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Já se foram poucos dias desde o natal, agora a preocupação da nossa alcateia agora está focada na organização da festa de Ano Novo. Nosso lugar já está quase todo pronto, visitei ontem à tarde e fiquei impressionado, agora a palavra aldeia já não nos cabia muito bem, estamos nos transformando em uma pequena cidade. Tudo bem. Talvez um vilarejo de interior, porém não muda o fato de termos evoluído com a ajuda da metrópole.
Essa mudança é notória para qualquer membro da nossa alcateia, uma mudança que agrada e gera sossego. Estamos todos animados, eu posso sentir o entusiasmo do povo, assim como é visível também.
As fachadas dos pequenos prédios, alguns concluídos e outros em construção, lojas e casas tradicionais estão enfeitadas. Nossa cidade é uma mistura das luzes de natal que ainda estão estiradas e os fitilhos metalizados para o ano que logo vai chegar, um entusiasmo que há muito tempo eu não via em nós.
Todos estão colaborando para que a seja fosse memorável, cada um contribuindo de sua maneira. Menos eu, claro. Estou com trinta e nove semanas e quatro dias de gestação, estou por um fio e sob pressão de quatro indivíduos super protetores, um bebê que não sabe querer outro colo a não ser o meu e uma população inteira ansiosa pela minha "boa hora".
Complicado.
Nas mãos de Yoongi, Namjoon, Seokjin e Baekhyun eu sou como um experimento de laboratório e eles os cientistas, É incrível, e terrível ao mesmo tempo, o fato deles revisarem até mesmo os olhares sobre mim quando estávamos todos no mesmo cômodo. O mais tranquilo é Mark, porém seu alfa Jackson o compensa, pois a guarda da Segurança se encontra nitidamente tensa com o nascimento do meu filho a mando de Yoongi, para caso de qualquer imprevisto.
Um exagero!
Se eu der um passo para frente, é certo de que logo atrás estará um deles, um guarda ou um membro da minha família, e se eu abrir a boca para dizer algo então, ah, aí sim é um caos. Eles me perguntam o que eu estou sentindo, o que eu desejo e até mesmo se há algo mais molhado entre minhas pernas, essa última pergunta sempre vem de Seokjin devido sua experiência com partos. Ou seja, eu perco em média cinco minutos negando tudo que eles tentam especular sobre meu bem-estar só para ter a chance de dizer alguma coisa.
Outro serzinho que não me dá descanso é Jeongguk, o menino parece ter nascido grudado em mim, não quer me deixar por nada. O doutor diz que há uma explicação: já muito novo, Gguk sabe que seu alfa está para nascer e seu lobinho filhote se encontra cada vez mais ansioso por isso, pois queriam juntos explorar o mundo o mais rápido possível.
É uma informação me assusta, nunca pensei que fosse lidar com crianças dessa maneira, muito menos com lobos precoces, mas aqui estou eu. Menos mal que tenho Seokjin para me tranquilizar, havíamos decidido apenas deixar as coisas acontecerem.
Será a nossa pequena luta de cada dia.
Já meu povo não para de me mimar, depois do natal, quase todos os dias eu recebi agasalhos feito à mão, brinquedos artesanais, produtos de banho, travesseiros fofos, toalhas, mantas... Não cabe mais um alfinete sequer dentro do armário, que agora pertence só ao bebê. Ele havia mesmo tomado conta de tudo em minha vida, mas de certa forma isso não me incomoda, é bom senti-lo vivo em mim.
O meu filho!
Inclusive, é isso que estou fazendo agora, sentado no pequeno sofá da varanda dos Kim e de pernas cruzadas feito um índio, eu observo o rio congelado, enquanto acaricio a minha barriga enorme. Mesmo vestindo um conjunto laranja de moletom grosso, meias de lã amarelas e um sobretudo pesado da mesma cor, faço questão desses movimentos, pois meu menino precisa ficar bem quentinho dentro de mim.
Sobre a mesa de madeira estreita há meu copo de café com leite estupidamente quente e um prato vazio, antes cheio de biscoitos amanteigados. Sentar nesse cantinho e observar a floresta esbranquiçada é o meu hobbie desde que a neve começou a cair, é relaxante e me ajudava a pensar no meu parto. É inverno e o chão está coberto, será difícil chegar a um centro médico se fosse preciso, além de que essa estação é péssima para lidar com lobos.
Assim como o verão é ruim para dar a luz devido ao calor excessivo e por agitar demais o filhote, o inverno também é por ser o extremo contrário. Há risco de o meu filho estar em sono profundo na hora e da injeção para acordá-lo não funcionar, já que ele é alfa e isso significava que ele tinha um sistema imunológico forte. É desesperador toda vez que paro para pensar, mas é um exercício necessário.
Os ventos gelados começam a me incomodar, sinal de que já é tempo de me recolher, até porque está tarde e já, já vai escurecer, mas eu simplesmente consigo sair do lugar, pois também já está quase na hora do melhor momento do meu dia. E isso acontece rápido hoje, só precisei esperar mais dois minutos para ouvir a neve do chão ser amassada.
Sorrio contente.
Com minha audição apurada posso ouvir passos, na verdade, uma pequena corrida feito um trote. Fico alerta por um momento e me levanto, meu coração bate forte e ansioso, sinto-me mais sensível a cada dia. Assim, calço minhas pantufas verdes e dou alguns passos para frente, mas ainda me mantenho no piso de madeira da varanda coberta.
Não demora muito para que tudo faça sentido para os meus olhos. Entre as árvores esbranquiçadas do outro lado do rio, fazendo contraste com o chão branco de neve e o cinza forte do céu nublado, a figura de Zao aparece. Seu pelo esvoaçante e escuro como um carvão destoa de tudo a sua volta, é lindo, mas fico surpreso quando logo atrás dele vejo veio outro lobo, um que eu conhecia bem.
É alfa e seu pelo claro se camufla entre os galhos cobertos de neve, é de um tom caramelo suave e seu focinho é rosado, mas os olhos são negros como o céu da madrugada. É Eron, o lobo do meu pai.
Meus pais e os outros mais velhos ainda estão hospedados aqui, eles também estão aguardando pelo meu parto. Estou mais que feliz!
Sorrio de novo, vendo que agora eles desaceleram o trote para atravessar a pequena ponte sobre o rio. O primeiro a chegar até mim é Eron, então logo estou de frente para sua cabeça gigante, enquanto ele me cheira dos pés à cabeça.
— Filhote! — Diz em meus pensamentos com sua voz linda e aveludada. — Está frio, deixe-me esquentá-lo.
— Eron, você me lambeu! — Rio brevemente e ganho outra lambida na testa. — Oi, Zao.
— Olá, ômega. — Sua voz grave tira meu sorriso, é sempre hipnotizante.
— Onde está o papai e Yoongi? — Olho ao redor e não os vejo.
— Estamos aqui! — Levo um pequeno susto quando a voz de meu pai surge atrás de mim, quando ele e meu alfa saem da porta da cozinha.
Esses dois estão se deram bem no fim das contas e isso é bom, mesmo que eu nunca saiba do assunto que eles passam horas conversando desde o dia que se encontraram. Às vezes falam como se fossem velhos amigos e até mesmo pai e filho. Minha mãe diz que foi a magia do natal que atingiu os dois, um presente dos lupinos, uma coisa de lobo.
Logo meu alfa vem em minha direção e engole meu corpo em um abraço apertado. É incrível como ele consegue me enlaçar por trás perfeitamente, mesmo sendo centímetros mais baixo que eu.
