Blair não lembra muito bem o que ocorreu depois do acidente, o anestésico a fazia se perder dentro de sua própria mente, como se nada mais fosse real. Ela lembra de ver Tony e Steve discutindo dentro de uma sala enquanto Sam cuidava dela, com um rosto extremamente preocupado.
— Isso está mesmo acontecendo, Sam? — Ela pergunta com sua voz grogue.
— Infelizmente, garota, mas vai dar tudo certo.
— Natasha está bem?
— Sim, ela está bem. — Ele coloca a sua mão na dela e Blair consegue sentir o medo dele, exatamente o mesmo medo que sentia — Está preocupada com você na verdade.
Blair ouvia os gritos da discussão acalorada de dentro da sala, mas não conseguia decifrar sobre o que estavam falando. Tudo estava extremamente estranho e caindo aos pedaços, e a única reação de Blair foi rir.
— Que isso Blair, o que eles te deram? — Sam fala sem entender.
— Eu ferrei tudo, Sam. — Ele assusta ao ver essas palavras sendo ditas por Blair e ela ri novamente — Eu sei disso, agora eles estão discutindo se me internam ou vão olhar enquanto eu termino de destruir o resto.
Tony e Steve saem da sala, Steve parecia derrotado emocionalmente e olha para Blair com os seus olhos de filhote doente. Tony senta ao seu lado e Sam se afasta, sem antes bagunçar o cabelo de Blair como sempre fazia.
— Você não pode ficar mais aqui, Blair, não é seguro para você — Tony começa a explicar — Vou te levar para um lugar seguro, onde vamos te ajudar.
Blair começa a rir e no meio dessas risadas lágrimas passam a escorrer pelo seu rosto.
— O que você deu a ela, Tony?
— É a mistura de Strucker... — Ele responde sabendo que iria se arrepender.
— Como assim? Você sabe o que isso nos torna?
— Preciso garantir que ela vai chegar ao centro de pesquisas sem causar outro acidente, Rogers. Eu ainda não consegui desenvolver algo semelhante.
— Tony! Não podemos simplesmente ficar dopando a garota! Isso não vai resolver nada! — Steve encosta sua mão na dela, e por um segundo Blair conseguia sentir o desespero misturado com tristeza, mas também o quão perdido estava.
— Também não podemos ficar brincando com poderes como esse! A qualquer momento ela pode matar alguém!
— Stark! — Steve o repreende, não queria que Blair ouvisse isso, mas ela já havia caído em seu sono há muito tempo, sem saber onde iria acordar.
Steve se ajoelha ao seu lado, segurando com ambas as mãos a dela.
— Eu sinto muito, Blair. Queria saber como te ajudar.
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Já fazia um mês em que Blair estava no centro de pesquisas Stark, sendo estudada diariamente pelos médicos e pelo próprio Tony. Ele vinha todas as semanas e explicava o progresso, o quase sempre era uma droga que poderia suprimir seus poderes.
Ela não tinha contato nenhum com o mundo externo, as vezes a liberavam para ir na sala de recreação ver televisão, mas o resto do dia a garota ficava em seu quarto lendo algum livro. Entretanto, logo eles passaram a testar os efeitos das drogas em seu corpo, os quais eram os piores possíveis para ela, mesmo tendo o resultado desejado.
Assim que a droga entrava em seu corpo Blair sentia sua cabeça doer, como se quisessem colocar um capacete muito pequeno. Seu corpo ficava mole, tudo parecia girar e ela só conseguia passar o dia deitada em sua cama.
— Não aguento mais... — Ela suspira para Tony, quando ela não tinha forças para o encontrar na sala de recreação.
— Nós estamos tentando ajustar o medicamento para ter menos efeitos colaterais em seu corpo.
— Apenas bloquear meus poderes?
— Sim...
— E se eu não querer os bloquear?
— Blair...o que você com Natasha...o que poderia ter ocorrido com os Bartons. Eu sei que os seus poderes são parte de você, mas eles o colocam todos ao seu redor em perigo.
