Sete Meses (SasuHina)

By HinnaCRF

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[EM REVISÃO] "Casamento Arranjado: Clãs de Grande Peso. O Hokage estará proibido de interferir em todo e qua... More

Intro
Primeira Fase - Capítulo I
Primeira Fase - Capítulo II
Primeira Fase - Capítulo III
Primeira Fase - Capítulo IV
Primeira Fase - Capítulo V
Segunda Fase - Capítulo I
Segunda Fase - Capítulo II
Segunda Fase - Capítulo III
Terceira Fase - Capítulo I
Terceira Fase - Capítulo II
Terceira Fase - Capítulo IV
Terceira Fase - Capítulo V
Quarta Fase - Capítulo I
Quarta Fase - Capítulo II
Quarta Fase - Capítulo III
Quarta Fase - Capítulo IV
Quarta Fase - Capítulo V
Quarta Fase - Capítulo VI
Quarta Fase - Capítulo VII
Quarta Fase - Capítulo VIII
Quarta Fase - Capítulo IX
Quarta Fase - Capítulo X
Quinta Fase - Capítulo I
Quinta Fase - Capítulo II
Quinta Fase - Capítulo III
Quinta Fase - Capítulo IV
Quinta Fase - Capítulo V
Quinta Fase - Capítulo VI
Quinta Fase - Capítulo VII
Sexta Fase - Capítulo I
Sexta Fase - Capítulo II
Sexta Fase - Capítulo III
Sexta Fase - Capítulo IV
Sexta Fase - Capítulo V
Sexta Fase - Capítulo VI
Sexta Fase - Capítulo VII
Sexta Fase - Capítulo VIII

Terceira Fase - Capítulo III

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By HinnaCRF

[REVISADO 20/09/2021]


— Não me incomodo, Hinata. — Fechou os olhos antes de afirmar, escutando o suspiro aliviado dela.

De fato, não se incomodava mesmo... Até poderia fazer o esforço de se adaptar a chegar mais cedo apenas para acompanhá-la repetindo aquele gesto todos os dias.


SETE MESES

TERCEIRA FASE

III


Maio ~ 2º Mês

Por mais que o vento estivesse gelado naquela manhã de terça-feira, ainda assim, o clima se mantinha agradável, bem diferente da face do Uchiha que, sisuda, se mostrava de saco cheio de tanto falatório. Aquela terça também não se tratava de uma terça qualquer, ela sinalizava a entrada de maio. Logo completariam o primeiro mês de casados, coisa que nem perceberam.

— Então, me diz, o que você acha? — Animada e com as pérolas brilhando, Hinata parecia engajada na tarefa de persuadi-lo.

— Acho que você está falando muito. — O corte veio acompanhado pelo péssimo humor do rapaz.

Não era uma crítica, era uma constatação, e tudo isso se devia ao inferno das compras. Não queria ir, não mesmo, mas a sua esposa com aquele jeitinho meigo e calmo encheu a sua paciência, afirmando que seria divertido aproveitar a folga dela para abastecer a casa, que acabou o vencendo pelo cansaço.

Mas essa não era a pior das aporrinhações, não mesmo. O pior de tudo era o fato de ela não permitir que ele carregasse mais que duas sacolas. Duas sacolas inúteis e praticamente vazias. Vazias. Uma com uma dúzia de ovos e outra com um pacotinho de arroz. Por que? Ah, porque não tinha o outro braço.

Ela carregava tudo dividindo todo o peso entre as duas mãos como se ele fosse um completo inválido, e isso o irritava além da conta.

— Me dê outra. — Era uma ordem que não foi obedecida.

A morena fingiu não tê-lo ouvido por pura implicância, o que o importunava ainda mais. Poderia simplesmente puxá-la para si e usar o teleporte, contudo, quando se tem apenas uma mão e ainda carrega as inúteis sacolas nela, pois é.

— Anda, Hinata!

Derrotada, a jovem suspirou. No fim, analisou as que carregava consigo e escolheu uma, especial, para ele.

— Toma. — Ela a estendeu ao companheiro que franziu o cenho.

— Uma sacola com quatro tomates? — questionou-a quando na verdade queria esganá-la.

