POV Henry
O sol atravessava os vidros do escritório iluminando e esquentando completamente o compartimento, sempre me lembrando que horas são e, dessa forma, aperfeiçoando ainda mais a vista do prédio.
A cada minuto que se passava meus olhos encontravam o relógio dourado em meu pulso, na expectativa do meu momento de paz acabar. Alexandra provavelmente já estava no edifício para mais uma de nossas reuniões.
Talvez eu tivesse pensando sem parar sobre como estive sendo grosso com ela, mesmo quando a própria havia feito uma oferta de paz. Nunca consegui controlar o meu desconforto quando me sinto invadido e esperava que Alexandra não tivesse levado tudo aquilo tão a sério.
A batida na porta entregava a quem eu esperava, sem muito deleite me afastei um pouco do computador a minha frente dando a palavra de permissão para que a pessoa finalmente entrasse.
Alexandra entrou sem muita cortesia e sem o sorriso nervoso de sempre, mantive meus olhos nela até que se sentasse em minha frente na tentativa de me certificar que tudo estava bem. Assim que o fez, me encarou sem o mesmo olhar atencioso e curioso, encostei-me à cadeira sentindo o impacto.
― Por onde quer começar? – proferi primeiro.
― Não tive dúvidas difíceis o bastante para precisar da sua ajuda ainda – estava concentrada em uma pequena agenda em suas mãos.
― Okay, entendeu todo o processo de abertura de capital da empresa?
― Sim, o Google é mais paciente do que muitas pessoas então foi fácil pesquisar e eu não sou tão leiga sobre o assunto.
― Então meus parabéns Alexandra.
― Posso continuar a pesquisa na minha mesa? – rapidamente se manteve em pé quase que correndo em direção à porta.
― Pensei que faríamos isso juntos e profissionalmente como me pediu ontem.
― Acontece que você, aparentemente, é instável Senhor Cavill e não consegue lidar bem com quem demonstra um por cento de interesse em sua vida quando você pode parar tudo isso apenas dizendo que não quer falar sobre – disse subindo o tom da sua voz.
― Mas eu nunca te fiz perguntas pessoais e estamos em um local de trabalho Alexandra, então achei que seria óbvio que não poderia fazer isso.
― Está brincando comigo não é? – Soltou um suspiro por entre seus lábios – Estou tentando colher o máximo de informações possíveis sobre a empresa e se não percebeu você é a pessoa que possui o maior cargo e que está aqui todos os dias, e pior, você ficou encarregado de me ajudar nisso, mas como faremos isso se eu sequer sei como chegou aqui? Então se for para agir como um animal, prefiro aprender tudo sozinha.
― Alexandra não precisa ser assim – segurei levemente seu pulso impedindo que ela se retirasse naquele momento – desculpa se passei dos limites, eu prometo que irei mudar e não falaremos mais sobre isso, você precisa entender que tive meus motivos e meus problemas tomaram conta do meu comportamento.
― Você não é o único a ter problemas aqui, Diretor – puxou seu braço de volta – mas não vejo nenhum dos meus colegas agindo dessa forma, então você também não tem esse direito.
― Tem razão, peço sinceras desculpas, mas também peço para que não me julgue pelo que lhe disse, às vezes não é tão fácil como parece cuidar disso tudo, aguentar pressão do conselho e ainda conciliar uma vida fora daqui.
― Julga que a minha vida seja mais fácil, Diretor? Acha que também é fácil manter notas boas na faculdade, conseguir lidar bem com toda a responsabilidade desse evento e ainda conciliar uma vida fora daqui?
― Você teve a opção de não aceitar essa responsabilidade.
― E você teve a opção de não aceitar esse emprego, mas como você, eu também tenho as minhas ambições e preciso pagar minhas contas.
― Está bem Alexandra, se é o que deseja. – Fiz uma breve pausa dramática – Não terminei a faculdade porque minha família não estava bem financeiramente, sendo assim, meus pais não podiam arcar com todas as despesas do curso. Se não acredita em mim, sinta-se a vontade para interrogar Kristin ou o próprio Armie.
Seus olhos me analisavam como os de quem sente remorso ou compaixão, era quase impossível saber, Alexandra era inteligente demais para acreditar em qualquer palavra que eu dissesse enquanto clamo pelo meu perdão ou qualquer chance de trégua.
― E quando conseguiu entrar aqui? – perguntou quase sussurrando.
― Armie e eu nunca deixamos de sermos amigos desde o ensino médio. A ideia do nome "World TEC" foi minha. – Ela continuava a me olhar de forma piedosa – E não se preocupe com a responsabilidade do evento, ele não é somente seu e eu prometo ajudar da melhor forma.
― Obrigado – foi tudo que me disse enquanto saía lentamente quase que desejando sorrir.
Não houve mais perguntas e nem respostas irônicas com o objetivo de nos ferir, senti como se tivesse acabado de domar uma fera e com isso percebi que tive que guardar a minha própria fera interior para que não piorasse as coisas com alguém que, por menor que fosse o meu conhecimento sobre ela, eu não me arrependeria de contar tudo o que acabei de contar, ela não parecia ser alguém que se aproveitaria dessa brecha.