Yoongi está vestindo seu clássico: coturnos, jeans surrado, casaco de gola alta e jaqueta de couro, um mar de roupas pretas sobre a pele pálida, parece Zao andando sobre a neve. Já meu pai não, ele usa um suéter branco, uma calça de tecido claro e uma touca azul, uma combinação que traz paz e alegria ao mesmo tempo. Ele é era colorido igual a mamãe, talvez esse um dos motivo da minha personalidade.
— Uma sopa gostosa, uma cama quentinha e uma massagem nos pés. — Meu pai me diz seriamente de braços cruzados, mas depois sorri de canto. — E aí, o que me diz, hm?
— Você vai fazer a sopa? — Yoongi ainda me abraçava.
— Sim e vou colocar muita cenoura nela. — Sorri ainda mais, o que me fez sorrir e por consequência Yoongi também. — Eu sei que Naro fica feliz quando você come coisas laranja, porque essa é a cor dele. Além disso, essa sopa é a única coisa que eu conseguia fazer você comer quando ainda um bebê. — Revirou os olhos com falsidade, só para implicar comigo. Esse era Jung Yongguk, meu pai. — Vocês foram filhotes mimados, sabia?
— Cenouras? — Ele ri de mim.
— Cenoura, abóbora, laranja, temperos latinos. — Citou alguns alimentos com essa coloração, mas não perdeu o ar nostálgico. — Mas e então?
— É, acho que já está na hora do meu filhote experimentar a sopa do vovô.
Sorri quando ele comemorou e beijou minha testa. Sopa era uma das poucas coisas gostosas que meu pai sabia fazer na cozinha.
Visto isso, ele não diz mais nada, apenas entra na casa já chamando por Baek e minha mãe para que pudessem ajudá-lo a me agradar. Ao contrário dos outros, eu não me importa de ser mimado por ele.
Ah, qual é, quem eu quero enganar? Eu gosto de ser o garotinho do papai e nem o fato de eu ter o meu próprio filhote pode mudar isso.
Ya! Eu amo tanto esse homem, tanto, tanto, tanto que sequer percebi que os lobos já tinham se recolhido, apenas me dou conta quando volto a encarar meu alfa que ainda me segurava pela cintura. Agora nós nos só podemos nos abraçar de lado por causa da barriga imensa.
— Como estão? — Pergunta baixinho, suavemente, mas sei que se trata de uma pergunta séria.
— Estamos bem, alfa. — Dou de ombros. — Appa vai fazer a sopa, mas a massagem pode ser por sua conta?
— E o que eu ganho com isso?
Aperta-me um pouco mais, tentando soar provocante, talvez até forçando a barra. Fala sério, eu me transformei uma bola de gordura ambulante e cheia de dores nas articulações.
— O que o seu noivo grávido pode te oferecer, hm? — Reviro os olhos e me afasto um pouco, é melhor mudar de assunto antes de ouvir um discurso sobre autoestima. — O que fizeram juntos o dia todo?
— O quê? — Questiona meio perdido, seguindo-me para dentro da casa.
— Você e o papai, o que fizeram juntos? — Pergunto de novo e estranhei quando não encontro ninguém na cozinha, então subo a escadas sem ao menos checar a sala de estar, quase em câmera lenta. — Passaram o dia juntos, certo?
— Ah, sim, fomos explorar o novo perímetro. — Sinto suas mãos em minhas costas, como um incentivo para eu continuar subindo os degraus. — Ele é um bom estrategista, sabia? Uma pena não ter sido explorado na geração do meu pai.
— Você disse isso a ele? — Yoongi nega e eu suspiro aliviado. — Ótimo, se não ele ia se gabar até o último suspiro.
— Não fale assim. Não diga isso, ou vai estar julgando a si mesmo.
— O que quer dizer com isso, alfa? — Olho diretamente para ele quando chegamos ao topo.
— Confessa, vocês são iguais. — Revira os olhos e pega em minha mão para me guiar. — Têm sorriso frouxo, são curiosos e um pouco teimosos também...
— E isso, você disse a ele? — Interrompo, rindo um pouco.
— Claro que não.
Ele abre a porta do quarto e corre fechar as portas da sacada. Eu as tinha esquecido abertas de manhã.
— Que bom, pois teria problemas com o sogro se dissesse, appa nunca admite a teimosia. — Tiro o sobretudo amarelo e vou direto para a cama. O vento do dia tinha deixado o quarto um pouco frio, mesmo com o aquecedor geral ligado.
— Essa informação só confirma o que eu disse, ômega, vocês são iguais.
Dito isso, eu o observo.
Yoongi tira a jaqueta e os coturnos, depois a calça e a blusa, ficando seminu. Seu corpo alvo ainda me paralisa, mesmo já o conhecendo de cor e salteado. Ele vai até o guarda-roupa embutido e de lá escolhe uma calça folgada, folgada até demais, pois cai em sua cintura e deixa a amostra o cós da cueca e a marcação sutil de seu quadril.
— Não vai se vestir se para o jantar? — Questiono, mas ele apenas abre os braços para informar que já estava vestido. — Está uns menos dois graus lá fora sem o aquecedor, é isso que vai vestir?
— Pretendo ficar aqui dentro. — Resmunga ao vir para a cama.
Yoongi se deita ao meu lado, mas não se cobre, apenas traz meu corpo para perto de si. Tenho a temperatura naturalmente mais alta por ser ômega e é apenas isso que ele usa como aquecedor, o meu calor.
— Quer saber de uma coisa?
— Quero. — Sua pele cheira a avelã e sabonete.
— O porta-malas do meu carro está cheio de fraldas. — Rimos juntos, um riso quase histérico, rimos tanto que minhas costas chegou a doer. — É sério, eles não têm limites.
— Ah, Yoongi, isso é amor, nossa alcateia nos ama e agora ama nosso filho. — Explico, mesmo que ainda rindo. — Você acha ruim?
— É no mínimo esquisito. — Cessou o riso, fazendo um carinho em minhas costas. — Ainda não acredito que perdi todo crescimento do meu filho dentro de você.
— A gente já conversou sobre isso, não precisamos lamentar.
Ele ficou em silêncio, provavelmente matutando a situação. Eu sou sempre acusado, mas na realidade Min Yoongi também é um teimoso incorrigível.
Então, com muito esforço, desprendo-me do nosso ninho e me sento na cama, quase fui impedido por suas mãos que mais pareciam garras, mas consegui. É hora desse sentimento de culpa nos deixar de vez.
— O que foi, sente alguma coisa? — E ali estava todo o roteiro de preocupação.
— Não vou nem responder. — Rio um pouco, mas ele se mantém sério. Yoon não gostava de piadas quando o assunto é saúde. — Tá, relaxa aí, eu estou bem.
— Tem certeza? — Revirei os olhos, então ele se sentou também. — Não dificulta as coisas.
— Cala a boca. — Peço na minha maior calma e sorrio, isso o cala por um momento e essa é a minha deixa. — Quer aproveitar os últimos momentos com seu filhote ou não?
— O que-
— Vem cá. — Chego mais perto, colocando uma das minhas pernas sobre as suas para ter mais espaço. — Ele gosta de conversar.
— Conversar? — Espero muito que meu filho tenha seu queixo arrebitado e olhos estreitos, porque definitivamente são o charme dos Min. — Não sei se entendi.
— Você é lindo, sabia? — Sorrio ainda mais com sua cara de tédio pelo meu elogio.
— Por que você é assim? — Perguntou mais para si mesmo, depois voltou a me encarar. — Não muda de assunto, Seokie.