— Tem uns seis ou sete. — rebateu o corrigindo com naturalidade antes de acrescentar: — São seus mesmo.

— Hinata! — O grunhido chamou a atenção dos que passavam ao redor. — Me dê a mais pesada!

— Não! — Movendo a cabeça em negação, ela se recusou. — Não vou te sobrecarregar. — Então, apertou os lábios e desviou o olhar. — Se você tivesse o outro, seria outra coisa.

O Uchiha travou o maxilar com a certeza de que, antes de esganá-la, massagearia as têmporas, mas não podia! Aquela mulher teimosa — sua mulher — tentava convencê-lo há dias sobre o tal implante e ele recusava há dias a tal possibilidade.

— Eu me sinto bem assim, Hinata. — Esperando que um milagre acontecesse e ela parasse com aquele papo, deu de ombros.

— Duvido. — Firme, a parceira replicou: — Duvido muito, Sasuke.

— Por que? — A sobrancelha arqueou em um claro desafio. Algo como um "convença-me".

— Tudo fica mais difícil! — exclamou desviando das pessoas que vinham na direção contrária. — Você não consegue nem colocar a própria capa direito!

— E qual é o problema disso? — Dobraram uma das esquinas lado a lado. — Não é nada que eu não saiba.

— Sei que faz falta, Sasuke. — A chatice dela era tão clara quanto a óbvia intenção de ajudá-lo e isso, mesmo sendo contra a sua vontade, lhe dava a sensação boa de ser cuidado por alguém. — Convivo com você, lembra?

— E daí? — Carrancudo, o Uchiha continuou impassível numa luta interna e externa. — Ninguém manda você se meter quando estou fazendo as coisas.

— Quando está tendo dificuldades! — endireitou, resistente e determinada. — Deixa de ser ranzinza.

— Eu não sou ranzinza. — Convicto, o resmungo soou como o de um idoso, o que a fez rir.

— Imagina se fosse. — Irônica, a morena soltou uma gargalhada.

O som divertido e melodioso dela atraiu a atenção do seu cônjuge que, sério, se voltou à esposa. O sorriso lindo que ela abriu para ele trouxe um miúdo aos lábios do rapaz. Aquela troca de sorrisos cúmplices foi o suficiente para que a moça, sorrateira e perseverante, se aproximasse.

— Hein, Sasuke, eu seria a médica responsável... — O ex-nukenin suspirou revirando os olhos. Queria morrer. — Eu estaria lá, na sua cirurgia.

E lá iam eles, de novo.

~ x ~

Enquanto Hinata retirava pacientemente as compras da sacola, Sasuke, sentado, a examinava em silêncio. Mesmo com toda a mordomia que a kunoichi provavelmente tivera durante toda a vida como herdeira e primogênita dos Hyuuga, ainda assim, ela era uma mulher esforçada e ligada às tarefas de casa.

— Eu vou passar na costureira — Não precisava completar, uma vez que o rapaz sabia que a sua intenção era encomendar mais roupas com o leque dos Uchiha. — e depois pretendo encontrar os meus amigos na praça dos Aburames. — Uma pequena pausa aconteceu por culpa da falta de foco dela, que pegou um enlatado e leu o rótulo. Após isso, continuou: — Shino-kun e Kiba-kun. — O nome do Inuzuka ecoou na mente do shinobi causando um rebuliço interno nele que, estranhamente, se mostrou mais atento ao que a parceira falava. — Quero voltar antes do jantar.

— Kakashi vai me prender pelo resto do dia. — Por mais que não morasse sozinho há quase um mês, ainda lhe soava diferente ter alguém para compartilhar informações ou dizer onde ia. — Não sei que horas volto. — Era um aviso indireto de que talvez não pudesse buscá-la.

— Tudo bem, não faz mal. — De dentro da sacola, Hinata puxou o frasco do novo hidratante que havia comprado e mentalmente o seu cônjuge se questionou sobre quando ela o usaria, qual seria o cheiro dele e se ele seria tão gostoso quanto o outro. — Kiba-kun ficou de me trazer.

— Hã? — O timbre rouco do ex-patife subiu alguns níveis e a sobrancelha dele se ergueu o máximo que pôde. Que história era aquela?

