que salvar Vinícius que quase se afogou por estar muito bêbado. Ele ria enquanto se apoiava em mim. - Eu já estou bem. Me solte antes que minha amada namorada mate nós dois. - ele falou apontando com a cabeça e eu segui seu movimento olhando para uma loira nada feliz nos observando.
Eu o soltei e ele afundou de novo, quando eu ia mergulhar para salva-lo a figura apareceu rindo. - Minha namorada diz que sou um safado flertador.
Veja só, ele nada!
Olho para a menina que ainda está brava nos olhando. Por um motivo bem específico ela não entrou na água, afirmou que a mesma estava suja e que não queria arruinar sua roupa.
- É a verdade. Você está a horas dando em cima de mim. - concordei rindo.
- Você também.
- Eu não! Você está muito bêbado. - argumento jogando água nele. A loira, namorada dele, começa a chamá-lo para sair e irem embora, porém ele se recusa a sair
- Eu vou embora. Os mosquitos estão me picando.
- Entra, linda. A água está maravilhosa.
- Não! - foi tudo o que ela disse antes de sair pisando duro com o menino estranho, Jorge.
Logo vejo que ela não é para Vinícius, pois ele precisa de alguém como Carlinha e não uma miss certinha, por outro lado, meu irmão deu muito certo com a miss certinha Camila e por algum motivo Carla se dá muito bem com Camila.
Acho que todos gostam de gente certa e não perdidas.
Quando eu entrei no carro de Carla pensei que serviria de vela no meio de tanto casal, mas nada disso aconteceu. Por um lado porque a garota de Kleber não quis ir, a namorada de Vinícius foi embora e Pri, companheira do Nico era para lá de divertida.
Apostei com Pri e com Carlinha quem dos meninos teria coragem de pular da pedra mais alta e Vini foi o único corajoso ou maluco. Pulamos, brincamos, contamos histórias e nos "afogamos". Me diverti tanto que o sono nem chegou e nem vi a hora passar, portanto me assustei quando percebi que já era dia.
- Gente, acho que vou sair. Já até amanheceu - falei saindo da água me arrependendo bastante. Como está fazendo frio fora da água, isso é possível? - Como está frio aqui. - reclamo tremendo.
- Vou sair também! - Nico fala já saindo. - Venha, Pri. - ele oferece a a mão para ela - Ou quer ficar?
- Ah não, quero sair. - ela respondeu pegando a mão dele.
Me viro e vou procurar minhas roupas que não estão em lugar nenhum. Céus, cadê minha roupa? Cadê minha roupa?
Meu coração acelera, sinto um pouco de dificuldade em respirar e um desespero toma conta de mim. - Ah meu Deus, cadê minha roupa?
Olho para o canto em que deixei minha roupa e vejo que só há minha bolsa com meu velho celular. - Quem rouba roupa e deixa o celular? Quem foi o filho da puta?
Eu não entendo! Como pode ser? Isso é uma puta de uma sacanagem.
- Calma, Ali. Vou te ajudar. - Carlinha fala saindo da água mostrando que tem um corpo maravilhoso e não se envergonha de mostra-lo por aí.
Então de repente a roupa de todos sumiu. Para minha sorte eu estava de calcinha e sutiã, Carlinha estava nua como Vinícius e Nico, que convenhamos tem uma ótima bagagem. Priscila estava sem a parte de cima, Kleber estava com roupa. Dos garotos da banda Kleber é o mais normal.
- Deve ter sido o Jorge, ele não está aqui. - Vinicius argumenta. - A gente deixa aquela filho da puta entrar na banda e ele faz isso.
- Acho que é minha culpa, ele não queria que eu cantasse com vocês. - Carlinha fala. Me parece que Jorge não pode apresentar hoje, quando ele chegou já era tarde e o show havia acabado, então a culpa não é da Carla se ele não tem responsabilidade nenhuma.
- Nada disso, Carla. Ele é um filho da puta. - Vinicius fala e eu só tenho que concordar. Minha amiga não é culpada.
- E ele saiu com a Emília, sua namorada. - Priscila fala. - Eu vi quando saíram.
- Filho da Puta. - fala ainda mais braço - Nico, quando eu pegar seu irmão eu arrebento a cara dele. - Vinícius informa bravo. - Ele levou a chave do meu carro. O meu carro! Que filho de uma mãe....
- Cara, respeita minha mãe. - Nico argumenta um pouco cansado, preguiçoso. - Meu irmão é um bosta, mas minha mãe não tem culpa!
Furiosa começo a andar rumo a saída dessa maldita cachoeira. - Para onde vai?
- Embora Carlinha.
Continuo andando, mas não rapidamente quando eu havia imaginado, pois Carlinha logo me alcança junto com os meninos que estão atrás dela. - Vamos tomar café. Estou com fome - Nico fala. - Vamos na padaria do Alex, pois la a gente compra fiado.
Esse pessoal é louco? Estão pelados, foram roubados e só se preocupam com comida? Eu hein?
- Boa. - chegamos no carro de Carlinha e entramos. Vinicius foi conosco, Nico, Pri e Kleber foram no carro do Kleber.
Carlinha e eu descemos para comprar alguns pãezinhos, fomos alvos de olhadas curiosas. Com uma dor de cabeça do cão, pego uma aspira e tomo sem nem mesmo misturar com a água. Saio da padaria e entrego os pedidos de Kleber e seu bando para ele e volto para o carro de Carlinha.
Quando desci do carro de Carla percebi que estava sendo escoltada por Kleber e que meu namorado, em péssimo estado, estava no meu portão.
