(Eu imagino o Zayn assim nessa fanfic)
Zayn olhava para a rua quando a caminhonete de Harry estacionou ao lado da cerca da casa.
Saltando do carro com suas calças rasgadas e camisa florida, Harry estava de cabelos curtos e usava um RayBan. Os dedos lotados de anéis e a pele tatuada, eram sua marca original.
- Pronto para uma nova vida longe de pais homofóbicos e vizinhos loucos? - Foi a primeira frase de Harry ao ver Zayn. O moreno apagou o cigarro na cerca e jogou a bituca dentro da caixa de cigarros - Minha mãe mandou lhe avisar que Leon está com ela e nada mais deve se preocupar com o garoto.
- Só esperando o caminhão chegar. E fico feliz com a notícia.
- Londres vai fazer bem á você. Já falei para Niall arrumar uma recepção calorosa em algum clube de dança.
- Prefiro passar as primeiras semanas com meu avô.
- Levamos o vovô junto - Harry olhou para a silhueta do velho na janela, limpando os vinis da estante e colocando nas últimas caixas - Como ele tá?
- O médico disse que ele está bem, uma saúde de ferro incrível, mesmo fumando um maço de cigarro por dia quando jovem. Mas nada mais que isso.
- Acha que Londres vai fazer bem para ele?
- Não vou embora de Bradford e deixar meu avô, Harry. Ele me acolheu quando eu mais precisava, e agora, é minha hora de retribuir.
- Não estou te pedindo para deixar o velho, mas só fico preocupado.
- Ele vai ficar bem. Só levar a vitrola dele e um pouco de xerez.
- Se você diz - Harry olhou para o caminhão virando a rua - Venderam essa casa para comprar aquela né?
- A rua que vamos morar nem é movimentada. Fica perto de alguns bares de música e de restaurantes.
- Vai trabalhar de quê por lá?
- Fui contratado para dar aulas de literatura para uma turma de colegial - Zayn deu sinal para o caminhão - Que Deus me ajude a lidar com adolescentes.
- Ele vai te abandonar quando ver hormônios demais reunidos em um só lugar - Harry zombou - Vou tratar de buscar as primeiras caixas.
Durante a viagem de ida, Jamil apenas adormeceu no banco de passageiro, enquanto Zayn era obrigado a escutar Django. Se desligasse o rádio, o velho acordava. Zayn olhava para a sombra de Bradford desaparecer e sentiu seu coração ficar por lá.
Seu pai nem sequer havia mandado uma mensagem, nem uma ligação. Ele havia enviado uma mensagem para Safaa, pedindo para que ela avisasse á mãe e as irmãs. Depois disso, ele entrou no carro com o avô e seguiu o caminhão.
Django cantava alguma letra sobre amor.
"Eu não posso te dar nada além de amor baby..."
Era isso que Zayn queria.
Ter amor.
Quando a música acabou, Jamil abriu os olhos e bocejou.
- Estamos chegando?
- Mal começamos na estrada. Temos mais três horas de viagem ainda.
- Acha que minha vitrola está bem lá dentro daquele caminhão velho e enferrujado feito eu?
- Está sim, vô.
- Eu estou com sede.
- Tem água no porta luvas.
- E eu estou com sono.
-Só encostar a cabeça para dormir.
- É uma droga quando você quer atentar seu neto e ele tem uma solução para tudo.
Zayn riu.
- Tem mesmo oitenta anos ou dezoito?
- Dependendo do dia, ainda me sinto como Jamil Malik em sua época de ouro dos anos 50.
Zayn passou a marcha, vendo a caminhonete de Harry na frente do caminhão.
- Harry arrumou alguém?
- Vô, eu acho que a vida amorosa de Harry não me desrespeita.
Jamil olhou para a caçamba da caminhonete e fez um bico.
- Eu ainda acho que o Harry é gay. Na verdade, eu não acho. Eu tenho total certeza.
- Vô...
- Ele não parece ser hétero.
- Vô...
- É sério, olha para ele.
- A sexualidade dele não é rotulada, lembre-se disso.
- Vocês andam tão complicados atualmente. É só falar se gosta ou não das coisas. Na minha época, era mais fácil.
- Na sua época, se a gente abria a boca para falar que era bicha, éramos mortos.
Isso fez Jamil ficar um pouco triste.
- Infelizmente, isso ainda acontece, Zayn.
Jamil ficou calado. Zayn se sentiu culpado.