— Bem... — Foi inevitável não se encolher diante daquela reação bizarra. Ele não tinha gostado nada daquilo, certo? — É que ele quer conversar sobre o aniversário dele. — O moreno estreitou os olhos e ela continuou: — Quer adiantar os preparativos mesmo faltando um tempo razoável ainda, entende?

— Hm.

O silêncio que invadiu o cômodo após aquele ruído desgostoso foi extremamente desconfortável. Não por Sasuke aparentar ter problemas com Kiba, mas pelo clima pesado que pairava agora entre eles. Era difícil imaginar que talvez o seu marido estivesse chateado com ela. Era meio angustiante.

Aflita e indecisa, ela o analisou discretamente por alguns segundos. O Uchiha, que era sempre tão fechado e implacável, se mostrava incrivelmente zangado. Ela, desejando ter a mínimo de coragem para falar com ele, encheu os pulmões de ar num exercício que visava manter a calma, mas só se viu capaz de emitir algum som quando os seus olhos cruzaram com os dele.

— Está... bravo? — Hesitante e em pausas, ela mordeu o lábio. — Falei algo que não devia?

— Não. — O guarda-costas do Hokage franziu o cenho sem ter a mínima noção do quanto a sua face tinha se transformado. — Por que?

— Ah, por nada. — Um sorriso contido se formou. Era só impressão mesmo. — Sabe que está convidado, não é...? É meu... marido.

— Tsc. — Arqueou a sobrancelha, ranzinza. — Não me interessa. — E desapareceu diante das íris peroladas.

A morena suspirou.

Talvez ele não gostasse de Kiba mesmo.

~ x ~

Pela janela do escritório do Hokage, o Uchiha impaciente assistia a movimentação das ruas diminuindo conforme a noite chegava. Kakashi tinha recebido uma convocação de última hora e o deixou em seu lugar, fazendo-o assumir temporariamente as suas responsabilidades. Tinha certeza de que a tal reunião já havia sido concluída, porém, nada dele. Nem um mísero sinal, o que não era novidade.

Seus olhos voltaram a percorrer o mapa aberto sobre a mesa de madeira. Durante toda a tarde, traçou rotas possivelmente seguras que precisavam ser avaliadas e aprovadas pelo líder geral, mas cadê aquele irresponsável? Balançou-se em reprovação quando mirou o relógio da parede. Sete e meia.

Não poderia buscá-la.

— Tsc.

— Ah, Sasuke! — Animado, o Hatake empurrou a porta já adentrando o espaço. — Ainda bem que não foi embora!

— Está atrasado. — Enfezado e rabugento, se queixou enquanto dava a volta ao redor da mesa.

— Eu precisei ajud...

— Me poupe, Kakashi. — O pupilo assistiu o sorriso ladino do sensei. — Não quero saber.

— E então? — Acomodando-se na poltrona confortável, trocou de assunto. — Conseguiu algo? — Observou as marcações feitas pelo Uchiha.

— Talvez. — O dedo indicador apontou um caminho através dos desenhos do mapa. — Essas duas me parecem as mais estáveis, principalmente se colocarmos bons ninjas de guarda lá.

— Entendo. — O homem murmurou e apoiou os cotovelos na mesa. — Mas essas duas não estão bloqueadas?

Sasuke estreitou os olhos e voltou a mirar o mapa. De fato.

— Desbloqueamos. — Ele ergueu a sobrancelha, certo de que não daria o braço a torcer.

— Sasuke — Ajeitou-se inclinando o corpo para a frente. —, o que está acontecendo?

— Hm? — O Uchiha exprimiu, interrogativo.

— Desbloqueamos? — repetiu a resposta do aluno e relembrou: — Você sabe que não podemos fazer isso. — Uniu as mãos e escondeu a própria boca. — Onde está com a cabeça?

De pé e ciente de que a indagação do seu mestre fazia sentido, o ex-nukenin prendeu o suspiro que queria escapar.

— Não sei. — Os dedos corrigiram a capa nos ombros e os seus passos levaram-no à porta.

— Como não sabe? — insistiu com firmeza. — Tirando o Shikamaru, você é o melhor estrategista que tenho.

