O ruivinho Kim estava perdendo sua santíssima paciência com aquela cria de Atena que achava que mandava em tudo — mesmo tecnicamente mandando em tudo —. Seu motivo de aborrecimento era outro, mas qualquer coisa que Park Jimin fizesse, Taehyung arranjava um jeito de criticar. Até parecia o próprio filho de Éris, causando discórdia de segundo em segundo. Todos ao redor notavam como o garoto de cabelos vermelhos bufava apenas em ouvir a voz do loirinho soar, ora falando algo sobre fazer o trabalho em equipe ou apenas tendo uma conversa descontraída.
Atualmente, estavam "em campo de batalha". Era mais uma escola abandonada encontrada pela direção do Acampamento Meio-Sangue para ser usada em uma das lições de combate. Isso porque todos queriam treinar aqueles semideuses para uma guerra iminente ou alguma outra profecia dada pelo Oráculo.
E o sábio Park Jimin organizava sua equipe, dando ordens a todos sobre se dividirem, qual caminho seguir e como lutar.
Não é como se o loirinho estivesse errado. Com suas ordens, conseguiram passar pelo teste — eliminar gárgulas que podiam sair de seus lugares de repouso para proteger o lugar — sem nenhum arranhão.
A equipe liderada pelo filho de Atena entrava pomposamente no acampamento. Alguns elogios eram dados a Jimin, que sorria de maneira orgulhosa. Enquanto o líder loiro recebia os parabéns pelo êxito da missão, Taehyung afastava-se resmungando daquela roda de bajuladores.
Se Park Jimin era mesmo tão inteligente quanto diziam, por que então não notava o óbvio?
O ruivo enraivado fora parado por Hoseok, que pertencia à mesma equipe que ele. O garoto de cabelos alaranjados tinha um sorriso cansado no rosto, a pele brilhando pelo suor causado ao esforço de luta corporal executada anteriormente.
— Hey Taetae, o que houve?
— Não enche, Hoseok. — Taehyung empurrou seu ombro, tirando a mão do outro de si — Não me obrigue a voltar à roda de víboras.
— Víboras? Aish Taehyung, você nem sabe do que está falando. — O Jung rolou os olhos — Sério, para de dar showzinho. As pessoas percebem as coisas.
Taehyung sequer percebera que alguns olhares eram focados para si, estranhando o fato de não estar comemorando junto à sua equipe.
— Diga que fui ao banheiro. — Tae forçou-se a sorrir — Eu já volto.
— Seja esperto se quiser manter as aparências, Taetae. — Hoseok bagunçou os cabelos do outro — Volte logo.
Taehyung suspirou frustrado e assentiu, indo até o banheiro localizado atrás dos chalés. Entrou no recinto e verificou se não havia outro garoto ali para então poder gritar e extravasar toda raiva e frustração por não conseguir suportar respirar o mesmo ar que Jimin. Sentia-se estúpido em estar num banheiro chutando paredes ao invés de estar ao lado daquele que se dizia ser seu melhor amigo, comemorando com ele. Jimin sequer tinha "culpa". Uma parcela talvez, mas não sabia o motivo da raiva do ruivo.
O garoto passou as mãos sobre os cabelos e respirou fundo. Contou até dez numa sequência de cinco vezes — exercício aprendido com o esquentatinho do Yoongi — e saiu do banheiro, seguindo para a roda onde Jimin e seus companheiros eram vangloriados pela vitória do dia. Tae se espremeu entre outros garotos e garotas até enfim estar dentro da roda, próximo à Hwasa. Sorriu para a morena e a viu sorrir de volta, mas logo sentiu uma mão puxar-lhe e suspirou baixinho, sentindo seu ombro ser chocado com o de um loirinho metido a esperto, que apertava seus ombros, completamente feliz com a presença do ruivo.
Naqueles momentos, Taehyung até esquecia o motivo de estar com raiva de Jimin. Sentia que era apenas o seu loirinho e ele contemplando o mundo.
— Vamos pra mesa central! — Uma garota de cabelos longos e ruivos disse animada — Vocês precisam contar como foi a missão!
E como um contágio, todos os outros adolescentes e jovens pediam o mesmo, então a equipe de Park apenas seguiu à mesa central, todos sentando lado a lado e tendo os outros à sua frente, acomodando-se no chão mesmo.
