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Lauren
Duas semanas se passaram desde a minha cirurgia e é quase a mesma quantidade de tempo desde a última vez que fui até escola, mas não é como se eu tivesse com saudades ou algo parecido, evitar os olhares penosos e os cochichos pelos corredores têm sido uma das coisas boas dos meus dias, mas se quero realmente me sair bem nas últimas provas antes do recesso de natal em menos de um mês, tenho que voltar até lá e assistir uma boa quantidade de aulas. Meus amigos, durante o tempo que fiquei "fora", tiveram o trabalho de anotar tudo o que os professores falavam, bem como organizar meus deveres de casa, para que eu não ficasse tão atrasada e, entre uma lista de questão de álgebra avançada e uma redação de 30 linhas sobre os reflexos da escravidão nos dias atuais, eu tive que aprender a escrever com a mão esquerda, o que é bem mais difícil do que imaginamos, já que a direita ainda está se recuperando da cirurgia e mal consegue segurar um lápis por dez segundos sem deixa-lo cair. Sobre isso, tenho feito fisioterapia. Quatro vezes na semana. Um saco, mas sei que é necessário. Eleanor Carlyle, a profissional contratada, vem até minha casa com uma maleta colorida cheia de coisas que eu preciso apertar, segurar, lançar e outra série de movimentos que não me deixam apenas cansada fisicamente como mentalmente. Oito sessões depois, eu ainda não vi grandes resultados, mas ela segue me incentivando e dizendo que tenho melhorado.
Bom... Ela é profissional, deve saber o que está dizendo.
O que mais posso contar sobre esses últimos catorze dias? Ah, Madelaine votou a conversar com Vanessa, o que me deixou bem animada com a novidade, mas o sorriso tenso que recebi de volta fez a minha emoção morrer um pouco. Acho que as coisas vão demorar pra ficarem bem de fato, ainda mais que elas não podem se encontrar pessoalmente para uma conversa mais franca, pelo menos não até os feriados de fim de ano, quando a Vanessa pode vir até aqui. De qualquer forma, deu pra perceber que a ruiva ficou feliz, lá no fundo, por ter retomado contato com a outra garota e tudo o que eu posso fazer é apoiá-las totalmente nisso se for o que as faz bem e feliz. Enquanto um casal parece encontrar seu caminho, outro termina oficialmente. Troye e Keiynan tiveram uma conversa séria, acho que os últimos acontecimentos fizeram meus amigos pensar sobre o tempo e como a vida é um sopro, nunca podemos de verdade contar com o amanhã, porque talvez ele nem chegue. Pelo o que eu soube, colocaram todas as cartas na mesa e muito rancor e ressentimento nunca fez bem para relacionamento algum. Os dois decidiram seguir suas vidas separadamente.
É, nem sempre o primeiro amor vai ser o amor da sua vida.
Mas será possível ter apenas um amor de verdade? Fala sério, eu não acredito muito nisso. Ok, tudo bem, parece meio idiota pensar nisso e até soa como se eu fosse uma estúpida que acha as pessoas descartáveis, mas vamos ser sinceros. Quando meu avô me contou sobre Nancy e o intenso sentimento que nutriam um pelo outro, ficou difícil imaginar que ele poderia amar outra pessoa igualmente ou ainda mais, só que ele não foi só capaz como, se se lembrasse dela, da minha avô, poderia dizer que sim, é possível amar mais de uma pessoa numa vida. Às vezes, relacionamentos não funcionam por uma infinidade de razões e rompimentos acontecem, é natural. E a vida segue seu rumo, o tempo não para, ainda que seja nosso desejo. Pessoas entram e saem da nossa vida, algumas vezes não temos controle dos visitantes do nosso coração, o que podemos fazer é ter consciência de que muitas coisas são maiores do que nosso poder. Não dá pra estancar e esperar que essa falta de reação resolva alguma coisa. O verdadeiro problema está no próprio ser humano, que continua dependendo a sua felicidade em alguém de forma cega e leviana. Só que precisar não é a mesma coisa que querer. Você não precisa de alguém para estar feliz, mas você pode muito bem QUERER dividir sua felicidade e tudo bem, faz parte da natureza do ser humano viver em sociedade, até mesmo o mais recluso dos homens.
