o conjurador de marés | vmin...

By shorichigo

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Desde criança Park Jimin foi o garoto apaixonado pelo oceano e pelas histórias que o envolviam, e mesmo que d... More

maré oscilante
prisão aquática
canção do mar
contra as marés
sobre as ondas
vazante e fluxo
molhando os pés
tome um gole
as marés se elevam
enxurrada
mudança de corrente
por sua conta e risco
deslizando sobre as ondas
maré violenta
ligados ao oceano

o conjurador

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By shorichigo

Posso parecer o jovem adulto mais estranho do mundo ao dizer isso, mas eu nunca fui o tipo de pessoa com dificuldade de acordar pelas manhãs. Mesmo que eu dormisse muito tarde ou estivesse mais cansado do que nunca, sempre que o relógio marcava cinco da manhã eu já estava em pé e pronto pra mais um dia. Eu não sei bem como que esse meu relógio biológico foi me tornar um dos jovens adultos que menos se identifica com tweets sobre acordar tarde, mas nunca fui de me preocupar muito, até porque ver o sorriso radiante do meu pai quando eu o acompanhava na pesca matinal fazia com que tudo valesse a pena.

Mesmo que nós dois soubéssemos que o mês de junho já tinha começado e que deveríamos ficar o mais longe possível do oceano que conseguíssemos, ambos fomos um tanto teimosos ao preparar as redes, caixas térmicas e todo o restante do barco naquele dia. Como ainda era o início no mês, fomos com cautela, mas também com certa tranquilidade, para o alto-mar, jogando as redes do mesmo jeito de sempre enquanto preparávamos mais iscas e ficávamos de olho em toda a água ao nosso redor.

Nós conversamos pouco, ambos estávamos focados demais nos nossos próprios pensamentos pra acabar comentando qualquer coisa um com o outro durante o trabalho, mas simplesmente a presença do mais velho ali já me deixava um tanto calmo mesmo que eu pensasse no que tinha acontecido no dia anterior.

Conhecer um tritão era a última coisa que eu esperava realizar em vida, sabe? E me lembrar de toda a fisionomia e a forma como Taehyung me olhava curioso acabava me trazendo arrepios que me subiam pela espinha com rapidez. Diferente do que os livros e filmes mostravam, o Kim era grande em seu comprimento, tendo a cauda tão longa quanto as pernas do maior jogador de basquete do mundo, e por mais que aquela sua parte do corpo se parecesse muito com a de um peixe, ele tinha nadadeiras e escamas que pareciam ter texturas e formas bem diferentes do que qualquer peixe por aí.

Por mais humano que ele fosse, o tritão tinha de tudo para não se parecer conosco, não só pelos traços belíssimos e totalmente proporcionais, quase como quem ganha em primeiro uma competição de homens mais lindos do planeta terra, mas também por detalhes aqui e ali que fariam com que qualquer pessoa pensasse "Esse garoto não é daqui". Seus olhos tinham as íris um tanto maiores que o comum, como se ele usasse aquelas lentes que ídolos coreanos costumam usar, e mesmo com a pele douradinha de sol ele tinha um brilho diferente na epiderme, como se fosse envolto de um brilho e magia que nenhum maquiador jamais poderia reproduzir com iluminador.

Ele era inteiro perfeito, desde a mínima escama até o sorriso quadradinho que me contagiava a sorrir junto, era como se ele fosse tudo o que eu imaginei para o homem perfeito, mas também acabasse contradizendo todos os meus pensamentos ao ser outro conceito de perfeição que é bem diferente do que eu estava acostumado. Lembrar de todos os traços de Taehyung e da sua maneira de gesticular e falar, acabou me fazendo chegar à conclusão de que eu jamais conseguiria chamar um homem de lindo de novo, porque nenhum humano sequer chegaria aos pés da beleza que aquele tritão possuía.

— Jimin?

— Hum? — me virei para olhar para o meu pai que estava sentado do lado contrário do barco, e logo me apressei em ir para perto dele para que pudéssemos puxar a rede que ele subia de pouco em pouco com a ajuda de um mecanismo que tínhamos instalado na embarcação.

— Acho melhor irmos embora, filho.

— O que? Por que? Só ficamos três horas aqui, ainda tem tempo de esperar um pouco mais os peixes.

— Eu sei, Ji, mas acho que hoje não vai dar certo. — ele suspirou decepcionado, vendo que a rede, mesmo que parecesse cheia, tinha apenas um terço do que costumávamos pegar. — Com o mar desse jeito e as correntes mudando, não vamos conseguir muito.

