Já faz muito tempo que não vejo aquele raio de lua que entrava pela sacada do meu quarto todas as noites. Aquele raio de lua que iluminava minhas madrugadas, com o seu brilho e conforto — minha melhor companhia.
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Eu odiava as noites chuvosas. Elas te deixavam fraco; o seu brilho não era o mesmo; sua luz não reluzia como nas melhores noites. Era tudo diferente. O raio de lua daquelas noites não era você. O sol havia te desgastado.
Ele se transformava em sua companhia quando o dia chegava. Eu sentia ciúmes. Isso já vinha de muito tempo, você não tinha como evitar. Mas ao chegar da noite, você voltava para mim — éramos seus dois amores secretos.
Só que em uma noite você não voltou. Chegou o anoitecer, e meu quarto continuava escuro. Fiquei até às três da madrugada deitado na cama, com os olhos fixados na sacada, esperando que sua luz surgisse. Mas você não veio, e eu adormeci.
Só quando acordei — já de dia — pude entender. O sol te consumiu. Corroeu todo o seu brilho, se alastrou por toda lua, que não foi mais capaz de te refletir. Você já não viria nunca mais.
De noite, uma tempestade começava em meu peito, e logo em seguida a chuva caiu. Fui à sacada do meu quarto relaxar meus pulmões, quando, uma luz — mais forte que tudo que já tinha visto — atravessou minhas lágrimas, chegando e ardendo meus olhos. Quando a luz abrandou, eu pude ver o céu, e te vi. Você estava ali; em um novo feitio. O meu raio de lua virou uma estrela. A mais linda e brilhante estrela do céu.