Resumindo, eu QUIS estar com a Camila muito antes de saber que queria estar com alguém, o que é engraçado. As coisas fluíram naturalmente entre nós durantes essas duas semanas, bem melhor do que eu poderia ter imaginado. Ao contrário do que eu espero receber ao chegar na escola, em cinco minutos, ela não me olha com pena e nem me trata com uma inválida, mesmo esse sendo o meu sentimento algumas vezes no dia. Do jeito dela, me faz ver que essa é apenas uma fase e como toda fase, ela passa, hora ou outra. E eu acredito. Tenho que acreditar ou vou acabar me deixando levar pelos pensamentos ruins que passam pela minha cabeça e seguir por esse caminho outra vez vai me levar para um lugar de onde será difícil me tirar. Resgatar a confiança de cada um dos meus amigos e de Joana tem sido uma caminhada longa, mas a recompensa valerá a pena. Falando na minha ma', ela e Camila se tornaram grande amigas e confidentes, o que me deixa pra lá de feliz, na verdade. Eu não tenho certeza de como isso aconteceu, mas deve ter sido durante a minha estadia no hospital. O que no me agrada nem um pouco, por outro lado, é quando ficam cochichando quando pensam que não estou prestando atenção.
O que diabos essas mulheres tanto escondem?
Dinah continua a mesma melhor amiga insuportavelmente incrível de sempre, o que às vezes pode me dar nos nervos. Como ela consegue estar sempre radiante e feliz? Eu hein, tanta alegria irrita um pouco. Suas visitas são sempre divertidas, isso quando ela não está enchendo meu saco sobre o meu relacionamento-sem-nome-mas-um-namoro com Camila, daí eu tenho vontade de chutar aquela bunda para fora da minha casa. Minha expressão de raiva não a intimida nem um pouco, então eu só fico emburrada no canto do sofá ou na minha cama, enquanto ela fala sobre a minha falta de atitude ou se pergunta como a Camila gosta de mim sendo sou quase como um poste. Eu prefiro nem comentar como tudo fica tenso quando ela começa a falar sobre sexo. Normani segue sendo a grávida mais linda que eu já vi, tudo bem que sua barriga ainda não é visível, mas não me importo com isso. É a grávida mais linda sim e vai ter o bebê mais fofo de todos os tempos.
— Pronto, querida, você está entregue. — Joana olha para a fachada da escola e, em seguida, olha para mim com um brilho assustador nas grandes írises verdes. — Pode, por favor, repetir tudo o que combinamos?
— OK. — Com um suspiro resignado, fecho a mão esquerda me preparando para enumerar. — Tomar meus analgésicos nos horários corretos. — Levanto o dedo indicador. — Ser cuidadosa para não acabar movimentando minha mão direita de forma brusca e, assim, prejudicar o processo de cura. — Dedo do meio, em seguida. — Avisar a qualquer professor caso eu sinta mais dor do que o normal e precise sair da sala para ligar pra você. — Lá se vai o dedo anelar. — Prestar atenção em todas as aulas para não ficar atrasada. — Mindinho. — E, por fim, ter um bom dia.
— Esqueceu de algo, querida. — Viro-me totalmente para ela e ergo uma sobrancelha, arrancando-lhe uma risadinha. — Eu amo você e estou orgulhosa.
— Eu também amo você, ma'. — Respondo ao deixar-lhe manchar minha bochecha com rápidos beijinhos.
— Nervosa?
— Não, estou bem. — disse enquanto espiava algumas pessoas passando ao lado do carro estacionado. Não era verdade: eu já tinha conferido minha mochila ao menos quatro vezes, e mesmo assim continuava insegura. Mas eu não queria deixá-la preocupada. Não mais do que já está, pelo menos. — Vejo você no jantar?
— Com certeza.