— E se eu conseguir os controlar?
— Isso já foi tentado, e resultou em você quase matando Natasha.
Blair vira de costas para Tony, ele respira fundo e sai do quarto.
Ela não conseguia pensar, sua cabeça doía demais para isso. Mas o sentimento era real, de dúvida e incerteza. Blair sentia que aquele quarto branco era apenas outra prisão, mesmo querendo acreditar que talvez isso seja somente o necessário para o bem de todos. De todos, e se o bem maior a obrigasse a viver desse jeito? Trancada em uma sala branca e drogada?
Os Vingadores estavam lá fora em algum lugar lutando pelo bem maior, e se eles fossem obrigados a matá-la pelo bem maior? Eles hesitariam?
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Blair estava sentada na sala de recreações vendo televisão, fazia um dia em que não injetaram o inibidor em seu corpo, talvez esqueceram mas ela não se importava, pois ela finalmente teve forças para sair do seu quarto. O mundo não havia mudado nesses meses, ela havia perdido a noção de tempo ao observar sempre as mesmas paredes durante tanto tempo, e sem a televisão o mundo externo ficou cada vez mais distante.
Mesmo com os inibidores os seus poderes ainda existiam, pelo menos os mais simples como Tony dizia. Ela movia objetos pequenos basicamente, mas o resto estava bloqueado. Blair ainda tinha acesso a tudo, mas precisava fazer muito mais esforço para isso, ou seja, uma excruciante dor de cabeça.
Ela decide ver as notícias procurando por alguma ação dos Vingadores, sentia saudades dos seus dias ao lado deles, de rir com Wanda do Sam e ouvir os ensinamentos de Steve. Foi quando ela os vê na televisão, principalmente o rosto de Wanda estampado em todos os canais de notícia. Um prédio em chamas na Nigéria, alguma ação dos Vingadores que resultou nessa explosão e dezenas de mortos.
Como se tudo fosse planejado, Tony entra na sala alguns minutos após Blair ver o acontecimento.
— O que aconteceu?
— Isso é o que pode acontecer quando pessoas sem controle dos seus poderes agem. E é exatamente isso o que estou evitando ao mantê-la aqui.
— O que vai acontecer agora, Tony? — Blair pergunta mutando a televisão.
— O governo planeja chamar de "Tratados de Sokovia" — Tony senta ao seu lado limpando o seu óculos. — Vai ser uma lei para regulamentar a ação dos então chamados heróis. — Ele respira fundo — Precisamos confessar, Blair, mesmo tentando agir para salvar o mundo sempre acabamos matando muita gente no meio do caminho.
— Ninguém deveria ter tanto poder assim, de poder mudar o destino da maioria — Blair suspira vendo as imagens na televisão.
— Blair, Steve Rogers não concorda com o nosso pensamento. Ele acredita que essas perdas foram o preço necessário para salvar o todo. Não sei como ele iria dizer isso para os pais dos filhos que morreram.
A cabeça de Blair doía incessantemente e nesse exato momento tudo parecia piorar. Ela via o que Wanda havia feito, a pessoa que admirava, a qual desejava ser, havia perdido totalmente o controle. Se ela havia perdido o controle, imagina Blair? Blair lembra de Sokovia, da destruição em massa, lembra de Pietro...
E ela lembra de Steve Rogers, sempre se colocando em situações extremas para o bem maior. A garota então olha para Tony, seu olhar de cansaço era evidente.
— Nossas ações não afetam somente a nós, Blair...
— E agora?
— Eu não sei, Blair...mas tenho um pressentimento ruim sobre isso. — Tony segura a sua mão, tentando transmitir confiança, e Blair sente a sua confusão, sente a dor dentro dele. Talvez seus poderes ainda estavam aqui. — Mas eu não vou deixar isso acontecer com você. Não se preocupe.
Blair desvia o olhar, sem saber onde colocar sua confiança. Totalmente sem rumo. O que deveria fazer?