Yoongi espera por uma resposta concreta, mas no momento não há algo assim para ser mostrado, eu já aceitei que meu filhote é peculiar e abstrato, então é dessa forma que decido responder seu outro pai. Sem pudor ou hesitação alguma, levanto meu moletom laranja e a camiseta branca por debaixo, minha barriga está mesmo enorme, eu me surpreendo a cada vez que olho.
— Seu pai não tem muita paciência com a gente, mas ele vai ter que praticar até você nascer. — Digo acariciando. — Você está dormindo?
— Tá falando sério? — Yoongi arregala os olhos, mas bem no cantinho de lábios há um sorriso.
— Seu pai também é muito desconfiado, olha só para ele. — Volto a falar com o meu filhote, até que senti um embrulho característico. — Vem cá, me dê sua mão.
— Tem certeza? — Ele só podia estar de brincadeira comigo, é claro que eu tenho certeza! Pego suas mãos e esparramo as palmas sobre minha barriga. — Hoseok, eu-
— O pé dele está aqui e a cabeça aqui. — Indiquei sua mão direita na altura do meu estômago e a esquerda no meu baixo ventre, adentrando um pouco o cós da minha calça larga. — Ele já está de cabeça para baixo, só está esperando a hora.
— Aqui? — Apertou de leve com os dedos.
— Uhum. — Ele ameaça se afastar, mas não permito. Seu sorriso incerto é adorável, ele está nervos. — Diga alguma coisa, qualquer coisa, ele gosta da sua voz.
— Gosta? — Assinto, então ele arregala um pouco os olhos escuros. — Tudo bem. — Respira fundo e aproxima mais o rosto. — Oi.
Um simples "oi" fez meu coração palpitar, pois esse é o momento que passei quase toda a gravidez desejando, ou até mesmo a vida toda. Meu lobo interior sente minha emoção porque também é a sua, fazendo meu corpo ferver e se arrepiar ao mesmo tempo. Coisa de Lobo.
Eu posso ouvir os uivos Naro em meus pensamentos, distantes como uma memória antiga, longe. Ele está emocionado.
As coisas ficam ainda mais interessantes quando Yoongi deita o ouvido em minha barriga, acariciar com a palma.
— Você está bem aí dentro? — Sua voz é grave e sussurrada. — Eu sou seu pai também, seu pai alfa. — Sorri sozinho naquela conversa, enquanto eu sinto movimentos leves dentro de mim, então descubro uma expressão no rosto bonito de Min Yoongi que eu ainda não tinha visto. — Aigoo, me desculpe ter demorado tanto, mas é que você me assustou. Para ser sincero, você foi o único alfa que me colocou medo em toda minha vida. — Suspira baixo e cola os lábios em minha barriga, como se estivesse prestes a contar um segredo. — Eu me borrei todo, filhote.
— Yoongi! — Ouvir tudo isso é um baque enorme para mim, ele tinha que ir com calma!
— É verdade. — Ele me ignora e continua falando com nosso bebê. — Estou ansioso para ver você. Acho que essa vai ser a primeira vez que um Min não vai ter cor de papel. Eu sinto seu calor.
— Sente? — Coloco meus dedos nos fios negros de seu cabelo, fazendo um cafuné. Claro que sentia, Yoongi é o pai alfa e o Apoiador herdeiro da alcateia, sua função é sentir, nasceu para isso. — Acho que ele vai ter seus olhos.
— Eu não. — Diz baixinho, quase murmurando. — Acho que os olhos vão ser seus, ele vai ser meu backup de emergência de você.
— Está chamando nosso filhote de nuvem eletrônica? — Agarro seus fios com um pouco de força, causando-lhe um riso bom. — E por que acha isso?
— Pelo modo forte que ele está se mexendo agora. — Ergue-me apenas o olhar para mim.
— Você... Você está sentindo isso?
Yoongi ri da minha confusão mental e agora ergue o corpo, seu rosto está meio corado, mas é de felicidade. Com o tempo descobri que ele sempre fica vermelho sob fortes emoções. Assim, como se fosse um hábito, como se tivesse feito isso durante toda minha gestação, ele acaricia o topo de minha barriga, onde estão os pés chutadores do meu filho.
— Ele chuta com força, não é? — Apenas suspiro em concordância. — Desculpa, acho que deve ser o meu mau humor.
— Isso é...
Então sou interrompido por um som na porta, olhamos de relance e é apenas minha mãe com uma bandeja de plástico em mãos, pelo cheiro de tempero que se misturava com o seu aroma de maresia, sei que é a sopa do meu pai. A questão é: como havia ficado pronta em tão pouco tempo? Não é possível.
Olho para Yoongi, então devolvo o olhar para minha mãe que se aproximava com cautela, enquanto eu cobria minha barriga de volta. Ela sorri abertamente e seus olhos quase se fecham com isso, porque ela sabe exatamente o que eu estou pensando. Claro que sabe, sempre soube e sempre saberia, apesar de eu ter vinte e dois anos completos agora, eu ainda sou o seu filhote e ela a minha omma. Seria assim até meu último suspiro.
Francamente, sou completamente apaixonado por essa mulher, por isso só percebo que preciso me mover quando a bandeja já está em minha frente, sobre o travesseiro em meu colo, pois perdi tempo admirando a beleza. Ela sempre será a mulher mais linda do mundo para mim, sua altura, suas curvas, seu cabelo castanho e escorrido, seu sorriso. Tudo.
Só volto para o mundo real quando quase derrubo a tigela, mas também nem foi culpa minha! O bebê havia dado um chute mais forte e isso me fez ter um pequeno sobressalto.
Rimos um pouco.
— Ele sabe que é a vovó por perto. — Ela tem o costume de falar como se meu filho já fosse nascido, de achar que sabe tudo que precisa. — E, antes que pergunte, seu pai fez a sopa antes de sair com Yoongi pela manhã.
— Ah, isso explica muita coisa. — Recebo um beijo no cabelo. Esse fim de ano está revigorado minhas forças, eu havia sentido uma falta enorme dos carinhos meus pais. — Tudo bem pra todo mundo se eu jantar aqui em cima?
— Vou fingir que ele não me perguntou isso. — Ela pisca divertida para Yoongi e ergue o corpo.
É que virou rotina eu comer no quarto e passar a maior parte do tempo nele, pois é difícil lidar com a escadaria e aqui em cima tenho mais conforto. É um saco, eu odeio essa situação, parece tão errado!
Todos os dias eu deixava meus melhores amigos, os mais velhos e os meus comerem a sós e perdia toda a parte divertida que era ver Jungkook comendo mingau no pratinho. Pelo menos Yoongi me fazia companhia quando conseguia alguma folga na Base.
— Coma tudo. — Ordena em um tom doce que eu já conhecia bem e deixa um copo de suco no aparador, era de laranja, o único que não me dava azia, apesar de ser ácido. — Yoongi, querido, temos carne ensopada hoje. Sei que prefere comer na madrugada, então seu prato está dentro do micro-ondas.
— Muito obrigado, Neehye-ssi. — Ele sorri e posicionou melhor ao meu lado. — Meu pai já voltou da cidade? Ele tinha ido antes do sol nascer.
— Sim, quer que eu peça para ele vir até aqui? — Minha mãe oferece, mas ele nega. — Está tudo bem?
— Claro, eu só fiquei preocupado com a neve. — Então, depois do diálogo breve, os dois olharam para mim meio intrigados. — E você, não vai comer?
— Isso é uma ordem, alfa? — Estreitei os olhos apenas para implicar.
— Você sabe que é. — Quem responde é minha mãe, que já saía do quarto, mas antes para na porta por alguns segundos. — Estamos todos lá embaixo, ok? É só chamar.