Com um último aceno, despeço-me de Joana e caminho até a calçada, preferindo vê-la sumir pela rua do que encarar os poucos alunos ali que já notaram a minha presença. Parece que sou o elefante branco na sala que não dá pra ser ignorado. De todo o jeito, não dá pra chamar minha ma' de volta, ela nem me escutaria se eu gritasse, ou talvez sim, mas eu não quis testar. Com um último suspiro profundo, ergui a cabeça, engoli em seco e obriguei minhas pernas começarem a andar e, pelo amor de Deus, evitar tropeçar. Nem vinte passos depois, Madelaine salta para o meu lado e entrelaça nossos braços como se tivéssemos sido melhores amigas desde o jardim de infância. Espio as horas no seu relógio de pulso apenas para ter certeza de que algo está errado para ela estar no colégio tão cedo. A ruiva apenas dá de ombros e tira da sua mochila uma embalagem de café, me entregando logo em seguida, como se isso respondesse à minha pergunta silenciosa. Dou de ombros para sua esquisitice e tomo um gole do líquido quente, alívio corre por minhas veias assim que sinto o sabor familiar da minha bebida favorita.
— Bem-vinda de volta, lutadora. — Murmura quando passamos pela porta principal. Solto um sorriso breve. Lutadora. É o nome gravado na embalagem. Os corredores, por causa do horário, parecem mais largos do que realmente são. Geralmente, quando entro ali, estão completamente entupidos de gente, é quase impossível dar um passo sem trombar com alguém, ou pelo menos, sem esbarrar num braço ou cotovelo. Para a minha felicidade, há apenas umas oitos pessoas espalhadas por ali e um pequeno grupinho conversado encostado na parede oposta aos armários. — Então, você está na boca do povo. Está preparada para ignorar os selvagens?
— Não tenho ideia do que você está falando. Até parece que fui atropelada por um maluco logo depois de descobrir que meu pai tinha um filho fora do casamento, sendo este um amigo próximo. — Dou de ombros enquanto caminhamos até o meu armário. — Não é como se eu tivesse muita escolha, Mad, mas me deseje sorte.
— Nah, você não precisa de sorte, porque você tem bons amigos. — O sorriso meio maníaco em seus lábios faz com que eu sinta um pouco de medo. — Eu pensei que você viria com a sua namorada hoje.
— Era esse o plano, mas o carro dela deu um problema enquanto voltava para casa e terá que vir de carona com o pai. — Respondo com uma pequena careta. — Não tem problema, nos veremos antes do primeiro sinal. Ainda é cedo.
— Você não negou. — Madelaine me para com as mãos nos meus ombros. — Fez o pedido?
— Do que diabos você está falando, garota? — Balanço meus ombros para que ela pare com aquilo. O que deu nela? Todo mundo está estranho ou é impressão minha?
— Eu falei "sua namorada" e você não disse nada sobre isso, respondeu normalmente. — Ela estreita os olhos e fica me observando em silêncio por um instante. — Me diz que você foi a romântica incorrigível que eu sei que é aí dentro e fez um pedido legal.
— Ah, quando vocês vão me deixar em paz sobre esse assunto? — Desvio do seu corpo e volto a caminhar pelo corredor, agora abandonando a expressão calma por uma careta. Segundos depois, sinto sua presença ao meu lado outra vez. — O que eu e a Camila temos só diz respeito à mim e à ela. Não importa se você e Dinah discordam disso.
— Garota, eu praticamente te reinventei, um pouco mais de respeito pela sua mestra. — O sorriso vem para o meu rosto sem eu mesmo pretender. Intimidade é mesmo uma merda, não é? — Isso, vá em frente, ria. Não leve à sério. Pouco me importa o seu relacionamento sem nome.
— Vai fazer charme agora? — Reviro os olhos para tamanho drama. — Muita coisa aconteceu nessas últimas semanas, Mad, e eu não quero que ela pense que estou usando esse pedido como uma forma de me distrair. Camila não é apenas uma distração e eu ainda estou me recuperando de um monte de merda. Ela também tem com o que lidar. Só quero estar bem para conversar com ela sobre compromissos e rótulos. Tudo está bem entre a gente, por agora. Chega de mais drama, ok?
— Uau! Bom... Você está coberta de razão. — Com um sorriso gigante, Madelaine ergue as duas mãos. — Se é o que está bom para você, é o que está bom para mim também. De qualquer forma, mesmo que eu não tenha dito isso ultimamente, estou feliz por você. Você se lembra de como era quando o ano letivo começou?