— Vejo isso com calma depois. — afirmou antes de acenar com a mão direita. — Estou indo.

— Apressado assim? — Sabia que Sasuke se esquivava da sua pergunta, mas não o deixaria fugir. — Para onde?

— Buscar a Hinata. — Aquela era A resposta, e o Hatake entendeu isso.

— Ah, a Hinata... — Balançou-se positivo. — Entendi.

— Entendeu o quê? — Azedo, retrucou ao olhá-lo de soslaio. Conhecia o sarcasmo de Kakashi e ele estava ali.

— É mesmo! — exclamou para si numa comprovação. — Você tem falado bastante dela. — Estreitou os olhos, desconfiado. — Ela é o motivo da sua desatenção, Sasuke?

— É um contrato, Kakashi! — Raivoso, virou-se de vez para o professor.

— E eu disse que não era? — rebateu irônico. — Não me lembro disso.

— Tsc. — Sasuke estalou a língua em desgosto, desviou o olhar e sem nenhum resmungo, desapareceu.

Não precisava de muito para saber. Então era em Hinata que ele andava com a cabeça? Tinha nexo. O rapaz não costumava falar de outras pessoas, porém, após o casamento, a Hyuuga era o maior motivo das suas reclamações mordazes.

Um sorriso pequeno surgiu nos seus lábios.

— Ora, ora... Que interessante.

~ x ~

Mesmo cogitando a possibilidade de que talvez Hinata já tivesse ido para casa na companhia daquele detestável Inuzuka, o Uchiha seguia na direção da praça apontada por ela. Ao dobrar uma das esquinas próximas do local, escutou as vozes do trio que se divertia por culpa de algum assunto engraçado.

Ao longe, avistou a sua delicada esposa brincando com Akamaru que parecia bem íntimo dela. No seu lado direito, Kiba se localizava, e no esquerdo, Shino. Deu mais alguns passos silenciosos buscando não chamar a atenção, mas sabia que não demoraria muito para que o animal os alertasse da sua presença.

— Hinata.

O chamado rouco fez com que os três olhassem para o ex-patife que se mantinha superior e inatingível. A morena se desvencilhou do cão e, com um sorriso, andou até ele. Pelas suas costas, Sasuke percebeu que os outros vinham atrás dela e, naquele instante, ele se perguntou sobre o momento em que tinha os chamado também, mas enfim.

— Não imaginei que viria...

Repentinamente ele contornou o pescoço feminino e a puxou, depositando-lhe um beijo rápido. Ela corou, e muito.

— Kakashi me liberou. — Sentindo os pares de olhos o encarando, comentou depois de soltá-la. — Estou indo para o distrito. — Foi um convite que todos entenderam.

— Eu vou com você! — Hinata se animou com a ideia e se virou a fim de se despedir. — Na minha próxima folga nós continuamos.

— Ah, ainda está cedo, Hina-chan. — Com uma intimidade desnecessária, o Inuzuka se aproximou da mulher. — Fique mais um pouco e eu te levo quando quiser ir.

Aquela mão abusada deslizou pelo braço da kunoichi e Sasuke fechou o semblante de imediato. Aguardou ansioso e sedento pelo momento que o seu olhar se encontrasse com o de Kiba e, quando aconteceu, ele ergueu a sobrancelha, deixando claro que, se continuasse a tocando, o cemitério da Folha ganharia uma nova lápide.

Intimidado com o olhar colérico recebido, o jovem não hesitou em soltá-la. Com uma frieza explícita e buscando esconder o próprio desgosto, o Uchiha girou os calcanhares e prosseguiu devagar ao distrito. Se ficasse ali mais tempo, voaria naquele filho da mãe atrevido.

Após acenar, a médica correu atrás do seu parceiro e, ao alcançá-lo, expôs um sorriso ingênuo no rosto enquanto seguia ao seu lado.

— Obrigada por vir me buscar. — As bochechas avermelharam por conta do agradecimento tímido.

— Talvez você preferisse ir com o Inuzuka. — Ele não queria, mas saiu. Foi impossível conter aquela resposta ácida e afiada.