— Namjoon e Jin também? Eles já chegaram?
Ela confirma, o que me dá uma desanimada, eu queria muito jantar com meus amigos esta noite. Sinto falta das piadas ruins de Seokjin e dos flertes fora de moda de Namjoon à mesa de jantar, até mesmo deles dois babando em Jungkook.
Sinto falta da minha família!
— Boa noite, queridos. — Visto que não disse mais nada, minha mãe sopra um beijo e sai do quarto de vez.
Assim, o que me resta é tomar a sopa. Está maravilhosa, como era de se esperar, o tempero na medida certo e bastante saborosa, mas acho estranho o fato de Naro não demonstrar nenhuma reação, pois esse é o nosso prato favorito. Não o sinto e nem mesmo o meu filho, estão quietos, tudo permaneceu igual, então apenas continho saboreando cada gota.
Essa refeição dá forças ao meu corpo, posso sentir a minha energia voltando, por isso não reclamo quando sinto um pouco de calor. Quando finalmente termino, tomo todo o suco que estava bem adoçado, enquanto Yoongi me contava sobre sua rotina na segurança.
Seu jeito de quem está sempre de saco cheio de tudo deixa uma simples narração parecida com um roteiro tenso de uma cena de filme de ação, ainda mais pelo modo invocado que repugnava os erros da equipe. Quando ele se levanta para colocar a minha bandeja na escrivaninha, não posso evitar deitar no colchão macio. Os lençóis já estavam aquecidos por nosso calor, mas ainda assim virei meu travesseiro para aproveitar o geladinho do outro lado da fronha porque é gostosinho de sentir.
Mais relaxado, então, olho para o meu alfa sugestivamente e levanto minha perna em sua direção. Como ele já estava de volta em minha frente, assim apoio a sola do meu pé em seu peito descoberto.
— O que foi? — Ele segura meu tornozelo e aperta de leve com os dedos, já sabendo do que se trata. — Achou que eu não ia cumprir com a minha promessa? — Apenas assinto sincero, já com meus olhos fechados, e com isso ouço sua risada incrédula. — Você realmente achou?
— No pé, Yoongi. — Minha voz saiu preguiçosa, exausta e carente. — Amor, faz no pé... Ah, isso.
Yoongi finca os dedos bem no centro da minha sola, mas senta na cama para massagear melhor minha perna. Contudo, estranho quando ele chega mais perto que o ideal, seu rosto fica quase na altura do meu e uma de suas mãos apoiadas no meu travesseiro.
Ele está me analisando.
— O que foi? — Junto minhas sobrancelhas, mas ele passa o indicador entre elas para desfazer meu cenho.
— Você me chamou de quê? — Murmura com um sorrisinho escondido e um pouco embriagado, mas eu não sabia exatamente de quê. — Você me chamou de amor, Hoseok?
— Talvez, caso ainda queira continuar com a massagem, sim. — Ganho um beijo no queixo.
— Se continuar me chamando assim, eu continuo a massagem. — Beija minha boca rapidamente, então volta à posição anterior para dar atenção para meu calcanhar inchado. — Aqui dói?
— Hm, não, é gostoso. — Suspiro quando ele tocou as laterais do meu pé. — Você é bom nisso, amor.
— Eu estou gostando disso. — Ele ri, só então eu noto que eu o chamei assim de novo. O real é que eu já tinha essa vontade há algum tempo. — Você quer dormir, não quer?
— Não, eu estou bem. — Porém já estou com meus olhos fechados outra vez. — Só estou descansando a vista.
— Eu sei que está cedo, mas pode dormir, Seokie. — Eu amo quando ele me chama desse jeito. — Jin e Namjoon vão entender, todos vão. — Deixa um carinho em minha coxa e beija a base da minha barriga. — Durma um pouco, pode dormir.
— Você me acorda daqui a dez minutos para eu tomar um banho? — Ele faz que sim no mesmo momento em que faz algo mágico no meu dedão, algo muito gostoso de sentir. — Tudo bem, pode ser daqui a vinte minutos, eu não.
— Folgado. — Riu, mas também não contestou.
A partir disso me concentro apenas em seus toques e em minha respiração calma, já que não preciso de muito para cair no sono. O som ao redor já não é alto, mas ainda assim vai sumindo conforme me afundo em meu inconsciente. Como hábito, penso em sonhos do meu lobo, meu cérebro sempre faz isso quando se sente exausto, porém dessa vez eu não esperava que as imagens viessem tão vivas.
A primeira coisa que vejo é um céu cinza escuro, mas bem diferente do céu real do lado de fora do quarto, não é de um acinzentado claro de inverno, mas sim um céu cinza carregado de nuvens tempestuosas. São nuvens de verão! Assustador, mas muito bonito.
É tão intenso que consigo até o cheiro do lugar, parecia o cheiro da mamãe, o aroma de maresia, mas muito mais salgado que o dela. Assim. tenho ciência de algo bem importante: de que estou deitado em algo macio e morno.
Ao olhar para o lado noto que é apenas areia, não uma branquinha e fina como as praias de Busan, essa é escura e constituída de várias pedrinhas minúsculas. Ou seja, estou deitado em uma praia rochosa e essa conclusão é a minha certeza de que estou em um sonho profundo, nas camadas mais finas de meu inconsciente. ,
Desse modo tento me concentrar melhor para poder me movimentar em minha alucinação, mexer meu corpo e é assim que consigo me levantar. Aqui estou usando roupas de verão, uma blusa branca e shorts, estou descalço e sozinho. Não há ninguém na praia, apenas eu, a areia escura, o céu encoberto e o mar agitado por causa da tempestade que está para chegar.
Eu e a natureza. Só.
Mesmo feita de elementos caóticos, a paisagem é tranquila, bonita e quente, o que me dá um pouco de segurança para tentar caminhar. Meus dedos fincam na areia grossa assim que me movo, é escorregadio! As pedrinhas fazem cócegas em meus pés, isso me faz notar que está úmida e grudenta, mesmo tão distante da morda.
Havia chovido há pouco tempo.
Olho para o mar, meu cabelo voa para todas as direções com a ventania da mudança de tempo, o calor cora minhas bochechas e meus olhos se espremem um pouco, pois eu não consigo enxergar o horizonte por causa da névoa branca sobre o mar.
O som das ondas quebrando é forte e o burburinho das espumas que se formam na beira da praia deixa meus tímpanos em desequilíbrio. Parece até que o marzão está me chamando para um mergulho, isso me dá frio na barriga pela adrenalina, mas não me parece muito prudente.
Desisto de me arriscar, mas, para minha sorte, a maré parece cada vez mais cheia. Sem que eu precise me mexer, as espumas quase chegam aos meus pés.
Ele estava me chamando mesmo.
Tudo bem! Eu cedo alguns passos para frente, sentindo a água gelada lamber meus pés. Gelada!
Foi bom, me trouxe uma sensação boa, só que minha audição imediatamente detecta um ruído estranho antes que eu possa aproveitar um pouco mais. É um som de passos na areia, logo atrás de mim por isso viro-me bruscamente.
Estranho, não é nada.
Volto minha atenção para o mar e me aproximo ainda mais, agora a água cobre meus tornozelos, contudo o som me interrompe de novo. Ao olhar para trás de primeira nada vejo novamente, só que dessa vez eu continuo olhando.
Há algumas rochas bem ao longe da praia e algo me diz que o ruído vem dali, então miro naquele longe. Ainda com os pés no mar, tento forçar minha visão lupina, mas é difícil.