— Sim, claro que lembro, eu era muito covarde e você, mesmo se irritando comigo, queria me beijar. — A ruiva sorri me mostrando o dedo do meio. — Verdades difíceis demais de engolir?
— Quase tão difícil quanto a sua comida. — Empurro-a com o ombro antes de abrir meu armário e enfiar todos os livros que trouxe na mochila lá dentro. Não gosto de ficar indo e vindo com ela cheia. — O que eu quero dizer é que você mudou de uns tempos para cá. Eu, você, Camila, Dinah, Normani, Matthew... É, todos nós mudamos. E de alguma forma, viramos todos amigos. Por sua causa.
— Minha causa? Nada a ver. Você já era amiga do Matthew. — Retruco me sentindo um pouco envergonhada com suas palavras. — E da Camila e Normani também.
— Não é verdade, não é porque nos cumprimentávamos nos corredores que éramos amigos. — disse enquanto soprava sua franja comprida e lisa para longe dos olhos. — Você é amiga de todo mundo que cumprimenta por aí?
— Não. — Respondo depois de pensar por alguns segundos. Resgato meu livro de francês, meu caderno com as anotações mais recentes e o estojo. Voltamos a caminhar assim que fecho meu armário. Nunca tinha pensado nisso, e, agora que penso, a ideia toda me deixo muito nervosa. Realmente somos um grande grupo por minha causa? Quando foi que eu me tornei essa pessoa que atrai outras?
Acho que meus olhos se desligaram do meu cérebro, porque quando volto a mim, estou esbarrando em Matthew como se ele fosse uma espessa muralha, mas não de tijolos e concreto, mas músculos. Cambaleio para trás e para frente, e todas as minhas coisas acabam indo ao chão, inclusive o meu café que tive todo o cuidado para não deixar cair. Daddario me segura pelos ombros, suas mãos grandes me contendo antes que eu tenha a chance de tropeçar em meus próprios pés e dar de cara com o granilite encerado do piso, causando outro acidente. Eu me espremo para longe dele quase que imediatamente ao notar sua boca abrir para falar alguma coisa. De joelhos no chão, arrasto minha mochila para longe da mancha marrom no chão causada pelo meu café, e para meu imenso desprazer Matthew se inclina para ajudar a me reerguer. Ele está fazendo seu papel de cara bacana, obviamente. Ele é o tipo de cara que nunca deixaria alguém em apuros se pudesse ajudá-lo.
A não ser que esse alguém seja sua irmã e a ajuda seja contar a verdade. Sussurra meu subconsciente de forma divertida.
— Desculpe-me pelo seu café. — Murmura assim que voltamos a ficar de pé. Com hesitação, presto melhor atenção em seu rosto e na sua aparência. O cabelo está mais curto do que eu me lembro e os olhos estão fundos como se não dormisse bem há dias. — E por...
— Sem problemas. Eu posso arranjar outro na cantina. — Interrompo-o antes que ele diga algo que sei que vai dizer. — Vamos, Mad.
— Lauren... — A ruiva tenta dizer algo, olhando de mim para Matthew e de volta para mim.
— Ou você pode ficar. Mas eu preciso ir, ainda tenho que me encontrar com a Camila antes do primeiro sinal. — Digo sem um pingo de paciência para ficar ali sendo alvo do olhar profundo do garoto.
— Tudo bem, vamos. — Ela responde por fim entrelaçando seu braço direito ao meu esquerdo outra vez.
E voltamos a caminhar como se nada tivesse acontecido. Ignorando outro elefante branco. Mas por quanto tempo?
Sobreviver aos três primeiros horários não foi uma tarefa exatamente fácil, mesmo que eu já tivesse esperando que tudo corresse da forma que correu. Os professores foram gentis em dar suas condolências e me fazer sentir bem-vinda outra vez, mas é difícil ficar aliviada no meio da selva que o Ensino Médio pode ser às vezes. Um alvoroço de resmungos tomava conta da sala antes do professor chegar e eu sabia que muitos falavam sobre mim, só eu não estou nem aí se eles sentem pena de mim por causa do meu avô ou se sentem nojo pela minha relação com a Camila, ou até inveja pela minha improvável amizade com Madelaine, alguém que me beijou na frente de muitos integrantes do corpo estudantil. Dinah estava na minha aula de álgebra avançada e Normani, na minha classe de Política, então a boa conversa acabou ajudando até a hora do intervalo.