— Você tem certeza, pai?

— Tenho. Deveríamos ter nos conformado com o início do mês.

E mesmo que eu notasse a decepção em seu olhar e visse a vontade implícita de ficar um tanto mais ali, entendi que não poderíamos ficar bobeando tanto com o barco naquele mês, e por isso apertei seu ombro e falei que tudo bem antes de começar a recolher tudo para que pudéssemos voltar para o cais que não era tão longe do ponto onde estávamos.

O oceano pareceu se acalmar para que conseguíssemos voltar para casa em segurança, e eu sei que pode parecer loucura, mas jurei ter visto alguns vultos ao redor do nosso barco, como se fossem aqueles caras grandões que acompanham idols famosos, só que sem uma forma definida e sem bater em ninguém. Meu pai pareceu notar algo diferente também, mas, ao contrário de mim, ele acabou comentando que eram peixes maiores que estavam atrás de um peixinho ou outro que deixamos para trás, o que eu acabei aceitando porque pensar em sereias o tempo todo não me faria tão bem assim.

Diferente do que eu esperava, meu pai não pareceu triste ou rabugento por termos conseguido poucos peixes, na verdade ele estava mais para conformado já que isso era bem recorrente no mês de junho; mas mesmo assim, depois que prendemos o barco direitinho no cais, falei pra ele que eu cuidaria da limpeza e organização. Ele pareceu bem feliz com aquilo, já que ele sempre foi o tipo de cara meio preguiçoso depois de uma pescaria, enquanto eu sempre gostava de ver tudo o mais arrumado possível, então eu estaria o poupando de um terrível sofrimento.

Nós descemos todas as caixas térmicas e baldes do barco, levamos para o nosso galpão onde ele realizava a limpeza e organização da nossa mercadoria e deixava a maioria dos nossos materiais, e logo corri mais uma vez para a embarcação para que eu pudesse começar a organizar tudo direitinho. Eu comecei com as facas, depois as redes, e quando estava prestes a pegar o esfregão para uma limpeza mais profunda e certinha, ouvi três batidas sutis na popa. A princípio eu imaginei que eu tivesse chutado algo sem querer ou então alguma coisa tinha batido no barco exatamente naquele momento e naquele ritmo, mas quando as três batidinhas se repetiram, eu corri até a beirada com cuidado para não escorregar.

Não precisei analisar muito a água salgada para que conseguisse ver aquelas escamas azuis que eu reconheceria de qualquer lugar, e quando eu o vi nadando para longe, quase como um pedido silencioso para que eu o seguisse, não hesitei em sair do barco correndo o mais rápido que eu conseguia. Apesar de quase cair de boca no chão no meio do barco, tropeçar no cais, quase cair no mar e trombar com um senhor que andava até o barco dele, consegui chegar até a praia e logo em seguida na barreira que algumas pedras formavam por ali.

Eu não sabia se Taehyung estava meio louco ou simplesmente querendo apostar uma corrida, mas fui bem rápido em subir algumas pedras sem escorregar muito e enfim chegar até um lugar que formava uma piscininha de água salgada. Apesar daquela piscina de água salgada ter um caminho que a ligasse ao mar, as ondas não quebravam ali, então naquele local haviam apenas marolas e alguns caranguejos e peixinhos. Por um momento eu até tive medo de ser a próxima pessoa a ficar famosa no YouTube por ser coberto por uma onda gigante que quebra contra as pedras, mas acabei relaxando ao notar que a área era um tanto afastada e por isso eu receberia, no máximo, alguns respingos na cara.

Quando me sentei perto da piscina natural, vi Taehyung emergir da água salgada, me dando um sorrisinho travesso antes de sacudir os cabelos e me molhar um tanto da mesma forma que um cachorro faria.

— Nossa, me trazendo pra um lugar assim me faz até pensar que quer me matar mesmo. — brinquei enquanto desamarrava os cadarços do coturno velho que eu usava, e o tritão pareceu animado por me ver fazendo isso, já que seria mais uma oportunidade pra mexer nos meus dedos que ele parecia tão curioso sobre.

— Ué, mas você quem me seguiu por livre e espontânea vontade.

— É que me ensinaram que eu tenho que seguir os meus sonhos, sabe?