Para a minha sorte, os responsáveis pelo ruído logo saem da névoa. São lobos!
Um par de lobos escuros surge no meu campo de visão, um casal, um alfa macho e um ômega fêmea. O alfa é muito maior e mais negro, ele tem olhos vermelhos e a ela tinha olhos azuis.
Eles caminham devagar até mim, mas param a uma distância considerável, eu sei que não querem chegar perto do mar, consigo sentir o receio.
Em seguida, outro par de lobos saem da névoa pesada que há entre as rochas. Esses outros dois eu conheço bem, são Lily e Kol, os lobos dos pais de Seokjin. São marrons de tons diferentes, de pelos macios e cheios, olhar marcante.
Eles vêm em minha direção sem tirar os olhos de mim, eu até sorrio, mas isso não surte efeito, eles não esboçam reação. Até logo atrás deles surge outro casal lupino, Eron e Hyon, os lobos dos meus pais.
— Eron! — Grito por ele, que bufa forte em resposta, mas não se aproxima de jeito algum. Ele também tem medo do mar. — Hyon!
A loba vem mais além que todos os outros, ela sempre foi corajosa., afinal é o impulso que dá atitudes inesperadas a mamãe, mas ela não vem até mim de fato, apenas um pouco mais perto. Então eu percebo o porquê disso, a razão por todos eles não quererem chegar perto do mar.
Quando tento dar um passo a frente para ir até Hyon, meus pés simplesmente não se mexem, pois estão enterrados na terra molhada. Só consigo me mexer para o fundo, mas não para fora da água.
O mar me prender, ele quer me engolir.
— Hyon, eu vou afundar! — Grito em desespero e ouço o rosnado potente dela, a única loba a se pronunciar até agora. Minha vontade é chorar feito um filhote perdido, é assim que me sinto. — Hyon, me puxa!
— Não posso, filhote. — Sua voz vem aveludada e firme. — Você tem que sair sozinho, querido. Vem. Vem, Hoseok, você consegue. Vem pra mim, filhote!
— Eu não consigo, Hyon, estou preso. — Um bolo de choro vem na minha garganta, meus pés não se mexem.
— Você só precisa querer. — Dessa vez que diz é Eron. — Se concentre, filhote! Vamos!
Eu tento me concentrar, tento me mexer, mas isso só me leva mais para o fundo, agora a água bate em meus joelhos, quase tocando a barra do meu shorts. Isso está realmente ficando perigoso e desconfortável, a água está fria demais.
Eu não estou gostando nada desse sonho. Quero acordar!
Ouço, então, ruídos de outro casal de lobos, são os Líderes Kira e Aro. Eles ficam mais atrás que todos os outros, pois entre as patas de Aro está protegida a bolinha de pelo branco que é Moon, o filhote herdeiro. Estão distantes para protegê-lo do perigo do mar, mas ainda assim estão aqui, me apoiando nessa alucinação estranha.
Tento me concentrar mais uma vez, Hyon disse que preciso que sair daqui sozinho e Eron que eu só precisa querer para isso acontecer. Mas eu quero! Quero muito e ainda assim não consigo, estou aqui empacado no mesmo lugar.
Mais dois lobos se aproximam, meu coração quase sai pela boca e minhas pernas quase falham. Naro e Zao se posicionam ao lado de Kira.
Eu grito por eles, grito como se não houvesse o amanhã porque já tenho dúvidas se de fato não há, mesmo no fundo sabendo que é apenas um sonho. Estou com medo! O nervosismo me atrapalha demais, em uma sugada de onda acabo sendo arrastado para mais fundo e agora eu sinto a água gelada bater um pouco abaixo do meu peito.
Estou congelando.
— Zao! Naro! — Estendo os braços e grito mais uma vez com toda a força de meus pulmões. — Zao! Por favor!
Zao rosna e riscou as patas na areia, andando de um lado para o outro com seus pelos esvoaçantes pela ventania, enquanto o meu próprio lobo se mantém paralisado e choroso no mesmo lugar. Naro está triste, sua tristeza é ainda pior para mim que qualquer desespero no mundo. Ele está sentado sob as patas traseiras, com os olhos laranja fixos em mim.
— Naro, eu sinto muito, eu não devia ter entrado no mar. Esse sonho é seu, era pra ser bom, eu não devia ter me mexido nele. — Sinto as lágrimas escorrerem, então coloco as mãos no rosto para esconder meu choro, estou confuso. — Eu sinto muito, eu não sei como sair daqui eu não sei, eu só... Isso é um pesadelo!
Meu grito desequilibra meu corpo com o balançar das ondas, então vou mais para trás, mais fundo. O nível da água já chega em meus ombros.
— Eu não consigo boiar aqui. Naro, desculpa.
Então o meu lobo fica de pé e todos os outros olham para trás, para ele, em expectativa de suas ações. Naro não faz nada de extraordinário, parecia até calmo para o que estava prestes a fazer, que é apenas caminhar alguns passos para o lado. Isso fez seu corpo liberar minha visão para o que estava atrás de si, um filhote caramelado.
É pequeno para um espírito lupino, d o tamanho de um lobo real e seu pelo é quase do mesmo tom de Eron, porém mais escuro. Ele tem olhos amarelados, mas em tom fechado e opaco, parecem duas bolas de bilhar de ouro velho.
É lindo, do jeito que eu sempre sonhei.
Eu pude reconhecê-lo em instantes, é o mesmo lobinho de todos os meus sonhos. Eu sinto, aquele é o meu filhote, o lobo interior do meu filho. Ele parece perdido e sozinho sem Naro por perto, tendo em vista que Zao estava nervoso demais para acalentá-lo, por isso apenas olhava para frente, todo encolhido por causa do vento.
Eu preciso que sair daqui o mais rápido possível, a praia não é seguro para ele, eu tenho que fazer alguma coisa. Preciso acordar! Por que não acordo?
É então que uma ideia se acende em meus pensamentos, eu mexo meus pés em movimentos circulares para tentar me arrastar para a costa, mas não dá certo, na verdade dá muito errado, porque acaba alterando meu ponto de equilíbrio e uma onda que cresceu de repente facilmente me derruba mar adentro. Fico totalmente submerso na água, sem conseguir chegar à superfície, porém agora com meus pés desprendidos da areia.
Meu afogamento parece real demais para um sonho, tanto que meu ar falta realmente, mas ao mesmo tempo essa sensação ruim é a única coisa que me faz acordar. Imediatamente, abro meus olhos por reflexo e me sento na cama em busca de oxigênio, tossindo como um fumante depois de uma corrida.
Eu tinha que me acalmar! Preciso respirar e meu peito dói, o pavor da falta de ar me causa tremedeira.
Não dá mais, não tenho condições de continuar com isso. Esses sonhos estão ficando sérios demais.
Em seguida, sinto leves tapinhas em minhas costas, era doutor, ele está aqui, está comigo. Vestindo um jaleco azul, esfregava meu peito em pontos específicos ao mesmo tempo em que os tapas ficavam mais fortes.
Feito isso, eu cuspi uma quantidade assustadora de água, como um vômito limpo. Molhei toda minha roupa, que agora não passava de uma camisola de hospital, e quase toda a roupa de cama.
Algo havia dado muito errado, algo aconteceu mas pelo menos eu ainda estou na casa dos Kim. Reconheci a decoração de madeira e a sacada pequena.
— Do-Doutor-ssi... — Eu ainda tossia muito.
— Sem falar, Jung, você acordou agora. — Advete, escutando meus batimentos em seguida. No mesmo instante, seu aprendiz Do Kyungsoo entra no quarto com uma bandeja em mãos. — Soo, temos que trocá-lo, ele colocou esse líquido incolor para fora.