Assim que pus os pés na fila da cantina, arrepios sobem desde a base da espinha até o último fio de cabelo. Pego uma bandeja com a mão esquerda, com o braço direito ajudo a apoia-la, e sigo logo atrás de Normani, que está falando sobre o último episódio de um Reality Show que eu não acompanho, mas que deveria. Tento acompanhar todos os argumentos que ela joga em cima de mim, mas tudo o que eu escuto de verdade são os cochichos das pessoas que estão atrás de mim. Não preciso me virar ou tentar adivinhar do que estão falando. Talvez seja o clima do lugar, o modo como as pessoas me encaram quando passo o olhar por elas rapidamente. Eu sei que disse que não me importo, mas acho que não querer ser assunto na escola toda é se importar um pouco sim.
Meus pulmões doem por segurar a respiração sem perceber, então exalo quando é a minha vez e o sorriso da tia da cantina me distrai um pouco. Depois de pegar uma salada com molho de limão, uma porção média de fritas e um refrigerante para contrabalancear a vida fitness, entrego meu cartão para o caixa passar no leitor e sigo Normani em direção à "nossa mesa", que é basicamente uma mesa mais ao fundo onde Dinah, Camila e Madelaine já estão sentadas. Observá-las interagir acaba sendo uma boa distração para não notar as outras pessoas. Alguns alunos acenam ao passar e me dão as "boas-vindas" com sorrisos curtos. Meus ombros finalmente relaxam depois da rodada de cumprimentos e perguntas rápidas para saber como estou. Ally Brooke acena para mim a algumas mesas distante e eu devolvo repentinamente animada. Recebi visitas suas no hospital e em casa, foi muito bom saber que ela se preocupa comigo.
Como se tivesse ensaiado, Dinah afasta-se um pouco para que eu possa me sentar entre ela e Camila. Sou recebida com um longo beijo na bochecha por parte da latina e um bagunçar de cabelos da minha melhor amiga que, por sua vez, parece muito mais feliz com a chegada de Normani. Acho que elas assistem aquele mesmo Reality Show e não viam a hora de poderem comentar. Felizmente, Madelaine entre no mesmo assunto e graças a Deus estão torcendo pela mesma pessoa, seja lá quem essa pessoa seja ou o que faça. Sorrindo aliviada pelas boas pessoas que tenho ao meu redor, volto-me para o meu almoço a tempo de ver Camila roubando uma de minhas batatas fritas. Encaro-a confusa, mas ela apenas dá de ombros e pega uma batata para dar na minha boca. O que eu não recuso, obviamente.
Mordo o lábio por um momento, observando atentamente o rosto da garota sentada ao meu lado. Não sei o que diabos ela faz como seus malditos olhos cor de chocolate, ou o sorriso fofo com os dentes meio tortos, mas de alguma forma, tudo isso acaba espantando minhas inseguranças por um momento e, agora, elas não soam tão altas na minha mente. Sua expressão estava neutra e sua postura permanecia calma. Eu gosto de tê-la assim, posso facilmente me acostumar com isso.
— Você sabe que eu consigo sentir seus olhos sobre mim, certo? — Aceno, pouco me preocupando com as minhas bochechas em chamas. Quando vou parar de me envergonhar perto dela? Espero que nunca. Esse pensamento literalmente me faz sorrir. — Eu sempre sei quando está olhando pra mim.
— Como? — Pergunto realmente interessada.
— Ah, eu não sei. Você também não sente quando alguém está se aproximando ou qualquer coisa assim? — Ela dá de ombros, brincando com a borda do seu corpo com refrigerante de uva. — Algo como isso, talvez.
— Eu esperava algo mais romântico, tipo o alinhamento dos planetas e algo como isso. — Camila me olha por alguns segundos e ri alto antes de acariciar minha bochecha. — Vou engolir essa sua desculpa por enquanto, mas pode ir pensando em algo melhor ou teremos um problema aqui.