Hinata inclinou o rosto para ele sem compreendê-lo bem e o rapaz a mirou pelo canto dos olhos. Observaram-se em silêncio, analisando um ao outro por um curto espaço de tempo. A ideia de ele sentir ciúmes passou pela sua cabeça, mas não tinha como, não é?!

— Eu vim com você, certo? — A argumentação deixava nas entrelinhas que ele era o seu escolhido.

— Sim. — E voltou a olhar para frente.

Avançaram em total quietude, dando de ombros aos demais. Como sempre os olhares voltados aos dois continuavam em sua grande parte agressivos, mas já tiravam aquilo de letra. Na verdade, depois de conhecê-lo melhor, a herdeira soube que ser esposa daquele homem era motivo até mesmo de orgulho, para ela.

Próximo dos portões dos Hyuuga, o vento soprou com mais intensidade como se aquela fosse a sua repreensão à moça que não havia se preparado para o gelo da noite. Os pêlos finos se arrepiaram devido ao frio momentâneo fazendo com que as mãos pequeninas tocassem os braços descobertos com a finalidade de esquentá-los.

Discreto, o Uchiha já havia percebido a temperatura e, observador como era, também imaginava que Hinata com toda certeza passaria um bom perrengue com aquela roupa pelada*. Mesmo que os seus passos continuassem, ele a questionou:

— Qual o problema? — Olhando-a de esguelha, se fez de desentendido.

— Bom... — Como se tivesse sido pega no flagra, ela murmurou: — Eu vim desprevenida hoje. — O rubor existente no rosto dela e na altura do pescoço parecia maior que o normal. — Estou com um pouco de fri...

Antes de deixá-la finalizar, ele revirou os olhos e soltou os botões da capa negra que vestia normalmente. Sob o olhar interrogativo da companheira, o jovem retirou a veste e a arremessou nada carinhoso por cima da cabeça dela.

— Sasuke! — O nome veio em tom de repreensão, no entanto, quando o seu olhar cruzou com o do seu marido, percebeu que ele ostentava um ar travesso no rosto. — Não jogue assim. — Ela acabou por rir, uma vez que ele parecia uma criança arteira.

Da maneira que pôde, a ninja se ajeitou antes de cruzar os braços sobre os seios e se esquentar no tecido grosso e confortável. Mordeu o lábio e o seu coração disparou quando o cheiro amadeirado passou a envolvê-la. Era agradável mesmo...

— Vista isso direito, lerda. — A voz rouca e implicante a trouxe de volta.

— Ah! Não trate a sua esposa assim! — Ela o empurrou de leve, chocando o braço contra o dele.

— Tsc. — Ele arqueou a sobrancelha e voltou a olhá-la de canto. — Esposa, sim. — O tom saiu debochado e um sorriso ácido apareceu. — Para ser esposa ainda faltam algumas coisas, Hinata.

As pérolas se arregalaram incrédulas pela malícia estampada na resposta dele. Certo de que ela continuaria o encarando com aquela cara de idiota, voltou a olhar para frente como se nada tivesse acontecido.

— ... — Muda, a moça não soube o que dizer. — Eu não acredito que você disse isso... — Abafando a risadinha sem graça, ela escondeu a boca com a mão.

Um sorriso miúdo reapareceu nos lábios do ex-nukenin. Era divertido provocá-la.

~ x ~

Já deitados em suas camas, os dois ainda permaneciam acordados. À distância, Sasuke estudava as costas da sua esposa na penumbra do quarto. Naquelas semanas de convivência, poderia arriscar que Hinata tinha se tornado uma boa companhia. A personalidade quieta e de fala mansa que ela possuía casava perfeitamente bem com a sua, reservada.

Em tantos anos, nunca viu a sua moradia ser tão bem organizada e onde aquela mulher colocava as mãos, ela fazia com boa vontade, carinho e dedicação. Agora ela evitava virar plantões visando não deixá-lo sozinho e todas as responsabilidades da casa eram dela. Era sempre ela.

Por sua vez, o Uchiha, quando recebia folga ou chegava durante o preparo das refeições, sempre estava lá, com ela, acomodado na banqueta e lhe fazendo uma companhia muda, afinal, para eles que adoravam o silêncio, apenas saber que o outro permanecia por perto já era o suficiente.