— Eu sou o seu sonho? — ele perguntou desconfiado, arqueando uma das sobrancelhas enquanto apoiava os antebraços na pedra que estava perto dele só para que pudesse apoiar seu queixo em algo mais macio. Quando olhei para os seus braços, notei que aqui e ali também haviam escamas que eram como as da sua cauda, porém pareciam mais opacas, como se não fossem escamas de fato e sim um tipo de sarda de sereia; se bem que falando assim até parece estranho ao invés de bonito né?

— Seria uma surpresa se não fosse, não acha?

E foi fofo quando ele acabou ficando com as bochechas coradas, porém sem se mexer para as esconder como a maioria fazia, como se estivesse feliz por sentir algo do tipo, o que acabava me deixando muitíssimo sorridente também porque não é todo dia que a gente faz alguém tão lindo ficar envergonhado e feliz com uma cantada terrível. É o que meus amigos sempre me disseram né? Se alguém um dia rir e gostar das suas cantadas, casa com ele porque provavelmente vai ser o único que vai fazer isso na vida. Digamos que eu confie demais nos meus amigos, então agora me resta saber como faz pra casar com um tritão.

Assim que terminei de desamarrar meus coturnos, tirei ambos dos pés e logo em seguida fiz o mesmo com as meias sem ter medo algum, até porque eu tomo banho direitinho e cuido pra não ter chulé nunca, e por isso mesmo não hesitei em apoiar meus pés descalços nas pedras próximas de Taehyung, o que o deixou feliz.

Olha, eu sei que eu tinha que ter medo de deixar meus pés perto de uma sereia, até porque é bem mais fácil de elas nos arrastarem para afogar se for pelos tornozelos, mas eu não achava que aquele tritão faria isso, e por isso relaxei um tanto quando senti suas mãos grandes tocarem meus pés, aos poucos deixando que os dedos curiosos traçassem cada detalhe.

— Qual é a sensação de ter pés? — questionou baixinho enquanto acariciava meus dedos, tocando as unhas e logo meu tornozelo com o máximo de cautela possível.

— Ahn... Normal? Sei lá, sempre tive pés, então não sei a sensação de não ter pés. — e acabei rindo baixinho quando senti um tanto de cócegas ao ter os toques leves no peito do meu pé direito. — Se bem que eu já quebrei o pé uma vez, então acho que é estranho não ter pés... E doloroso.

— Dói quebrar um osso?

Muito! Pera... É possível que sereias quebrem a cauda?

— Nunca ouvi falar sobre uma que conseguiu essa proeza.

Nós dois acabamos rindo juntos, e por um momento me permiti olhar bem para a forma que ele tocava e olhava para os meus pés, como se ele sonhasse tanto com aquilo que fosse uma surpresa maravilhosa ter pés para tocar e aproveitar da forma que nenhuma sereia provavelmente faria. Não vou arriscar dizer que sereias tem fetiche por pés, até porque eu nem sei como diabos funciona a vida sexual de uma sereia ou se elas tem isso mesmo, mas não me incomodava muito ter o tritão admirando aquela parte de mim que eu nem achava que era a mais atrativa.

Inclusive, falando de atração, céus, a presença de Taehyung causava em mim algo ainda mais intenso e gostoso do que qualquer coisa que já senti com o oceano. Claro que eu continuava adorando as ondas e as correntes marítimas e todos os mistérios que aquelas águas guardavam com tanto afinco, mas nada se comparava a forma como meu coração parecia implorar por mais do Kim, como se ele e meu corpo desejassem isso por tanto tempo que agora que conseguiu, só era capaz de pensar em ter mais e mais.

Eu não sei explicar bem a sensação, mas era como se eu e ele tivéssemos uma ligação que eu jamais poderia ou conseguiria ter com alguém, como se tivéssemos sido criados para nos encontrar e estar juntos, e por mais que tudo isso fosse novo, era como se eu já estivesse acostumado com isso. Era tão familiar pra mim a presença, sorrisos e energia de Taehyung, que tê-lo ali me fazia quase implorar para que ele ficasse, nem que eu tivesse que improvisar um aquário enorme ou uma piscina gigante no meu quarto.

— Em que você tanto pensa? — e então notei seu olhar atento, como se ele estivesse analisando cada traço meu e pudesse adivinhar meus pensamentos dessa forma, o que eu esperava que não acontecesse de fato porque não gostaria que ele invadisse minha mente e ouvisse meus pensamentos que repetiam "Você é lindo, formaríamos um belo par, quero beijar sua boca" e cantarolavam músicas românticas de artistas famosos tipo o One Direction.