— Tudo o que a madame quiser. — Recebo outro beijo, mas antes que eu possa de fato aproveitar o contato ou a proximidade, ela se afasta como se tivesse levado um choque. — Eu quase ia me esquecendo de te mostrar!
— O que? — Pergunto vendo-a ligar seu celular e abrir a galeria. Segundos depois, a imagem de um gatinho pequeno e magro aparece na tela. — Okay...
— Esse é o meu novo amiguinho... Bom, eu ainda não encontrei um nome para ele. Tudo o que sabemos é que é macho, gosta de leite e adora ficar debaixo da minha cama enrolado num pano velho cor-de-rosa. — Camila volta-se para mim com um enorme sorriso estampado nos lábios cheios.
— Ele é muito fofo, Camz! — Aproximo-me melhor para observar os detalhes do bichinho. Ele parece tão indefeso. Não me surpreender que Camila o tenha pegado para cuidar. Ela é tão dócil e gentil. — Onde o encontrou?
— Na verdade, foi ele quem me encontrou. — Sem pedir permissão, mas também não é como se precisasse pedir, ela se arrasta para estar quase sobre mim e eu aproveito para deixar meu braço sobre seus ombros, brincando com uma mecha de seu cabelo escuro. — Eu fui pegar uns materiais dentro do meu carro esta manhã e ouvi seu miado de algum lugar debaixo de automóvel. Foi apenas questão de tempo até encontra-lo escondido num espaço perto de um dos pneus.
— E você vai ficar com ele mesmo? — Pergunto hesitante. Seria muito ruim se ela tivesse criando grandes expectativas e seu pai, por exemplo, acabasse negando a presença do bichano.
— O papai ficou meio em dúvida, porque ele acha que vai ser como foi com o Cat. — Revira os olhos enfaticamente, mas minha cara de confusa a faz continuar: — Cat era o meu peixinho dourado.
— Você deu o nome Cat ao seu peixe? — Questiono com os olhos esbugalhados.
— A vida é cheia de ironias, Jones. Mais uma não ia matá-lo. — Ela balança a cabeça, negando. — O que o matou foi a gula, na verdade.
— Ah, não me diga que você deu comida demais para o pobre Cat? — Seguro a risada e me viro para ela a tempo de vê-la soltar um suspiro pesado. Não dá pra acreditar. — Camila! Você não sabia que esses peixes comem até explodirem?
— Agora eu sei, porque foi quase o que aconteceu com aquele bobo. — Por um momento, achei ter visto seus olhos marejarem. — De qualquer forma, eu tive que garantir para o papai que isso não vai se repetir. E depois de um tempo, ele acabou aceitando!
— Fico feliz por você, mas não sei se sinto o mesmo pelo seu novo amiguinho. — Camila me empurra com os ombros para me afastar e cruza os braços. — Ei, estou apenas brincando com você. Sei que vai cuidar dele muito bem. Vai me deixar visitá-lo?
— Claro, Lo. Você pode me ajudar com um bom nome para ele também? — Puxo-a de volta para estar sob meu abraço e me ponho a pensar. — Eu estive pensando em Sr. Bigode.
— Gosto de Scar. Como o filme da Disney. — Ela me encara como se eu tivesse três cabeças ao invés de uma. — O que?
— Ele matou o pai do Simba, Jones, e você ainda me pergunta o que? — Dou de ombros. Scar sempre foi um leão incompreendido, mas é verdade que fez coisas ruins e nada justifica. Explica, mas não justifica. — Pense mais, você é melhor do que isso.
— Que tal Salem? — Aperto os lábios e balanço a cabeça. Talvez seja por isso que eu nunca tive um animalzinho de estimação, sou péssima com nomes e passaria semanas pensando até me decidir por chamá-lo de Cachorro ou Gato. — Ou você pode chamá-lo de Dog.
— Outra ironia? — Aceno feliz por ela ter entendido. — É, acho que você está certa. Mal posso esperar para que conheça o Dog. Ele é tão carinhoso e carente.
— Tenho certeza que vocês vão se dar bem. Só não...