- Vô, sabe que eu não quis ser grosseiro. Mas ás vezes, falar de sexualidade e orientação sexual pode magoar as pessoas. Sabe que eu ainda lido com as feridas do passado.
- Eu sei como é lidar com isso.
- Sabe mesmo?
Jamil encostou no banco.
- Na verdade, eu não sei de nada - E pôs em silêncio o resto da viagem.
A casa de Zayn e Jamil ficava na última rua em Pimlico. Era uma casa de veraneio que foi abandonada, e então foi reformada. Havia um jardim na frente, e era de tijolos vermelhos.
O caminhão estava sendo descarregado por Niall e Harry quando Zayn chegou.
- Tomem cuidado com a minha vitrola! - Jamil exclamou - Senão, darei uma surra de bengala em cada um de vocês.
O irlandês se aproximou do avô. Niall Horan e seus olhos simpáticos e sorriso de menino, abraçaram o velho.
- Vovô! Que saudades de você.
Jamil retribuiu o abraço.
- Niall, quase não te reconheci sem a tinta loira do cabelo.
- Eu resolvi deixar ao natural agora que fiquei mais velho.
- Já não era em tempo, parecia um ovo mal cozido com aquela cor amarelada horrível.
Niall estreitou os olhos.
- Ficou mais rabugento com a idade, né velho?
- Tenho total direito de ser mau-humorado quando se torna octogenário.
Zayn entrou a casa: A cozinha tinha uma porta de correr que dava acesso ao quintal, quatro quartos na parte de cima, uma sala espaçosa, e um canto para descanso.
Ele desceu uma poltrona e a vitrola do avô. Instalou ambas na sala de descanso e chamou o velho.
- Olhe, até segunda ordem, o senhor fica quieto aqui. Mais tarde, compraremos seu almoço.
- Posso colocar meu jazz?
- Pode.
Niall e Harry olharam o amor e o carinho que Zayn tinha com o avô. Depois de colocar um disco de John Coltrane, o velho fechou os olhos e ficou calado.
Zayn se aproximou dos amigos.
- Ele vai ficar quieto até umas horas. Vamos terminar a mudança.
- Ei - Niall o seguiu para fora - Sabe o que eu estava pensando? Em fazer uma recepção no próximo sábado. A gente ir para uma praça ou para um botequim e beber. Posso chamar meu amigo, Louis.
- Louis? - Zayn continuou a descer as caixas, com ajuda do motorista - Quem é ele?
- Ele é um investigador da polícia. Seria divertido a gente sair e nos divertir um pouco, e comemorar sua chegada aqui.
- Não tem nenhuma garota para meter nesse meio? - Harry pegou uma caixa e ia levar para dentro.
- Harry, digamos que mulheres não é o seu forte - Niall caçoou - E Louis é muito bonito.
- Tem certeza que é uma boa ideia? - Zayn perguntou.
- Vou falar com ele - Niall começou a digitar uma mensagem, freneticamente, enquanto escutava o vinil de Jamil tocar aos fundos.
Liam estava pegando sua mochila do armário, quando Louis apareceu.
- Topa sair com a gente, no próximo sábado?
- A gente quem?
- Lembra de Niall? O falso loiro que embebedou você no bar do tio dele?
- O filho da puta que me deu uma das piores ressacas da minha vida? - Ele colocou um casaco- Lembro.
- Ele está lindamente pedindo para que a gente saia com ele, e mais dois amigos dele. Um deles acabou de se mudar para cá.
- Eu não sei não - Ele fechou a porta do armário - Me sinto completamente deslocado quando saio com gente que não me convém.
- Vai ser divertido - O baixinho de olhos azuis sorriu - Vai ser bom para a gente sair dessa monotonia de trabalho.
- Louis, você é apenas um assistente de investigações - Ele reclamou - Quase não faz nada.
- Fazer nada custa muito de mim. Topa?
- Seu meu avô estiver bem, eu irei.
- E como vai Charles?
- Ele vai mais velho, mais reclamão e mais nostálgico.
- Ele é um cara divertido.
- Só você acha isso.
Liam despediu-se de Louis e saiu.
Depois que voltou da dispensa do exército, Liam trabalhava de instrutor de treino em uma academia de policiais. Ele treinava em combates corpo á corpo, perícia em armas e em objetos. Louis era apenas um dos assistentes da linha de investigação, um cargo valoroso, mas na real, Louis quase não fazia nada do que ficar sentado quase o dia todo e lendo arquivos tediosos.
