Refaço os cálculos pela segunda vez e confiro minhas respostas do exame de matemática. Aparentemente, está tudo certo. Suspiro, aliviada por tê-lo acabado. Guardo todas minhas coisas na bolsa, pego minha prova e me levanto, indo em direção à mesa da professora para entregar minha prova.
— Como sempre, a primeira a entregar. - Ela abre um sorriso, estendendo a mão para pegar o papel.
— Estava fácil. - Digo, sem convencimento. Apenas sinceridade.
— Para você sempre está, querida. - A professora sorri novamente. — Está liberada, pode sair. - Ela aponta para a porta.
Assinto, em resposta, e me retiro da sala de aula, dando às costas para vinte e nove alunos confusos e perdidos. Matemática não é a matéria preferida da maioria dos estudantes. Apesar de sempre me sair bem nela, também não é a minha. É cansativo ter que lidar com números e fazer cálculos o tempo todo. Além da dor de cabeça que dá depois disso.
Com passos apressados - e também desajeitados -, atravesso o corredor da escola, passando por algumas pessoas que conheço de vista. Sou ótima em reconhecer rostos, o que é meio estranho. A maioria das pessoas do colégio não fazem ideia de quem eu sou e não me reconhecem na rua, mas eu sim. Isso me faz sentir como um tipo de stalker, às vezes. Mesmo que não seja proposital. Passo pelo portão e depois o gramado, me direcionando até o estacionamento, onde meu pai está me esperando.
— Oi, querida. - Ele sorri, quando me aproximo. — É hoje que você recebe o resultado dos seus exames, não é? - Indaga.
— Sim, podemos passar no hospital agora? - O vento sopra contra meus cabelos, fazendo-os voarem em meu rosto. Coloco uma mecha atrás da orelha e abro a porta do carro, entrando em seguida.
— Claro, mas não poderei ficar, tenho uma reunião de última hora. Mas não se preocupe, liguei para a secretária do Dr. Rubbens e avisei que você iria sozinha. – Ele gira a chave e finalmente pisa no acelerador.
— Tudo bem. - Respondo, sem ligar muito. Não são exames importantes mesmo.
Encosto a cabeça no vidro do carro e observo a rua, em silêncio. Não há novidades. É o que sempre vejo. Casas e mais casas. Alguns prédios. Crianças brincando com seus cachorros e mais crianças. Namorados passeando de mãos dadas. Pessoas indo ou voltando para o trabalho. E, finalmente, o hospital. Desafivelo o cinto, me despeço do meu pai e entro no local.
— Oi, meu nome é Emma Foster e vim buscar uns exames. - Digo para a recepcionista, que não para de digitar em seu computador.
— Claro, o Dr. Rubbens queria mesmo falar com você. Pode entrar na sua sala, é a primeira a direita. - Informa, apontando com a mão a direção certa.
Agradeço e depois caminho até a sala do médico. O que será que ele quer falar comigo? Será que houve algum problema com meus exames? Ou melhor, será que há algum problema comigo? Não costumo fazer exercícios - porque tenho preguiça -, mas até que não me alimento tão mal assim. Me considero alguém saudável. Intrigada, entro na sala do Dr. um pouco apreensiva e sento-me em frente a ele, que me fita com atenção.
— Há algo de errado com meus exames? - Pergunto, sem ao menos saudá-lo. Não costumo ser mal educada, mas a forma como ele está me olhando me deixa nervosa.
— Bem... as notícias não são boas, Emma. O seu exame... - Ele respira fundo, o que só me deixa ainda mais nervosa. —... apresenta o acúmulo de blásticas anormais em sua medula óssea. - Sua postura é de seriedade, mas seus olhos parecem transmitir tristeza.
— O que isso significa? - Sussurro, sentindo um nó se formando em minha garganta.
— Significa que você está com Leucemia Mieloide Aguda, e... tem no máximo seis meses de vida.
A notícia me atinge como um tiro no peito, me deixando totalmente desnorteada e sem resposta. Abro e fecho a boca várias vezes, tentando encontrar o que dizer, mas não consigo emitir nenhum som. Minha mente é como um completo nevoeiro agora. Eu... eu vou morrer? Dr. Rubbens me encara com empatia e um sorriso triste no rosto. Ele cruza as mãos sobre a mesa e continua o diagnóstico:
— Bem, a Leucemia Mieloide Aguda é um tipo de câncer da medula óssea e sangue em que há um excesso de glóbulos brancos imaturos. Ela progride rapidamente e as células mieloides interferem na produção normal de glóbulos brancos e vermelhos e de plaquetas. Há diversos tipos de tratamentos que podem aumentar a sua perspectiva de vida. Podemos escolher o mais adequado para você de acordo com a frequência e intensidade dos seus sintomas e...
Não escuto uma única palavra do que o médico diz a seguir, porque nada, nada mais importa. O pânico toma conta do meu corpo e saio correndo. Sinto o ar falhar em meus pulmões e minha garganta ficar seca. Lágrimas inundam meus olhos e escorrem em meu rosto. O que era para ser apenas um simples exame de rotina se tornou minha sentença de morte. Eu estou com câncer e irei morrer, e não há nada que eu possa fazer para mudar isso.