— Lauren! Lauren! Lauren! — Ao som da voz de Troye, eu e Camila nos viramos em direção ao tempo de vê-lo chegar à nossa mesa ofegante e com as mãos sobre os joelhos. Ele está com o rosto vermelho de quem correu uma maratona. — Que merda!
— O que há, Sivan? — Dinah quem pergunta.
— Whitesides e Daddario... Brigando perto do giná-ginásio.
Depois de correr a mesma maratona que Troye com as garotas no meu encalço, me aproximo da confusão e noto que Whitesides parece um pouco desorientado, mas não apresenta qualquer sinal de que acabou de levar um soco ou algo assim, então ele só pode estar surpreso pela situação no geral, fora que ele está claramente tentando achar uma forma de se sobressair — apesar de tudo, Jacob mantém a fachada de ser um bom garoto e muito educado. Jamais iria fazer uma coisa dessas, assim do nada, agindo sob impulsos. Inteligente do jeito que é, armaria algo para que houvesse uma briga que o beneficiasse, mas nunca estaria nela. Alguns poucos alunos que estão por ali se aproximam para ver o que está acontecendo, uns sussurrando Briga! Briga!, outros reagindo adequadamente com frases como Aposto 10 dólares no Matthew, ou Jacob só pode ter enlouquecido, conforme apropriado. E eu estou presa bem ali, no olho do furacão, paralisada, incapaz de dizer alguma coisa ou me mover. Leva uns cinco segundo até que a realidade me atinge ao ouvir a voz de Camila no meu ouvido me pedindo para me afastar.
— Você é a merda de um covarde, Jacob. — Meu ex-amigo de infância dá um sorriso completamente assustador de quem sabe de alguma coisa, mas nada fala imediatamente. — Acha que eu não sei que armou para Lauren no dia do baile?
— Acusações infundadas não me fazem culpado, Daddario, seja mais inteligente. — Com uma calma ímpar, Jacob apenas caminha ao redor de Matthew como se não tivesse medo. — Não tem como provar que aqueles comprimidos eram meus, ou tem? Eles foram encontrados não só no armário da Jauregui como na bolsa dela. Culpada, culpada, culpada. Mas, sendo sincero, não estou surpreso. Eu já devia saber que ela acabaria sendo uma drogada inútil. Mãe morta, pai morto, avô prestes a bater as botas também... Ela já sabe sobre o seu segredinho, aliás?
— Filho da puta. — Ouço Dinah grunhir e tentar ir até ele, mas Normani a segura pelos ombros.
— Cala a porra da boca! — Matthew diz entredentes, habilmente escondendo a surpresa por Jacob saber aquilo. Diferente do melhor amigo de Camila, eu não consigo esconder assim tão bem. — Eu poderia muito bem acabar com você agora...
— Por quê? — Pergunto mantendo o tom de voz. Afasto os alunos para que eu possa passar e ganho a atenção dos dois garotos. Matthew me encara confuso e assustado, mas Jacob parece satisfeito com a cena gerada. — Por que está fazendo isso? Eu era sua amiga, então por quê? Por que fingir se preocupar comigo e me dar aqueles comprimidos no dia do teste? Por que armar tudo aquilo apenas para me ferrar?
— Ah, Lauren, não se faça de vítima, pois não é uma. Está muito longe de ser. — Responde ele, ríspido. — Você não entende, não é mesmo? NÃO ENTENDE PORRA NENHUMA!
— Por causa de uma garota, Jacob? Colocou todos aqueles remédios no meu armário e fez a denúncia anônima porque uma garota te dispensou e eu não quis ajudá-lo? — Ele está tentando me provocar para que eu perca o controle e usar aquilo ao seu favor. Mas eu não queria jogar seu jogo sujo, eu tenho acompanhamento psicológico justamente para controlar melhor minha versão agressiva e inconsequente. — Foi isso ou tem algo a mais? Claro que tem, você não seria tão desprezível, ou seria? Machuquei seu ego tão forte assim?