Liam andou pelas ruas até o metrô. De fones, ele quase não notou o movimento e ficou calado a viagem toda, até em casa.
Quando chegou em casa, viu o velho Payne sentado na cadeira de balanço, do lado de fora.
- Está fazendo o que aqui, nessa hora?
- Eu tive uma sensação de algo hoje - Ele olhou para o neto - Como se algo tivesse vindo.
- A morte que não é.
- Pare com isso - O velho riu - Mas é como se algo tivesse chegado. Ou estivesse chegando. Como uma lembrança.
- O senhor está bem?
- Não sei. Eu passei o dia todo vendo o movimento da rua. Um caminhão de mudança passou por aqui hoje mais cedo, virou para a rua de cima. Seguido de uma caminhonete e um carro popular.
- Se mudaram para cá.
- Eu não sei. Talvez tenham ido para Pimlico. Lá está tendo muitas casas para vender.
- Anda sabendo demais da vida dos outros.
- Estar sempre dentro de casa e sem sair pela rua, é tedioso, sabia?
- E sair para levar pancada de policial mal treinado é pior ainda. O que quer jantar?
- Sopa.
- Mas de novo?
- Sim, e por favor, sem sal na minha.
Zayn arrumou o avô na casa e desligou a vitrola. As caixas foram devidamente jogadas fora e a casa estava linda. Com ajuda de Harry e Niall, e do motorista do caminhão (Kash, por favor).
Ele se jogou no sofá da sala, olhando as mensagens do celular.
Safaa (15:32): "Mamãe pediu para que mandasse as fotos do lugar. Ela está feliz que você tenha que recomeçar. Papai soube da mudança, e xingou em árabe umas mil vezes. Mas eu, Doniya e Waliyha estamos felizes por você. Mande beijos ao vovô x".
Ele desligou o celular e fechou os olhos.
Recomeços sempre eram bem-vindos. Londres lhe traria a paz que ele não teve em Bradford.
Zayn se lembrou do dia que foi expulso de casa: Ele sabia que seria mandado embora, então se preparou. Despachou suas coisas para a casa de Harry, na época, um adolescente que morava com Anne, em Holmes Chapel. Depois disso, apagou os registros de mensagem de Roger, seu ficante escondido.
Ele descobriu que gostava de garotos aos 12 anos, quando Nathan Kress dava mais impacto na sua vida do que Miranda Cosgrove, ou que ele sentia-se tímido quando os meninos o elogiavam e ele gostava de escutar um menino falando que gostava dele, do que uma garota. Quando deu seu primeiro beijo com Nicole, nada havia sentido. Mas quando Roger o beijou, durante um jogo de xadrez nos fundos da escola, ele se sentiu completo.
Esperou completar dezesseis anos. Na mochila, uma carta de aceitação para estudar em London South Bank e uma passagem de ônibus só de ida para Londres. Uma mensagem de Harry dizendo que Niall havia conseguido um dormitório para ele e um emprego na cidade.
Quando seu pai chegou em casa, mal tardou em ver sua mãe e suas irmãs com hijab (Elas usavam apenas nas cerimônias da religião, e não em casa), ele olhou para o pai. Yaser o encarou.
- O que tanto me olha?
- Eu preciso falar algo.
Patricia fechou os olhos. Já sabia o que era, Bradford toda já sabia na verdade, pois as fofocas corriam rapidamente.
- Zayn... - Ela pediu.
- Eu sou gay.
E foram essas palavras que fizeram Yaser expulsar Zayn de casa, em uma fração de segundos. Zayn nem sequer esperou o pai o excomungar, apenas pegou sua mochila, beijou a mãe e saiu, enquanto o pai gritava que ele deveria morrer.
- Me perdoe, mãe - Ele murmurou para ela, quando ela o alcançou na rua, seu hijab escorregando de seus cabelos negros e vendo as lágrimas de seu filho - Se seu Deus me condena por apenas amar um semelhante meu, não posso continuar a crer nisso.
- Zain, por favor... - Ela murmurou - Apenas Deus pode falar sobre você. Seu pai ou eu, não devemos falar algo.
- Semelhantes á mim estão sendo mortos em outros países. Agradeço apenas por ser expulso de casa. Prometo que notícias minhas, terão. Mas enquanto isso, deixe que meu pai viva com sua cegueira religiosa.