— Tô pensando em como... O dia tá bonito hoje.

— Esse não é o tipo de cara de alguém que pensa no tempo.

— Então agora você sabe o que minha cara quer dizer é?

— Saber não, sentir talvez. — e a forma que ele deu de ombros me fez me arrastar pelas pedras, só arrastar minha bunda na verdade, pra que eu pudesse me sentar mais pertinho e o ver melhor.

— Talvez nós estejamos sentindo a mesma coisa então. — até cheguei a pedir muito mentalmente para que ele também sentisse que queria me beijar, mas quando ele saiu da posição em que ele estava foi só para que tomasse impulso e acabasse se sentando ao meu lado. Eu até me preocupei um tanto, já que no dia anterior ele tinha dito que era complicado ficar perto das pedras e em superfícies ásperas demais, mas como as pedras eram um tanto lisas, acabei deixando qualquer aflição com isso de lado; fora que ele poderia pular na água a qualquer momento, então fiquei feliz em ter ele sentado no espaço a minha direita. — Olha só para nós dois, hum? Dois garotos observando o sol subindo no céu sem um pingo de protetor solar. Achei romântico.

O tritão ficou quietinho por um momento, dando o seu jeito de se sentar um pouco mais perto de mim para que pudesse me segurar pela cintura e me virar, me fazendo sentar de frente para ele. Taehyung não pareceu se importar com as roupas um tanto velhas – as que eu sempre usava pra ir pescar, já que não ia sujar minhas roupas bonitas e deixar todas com cheiro de peixe né – quando levou sua destra até meu peito, tocando o lado em que meu coração ficava por cima da camiseta larga.

Olhei para sua mão curioso, sentindo meu coração se agitar como uma escola de samba só pelo toque um tanto mais íntimo e que nem precisou de nenhum tipo de permissão pra acontecer; eu não via problema em me tocarem do nada se eu conhecia a pessoa, sabe? E com qualquer amigo ou familiar eu ficava super tranquilo, mas toda vez que o tritão me tocava eu sentia algo diferente de tudo o que sentia com outros toques, e a princípio eu imaginava que era porque ele é um cara muito lindo e talvez areia demais pro meu caminhãozinho, mas nesse momento parecia que não.

Era como se ele tocasse algo dentro de mim, parecia que seu toque mexia diretamente em meu coração, o encantando e criando as palpitações que jamais senti antes, e ele pareceu notar todas essas minhas sensações quando segurou uma das minhas mãos e a levou até seu peito nu, me dando a permissão para que eu também sentisse as batidas do seu coração. Eu poderia ir a loucura nesse exato momento, juro pra você, acho que eu só não saberia responder se era por eu tocar Taehyung dessa forma um tanto íntima pela primeira vez ou se por acabar sentindo que seu coração batia tão acelerado quanto o meu.

— Isso parece tanto com uma cena de Tarzan... — comentei baixinho, em seguida esperando que ele não tivesse ouvido o meu comentário terrível porque só eu mesmo pra terminar com um momento bonitinho só por relacionar as coisas dessa forma.

Quando ele assimilou o que eu tinha dito, acabou rindo daquele jeito bonitinho ao qual eu estava gostando muito de decorar, e logo sua mão deixou meu peito.

— O que é Tarzan?

E a curiosidade genuína em seu olhar fez que eu acabasse passando um tempo falando sobre o rapaz que viveu entre gorilas e muitas outras coisas estranhas (mas legais!) que os filmes da Disney acabavam popularizando, como um menino lobo, emoções coloridinhas dentro da nossa cabeça e brinquedos que tem vida quando não estamos vendo.

Sempre que eu começava a falar sobre essas coisas pra qualquer pessoa, eu costumava notar que eles ficavam entediados com um jovem adulto que gosta tanto de animações, e não ver esse tipo de reação no tritão acabou sendo reconfortante pra mim, como se pela primeira vez alguém realmente prestasse atenção e apreciasse o que eu mais amava; só não sei dizer se era por ele gostar do que eu dizia ou pela curiosidade.

Assim que expliquei sobre a exata cena do filme Tarzan, onde os personagens falam de um jeito engraçado até que se entendam (fiz até uma imitaçãozinha do cara de cabelos longos falando "Cleiton!"), Taehyung riu animado.