Diz autoritário, talvez um tanto nervoso. Com isso, Kyungsoo-ssi deixa a bandeja sobre um aparador, já preparando um medicamento em uma seringa.
— Efeito tardio da adrenalina, Cho-ssi?
— Provável que sim. — Doutor responde e logo volta sua atenção para mim. — Respire fundo, Jung. — Meu corpo obedece automaticamente. — De novo. Isso, muito bom. Mais uma vez.
Depois de me examinar, ele coloca um termômetro embaixo do meu braço e me deita na cama. Na escrivaninha, ele anota algo em uma prancheta e vira de costa para mim quando Kyungsoo começa a retirar minhas roupas molhadas.
Não estou entendendo nada, claro! Só me lembro de ganhar uma massagem gostosa do meu alfa e daquele sonho medonho.
Por que estou nesse estado agora, afinal? Eu quero muito perguntar, mas não tenho forças, talvez tivesse sido uma queda de pressão perigosa e falha cardíaca, já que ouvi Soo-ssi dizer algo sobre ter me injetando adrenalina.
Será que meu coração havia parado no desmaio?
Como se fosse duas pessoas, o aprendiz tirou minha roupa, deixou-me nu, enquanto tirava o lençol vomitado da cama. Ele me ajudou a colocar outra camisola e trocou o lençol sem que eu precisasse levantar.
Prática de um enfermeiro, senti inveja dele. Meu pai ficaria orgulhoso de vê-lo.
Ah, há algo importante que notei. Muito importante!
Minha barriga está mais baixa, não tão oval como antes e também um pouco dolorida, entretanto não tive forças para fazer questionamentos. Em vez disso, li de relance a ficha que o doutor anotava, está na hora de eu tomar uma seringa de anestésicos e de trocarem minha bolsa de soro, identifiquei pela numeração do frasco e pela agulha que havia em meu antebraço. Como eu não estou ligado a nenhuma bolsa transparente, imaginei que já tinham descartado o vazio, só faltava o novo soro chegar.
E foi o que Kyung fez, ele aplicou o remédio em mim e conectou o tubo no cateter externo para que eu fosse alimentado de soro. Suas mãos são tão leves que eu sequer senti, isso fazia eu me lembrar das crianças que eu cuidava no alojamento dos filhotes.
Ya! Eu sentia falta disso, do meu trabalho e da minha rotina, mas agora estou muito nervoso para fazer qualquer comentário. Quero saber o que está acontecendo, onde está o meu alfa e se eu e meu filhote estamos bem.
— Do, o que está havendo? — Seguro o braço dele antes que se afaste da cama, estou tão fraco que ele quase me escapa. — Por quanto tempo eu fiquei apagado?
— Vinte horas. — Responde com tranquilidade, como se aquele absurdo não fosse nada. — Mas agora você precisa se recuperar.
— Meu filhote está bem?
— Perfeitamente bem, mas você precisa se acalmar e descansar para se recuperar.
Avisa com uma expressão calma, mas seu tom é de advertência, como uma bronca.
— Recuperar? O que houve exatamente? — Sinto meu coração se apertar e meu ar faltar por um instante. — Está tudo bem.
— Está tudo bem, você logo você vai saber. Ele sorri menos tenso e segura minha mão, tirando-a de seu pulso. — O doutor logo vai esclarecer tudo, ele vai te explicar o diagnóstico, mas agora eu preciso muito que você descanse agora, Jung Hoseok-ssi.
Ele sorri mais uma vez e afagou meu ombro , então se afasta de vez para ajudar o doutor nas tarefas. Seja lá o que eles estivessem que fazer.
Isso me deixa um tanto frustrado, óbvio, pois, ao observar aqueles dois, suas expressões corporais e faciais não me revelavam nada, estão apenas trabalhando passíveis de qualquer problema. Então precisei reparar o meu redor: Há uma pasta de exames a serem analisados sobre uma mesa.
O que isso quer dizer? Nada, pois sou um ômega grávido de trinta e nove semanas e isso é completamente comum.
Respiro fundo, não seria muito inteligente em casos extremos me estressa e me frustra.
Sem mais nada a ser feito, passo longos minutos na cama, apenas olhando o nada e sentindo o soro imunológico trazer minhas energias de volta aos pouquinhos. Minha boca está seca, sinto com sede e ainda com um pouco de falta de ar, o sonho tinha sido muito real.
Até meus tornozelos doem, além de também sinto minha sola do pé arder, como se aquela areia densa tivesse arranhado minha pele. Ainda estou com medo.
Quando Siwon e Soo terminam suas tarefas, o doutor pede que o aprendiz deixasse o quarto, contudo ficamos a sós por poucos segundos, pois logo outra pessoa entra.
— Mãe!
Arrumo força para erguer meu corpo, enquanto ela vem correndo me abraçar. Suas condições indicam que ela não havia dormido, suas roupas eram as mesmas da última vez que a vi e havia olheiras. Eu tinha dado trabalho, isso é quase certo.
— Mãe, o que está havendo?
— Oi, meu Hobi. — Ela deixa que eu me afundar em seu pescoço, no meio de seu cabelo longo e castanho. — Subi correndo quando soube que você acordou. — Beijou minha testa. — Sente alguma dor?
— O que aconteceu comigo?
Minha pergunta foi ignorada, pois, como uma selvagem, minha mãe apertava meu corpo e cheirava cada centímetro de mim que conseguia, no fundo, eu sua atitude é fruto dos impulsos de Hyon dentro de si.
Eu ainda sentia sua loba viva em meu pensamento, o pesadelo havia sido muito real e talvez o motivo dele seja razão pela qual eu estou hospitalizado agora.
É uma teoria que faz sentido, pois os lobos distraem nosso subconsciente quando estamos sob algum risco grave. Isso ajuda a suportar a dor.
Mas eu havia sentido dor?
Ficar no escuro por informações já estava tirando a paciência, eu sinto até vontade de gritar por não saber o que se passa, ainda mais por não sentir Naro acordado em mim.
Que merda de coma de vinte horas foi esse?
— Mãe, por favor! — Minha voz sai um pouco alta, então ela se afastou de mim, mas ainda observando cada centímetro meu. — O que é tudo isso?
Olho para os equipamentos na escrivaninha e para o sono em meu cateter.
— É para manter você saudável. — Ela disse com calma e cautela, mamãe sabe bem como me levar na conversa. — Você teve complicações, Hobi.
— E o meu filho? — É a única coisa que me importa.
— Perfeitamente bem, só seu corpo está meio abalado, mas você ainda precisa se acalmar, apliquei adrenalina para despertar seu lobo e não ter imprevistos cardíacos. — Quem responde é Siwon-ssi. — Senhora Jung, pode me deixar a sós com meu paciente agora? — Ele sorri, também tinha covinhas como Namjoon. — E pode pedir para que Min Yoongi suba? Não tem problema se ele estiver acompanhado, peça que ele venha com quem estiver.
— M-Mas...
Só pode ser algum tipo de piada, minha mãe, a mulher mais pulso firme que conheço, está gaguejando na frente do doutor. Ela também está com medo!
— Por que está com medo, mãe?! — Acuso, minha voz fica mais alta quando eu estou nervoso. — Por que está com medo que Yoongi suba? Por que o doutor precisa estar a sós comigo e Yoongi para me dar o diagnóstico? Por que quem está com Yoongi pode ouvir e você não?
— Shh, Hobi! — Ela me pede calma, então o doutor anota outra coisa na prancheta0.