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Steve e Tony estavam dentro do centro de operações do governo em Budapeste após o incidente nas ruas enquanto Capitão e Sam buscavam por Buck. Em algum lugar daquela instituição Bucky estava sendo mantido prisioneiro e tudo que Stark pensava era em como conter os danos e apenas fazer Rogers assinar o maldito acordo. Ele apenas não entendia como Steve conseguia ver o mundo mais seguro sem o acordo. Tony via em si muito poder para brincar com o destino do planeta, apenas queria dividir essa responsabilidade.
Todavia, enquanto Tony discursava o Capitão apenas lembrada da Hydra, a quantidade de poder nas mãos de um governo com objetivos errados. Se ele assinasse e o Estado o mandasse fazer alguma coisa que fosse errado, ele seria legalmente obrigado a agir. Há muito tempo atrás ele acreditou no país, no governo, agora apenas acredita no povo e no que fazer para os manter seguro.
— Precisamos de você, Cap — Tony tenta pela última vez — Não houve nada que não possa ser desfeito. Por favor, assina. Podemos legitimar as últimas quatro horas e Barnes irá para uma alá psiquiátrica em vez de uma prisão em Wakanda.
Steve pega a caneta que Tony trouxe para selar o acordo, levanta de sua cadeira e tenta ponderar suas opções, as quais não eram as melhores. Poderia manter seus valores e ir preso, assim como seu melhor amigo, ou ser quase livre e seu amigo ser tratado.
— Não estou dizendo que é impossível, mas terá que ter garantias.
— É claro! — Tony responde com um sorriso em seu rosto, havia vencido. — Uma vez que apagar o incêndio estes documentos podem ser alterados — Ele senta na mesa preparando já os papéis — Assim que assinar farei com que você e Wanda sejam reintegrado.
— Espera...o que tem Wanda?
— Ela está bem, apenas confinada. Visão está com ela.
— Deus, Tony! Toda vez que eu acho que está vendo... — A verdade entra no coração de Steve, talvez nunca mais seria possível confiar em seu amigo. — Eu não consegui fazer nada quando você resolveu internar Blair e usar como experimento, mas você não pode ver isso como uma saída para todos os seus problemas.
— O quê? São 100 acres com uma piscina para Wanda e proteger Blair que mate os outros e a si mesma. Há formas piores de proteger as pessoas
— Proteger? É assim que você vê? Isso é proteção? É internamento. Você não me deixa nem visitar Blair!
— Elas não são americanas! E não há vistos para armas de destruição em massa!
— Ela é uma criança!
— Dá um tempo! — Ele grita intensamente — Estou fazendo o que tem que ser feito para nos salvar de algo pior
— Continue dizendo isso a si mesmo então. — Steve fala e saí da sala de reuniões.
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Após uma confusão Sam, Steve e Bucky conseguem escapar do instituto e de Bucareste, mas precisavam se esconder da lei. Eles encontram uma garagem abandonada e se escondem até terem algum plano em com ir até a base da Hydra na Sibéria, mas precisariam de aliados dispostos a lutarem para isso.
Steve não queria ligar para Clint, ele havia se aposentado, mas não havia escolhas.
— Estou dentro — Clint responde pelo telefone logo após ouvir a situação — O que precisa de mim?
— Preciso que liberte Wanda e Blair.
— Espera, Blair? O que aconteceu com ela? — A voz dele muda quando ouve o nome dela, indo de agente focado para pai preocupado.
— Tony está a mantendo na Torre Stark faz seis meses, não posso visita-la e duvido que ele entrega as minhas cartas — Ele se lembra da garota e o seu coração dói — Aceitei isso por muito tempo, confiando que Tony sabia o que estava fazendo, mas não posso confiar mais nele.
Steve não conseguia parar de se culpar por ter concordado com Tony com o destino de Blair, mas no momento não sabia o que mais fazer. Tony tinha uma opção e ele nenhuma, então concordou.
Entretanto, nunca mais.