— Nós podemos assistir juntos um dia? Parece muito legal. — e assim que ele fez uma tentativa de expressão fofa, o que ele conseguiu perfeitamente, acabei concordando com a cabeça.

— Na verdade, eu tenho uma ideia melhor.

É claro que eu não daria só um filme baixado da Netflix no iPad ou enfim, valeria muitíssimo mais a pena se ele conhecesse além do homem que viveu entre gorilas, e ter colocado certa expectativa nele fez com que ele me olhasse daquele jeito curioso e fofo que eu tanto gostava de ver.

— Que ideia?

— Vai ser uma surpresa.

— Surpresa? Ah não, Jimin! — o tritão falou manhoso, logo segurando ambas as minhas mãos com firmeza para que a levasse para pertinho dele, o que me fez me curvar um tanto em sua direção.

— Vai deixar de ser uma surpresa se eu te contar.

— Por favor!

— Sem essa voz fofa pra cima de mim, TaeTae. — falei entre risadinhas sem graça, correspondendo ao toque das suas mãos quando ele fez biquinho mais uma vez, quase como se pra tentar controlar o impulso um tanto forte demais para roubar um beijinho dele, até porque isso não seria nada educado de minha parte. — Você vai saber da surpresa assim que eu a trouxer.

— Mas, ChimChim...!

ChimChim?

— Você me chamou de TaeTae, então achei justo um apelido em troca.

E eu teria respondido a aquilo com alguma cantadinha boba, como uma onde eu diria que o apelido dele poderia ser "amor da minha vida", mas ouvir a voz do meu pai me chamando me fez virar o rosto para a direção de onde ela vinha. Escutei atento por um momento antes de tirar meu celular provisório do bolso da calça que eu usava, suspirando um tanto frustrado por ter que ver as horas em um Nokia tijolão ao invés de ter o meu iPhone que comprei com meu dinheirinho suado do estágio.

Não tinha percebido, mas já fazia mais ou menos uma hora que eu estava ali com Taehyung, e eu sei que pode parecer que não passamos nem dez minutos juntos, porque eu também tenho essa sensação, mas acho que sempre acaba sendo assim quando estamos meio caidinhos por alguém né? Digo, nem uma hora basta pra matar a saudade e a vontade de ter a pessoa perto, principalmente quando os momentos com a pessoa parecem ser tão limitados, porque não era como se eu pudesse convidar o tritão para entrar em casa ou me ajudar a organizar o barco... E agora que pensei nisso meu coração doía um tiquinho, porque quer dizer que era momento de me despedir.

— Bom... — comecei tentando me apressar para não preocupar meu pai, mas tentando arrastar o nosso tempo o máximo que eu conseguia. — Eu tenho um barco pra limpar e um pai pra não matar do coração, então...

— Seu pai é um pescador, não é? Já vi vocês no mar antes.

— Viu? Os peixes disseram algo?

— Sereias não falam com peixes.

— Não?

— Não ué, não somos a Disney pra acontecer uma coisa dessas. — ele riu enquanto pegava meus coturnos e me entregava. — É quase a mesma coisa que vocês humanos falarem com cachorros.

— Vai saber né.

Dei de ombros enquanto laceava um pouco mais o calçado, deixando que ele ficasse bem mais fácil de vestir, e quando o fiz logo depois de colocar as meias com desenhos coloridos, Taehyung pareceu murchar um pouco, como se também ficasse bastante desanimado por termos que nos separar de novo. Quando eu estava prestes a amarrar os meus sapatos, o tritão pegou um de meus pés, o colocando por sobre a sua cauda longa, para que pudesse fazer um laço perfeito, o que me deixou surpreso e o fez rir sapeca.

Assim que subi o olhar dos meus sapatos perfeitamente amarrados e ajeitados junto das calças que tinha desdobrado as barras, olhei para o tritão que sorriu ainda que certa tristeza parecesse o deixar menos animado do que ele queria aparentar.

— Chim... Você me ajuda a conhecer mais sobre a terra? Não que eu seja um ser de outro mundo e não soubesse exatamente nada sobre vocês, porque eu sei, ok? Mas tem coisas que o oceano não permite e... Céus, esquece.

O que? Eu posso te mostrar, Tae, claro que posso! — e toda a sua animação pareceu voltar de uma vez só. — Mas... O que quer dizer com o oceano não permitir?

Seus dedos se entrelaçaram sobre o colo, o nervosismo e ansiedade claros quando ele me olhou de novo.

