Murilo
Quando abri o envelope com o nome da pessoa que me ajudaria na prova técnica, confesso que fiquei surpreso e assustado. Acho que não vai dar muito certo, mas o que eu posso fazer? Só aproveitar.
- Leia o nome para nós, Murilo. - disse Nadja me fazendo despertar dos meus pensamentos
- Thaís Melchior. - falei mostrando o envelope
- Ih, certeza que foi combinado. - disse Victor
Thaís entrou na tenda e todo mundo começou a gritar.
- Foi marmelada. - gritou Emílio lá da frente
- O casal vai cozinhar juntinho, que amor. - disse Letícia
- Parem de graça. Não foi nada combinado. - disse Thaís
- Mas aposto que o Murilo adorou. - disse Igor
- Preciso levar esses dois para se enfrentar no passa ou repassa. - disse Celso
Thaís veio para a minha bancada e a gente se cumprimentou com um beijo na bochecha. Era para ser discreto, mas todo mundo viu.
- Então agora vão ficar com vergonha? Pode beijar de verdade. - disse Igor
- Eu concordo com o menino. - disse Victor
- Temos que fazer a prova. A Beca está só esperando vocês pararem de falar para anunciar a prova. - falei
- Eu só anúncio após o beijo. - disse Beca
- Mas aí é jogo sujo. - disse Thaís
- Será que vocês podem parar de enrolar? - perguntou Letícia
Thaís se virou para mim e não teria como fugir daquela situação. Eu nem queria e, para falar a verdade, estava até gostando da ideia.
- Ok. Só um selinho. Não vai significar nada. - disse ela
Como eu sou mais alto, tive que abaixar e dei o selinho para facilitar as coisas. Acontece que não foi insignificante, pois eu tive muita vontade de continuar. Como esperado, houve vários gritos e risadas. Nós dois rimos com a situação também. Beca anunciou a prova técnica e só tínhamos uma hora e meia para entregar tudo. Acontece que não era uma das receitas mais fáceis que eu já tinha visto, então estava um pouco atrapalhado.
- Tá tendo dificuldade aí? - perguntou Thaís
- Um pouco, mas acho que vai dar certo.
- E se não der?
- Quem liga se não der? É só uma brincadeira.
- É uma brincadeira que eu quero ganhar.
- Nossa, como é sistemática.
- Não, eu sou competitiva.
- Isso eu já percebi muito bem.
- Perdeu seu tempo reparando em mim e esqueceu de cortar os morangos que eu mandei você cortar.
- Ah é, dona mandona? Eu não esqueci, eu estava ocupado fazendo isso aqui. - peguei um pouco da calda branca que havia sobrado do nosso recheio e passei no nariz dela.
- Você não fez isso. - disse ela
- Fiz, e faria de novo.
Ela virou para traz e pegou um ovo.
- O que você vai fazer com isso? - perguntei
- Acho que seu cabelo precisa de uma hidratação, e ouvi falar que ovo faz muito bem.
Eu não sei de onde ela pegou impulso, mas ela conseguiu pular acertar a minha cabeça com aquele ovo.
- Agora você chamou pra guerra. Gaby, vocês estão usando esse chantilly? - perguntei
- Não. Pode pegar. - disse ela
- Obrigada. - corri até a bancada dela e de Celso e peguei o chantilly
- Não, aí já é demais. - disse Thaís
- Você não sabia com quem estava mexendo.
- É guerra? Adoro. - disse Celso atacando um ovo em nossa direção
- Eu também gosto. - disse Igor vindo com um pote cheio de cream cheese na mão. Ele passou em Thaís e ela revidou jogando ovo nele.
- Eu sempre soube que um dia seria soldado. - disse Victor atacando vários confetes de chocolate em nós
- Eu também quero brincar. - disse Letícia jogando farinha em Celso
Celso pegou o pote de chantilly e tacou na cara da Letícia. Os preparos e os ingredientes voavam por toda a tenda. Às vezes eu me abaixava atrás da bancada para não ser atingindo. O chão estava coberto de chantilly e confetes. Eu não sei de onde, mas como em câmera lenta um leite condensado epirrou da embalagem e ia acertar em Thaís, logo ela foi tentar correr para não ser atinginda, mas foi em vão porque acabou escorregando naquele chão sujo. Eu corri na frente para segurar e consegui pegá-la a tempo.
Ficamos nos olhando, paralisados. Não sei se era por causa do que havia acabado de acontecer, mas eu não conseguia pensar direito, minhas batidas estavam descompassadas, a guerra de comida continuava atrás de nós, mas eu olhava para ela e aquele olhar me fazia arrepiar tanto que eu não conseguia prestar atenção em mais nada... Naquele momento só havia eu e ela. Como alguém pode mexer comigo desse jeito? Eu nunca me senti assim antes, com nenhuma mulher. Mas com ela foi diferente, ela faz eu me sentir diferente, talvez mais feliz, mais animado, com mais ânimo para fazer as coisas. Ouvir seu nome me fazia sentir algo no estômago, ouvir sua voz me fazia arrepiar, um simples toque dela é o suficiente para me fazer perder a noção de tudo.
- Obrigada, eu... Murilo do céu, faltam dez minutos para o fim da prova. Todo mundo já está finalizando e nós não terminamos ainda. Não vamos conseguir entregar.