Meu estágio havia acabado, mas eu e o Tomé demos um jeito para nos encontrarmos. Seus beijos eram maravilhoso e eu me apaixonei por ele. Acredito que ele também. E ele compreendia porque eu tinha que me esconder.
Eu não estava trabalhando lá, mas não saía do Centro Cultural, pois o teatro ficava no mesmo prédio e o Tomé era ator e sua companhia fazia bonecos de marionetes de papel machê. Eram lindos. Faziam apresentações nas escolas e no teatro municipal.
Em janeiro, fiz outro vestibular e passei para cursar Administração. De manhã eu fazia Letras e à noite, Administração.
Em fevereiro, véspera de carnaval, a secretaria de cultura me convidou para desfilar na avenida com trajes típicos dos gaúchos, os pioneiros da cidade. Uma homenagem aos que a fundaram.
O primeiro dia foi uma festa. Desfilei como par de um rapaz da Secretaria de Cultura. O Tomé estava assistindo. Meus pais também estavam na platéia.
Quando o desfile terminou, fui procurá-lo. Estava louca por um beijo e com saudade. Eu o encontrei rapidinho, ele enlaçou minha cintura, eu o abracei pelo pescoço e nos beijamos.
Mas, infelizmente, meu pai apareceu. Tinha ido me procurar. Quando ele viu a cena, gritou comigo:
____ Isadora, quem é esse cara? Por que você está se agarrando com ele? ____ gritou comigo.
____ P-ai. Esse é o Tomé. Meu namorado. ____ falei já gaguejando de medo.
Tomé o cumprimentou e ele disse:
____ Não se aproxime da minha filha. ____ e foi embora. Eu o segui quietinha, morrendo de medo.
Quando chegamos perto da minha mãe, ele contou o ocorrido, como se eu estivesse transando na rua. Estava chocado. Minha mãe ficou furiosa e me descascou num sermão. E eu falei:
____ Mas, foi somente um beijo.
____ Mas, o que você queria que fosse a mais? ____ falou ela, irada.
____ O beijo é o primeiro passo. Onde você acha que iria parar?
____ Em lugar nenhum. Foi só um beijo. ____ não adiantava eu me explicar. Eles estavam irredutíveis.
____ Amanhã, você devolverá essa roupa e não vai mais desfilar. ____ asseverou meu pai.
Eu fiquei quieta, pois qualquer argumento seria em vão. Chegamos em casa. Fui para o meu quarto. Minha mãe foi atrás. Ela pegou a escova de cabelo e bateu inúmeras vezes na minha cabeça. Apesar da dor, eu não tive reação.
No outro dia, não conseguia pentear o cabelo, devido aos galos que se formaram na minha cabeça. À tarde, meu pai mandou meu irmão junto comigo para eu devolver a roupa. E começou a zombar de mim, dizendo que eu era o "colar" do Tomé.
Quando chegamos ao Centro Cultural, falei para o meu irmão sentar no hall e me esperar, enquanto eu devolvia a roupa e fui para a secretaria me explicar. O Tomé me encontrou, nós nos escondemos em uma sala e ficamos trocando beijos apaixonados. A paixão, naquele momento, era maior que o medo.
Depois desse episódio, eu comecei a procurar emprego.
Arrumei emprego numa agência de turismo, mas o pessoal das companhias de teatro me disseram que haveria um curso de teatro na cidade. Seria ministrado pelos melhores professores de teatro do país. Ainda descobri que o Tomé iria participar do curso. Não tive dúvidas. Deixei o emprego e fui fazer o curso. Eu me inscrevi através de um grupo de teatro amador que meu primo de segundo grau participava. Nós éramos muito amigos e ele também trabalhava no Centro Cultural, fazendo o som e luz das peças teatrais.
O curso era ótimo. Isso me ajudou a deixar minhas inibições de lado. Passei a me expressar mais. Fazia o curso todos os dias, pois estava de férias da faculdade. Participava de mini peças que fazíamos no curso e, nos intervalos, ficava com o Tomé, apesar de que não estávamos mais namorando oficialmente, mas a paixão ainda existia.
Depois desse curso, eu ainda precisava de emprego. Assim, surgiu a oportunidade de dar aulas de Inglês, como professora substituta, para alunos do segundo grau.
Foi aquele alvoroço entre a rapaziada. Uma professora jovenzinha, que eles consideraram bonita.