Minha boca disse tudo sem pausa, pude sentir meu coração acelerar e minha veia pulsar com mais frequência, talvez a dose de adrenalina estivesse fazendo efeito de excesso em meu corpo. O doutor está certo, eu preciso me acalmar, odeio ter que concordar com isso!
Estou elétrico e ansioso, irritado e um pouco apavorado! Siwon-ssi ainda assim ignora meu estado, pois desse jeito não me permite iniciar nenhuma discussão, eu sei disso, é a mesma técnica que uso com as crianças no alojamento. Enquanto isso, ele apenas prepara outro medicamento no meu cateter, ao mesmo tempo em que aumenta a fluidez das gotas de soro.
Assim, meus olhos pesaram na mesma hora como mágica. Viva ao calmante!
— É mais seguro assim, Hoseok, são assuntos pessoais. — Minha mãe finalmente me responde em sua calma serena, ignorando meu surto, até sorrindo outra vez. — Você voltar a sentir dores se ficar nervoso.
— Assuntos pessoais? Você é minha mãe! — Meu grito foi mais alto, mas foi de resistência, pois o remédio que continha em meu soro era forte demais, estava difícil me manter acordado. — Estão me drogando?!
— Apenas me certificando de que Naro ficará em seu interior, ou não tomará seu corpo. — Isso me assustou. Fora do cio, lobos só tomam conta do corpo dos híbridos em casos fatais. — Neehye, querida, pode chamar Yoongi agora?
— Claro, doutor-ssi.
Minha mãe deixa o quarto sem olhar para trás e eu sei que foi de propósito, apesar de durona, ela tem um coração mole e se tudo isso é mesmo para meu bem-estar, ela deve ter usado a força do seu mais profundo âmago para me deixar agora. Mas, olhando pelo lado iluminado da situação, Yoongi logo passaria por aquela porta e ele era tudo que eu precisava agora.
Eu me sinto sozinho e sem esperança, sem força para me manter acordado, eu só preciso ouvir da boca dele que eu e o nosso filhote estamos bem, suas palavras me valem mais que as do doutor, apesar de eu também ser da área de saúde. Ele é tudo que me importa agora, a única voz que quero ouvir.
Olho para o teto pela milésima vez naquele dia, sentido o suor escorrer por dentro dos meus fios de cabelo, está nevando lá fora, mas estou pingando. Talvez seja a febre, o que não é um bom sinal, mas toda essa agonia é ignorada quando o cheiro de avelã invade minhas narinas.
Ele está perto, muito perto! Posso sentir o seu gosto em minha saliva de tão inebriante que seu cheiro é.
Yoongi se aproxima a cada vez mais e eu já sei que ele traz algo para me alimentar, minha euforia aguça meus sentidos, então agora eu sinto tudo. Tudo bem que eu não consegui identificar o prato principal, mas o cheiro forte do suco de laranja é dominante.
Parece fresco, feito na hora e ainda é de laranja lima, devia ser mesmo muito recente, pois o cheiro dos galhos do laranjal predomina o aroma cítrico. Meu alfa sabe mesmo como me agradar. Mais uma vez neste dia, sinto vontade de chorar, porém agora de felicidade, pois o cheiro é sinal de que Yoongi é único e que pensa em mim em qualquer circunstância.
Todavia, cortando meu clima feliz, o doutor se senta ao meu lado e coloca uma máscara de oxigênio em meu rosto, pelo cheiro, é uma medicação de nebulização para me ajudar a respirar melhor. Estou mesmo com dor nos pulmões devido a realidade do pesadelo que tive, por isso não reclamo.
— Vou deitar você um pouco mais. — Ele leva minha mão até a máscara, para que eu mesmo segure, e deita um pouco mais meus travesseiros. — Pronto, assim é melhor, não é? — Tento, mas o conjunto de remédios estava me anestesiando rápido demais. — Sente alguma dor?
— Por que todo mundo está me perguntando isso? — Sussurro. — Não, não sinto nada.
— Que os lobos abençoem a morfina. — Ele diz sorridente, tentando ser o mais amigável possível comigo. — Está sedado, Hoseok.
— Por quê? — Sinto meus olhos embaçarem com as lágrimas, estou cansado de fazer as mesmas perguntas. — Por favor.
— Shh, sem pânico. — Seu sorriso some, agora dando espaço para seu olhar sério e profissional. — Aconteça o que acontecer, prometa que não vai soltar a minha mão. Se sentir sono, apague, mas não solte minha mão. — Entrelaçou nossos dedos. — Sua explicação vai passar pela porta, vai ficar tudo bem, só não quero que tenha reações extremas.
— Yoongi. — Sorri grogue ao me lembra do meu alfa.
— É, Yoongi. — Sorriu comigo para me agradar. — Hoseok, sua explicação vai passar pela porta, mas, por favor, prometa que apesar do que sentir, não irá soltar minha mão, pois essa é a única garantia que tenho que meu lobo vai conseguir resgatar você dentro de sua mente. — Às vezes eu esquecia que ele é obstetra e possui um lobo mensageiro, mas só as vezes, pois essa relação me faz associar o meu problema com o meu filhote. — Promete?
— Eu prometo.
Digo com minhas últimas gotas de energia, em seguida um som na maçaneta me chama atenção. Yoongi deve ter ouvido tudo atrás da porta, pois sentia o cheiro mais forte agora.
O doutor se sentou ao meu lado na cama, olhando fixamente para porta, enquanto eu deixei minha cabeça tombar nessa direção. Meu corpo está dormente e cada centímetro dele parece pesar, eu não sinto nada, prova de que o sedativo é eficiente, a única coisa que ainda consigo manter é a máscara respiratória em meu rosto.
A porta vai se abrindo aos pouquinhos, até que finalmente vejo a figura preocupado do meu alfa ali. Ele está usando suas tradicionais roupas pretas e sapatos pesados, mas agora também usa um óculos fino de grau, o que quase me faz sorri, mas já não tenho tanto controle assim das minhas ações.
Yoongi vem até mim em poucos passos, senta-se na beira da cama e me estende a mão, eu teria chorado se tivesse energia para isso, pois seu toque é tão bom que chega a ser quase um delírio. É como uma garrafa d'água no meio do deserto.
Ele segura meus dedos com firmeza, enquanto minha outra mão ainda está agarrada ao doutor, até porque a outra mão do meu alfa também está ocupada. Em meio aquele mar de roupas pretas, Yoongi segura uma trouxa de roupas, parece mais um saco de tecido colorido. É feito de retalhos de algodão estampados, todos em cores fortes, mas por dentro havia uma manta laranja, uma bem parecida com o presente dos meus pais.
Talvez ele estivesse ansioso demais para o bebê, porém eu ainda não consigo entender o que aquela trouxa significa. É pequena e volumosa e as vezes eu tenho a impressão que se mexe, por isso encaro aquele emaranhado de manta por alguns segundos até ter a certeza das minhas loucuras.
Mexe mesmo!
Assim, pisco algumas vezes, ao mesmo tempo em que recebo carinhos de Yoongi em meus dedos, isso faz meu olhar alternar entre ele e o saco colorido.
Até que um movimento é maior que os outros e faz a manta laranja cair um pouco, revelando uma cabeça minúscula com pouco cabelo. O quarto estava em silêncio, antes de ecoar um resmungo agudo e o sopro de um bocejo fraco. Por dentro, sinto meu corpo convulsionar e o calor de Naro antes reprimido, me subir à espinha, mas, por conta dos remédios que tomei, não consigo me mexer, então todo aquele fogo lupino me queima em silêncio.
