Meu amor
Anna
Na mesma noite, conversei com a minha mãe sobre a possibilidade de Francis morar com a gente. Na reunião, encontravam-se ela, minha irmã e meu pai que, coincidentemente, havia acabado de voltar de outra viagem — já era a quinta, só aquele ano.
— Como assim? — Mariana falou de cara feia, enquanto olhava Francis. — Não temos espaço para mais um.
— Mãe! — Indaguei.
Eu havia explicado toda a situação, desde o abandono dos pais até ser expulso de casa. Omiti que estávamos oficialmente namorando, pois, se falasse sobre, provavelmente, perguntas brotariam do nada.
Francis observava, calado, toda a situação como se já estivesse acostumado a ouvir falarem dele como se ele não estivesse presente. Ele olhava para nós quatro como se fossemos estranhos, com aqueles olhos frios e calculista. Estava quieto demais, como se estivesse desconfortável com a situação.
— Senhor e Senhora Gil, — ele chamou a atenção do quarteto que discutia de forma incontestável — em primeiro lugar, eu gostaria de pedir oficialmente a mão da sua filha, Anna, em namoro.
Meus pais olharam perplexos, como se aquela fosse uma hipótese absurda. Em seguida olharam para mim, pedindo por uma confirmação. Balancei a cabeça em sinal positivo, entretanto, não pareceu ser o suficiente, pois eles se voltaram para Mariana, na tentativa de liquidar as suas dúvidas.
— Mas um motivo para ele não morar aqui. — Mariana argumentou, enquanto mexia em algumas mechas de seus cabelos. — Nós não sabemos nada sobre ele, só a versão dele sobre o caso. Como garantir a veracidade?
— Mariana, ele é meu namorado e eu confio plenamente em suas palavras. — Falei cansada daquela ladainha. — Diferente de algumas pessoas, ele não inventa um relacionamento para me magoar.
As palavras saíram cuspidas e cheias de rancor. Mari me olhou, meio chateada, meio culpada. Ela sabia que eu me referia ao Guilherme, mas não só a ele. Ela também mentiu, fez eu me sentir culpada quando eu não precisava. Ela também tinha culpa no cartório.
— Senhor e Senhora Gil, eu não contei isso para a Anna em busca de um abrigo. — Ele falou em um tom calmo, mas visivelmente chateado com o conteúdo da conversa. — Eu só não acho certo começar um relacionamento com mentiras e omissões.
Tinha como ser mais fofo?
Segurei sua mão esquerda, tentando reconfortá-lo. Eu não queria que ele se sentisse triste ou pressionado. Provavelmente, aquele não era um assunto fácil, pois ele estava cutucando uma ferida muito difícil de cicatrizar. Eu sempre tive meus pais presentes e a remota possibilidade de não os ter, fazia meu coração doer.
— Por que você decidiu vir para Belo Monte, Francis? — Minha mãe questionou, olhando firmemente em seus olhos.
Minha mãe sempre foi a rainha do nosso jogo de xadrez. Se ela não concordasse com algo, não teria nada que o meu pai, rei do nosso jogo de xadrez, pudesse fazer. Ela também era mais dura, não se convencia com tanta facilidade. Já meu pai era mole como manteiga e qualquer sorriso já cativava seu coração.
— Pensei que pudesse encontrar a minha mãe aqui. — Ele suspirou. — Assim que completei dezessete anos, comecei a procurar por ela e descobri que ela morava por essa região. Mas não consegui encontrá-la.
— Você se lembra dela? — Meu pai questionou.
— Não muito. Eu era muito novo quando ela foi embora. — Os olhos de Francis estavam sendo novamente tomados por lágrimas, a boca estava vermelha assim como seu nariz, mas ele se negava a chorar. — O pouco que me lembro foi da nossa despedida. Ela me colocou sobre a mesa da cozinha e segurou minhas mãos pequenas e disse que estava indo embora para o meu bem, pois ela precisava ajudar no tratamento do meu pai biológico e só poderia ser minha mãe quando pudesse ser uma família de verdade.
Francis abaixou a cabeça, escondendo as lágrimas que escorriam pelas suas bochechas. Aquela cena era de cortar o coração. Ele sempre foi como um porto seguro para mim, agora ele estava se quebrando e não tinha nada que eu pudesse fazer.