— Então, por onde eu começo? — Jimin colocou um dedo no queixo, ouvindo diversas sugestões — Ok, ok, vamos começar na hora que a gente chegou na escola.
A narrativa de Jimin era tenebrosa para muitos. Tae tinha que admitir que o baixinho aumentava e muito as histórias, colocando mais terror e suspense onde não havia. Mas não interrompia o líder, até porque, era engraçado ver medo e admiração nos olhos dos calouros dali, quase tão jovens quanto ele na época que entrara.
— Eram nove gárgulas no total. — Jimin se levantou de repente, assustando alguns — Nove para sete pessoas! Algo totalmente injusto e até mesmo fatal! Mas, como na minha equipe temos duas garotas extremamente habilidosas com magia e afins, fora mais fácil se livrar dos monstrengos.
Hoseok empurrou levemente seu ombro, cutucando Wheein e, consequentemente Moonbyul, e ambas as garotas sorriram. Uma filha de Hécate e outra de Circe, unidas, faria qualquer equipe alavancar em suas missões.
— Então as meninas lidaram com duas gárgulas enquanto o grupo se dispersava e lutava também. — Jimin simulava golpes de luta no ar, andando pra lá e pra cá — Queimamos alguns pontos estratégicos para que as gárgulas não escapassem. Um agradecimento à Héstia e sua adorável filha estar em nossa equipe.
Hwasa sorriu enquanto suas bochechas coravam. Seu sorriso era tão reconfortante quando o calor da fogueira que os mantinha aquecidos em noites frias.
— Sabia que essa sua atitude poderia ferir uma das dongsaengs, Jimin-ssi? — A voz de Solar soou entre os jovens que estavam de pé.
A garota morena de cabelos longos tinha os braços cruzados em frente ao corpo, olhando firmemente para o loiro que, infelizmente, era seu irmão.
Odiava que Atena tivesse tantos filhos e que herdassem, na maior parte das vezes, um gene exibicionista. Ambos os irmãos eram da mesma forma, e por tal motivo não poderiam ficar na mesma equipe — mesmo que as garotas da equipe do Park fossem amigas de Solar —.
— Estavam comigo, não iriam se machucar, Yongsun. — Jimin estreitou os olhos; odiava quando Solar bancava a irmã mais velha — Eu sei cuidar muito bem da minha equipe.
— Tudo bem, unnie. — Moonbyul disse, olhando docilmente para a mais velha — Tá tudo bem, não se preocupe.
Yongsun 'amoleceu' um pouco. Moon era o seu ponto fraco, assim como as outras garotas, então logo calou-se, esperando pelo fim da narração do irmão exibido.
— Sem mais interrupções? — Jimin perguntou, suspirando em seguida — Obrigado. Enquanto Hoseok e Yoongi agiam juntos de maneira única, Taetae e eu dávamos cobertura às meninas enquanto lutávamos com as gárgulas restantes. Eu adoro como os poderes do filho de Hipnos deixam os nossos inimigos mais lentos. Pelos deuses, eu adoro!
Taehyung sorriu de canto, vendo Jimin virar para ele e lhe lançar uma piscadela. Uma pequena parte sua se questionava o porquê de Jimin sempre fazer aquilo com ele e nunca ir mais além.
— E depois de muito suor, esforço e luta, nós vencemos, deixando as gárgulas em pó. — Jimin sorriu vitorioso, recebendo em sua maioria aplausos e assobios.
Novamente, o ruivo se sentia impotente, frágil e sem forças. Uma raiva cresceu em seu peito num tempo recorde e logo ele se levantava, saindo pelo meio da multidão que ovacionava Park e sua equipe. E a atitude do Kim não saiu despercebida pelo loiro espertalhão, que logo anotou mentalmente que falaria com seu melhor amigo sobre suas atitudes.
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No dia seguinte, após as diversas atividades do dia, Jimin finalmente estava livre para procurar Taehyung e perguntar o que estava errado.
Encontrou seu ruivinho preferido próximo das mesas enormes que ficavam fora do chalé principal, conversando com Hoseok. Caminhou até os dois com um sorriso no rosto e os saudou.