— Não é como se as sereias pudessem simplesmente conversar com humanos dessa forma, o que nós estamos fazemos é um tanto perigoso, entende? Nós sempre estamos por perto, por isso sabemos tanta coisa, mas é apenas a cada cinquenta anos que alguns de nós são escolhidos para chegar tão perto assim.

— Então... Você é um deles?

— Infelizmente não, mas eu adoraria ser escolhido para a missão das marés se isso me deixasse passar uma tarde desvendando a terra com você. — e seu sorriso doce me fez inclinar um tanto mais para frente, só para tentar ver melhor o brilho diferente em seu olhar depois que ele tinha me dito aquelas palavras como se fossem os maiores dos seus segredos. — Mas isso não vai ser possível.

— O que? — a decepção ficou clara em minha voz. — Por que não?

— Porque o oceano não pretende escolher ninguém dessa vez, Chim...

E mesmo que o ciclo de cinquenta anos fosse o que levava um humano a ser afogado e levado para longe de nós para sempre, odiei que eu não tivesse conhecido o tritão no momento certo para que pudéssemos ao menos andar um pouco pela praia ou comer fast-food como se fosse a comida mais deliciosa do mundo. Sei que parece egoísta, ok? Não é nada certo querer que alguém seja afogado por sereias só para que eu pudesse passar pelo menos vinte e quatro horas com o garoto que fazia meu coração martelar em meu peito, mas era um desejo cego o suficiente para que eu pensasse em fazer todo o necessário para ter a oportunidade de ter mais tempo com o Kim.

— Talvez o mar abra uma exceção de vez em quando. — ele acabou falando rápido depois de me olhar por um tempinho, provavelmente notando minha decepção que sempre ficava bem clara na minha cara. Sempre fui péssimo em disfarçar o que estou sentindo, sabe? — Mas são apenas em ocasiões especiais. Não quero te dar esperanças.

—Acho que poder te encontrar aqui já é uma exceção incrível, TaeTae.

Desviei meu olhar mais uma vez para longe das pedras quando ouvi a voz do meu pai mais uma vez, dessa vez junta de outra voz que eu reconhecia bem, e por notar que eu deveria ir logo ou Jungkook me enforcaria com uma mão só, o tritão se apressou em tomar impulso para voltar para a piscina natural entre as pedras, tomando cuidado para não raspar as escamas em pedras ásperas demais ou cair de mau jeito. Me levantei com cautela assim que vi que ele estava em segurança dentro da água salgada, e estava pronto para me virar e ir encontrar meu pai se não tivesse sentido a mão firme segurando meu tornozelo.

— Me encontrar aqui realmente basta, Chim? — franzi o cenho confuso pela pergunta, logo acenando afirmativamente com a cabeça, o que me deixou um tantinho tonto porque tinha levantado rápido demais momentos antes. — Então podemos fazer um acordo né? Podemos nos encontrar aqui todos os dias, talvez no final da tarde pra não nos queimarmos demais com o sol.

— Não acredito que você quer roubar um pouquinho mais do meu coração a cada dia.

— É só um pedacinho, não vai fazer muita falta. — e nós dois rimos por notar que estávamos fazendo joguinhos de conquista mesmo sem ter nenhuma certeza do que aconteceria no dia seguinte. É aquela coisa né? Só vivemos uma vez, yolo, etc. — Estamos combinados?

Me ajoelhei nas pedras, estendendo a mão para o tritão que logo a segurou não para a apertar como em um cumprimento como eu imaginava, mas espalmando sua mão na minha para que pudesse entrelaçar seus dedos aos meus. Não consegui evitar o meu sorriso e a minha vontade de que esses carinhos pequenos fossem comuns entre nós.

— É uma promessa.



✦✦✦✦

notas finais

eu mesma cantando promise do jimin no fundo porque sou sensível demais pra vmin, inclusive !! viram as fotos de singularity x serendipity do bts festa desse ano? sendo muitíssimo alimentada por vmin todos os dias çaskdjç vamos pedir muito por um dueto dos dois esse ano né?

o que acharam do capítulo? acham que vai dar bom esses encontros no final da tarde? bem que eu queria dizer o que esperar, mas cof gosto de deixar vocês esperando por mais dçalskdj

como sempre, eu estarei no twitter (@kaigansxn) caso vocês queiram conversar e pirar juntinhes por vmin, mas as mps e outras redes sociais também estão disponíveis para nos amarmos virtualmente! espero poder ver vocês na semana que vem! até breve <3

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