— Meu padrasto diz que ela não se despediu. — Ele levantou o rosto abruptamente. — Ele diz que essa cena é uma criação do meu cérebro para lidar com o abandono. Talvez seja. Ser abandonado dói.
Alguém pega esse bebê no colo?
Sua feição voltou ao original de sempre; olhos frios e calculistas que não demonstravam muito. Francis tinha a minha mania, evitar o que causava dor. Eu sabia que não funcionava, mas não sabia como dizer isso a ele.
— Mãe, por favor! — Implorei.
— Senhora Gil, estou aqui pela Anna, pois sei que ela pode se preocupar, — ele olhou para mim e sorriu — mas, acredito que, até o final de semana, consiga alugar um quartinho nos fundos da igreja. Então, não se sinta pressionada.
Minha mãe ponderava entre seu lado racional e seu lado emocional. Faltava pouco tempo para o final da semana, ele poderia dormir no quarto de hóspedes. Ele não parecia ocupar muito espaço. Francis era como um filhotinho, tendo comida e carinho ele sobrevive.
— Por mim, tudo bem. — Papai falou ao estender a mão para Francis.
Minha mãe olhou para ele como se quisesse matá-lo. Geralmente, era ela quem fazia o papel chato de responsável. Meu pai, por passar muito tempo fora de casa, sempre que vê suas filhas, faz questão de mimá-las. Aquela seria uma bela oportunidade para fazer o papel chato, mas preferiu manter seu personagem.
Um tanto contrariada, minha mãe respondeu:
— Tudo bem Francis, você pode dormir aqui... — Assim que ela falou, eu o abracei e beijei sua bochecha em empolgação. — No quarto de hóspedes.
Minha mãe me olhava de cara feia, mas eu estava feliz demais para me importar.
...
— Sua família é muito legal. — Francis comentou após o jantar enquanto lavávamos a louça.
— Até Mariana? — Falei rindo de sua cara de incerteza.
— Ela parece ser uma boa irmã.
— Como a Catarina é? — Questionei intrigada. — Física e psicologicamente.
— Ela é parecida com a mãe: cabelos louros lisos, magra e baixa. Normal. — Ele suspirou ao se lembrar da irmã. — Eu sei que sou meio fechado e esquisito. Mas, depois disso tudo, passei a me sentir perdido...
— Você está aqui. — Segurei seu braço. — Não está perdido, porque eu te encontrei.
Francis sorriu a beijou a minha bochecha com cuidado. Em seguida, passou espuma de sabão em meu nariz e riu da minha cara. Peguei o pano que usava para secar e bati nele. Ele se encolheu e gemeu, fazendo beicinho.
— Você não cansa de me machucar? — Ele reclamou e eu entendi a referência.
— Não, quando você me castiga de volta. — Falei com um risinho.
Francis abriu a boca, surpreso. Então ele sorriu e puxou o pano de minha mão, levando-me junto.
— Então eu posso castigar você? — Ele falou olhando em meus olhos, os lábios rentes aos meus. — Seria um prazer.
Então eu o puxei para mim, sentindo seu gosto. Sua língua suave acariciava a minha com desejo e ardência, esquentando-me por inteira. Suas mãos, ainda com um pouco de espuma, foram parar em meu rosto, fazendo-me sorrir entre um beijo e uma mordida leve em meu lábio inferior.
— Acho melhor terminarmos logo com isso. — Ele falou, ainda de olhos fechados. — Sua mãe não vai gostar nada se ver algo assim em sua cozinha.
Eu balancei a cabeça, rindo descaradamente da situação.
— Tudo bem. Eu te deixo em paz desde que você vá comigo na última prova do vestido. — falei ao me lembrar que no dia seguinte eu teria uma última prova.
— Pensei que desse azar ver a noiva em seu vestido antes do casamento. — Ele falou e beijou com rapidez meus lábios. Seus braços rodeavam a minha cintura, enquanto ele olhava em meus olhos com fervor.
— Não seja besta, Francis Lobo.
— Eu sou besta. Completamente besta, quando oassunto é você. — Ele sorriu, vendo a vergonha se estampar em meu rosto. — Vocême deixa louco, meu amor. Eu só quero você... Só preciso de você... Faço tudopor você, Anna.
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Com amor, Karol