— Tae, será que eu posso conversar com você?
— Olha, eu vou indo aí, o Yoongie tá me chamando... — Hoseok disse baixinho, afastando-se dos amigos.
— O que quer? — Taehyung cruzou os braços. Sua feição fechada assustava um pouco Jimin, que queria saber o que havia feito de errado para deixar o outro daquela forma.
— Eu... — Jimin passou uma mão sobre suas madeixas loiras — Eu quero saber o que há de errado. Eu fiz alguma pra você? Ou eu esqueci de algo? Eu só sei que você está estranho.
Taehyung riu e negou com a cabeça, segurando-se firme para não despejar toda sua raiva sobre o baixinho. Ele não podia simplesmente sair gritando com o idolatrado Jimin, certo? Se fizesse isso, um exército viria proteger o menino de ouro do Acampamento Meio-Sangue, e isso, o Kim queria evitar.
— Você só percebeu isso agora, caro Jiminnie? — O ruivo sorriu de canto — Eu venho estado "estranho" há meses.
— Meses? Mas, Taetae... O que aconteceu? — Jimin cometera o erro de tocar no ombro do amigo, que logo se esquivou.
Aos poucos, olhares curiosos se dirigiam à cena dos melhores amigos tendo uma conversa um tanto tensa.
— O que aconteceu, Jimin, é que as pessoas erraram e muito ao seu respeito. O menino mais esperto do acampamento? Jura?
Jimin estava perdido naquele jogo de palavras. Seu melhor amigo estava embaralhando sua mente e estava sendo difícil escapar daquele labirinto de enigmas e palavras não ditas.
— Você é um tolo, hyung. Mesmo sendo o mais inteligente desse acampamento.
— Tolo? Eu? — Jimin negava com a cabeça, tendo um sorriso descrente no rosto — E por que eu sou um tolo, Taehyung?
Jimin começava a se irritar com o ruivo. Por que ele era tolo? Nunca falhava nas missões, suas notas sempre eram as melhores em testes, era ótimo em jogos de escape, então... Em que ele falhava?
— Você é um tolo por... — Taehyung bufou, passando as mãos nervosamente sobre os cabelos vermelhos — Por que você é burro, Jimin!
Mais jovens serviam de plateia para a discussão, curiosos em saber o motivo do Kim de dizer tal absurdo contra o tesouro do acampamento.
— E eu sou burro por que, Taehyung? Me dá um motivo! — O tom do Park se elevara, irritando-se.
— Porque eu gosto de você e você nunca percebeu isso! — Tae gritou com todo o ar de seus pulmões na frente de Jimin.
De repente, o acampamento inteiro parou. O barulho das folhas balançando nas árvores era audível.
O clima estava pesado, mas isso não impediu que Taehyung desse uma risada sarcástica, encarando o pequeno Park assustado à sua frente.
— Agora você finalmente não tem nada a dizer, Park Jimin? — O ruivo assentiu — É um tolo mesmo.
E assim, Taehyung marchou para o seu chalé, deixando um Jimin totalmente perdido para trás.
O loirinho estava constrangido, se sentindo exposto. As pessoas ao redor o olhavam e ele não conseguia distinguir seus olhares. O que havia neles? Que ele deveria correr atrás do Kim? Rir da declaração? Jimin não sabia o que fazer, mas por sorte, tinha amigos.
— Chega, o show acabou. — Hoseok disse em alto e bom som, mandando os garotos irem embora — Andem, saiam, deem espaço! Vão contar as boas novas aos deuses! Xô!
Enquanto o Jung obtinha êxito em dispersar os jovens curiosos, Yoongi se aproximava do loirinho, com um sorriso brincando nos lábios.
— Caraca Jiminnie, você é muito otário por não ter percebido antes. — O moreno riu, rodeando o amigo — Eu particularmente tava adorando o circo pegando fogo na frente de todo o acampamento.
O Min deixou uma risada soar, sentindo Hoseok se aproximar de si e lhe dar uma tapa no braço.
— Filhos de Ares, loucos por sangue e desgraça. Eu hein. — O ruivo rolou os olhos, recebendo uma careta do moreno.