Então, vi um anúncio na faculdade, que precisavam de funcionário na biblioteca da própria universidade. Fiz a prova e passei. Ao mesmo tempo, a Biblioteca Pública me chamou para trabalhar lá como funcionária contratada.
Depois de muito pensar, eu aceitei o emprego na Biblioteca Pública, a fim de poder ver o Tomé, pois a chance de vê-lo quando ele estivesse na cidade era grande. Temos que lembrar, também, que não havia telefones celulares na época.
Com essa decisão tomada, foi necessário desistir do curso de Administração, porque eu trabalhava das treze às vinte e uma horas. Eu ia direto da faculdade para a biblioteca, pois não havia tempo de ir para casa almoçar. Eu almoçava na copa do Centro Cultural.
Depois de um tempo, senti uma grande dor no peito. Ele chegou para mim e disse que iria embora. Que a companhia de teatro iria se apresentar em vários lugares do Brasil e não tinha idéia de quando voltaria. Então, nós resolvemos terminar para valer, pois eu preferia não ficar amarrada a ele, sabendo que talvez ele nem voltasse. E ele também, mas minha paixão não se extinguiu. Chorei uma tarde toda por causa disso. Afinal, era meu primeiro namorado.
Havia um rapaz na faculdade e nós nos conhecíamos, desde que eu tinha quinze anos, o Éder. Ele me convidou para sair. Eu tinha dezenove anos. Ele queria jantar. Então eu falei para ele que não poderia ser tarde da noite. Teria que ser à tardinha, pois eu faria uma troca de horário na biblioteca, para poder sair. Claro que essa manobra toda era por causa dos meus pais.
Na mesma época, comecei a receber flores, bombons e cartas apaixonadas do Jéferson, um carioca descolado, que estava morando na cidade.
Saí com o Éder para jantar num restaurante bem legal. Eu pedi chopp. Ele não bebeu. Então, começou dizendo:
____ Gostaria de falar que eu gosto de você, desde que você tinha quinze anos e fazia o segundo ano do segundo grau. Nunca te pedi em namoro, porque você era muio jovem.
____ Eu nem imaginava, Éder. Eu sempre vi você como um grandre amigo. Um amigo muito querido.
____ Mas gostaria que você pensasse na possibilidade de namorarmos, agora que você pode tomar uma decisão.
____ Éder, eu tenho um problema com meus pais. Eles não permitem que eu namore.
____ Eu falarei com eles. Pode deixar comigo.
____ Tem outro problema também: o Jéferson, que você conhece, também me pediu em namoro.
____ Você respondeu o quê?
____ Que precisava pensar e que sairia com você.
____ E então, você aceita me namorar?
____ Preciso pensar, Éder. Até a pouco tempo eu estava namorando, mas ele foi embora. Não posso lhe dar uma resposta agora.
____ Se for por causa do Jéferson, que fala com palavras difíceis e galantes, como por exemplo, que lhe escreveu uma missiva, saiba que eu sei falar da mesma maneira.
____ Não é por isso. Você me dá um tempo?
____ Sim, claro que dou. Assim, que você tiver a resposta, avise-me.
____ Pode deixar. ____ ficamos combinados assim e fomos embora. Ele me levou até uma altura, depois eu segui sozinha para casa.
Eu estava num impasse. Não gostava de nenhum dos dois, apenas como amigos, mas queria esquecer o Tomé. Em compensação, o Éder era muito meu amigo, então não queria estragar a minha amizade com ele; por isso, optei pelo Jéferson. O Éder ficou muito chateado comigo, mas superou.
E comecei a namorar o Jéferson. Ele fazia de tudo para me agradar, mas eu não conseguia gostar dele. Considerei várias vezes deixar dele, mas ficava com dó.
Certo dia, o Tomé apareceu e eu enlouqueci de alegria. Nós ficamos juntos. Pretendia terminar tudo com o Jéferson, mas não deu tempo. A minha colega Noeli, que se fazia de minha amiga, contou tudo a ele, antes de mim. Fiquei muito chateada. Ele ficou tão magoado que sumiu. E eu me arrependi de ter aceitado o namoro.
Ainda bem que não era o Éder. Eu não teria coragem de magoá-lo.
Quem tudo quer, nada tem. Não é verdade? O Tomé foi embora novamente. Mais uma vez o meu coração foi quebrado e fiquei sozinha.
Mas, felizmente ou não, ele começou a vir com mais frequência e sempre ficávamos, mas não rolava transa. Eu não estava preparada para isso. Sentia que ainda não era ele "o cara".