Eles chegaram na casa de Sun-Mi, e quando o carro parou, Jin Sun-Mi deslizou a mão até o pulso de Son O-Gong e o segurou com força, como se aquele contato fosse a âncora que a mantinha ali, naquele momento. Son O-Gong, por sua vez, a tomou em seus braços, com uma força protetora, e a carregou até sua cama, como se quisesse ampará-la de tudo o que estava acontecendo.
Mas, quando a colocou suavemente sobre a cama, ela relutou. Seu corpo implorava por algo mais, uma resposta emocional que ela não conseguia entender. Seus olhos se encontraram com os dele, e ela tentou segurá-lo, mas ele a afastou com um gesto suave, mas firme. Ele sabia o que estava acontecendo entre eles, mas não podia ceder, não queria ser o responsável por mais dor.
Antes de sair, ele olhou para ela mais uma vez, balançou a cabeça lentamente, com um suspiro que parecia carregar toda a frustração, a tristeza e a dúvida que ele sentia. Virou-se e foi em direção ao hall da sala. A porta se fechou suavemente atrás dele, deixando Sun-Mi sozinha, mas com uma sensação estranha de que ela ainda não tinha terminado com ele.
Sun-Mi ainda sentia o cheiro de álcool em seu corpo, uma lembrança de que ela tinha tentado se esconder da realidade de uma maneira que agora não parecia suficiente. Com dificuldade, ela se levantou da cama e caminhou até o banheiro. Despiu-se lentamente, como se a retirada das roupas fosse uma forma de também se despir da dor. Abriu o chuveiro, e deixou que a água morna corresse farta sobre seu corpo, na esperança de que ela pudesse limpar não apenas a pele, mas também a tristeza que a consumia por dentro.
Enquanto ela tomava banho, Son O-Gong aproveitou o momento de solidão para pegar a pasta pessoal de Sun-Mi que estava sobre a mesa. Folheou os papéis com uma calma tensa, até que encontrou o pedaço de papel da música que havia roubado dela antes. Ele o retirou do bolso da blusa e, com um gesto simples, devolveu o pedaço de papel à pasta, como se aquele pequeno ato fosse uma forma de compensação, um modo de não ser completamente desonesto com ela.
Do lado de fora, Sun-Mi estava parada diante do espelho do banheiro, tateando o próprio rosto. Era tão feio assim aquele rosto? Pensou. Tão repulsivo que um homem como Son O-Gong não podia encontrar ali nada de encantador? Ela se sentiu frágil, vulnerável, ao se olhar assim.
Enrolando a toalha ao redor de seu corpo, ela saiu vagarosamente em direção ao quarto, seus passos quase automáticos, mas, ao abrir a porta, foi pega de surpresa. Son O-Gong a esperava em frente à porta, com uma expressão que ela não conseguia decifrar.
— Samjang, você não tem amor próprio? — Ele perguntou, e sua voz soou profunda, carregada de uma dor que ela podia sentir. — Porque não desconta sua mágoa em mim?
Ela ficou parada, encarando-o. Sentia uma raiva crescente misturada com confusão. Ele mexia com ela, mais do que ela gostaria de admitir. Era impossível evitar. Ela se odiava por parecer tão vulnerável, por se sentir miserável.
— Mas você me causou um grande impacto... — ela murmurou, a raiva substituindo sua confusão, seus olhos se tornando mais intensos.
Ele fez uma pausa, e o olhar dele estava carregado de um deboche sutil.
— A culpa é sua, — disse ele com uma risada irônica, estendendo o braço em direção a ela. — A dor que estou sentindo agora não é nada comparada à sua. Tire isso, não quero continuar assim. Você tem que me esquecer!
Sun-Mi sentiu a ira crescer dentro dela. Cale a boca! Você não sabe o que está dizendo! Ela gritou em pensamento.
— Isso não é nada! — ela gritou, com uma força inesperada, as palavras explodindo de sua boca. — Eu tento te esquecer, mas as palavras que uma vez você me disse não saem de minha mente. Suas palavras repletas de espinhos me perfuravam todos os dias! Elas me torturavam! Você me conhece, por acaso? O quanto me conhece? O que sabe? Você nem sequer faz algum esforço para me entender e já sai falando o que quer?
Ela parou por um momento, respirando pesadamente, mas logo colocou a mão sobre a toalha e, com um gesto desafiador, puxou-a para revelar sua própria nudez. Não se importava mais.
Sun-Mi atirou-se em seus braços, sem mais hesitação. Ela o abraçou com força, como se o contato físico fosse a única maneira de aliviar a dor que ela sentia. Ele não a empurrou, nem a afastou, e aceitou o abraço, esmagando-a contra seu corpo. Ela passou os braços ao redor de seu pescoço, e encostou a cabeça no lado direito de Son O-Gong, sentindo o calor de sua pele, o cheiro familiar dele.
Por um momento, parecia que as palavras entre eles haviam desaparecido, e só restava o toque, a necessidade de um do outro. O perfume de seu cabelo chegou até ele, uma sensação que era ao mesmo tempo calmante e arrasadora.
Mas então, Sun-Mi afastou-se bruscamente. Ela olhou para ele, e um sorriso irônico surgiu em seu rosto.
— Você está certo sobre uma coisa... — ela disse, sua voz calma, mas cheia de intensidade. — Ter mais amor próprio é importante. Obrigada por ter me trazido até em casa. Agora, vá embora.
Son O-Gong ficou paralisado por um momento, percebendo que ela estava jogando com ele. A intenção era clara: provocá-lo, mexer com seus sentimentos, fazer com que ele perdesse o controle. E ele estava perdendo. Seu corpo estava quente, a vergonha o consumia, mas ele não podia evitar olhar para ela. Olhos famintos, desejosos, embora ele tentasse desviar o olhar. Era um impulso que ele não conseguia controlar.
Mas, o bracelete reagiu de forma avassaladora, e Son O-Gong não teve escolha a não ser obedecer. As palavras dela, mesmo que causassem tanta dor, tinham poder sobre ele. Ele desapareceu instantaneamente, sem dizer uma palavra, sumindo da casa de Sun-Mi, como se fosse uma marionete das próprias emoções.
Sun-Mi ficou sozinha, mas o que sentiu foi uma estranha sensação de satisfação. Gargalhou para si mesma, sabendo que o plano havia sido bem executado. Ela havia feito de Son O-Gong um marionete de suas próprias emoções, e se divertiu com isso.
Mas no fundo, um vazio imenso ainda a consumia, mesmo com toda a sua confiança aparente. Ela havia provocado O-Gong, mas será que ela sabia o que realmente queria de tudo isso?