André olhou para cima e ficou um tanto curioso. - Ali, foi um prazer conhecer você! - Vinícius grita, mas logo seu sorriso convidativo some e se torna um outro sorriso, um mais alegre - André! André... Oi, cara. Vem cá.
- Venha aqui você! - André respondeu ainda sentado, deitado na minha calçada. Ele estava com a roupa amarrotada, estava parecendo aqueles bêbados sem teto.
- Venha aqui, cara!
André xingou algo e andou até o carro de Carlinha cumprimentar o amigo. - Cara, você estava com minha namorada e pelado? - ele pergunta se mostrando irritado. - Eu acabo com você. - ele olhou para Carlinha. - Carla, você é um puta mal caminho.
- Olha para você, André! Está um horror - Carla falou com um certo desprezo pelo meu namorado. Acho que é demais sonhar com o dia em que seremos todos amigos - Levei Ali para se divertir, óbvio.
- E ela volta sem roupa? - ele pergunta como se fosse o maior absurdo do mundo e, de fato, é.
- Ela não é uma pobre coitada que não sabe o que faz! - Kleber responde. - Eu não sei porque Carla é amiga desse inconveniente. - Gente, Kleber parecia ser tão calmo. - Vou ser um cuzão também para vê se consigo uma namorada tão gente boa e gostosa. - OK, isso foi jogo sujo.
André estava tão nervoso que já estava indo arrumar confusão com Kleber. - Para André! Eu bebi, nadei na cachoeira e nossas roupas foram roubadas. Meu Deus, que número de quinta.
Ele olhou para mim mais irritado que antes. - Você é uma puta.
Aquilo me magoou, mas eu fingi que não. - Eu sou uma puta. - gritei no meio da rua - Vizinhos, acordem. Eu sou uma puta! - bem, meus vizinhos não acordaram, só os velhos fofoqueiros - Dá licença, a puta aqui vai descansar. - me viro para trás. - Meninos, descansem. Mais tarde nos vemos.
- Tchau Ali. - eles disseram antes de sair sem nem me dá a chance de agradecer pela noite maravilhosa.
Fui para casa e André veio atrás, mas antes de deixa-lo entrar perguntei. - Vai me xingar?
Ele olhou para baixo - Não sei. Estou muito nervoso.
- Então entre, tome um banho frio. Se você for fazer cena de ciúmes pode ir embora, se for para gritar pode ir embora, pois eu tive uma noite muito boa com esses caras e não quero que ela tenha um triste fim.
Ele entra um tanto impaciente e para na porta do banheiro
- Como você quer que eu não fique com ciúmes? Ali, é cada coisa... - ele passa a mão no cabelo e começa a tirar a roupa dele.
- André, eu sou assim. Nós somos assim! Você foi e fez suas loucuras que eu sei que você faz, eu sei que meu irmão faz e para mim tudo bem.
- Eu não sou assim! Eu saí, eu bebi até tarde, joguei sinuca, bebi e vim para sua casa dirigindo um pouco bêbado e com uma garrafa de cerveja na mão! Fiz... Fiz mesmo... E você? Você tá sem roupa. - ele fez um gesto para meu corpo.
- Estou de calcinha e sutiã, não estou sem roupa.
- Seus argumentos são esses? Inacreditável! Você sabe que está errada... Você sabe.
- Tínhamos um acordo.
- Não tínhamos.
- Você entrou e se entrou é porque aceitou meus termos. Agora, me diz qual o seu medo?
- De você me trair tá bom? E eu não estou falando dessas traições que você trepa com qualquer um... Eu tenho medo de você me trair com um cara que nem o Vinicius, irresponsável demais, legal demais, louco demais, porque você gosta de pessoas assim. - ele passa a mão no cabelo o bagunçando mais ainda
- Você está sendo injusto comigo... injusto! Tem mais quem quer trair trai em qualquer lugar. Gosto da diversão que tenho com Carlinha, mas eu jamais vou te trair. Eu mantenho minha palavra!
- Só a palavra? - ele perguntou bravo e visivelmente magoado - Não vai me trair por palavra? - ele parecia derrotado.
- Você fica sofrendo atoa. Confie em mim, hum? Eu te amo, André. Eu esperei por você... Como esperei... e não vou te deixar, não agora. - sorrio -Talvez daqui uns trinta anos eu vou te deixar. Agora para o banho.
- Vem comigo. - ainda sério me convida indo para o banheiro
Tiro minha calcinha, meu sutiã e vou correndo para o banheiro. Eu dou um belo banho nele e ele em mim.
André uni nossas testas e passa uma eternidade me olhando. Eu posso ver em seus olhos o quanto ele está triste, frustrado e irritado.
- Tenho medo de não ser o suficiente para você.
Eu ri. - Hey, esse medo devia ser o meu medo! Você que é bom demais para mim.
- Não... Você que é boa demais. - ele fala com um sorriso melancólico. - Acho que Kleber tem razão.
- Já que é assim, nos merecemos.
Nós sorrimos por um tempo. Nos olhamos por muito tempo, então ele ficou sério, de repente.
- Vou terminar e irei embora. Estou chateado e não vou conseguir passar por cima disso, não agora.
- OK. - ao ouvir minha resposta ele para no chuveiro deixando a água lava- lo.
- Quero um tempo! Sua vida é muito louca até para mim e eu não sei...
Olhei para baixo sabendo que esse dia chegou. O dia que André se cansou de mim. - Você volta?
- Hoje não!
Segurei minhas lágrimas - OK
Ele pegou a toalha e saiu do banheiro. Saiu da minha casa e quem sabe da minha vida.
Talvez ele não seja para mim mesmo
Essa é a minha sina, ficar sozinha