Corro sem rumo, até chegar ao estacionamento. Sento encostada em um carro qualquer e desconhecido e tampo minha boca com as mãos, para que meu choro e os soluços não sejam ouvidos. Como isso aconteceu? E porque justo comigo? Eu não entendo. Eu só tenho dezessete anos e mal vivi. Todos esses anos fui a filha perfeita, a aluna perfeita, a garota perfeita. Sempre procurei agradar e satisfazer todos ao meu redor, mesmo que isso significasse deixar as coisas que eu gosto para trás. Nunca dei desgosto para os meus pais e sempre segui suas regras. Ser "perfeita" me levou a ser completamente sozinha. A única amiga que já tive se mudou para outra cidade há dois meses, me deixando sozinha novamente. E agora, só me restam seis meses de vida. Essa será a minha história? A garota "perfeita" de dezessete anos que morre sem nem ao menos ter aproveitado a vida? Sem ter tido pelo menos uma aventura?
Quando penso nisso, meu choro se torna ainda mais intenso. Chupo as bochechas e olho para cima. Depois, respiro pela boca, tentando me acalmar. Preciso sair daqui. Preciso ir para casa e contar tudo aos meus pais. E preciso me trancar em meu quarto e chorar muito mais, de luto por mim mesma.
Levanto-me, tremendo e pego um táxi. Durante o caminho, finjo que está tudo bem e que não preciso me preocupar com nada, para que o motorista não me veja chorando. E, não sei como, mas funciona. Ao chegar em casa, caminho em passos cambaleantes até a porta. Entro e me apoio no sofá, porque sinto que minhas pernas irão falhar a qualquer momento.
— Finalmente você chegou! - Papai tira os olhos do jornal. Ao ver minha expressão, um vinco de preocupação forma-se em sua testa. — Tudo bem?
— Recebi o resultado dos exames. - Minha voz é quase um sussurro.
— Está tudo certo? - Mamãe pergunta, surgindo da cozinha.
— Eu... - Meus lábios tremem, e de repente estou aos prantos novamente. — ...estou com leucemia.
— O quê? - Minha mãe paralisa.
— Não, não pode ser! - Papai levanta do sofá e passa as mãos pela cabeça. — Isso... não! Eu já paguei a escola adiantada por três meses! Até já comprei materiais de estudo para o vestibular! E...
Pisco, sem acreditar que ele realmente disse isso. Mordo os lábios com força e fecho os punhos, em uma vã tentativa de controlar a raiva que estou sentindo no momento.
— Você ouviu o que eu disse?! Eu estou morrendo! - Grito, para surpresa de meus pais. E a minha própria também. — Como pode se importar mais com isso?
Minha mãe continua em choque, enquanto meu pai parece ter percebido as palavras horríveis que dissera. Sem esperar por sua resposta, corro para meu quarto e tranco-me nele. Já deitada na cama, afundo o rosto no travesseiro e deixo que as lágrimas o encharquem.
Eu costumava achar que minha vida começaria de verdade quando estivesse na faculdade. Eu estaria longe de casa, longe dos meus pais e longe das mesmas pessoas de sempre. Iria fazer o que quiser e ser quem quiser, sem precisar me preocupar com as expectativas alheias. Mas não existe o amanhã para mim. Não existe o depois. Tudo que sempre quis foi arrancado de mim tão rápido quanto uma neblina passageira. E se eu quiser prolongar apenas um pouco dessa vida que sempre quis mudar, terei que passar por uma série de tratamentos que irão acabar comigo e me deixar mais fraca a cada dia, até que não haja mais forças para lutar. Ou, eu posso viver o que sempre quis e fazer loucuras que nunca sequer passaram por minha cabeça, e fazer com que minha breve vida tenha valido a pena.
Pensando nisso, saio do quarto determinada e caminho até a sala, onde estão meus pais. Minha mãe me vê chegando primeiro, e já se adianta:
— Ligamos para o Dr. Rubbens e... - Interrompo-a antes que ela possa continuar.
— Eu não vou fazer o tratamento. - Declaro com firmeza.
— Como assim? - Ela levanta do sofá, surpresa.
— Eu tenho no máximo seis meses de vida. Não vou passar os meus últimos dias internada em um hospital esperando que um milagre aconteça.
— Já falamos com o Dr. Rubbens e acertamos tudo sobre o tratamento. Você vai fazê-lo, Emma. Por favor, você precisa fazê-lo. - Meu pai me olha suplicante. E, apesar de ficar balançada, não cedo. Não haverá outra chance para mim.
— Eu já me decidi. Dessa vez, vou fazer o que eu acho melhor para mim. - Me imponho pela primeira vez na vida, deixando-os surpresos.
Então, giro nos calcanhares e volto para meu quarto. Arranco uma folha de um caderno qualquer e com uma caneta, começo a escrever. Se eu vou morrer, preciso ter feito pelo menos algumas aventuras. E é por isso que crio uma lista com quinze coisas para fazer antes de morrer.
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Oi, pessoal! Tudo bem? Esse é o primeiro capítulo da história e podem ter certeza que ela será postada até o fim. Espero que vocês gostem dos meus dois bebês: Emma e Dylan, do livro e se divirtam com as aventuras loucas dos dois. Não esqueçam de votar e comentar, isso é muito importante para a divulgação do livro. Obrigada! ❤️