Ainda que fosse fora de cogitação confessar aquilo, viu-se pensando no momento em que Hinata entrou na sua vida e como ela conseguiu ser tão bem-vinda nela. E quando havia se tornado tão importante? Tinha tantas dúvidas e tão poucas respostas. Pretendia pensar mais e matutar sobre, no entanto foi inevitável não notar um dos pássaros mensageiros pousando na sua janela.

Ignorando os últimos pensamentos, se levantou depressa, uma vez que aquilo poderia significar algo grave e atravessou o quarto. O som do vidro sendo erguido chamou a atenção da morena que se virou para ele, curiosa sobre o que acontecia. O pássaro voou indo diretamente ao ombro de Hinata, o que surpreendeu aos dois.

— Kai. — Com o semblante sério e expelindo confiança, a médica liberou o acesso ao documento existente ali e o ex-nukenin reconheceu que ela, naquele instante, nem parecia a mulher frágil que ele sabia que era.

A moça desdobrou o papel e, ao olhá-lo com a atenção, a sua boca se abriu e ela se pôs de pé em um pulo. De camisola mesmo, desceu as escadas em um pânico explícito sendo seguida pelo seu parceiro que, perdido, não entendia nada. Ao chegar na porta, avistou a companheira sendo recebida por um ANBU.

— Por favor! — A voz chorosa rompeu a calmaria da noite e ela sumiu junto do shinobi.

Sasuke retornou para o quarto e, de frente para o papel aberto e jogado pela cama, ele se inclinou e desvendou a mensagem escrita muito provavelmente por Sakura.


"Fizemos o possível, mas ela não aguentou.

Sinto muito, Hina."


— Tsc.

Não precisava de mais nada. O teleporte era mais que o necessário.

~ x ~

— Onde ela está? — questionou na recepção sobre o paradeiro da sua esposa.

— Na sala dela. — Era Kaede, a senhora que costumava ficar a noite. — Ela precisa de você, Uchiha-san.

As palavras da funcionária foram o suficiente para que as suas pernas trabalhassem como nunca antes. O shinobi invadiu o consultório, encontrando-a de costas e sendo amparada por Sakura, inconsolável. Ciente de que nenhuma das duas havia o percebido, o moreno se aproximou e capturou a sua esposa, a trazendo para ele em um ato repentino que chamou a atenção da Haruno.

Sasuke a ofertou um abraço mudo e repleto de afeição e Hinata, identificando o cheiro tão familiar e confortável, se agarrou ao corpo masculino aceitando aquele bálsamo e desabando completamente. No automático a mão grande pousou na cabeça dela, a afundando mais contra o seu peito, permitindo-a chorar o quanto quisesse, enquanto apoiava o próprio queixo no topo da cabeça da moça.

Para ele aquilo era muito estranho. Desde o encontro deles na floresta, quando a kunoichi o socorreu, nunca haviam trocado uma única frase sequer e agora ele estava lá, casado com ela, acomodando-a em seu abraço sincero e terno. Ele estava lá a consolando apenas por se importar? Apenas por ela ter se tornado uma peça chave?

As incertezas tomaram a sua mente, mas ele optou por deixá-las de lado somente para apertar ainda mais aquela mulher naquele contato tão simbólico e aprazível. Com carinho, Sakura percebeu que o companheiro, concentrado, talvez nem tivesse notado que ela ainda permanecia ali e, como alguém poderia desconfiar deles? Sasuke estava nitidamente diferente e essa mudança se devia a uma única pessoa: Hinata.

Escutou os soluços altos da amiga, reparando na maneira como ela o segurava e na forma como ele a pressionava contra si. Imaginou que era hora de ir, entretanto, o pedido do rapaz à esposa a fez ficar.

— Olhe para mim. — Hinata se moveu em total negação. Por algum motivo ainda desconhecido, ela se sentia horrível e não queria que ele a visse em tal estado. — Hina.

O uso do apelido que era normal entre os mais próximos dela soou incrivelmente especial na voz rouca dele. Tão especial que funcionou. Um tanto surpresa, a herdeira tomou uma pequena distância e ergueu a cabeça, o olhando. Ele tinha um sorriso curto e quase imperceptível, mas que a jovem pôde enxergar graças à proximidade dos seus rostos. E foi bom. Era bom ver que a sua esposa tinha compreendido a sua pequena e rara demonstração de carinho, já que tal tarefa era meio impossível para ele.