Ele saiu. A chuva despencou enquanto ele andava até o outro lado da cidade. Pela noite, seu avô estava na janela, quando a sombra de Zayn parou na frente de casa. Jamil já sabia o que era, e apenas largou a bengala e saiu porta á fora, puxando o neto encharcado para dentro. No carpete sujo, abraçado ao avô, Zayn chorou feito uma criança.
Desde então, ele morava com o avô. O deixou por quatro anos, até terminar a faculdade de letras, mas voltou. Deu aulas para crianças em uma escola em Bradford, até Harry apresentar uma proposta para que ele retornasse para Londres e ali, ficasse permanentemente.
Não longe, Liam Payne apagava um cigarro na janela de seu quarto e ligava o rádio. Sem camisa, ele debruçava-se na cama, escutando o tintilar dos mensageiros do vento no jardim.
Ele levantou da cama, e foi até a estante de livros, procurando um livro velho, do Voltaire para ler. Entediado, talvez a filosofia o fizesse dormir.
Procurou o livro na estante e lembrou que o avô deve ter jogado ele dentro da caixa de velharias do sótão.
- Merda - Ele pegou uma camisa e uma lanterna.
Saindo no corredor, ele procurou a porta que levava ao sótão. Puxando a cordinha, a escada se desdobrou e ele a subiu. Ligou a lanterna e quando achou o interruptor, ligou a luz.
O sótão tinha velharias de sua falecida avó, coisas da infância de seu pai e tios, e algumas besteiras dele, como o uniforme militar, que estava encostado desde que ele voltou. Empoeirado, o lugar parecia morto, sem vida e com um cheiro terrível de mofo e umidade.
Liam odiava quando o avô empurrava suas coisas para o sótão, achando que fosse velharia. O velho pode ter quase oitenta e cinco anos, mas ainda conseguia fazer uma bagunça.
Achou seu livro jogado na caixa de enfeites da natal. Empurrando a caixa, ele puxou o exemplar surrado, mas em consequência, derrubou uma caixa de madeira que o avô havia guardado ali, fazendo o trinco quebrar e várias coisas se espalharem.
- Porra - Ele xingou baixinho e tentou resgatar a caixa.
Juntando rapidamente as lembranças, umas velharias e alguns papéis, Liam jogou tudo lá dentro.
Mas antes de guardar e fechar o trinco quebrado, Liam lascou o dedo em uma farpa de madeira. Ele gemeu de dor e parou de catar a bagunça para chupar o sangue que escorria do ferimento.
Enquanto tentava estancar o ferimento, algo chamou sua atenção.
Uma foto em preto em branco de um rapaz.
Rasgada, faltando uma parte, o rapaz trajava um terno branco e segurava o que seria duas rosas. Seus cabelos negros e barba escura e farta, faziam um contraste perfeito em seu rosto. Ele tinha traços árabes, e estava sério na foto. Um braço estava enlaçado no dele, mas a parte de quem seria faltava.
Liam virou a foto e então, levou um susto.
"Casamento de Charles Payne com......"
"Datado de 1957".
A parte que completava as informações estava faltando. Liam sentou-se no chão e então lembrou que seus avôs não se casaram em 1957.
Mas em 1958.
Liam virou a foto novamente e analisou o braço que estava enlaçado no rapaz desconhecido da foto. Era um braço masculino, sem dúvidas. Em um terno preto.
- Liam? O que você está fazendo no sótão? - A voz de Charlie o assustou. Liam enfiou tudo dentro do baú, menos a foto do rapaz, que ele enfiou dentro do livro e desceu as escadas.
Charles Payne estava parado no corredor.
- O que merda estava fazendo no sótão nesse horário?
- Eu estava procurando meu livro que o senhor jogou na caixa de enfeites de natal.
- Essa merda velha aí?
- É. O que está fazendo acordado?
- Escutei o som de algo caindo. Algo meu quebrou lá encima?
- Não senhor - Ele mentiu - Foi a caixa de enfeites de ano novo.
-Tem certeza? - Ele levantou uma sobrancelha. Liam engoliu seco.
- Tenho...
O velho encarou ele mais uma vez, e passou a mão no bigode em tom branco.
- Ah. Espero que seja isso mesmo - O velho coçou a bochecha - Boa noite.
- Boa noite - E Liam foi para o quarto, com a consciência pesada de estar mentindo para o avô.
-x-
Eu confesso que quando estou andando na rua, estudando ou mesmo fazendo alguma coisa, começo a imitar os personagens da fanfic, criando diálogos.
É agora que o mistério começa.
Até depois!