— Por acaso algum filho de Íris enfeitiçou seus olhos para não enxergar o óbvio? — Yoongi finalmente parou na frente do amigo, negando com a cabeça — Só faltava o Hoseokie aparecer com arco e flecha e distribuir amor por aí.
O moreno riu e começou a andar, sendo seguindo por um Jung bravo, explicando que não era um cupido, e sim, filho de Afrodite, e que o Min não entendia nada de seus encantos.
Jimin continuava em estado de choque, até finalmente despertar e seguir para o seu chalé, ainda perdido pelo que acabara de lhe acontecer.
Mas o loirinho não esperou a noite cair para sair à procura de Taehyung. Ele precisava conversar com o ruivinho.
O encontrou sentado sobre um dos galhos fortes de uma árvore, quase no limite do acampamento. Subiu na mesma e ajeitou-se ao lado do ruivo, que apenas lhe lançou um olhar antes de voltar a admirar o céu mudando de cor a cada minuto.
— Você estava certo, Tae. Eu sou um tolo. — Jimin começou, encarando as mãos — Como eu não percebi o quão prestativo você é comigo? Desistiu até mesmo de ir pra Londres com a equipe daquele filho de Hermes pra ficar aqui... Comigo.
— O nome dele é Namjoon, Jiminnie. — Tae riu, encarando o amigo — E sim, Londres era o meu sonho, mas... Deixar você pra trás seria estragar todos os meus sonhos.
Jimin sorriu pequeno, pedindo com um gesto que o amigo não falasse nada por enquanto. Queria reparar seu erro.
— Não só o sacrifício de Londres, mas todas as vezes que precisei, você estava comigo. Quando te convidei pra fazer parte da minha equipe, mesmo se dando melhor com a equipe do Kim, você aceitou. Você sempre foi um ótimo amigo e companheiro. Eu fui burro demais por não ter notado isso antes.
O loirinho viu que conseguira o perdão do ruivo apenas pelo brilho nos olhos do maior. Sentia seu coração aquecer ao ver que o amigo havia lhe perdoado. Toda vez que brigavam, Jimin sentia-se incompleto sem o sorriso do ruivinho, então lutava para se reconciliarem logo para enfim ser a dupla imbatível do acampamento.
— Essa foi a coisa mais esperta que você já falou, Jiminnie. — Taehyung disse, rindo em seguida.
Jimin acabou sorrindo junto e suspirando, mordendo seu lábio inferior antes de encarar o amigo de forma séria. Taehyung logo notou a seriedade do loiro, estranhando tal atitude.
— Tae, eu... Eu gosto de você. — O Park encarava firmemente os olhos do outro — Eu gosto de você há tanto tempo... E-eu só não tinha nomeado esses sentimentos antes... Antes de você falar o que sentia por mim.
Os olhos do ruivinho se arregalaram, totalmente surpreso com a declaração de seu melhor amigo. Então, ele era correspondido. Antes que o Kim o questionasse sobre aquilo, os lábios de Jimin foram ao encontro do maior, selando-os da maneira mais casta possível.
Assim que Jimin afastou-se de Tae, o ruivo sorriu de forma genuína, sentindo-se estranhamente feliz. Jimin não estava muito diferente do maior.
— Essa foi, definitivamente, a coisa mais esperta que já fiz. — O loirinho começou, deixando um enorme sorriso se alastrar por seu rosto.
Ambos riem juntos e Tae nega com a cabeça, dizendo:
— Já vai começar com isso, sabichão?
— Ah, mas não foi por isso que você se apaixonou por mim? — Jimin inclinou-se mais para o ruivo, testando-o.
— Não... Talvez. — Tae fingiu olhar para algo acima de sua cabeça — Eu não vou admitir isso em voz alta, Jiminnie, desista.
A risada de Jimin preencheu a tarde virando noite enquanto via o amigo cruzar os braços e fazer biquinho com os lábios.
Mesmo que Taehyung não admitisse, ele amava o modo como Jimin era. Como o loiro sempre ficava na posição de líder, sendo naturalmente escolhido para aquele cargo e sempre honrando tal escolha ao mostrar as melhores estratégias e planos para conseguir o êxito em qualquer problema apresentado.
E a noite de ambos terminou entre beijos e risadas, quebrando toda aquela barreira de inteligência versus tolice em razão do amor recém-descoberto.