Admirou as pálpebras inchadas, as íris claras mais brilhantes e o rosto molhado. Internamente se certificou de que ela continuava tão linda quanto antes. Fitou os lábios e se curvou de repente beijando-a na boca. Um toque simples, mas com uma mensagem reconfortante nítida. Quando as bocas se separaram depois daqueles poucos segundos, a intenção nobre do Uchiha se tornou visível.

— Parou de chorar. — Ainda com aquele sorriso curto, ele disse sem se permitir olhar para outro ponto que não fosse as pérolas dela.

Apesar de a situação não ser a mais apropriada, Hinata viu-se impossibilitada de não reparar no quão lindo Sasuke era de diversas maneiras. Como se ele tivesse um ímã que a puxava sem esforço, a morena desviou o olhar buscando se recompor ou ignoraria tudo que se passava ao seu redor.

— Ayase-chan era tão nova... Tinha uma vida inteira pela frente. — Lamentosa, expressou em meio às lágrimas que pareciam mais controladas.

— Você fez o que pôde. — Mesmo séria, a voz rouca apresentou uma suavidade tão enorme que Sakura apenas deixou a sala. O consolo que a amiga precisava já estava com ela.

— Eu sei, mas... — Um sorriso triste brotou nos seus lábios e a sua mão buscou tocar o parceiro no rosto, contudo, ela desistiu no meio do trajeto. O ex-nukenin, percebendo a intenção dela, soltou-a e capturou a mesma mão completando o que ela pretendia fazer. Se Hinata precisava de um toque para se sentir melhor, que fosse. Ele permitiria daquela vez. — Obrigada, Sasuke. — Ela pressionou os lábios e, com o polegar, deslizou-o pela bochecha pálida dele. — Obrigada por estar aqui... comigo.

— Sou seu marido. — Ainda que a frase pudesse ter soado como uma obrigação, ele quis dizer que estaria ao lado dela, e ela entendeu isso. — Vamos embora.

Hinata assentiu e o rapaz desabotoou a própria capa passando a envolvê-la também, o que foi muito apreciado pela sua esposa. Os dois passaram abraçados pela recepção e ali, toda e qualquer dúvida foi dissipada. Não fazia sentido o tal boato de serem um casal falso, de acordo com os olhares dos presentes.

Ao chegarem em casa, o Uchiha se manteve abraçado na sua mulher como o suporte que ela precisava. Ajudou-a a subir as escadas e se amaldiçoou por não ter o outro braço. Agora sim sentia falta dele. Se o tivesse, poderia carregá-la no colo até o quarto e depositá-la sobre a maciez da cama. Acompanhou-a até o banheiro onde ela resolveu tomar um banho e o rapaz a esperou para usar o cômodo depois.

Ao sair do banheiro, notou-a encolhida fortemente abraçada às próprias pernas, e isso o fez se acomodar por trás dela, buscando apenas resguardá-la. Apagou a luz e o silêncio junto da escuridão do quarto surtiu efeito, e Sasuke cochilou emaranhado na sua esposa por pouco mais de meia hora.

Ao despertar repentinamente, Hinata estava agarrada ao seu corpo e dormia virada para ele. A franja caía pelo rosto inchado e os fios azulados decoravam o travesseiro claro. Cogitou se desvencilhar dela e ir para a própria cama, todavia, corria o risco de acordá-la e não queria isso.

Por fim, fechou os olhos e discreto, como se alguém pudesse julgá-lo, ele se aninhou na parceira como podia, puxando-a mais para si e apoiando o rosto na cabeça dela. A quentura que a sua mulher exalava era realmente deleitável.

Longe de qualquer malícia, aquela foi a primeira noite que os dois dividiram a mesma cama.


Continua...




*Pelada: No RJ, quando eu usava roupa muito aberta, diziam que eu estava pelada hauahauahau Quer dizer algo como tu estar com roupas mais abertas. No caso da Hinata, a blusa não tinha mangas.

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