É ele ali, afinal, o meu filho.
Agora tudo faz sentido! Eu devo ter tido alguma complicação que me fez entrar em trabalho de parto ainda apagado, só podia ser isso. Agora eu só quero saber com exatidão que complicação foi essa.
Ya, claro! O sonho, talvez fosse Naro tentando me trazer de volta d o coma. Meu lobo era tão querido, tão...
O calor em meu interior, por outro lado, me diz que essa complicação ainda não tinha acabado. Ainda preciso ser forte por mais algum tempo.
— Oi. — Yoongi leva minha mão até os lábios e a beija devagar, mas o que me faz chorar com gesto não é isso e sim o fato de minha pele ter ficado tão perto do meu filho. Ele está logo ali, o meu bebê! — Você quase matou seus alfas de susto.
Segurou o bebê com mais firmeza em seus braços. Eles ficam bem juntos.
— Gi-ah, eu-
— O cio apagou você. — Explica com certo rancor, talvez do momento horrível que viveu. Meu alfa é transparente para mim.
— Se não estivesse grávido, você estaria no seu período de cio. — O doutor chama minha atenção. — Seus hormônios confundiram sua gravidez com sua libido, por isso encararam o feto como um corpo estranho quando entrou em trabalho de parto. — Eu tentei assimilar todas as palavras, mas eu só consegui pegar algumas coisas soltas. — Seu lobo foi corajoso e apagou você antes que seu consciente falecesse, Naro salvou sua vida e a do seu filhote.
— Eu o amo tanto. — Yoongi confessa com a voz embargada de medo, era para ser apenas para mim, mais sua voz saiu mais alta que o esperado. — Amo vocês dois.
— Fizemos uma cesária de emergência com o alguns equipamentos do alojamento que trouxemos depressa, os lobos nos ajudaram, pois não foi necessário uma UTI. Você teve sorte, Jung. — O doutor segura minha mão com mais força. — Agora você só precisa se recuperar.
Tinha sido demais para mim, muita informação de uma vez só. Era como se eu pudesse desfalecer a qualquer momento, pois meu corpo não parava de esquentar, ao mesmo tempo em que sentia calafrios em meu exterior e suava cada vez mais. Foi uma péssima notícia!
Eu não havia ajudado meu filhote a nascer, não dei a luz ao meu próprio filho e sequer o ajudei a vir ao mundo. Que tipo de pai eu seria, então?
Senti-me pequeno, inútil, triste e um monte de coisas que não sei nomear. Não estava nos meus planos me sentir assim em relação ao parto.
Meu choro saiu da garganta como se eu fosse o filhote dali, mas também foi a única coisa que consegui fazer, pois de alguma forma inusitada, eu não mais conseguia tirar a máscara de oxigênio do meu rosto e o efeito da medicação estava cada vez mais forte. Ela estava bem equilibrada em minha boca e eu tinha minhas mãos ocupadas, segurando o doutor e o meu alfa.
— Está tudo bem, Seokie. — Yoongi diz, mas eu apenas nego. — Ele é saudável e lindo, é como você.
É difícil respirar e chorar ao mesmo tempo, mas consegui fazer os dois muito bem até que Yoongi soltou minha mão e para ajeitar o filhote em seus braços, virando-o de frente para mim. Uau! É ele! Agora eu posso vê-lo realmente, ele é perfeito.
Seus olhos são escuros, muito escuros, e espertos, seu nariz é como a ponta do meu polegar e sua boca parece ter sido desenhada com muito cuidado. Meu filhote é lindo, mesmo com pouco cabelo.
Ele não parece muito contente, resmunga sem parar com suas mãos fechadas, na pose habitual de recém-nascido, parecia querer chorar, mas não faz realmente, apenas ameaça, soltando seus sons esquisitos de bebê. Até que seus olhos se encontram com os meus e o faz paralisar, ele literalmente parou de se mexer e passou apenas olhar para mim. De alguma forma, eu sei que ele me conhece, que ele sabia que eu sou o seu pai ômega.
— Aqui. — Yoongi diz, trazendo-o mais para perto de mim. — Toma.
— Yoongi! Ele está medicado. — o Doutor adverte, mas é inútil.
Yoongi tira o bebê do saco de tecido, deixando-o apenas enrolado na manta laranja, assim eu consigo reparar que ele está vestido uma roupa toda branca e bastante grossa para aguentar o frio da nevasca, bem protegido. Desse modo, meu alfa coloca o corpinho pequeno e mole sobre o meu peito, onde queima e arde com mais intensidade.
A criança resmunga um pouco, mas logo em seguida fica em silêncio, afundando o rosto em meu tórax, onde a gola da camisola hospitalar é mais cavada. Estava sentindo o cheiro do minha pele, esfregando seu nariz de botão em mim.
— Fome! — A voz de Naro quis gritar, mas não tinha força, por isso ela veio como um sussurro desesperado. Isso me assustou, ele parecia muito fraco e distante, nunca o senti assim antes. — Ele está com fome.
— Ele me lembra tanto você. — Yoongi acaricia as costinhas dele, perdido no carinho que fazia. — Olha só como ele fica, prefere ficar de bruços como você. — Seu olhar encontra o meu, tão apaixonado quanto. Eu quero lhe dizer que isso é incrível e que eu o amo, mas meu peito ainda dói. Estou queimando de dor, é agonizante estar anestesiado. — Por isso vou esperar sua melhora para que me diga o nome. Quero que o nome do nosso filho venha de você, pois você resistiu, Seokie, foi forte.
— Não fiz... na-nada
— Shh, sem falar, Hoseok. — Siwon avisa. — Assim piora, quietinho.
— Ele sente dor? — Yoongi ameaça a tirar meu filho de mim, mas para isso arranjo forças e seguro em meu peito. — Hobi...
— De- Deixa. Deixa aqui.
Soa quase uma súplica, que na verdade é mesmo, enquanto eu deslizo a ponta do meu indicador pela tez enrugada do meu bebê. Sua sobrancelha é quase apagada, mas é bem definida, assim como as pintas que ele tem no rosto, uma no nariz, outra na boca e até na orelha há outra. Eu reparei, pois analisei cada centímetro dele.
— Lindo. — Bocejo.
— Meu. — Naro diz com calma dessa vez. — Meu Taehyung.
Eu ainda não tinha pensado em um nome, achei que meu filho traria um consigo, um nome que eu fosse olhar a carinha dele e dizer com toda certeza, mas eu estava enganado. Meu lobo tomou minha frente nessa decisão, Naro escolheu o nome e agora eu não consigo imaginar outro melhor que esse.
Min Taehyung.
É perfeito.
— Taehyung. — Sorrio embriagado com a morfina e para Yoongi. — Min Taehyung. Você gostou?
— Taehyung? — Perguntou, já sorrindo meio bobo, um Yoongi paternal é uma figura nova para mim. — Já escolheu? — Assenti. — É perfeito, amor. — Aquilo acabou comigo, não era justo, eu que comecei a usar esse apelido primeiro. — Acho que dia trinta de dezembro é o meu dia favorito.
— É. — Sorri, mas logo a queimação do meu peito piorou, agora eu sentia que minha pele ia rasgar de tanto calor. — Segura.
Aviso, antes de virar o meu corpo para o lado.
Yoongi foi safo nos movimentos e pegou nosso filho de mim, de modo que o doutor Siwon esmagou meus dedos da mão que me segurava. Então a dor foi embora, eu não senti mais nada.
♧
Bem-Vindo ao mundo, Taetae!
Ursinho de inverno!
Fighting!