— Eu. Odeio. Você. — Sussurra ao se aproximar de mim a passos largos. Pelo canto do olho, vejo Matthew se mover em nossa direção, mas com um aceno, peço para que ele não o faça. — Odeio o fato de você ter tudo o que quer. Mesmo sendo a merda de uma órfã, sem mãe, um pai morto... Apesar de tudo, você ainda conseguiu pessoas que se importassem com você. Ainda que eles não enxerguem a porra tóxica que você é, destruindo tudo o que toca, ainda tem amor na sua vida. E eu, que sou o garoto exemplar, preciso lutar por um pouco de atenção.
— Inveja, Jacob? Ciúmes? É sobre isso que se trata? — A mão dele voou para seus cabelos até então perfeitamente alinhados e ele começou andar de um lado para o outro. Noto-o pálido e ainda mais desnorteado, talvez a verdade dita em voz alta tenha o afetado ou esteja chapado além da conta. — Eu nunca me importei com atenção, Jacob. Foda-se esse status que você tanto busca. Por muito tempo, eu só queria a SUA atenção, o meu melhor amigo. Mas você estava mais preocupado em como os caras do time iam te ver ou se as garotas da torcida queriam sair com você. Se está onde está hoje é apenas por culpa sua. Sua.
— Patética. Você consegue ser tão patética que me irrita. — Ele gargalha jogando a cabeça para atrás. — É tão injusto como uma perdedora como você tenha tudo o que tem. Eu pensei que aquelas drogas iriam acabar com você, te enterrar de vez. Mas não, você sempre acha um jeito de se safar.
— Me safar? Eu me meti em sério problemas graças a sua vingança idiota, Jacob. É da minha vida escolar que estamos falando aqui e você poderia ter ferrado tudo por causa da sua inveja. — Continuo fazendo o máximo para manter a calma. — Perdi a confiança de todos os meus amigos e da minha mãe por causa da sua armação.
— E daí? Estou vendo todos eles aqui de novo e não finja que não acabei te ajudando no fim das contas. — Dá de ombros se aproximando outra vez para sussurra contra meu rosto: — Você acabou pegando a vadia da Cabello.
Antes mesmo que ele possa terminar de dar seu sorriso, tudo acontece muito rápido, com uma mistura de reação e adrenalina. Num surto, saio pulando do meu lugar como se as minhas pernas tivessem molas, sinto os músculos das minhas coxas ficarem firmes por causa da tensão e fecho o punho esquerdo pronta para acertar Jacob em cheio, mas meu pulso é agarrado na metade do caminho. Ao olhar para o lado tentando entender o que me parou, Matthew dá um pequeno sorriso quase que pedindo desculpas antes de me empurrar levemente para trás e ele mesmo fazer o trabalho sujo. Mas outra vez, há uma interrupção e dessa vez se trata do Sr. Cowell, que segura o braço do melhor amigo de Camila com força para pará-lo. Eu nem sequer o havia notado ali, mas a expressão dele diz que esteve ali tempo o suficiente para entender tudo o que estava acontecendo, o que passa despercebido por Jacob, que está sorrindo como tivesse ganhado na loteria.
— Todos vocês. Circulando. AGORA! — Só então noto os alunos saindo quase correndo para o prédio principal da escola antes que o diretor mude de ideia. — Whitesides, Daddario, quero vocês dois na minha sala agora. Você também, Jauregui.
Jacob fica boquiaberto: — Eu? O que foi que eu fiz? Claramente esses trogloditas iam me bater. Pensei que a escola tivesse uma rígida política contra bullyng.
— E contra drogas também, Sr. Whitesides. Mas o senhor deve desconhecê-la ou faz pouco caso dela. — Responde o homem nos guindo de volta.
— O que eu tenho a ver com isso?
— Tudo, pelo que pude ouvir. — Antes que Jacob tente outra vez tirar o corpo fora, Cowell faz um sinal para que fiquemos em silêncio. Suspiro, decepcionada por estar indo outra vez para a diretora e, de repente, sinto um braço ao meu redor. Camila.
— Vai ficar tudo bem.
Eu só posso esperar que realmente fique.
Na sala do Cowell, Rick Edwards, o orientador, está sentado numa das cadeiras mexendo em seu celular, e quando olha para cada aluno, uma sombra de confusão paira sobre seus olhos apenas por alguns segundos antes de ele entender por que Simon pediu que a secretária o encontrasse rapidamente. Ainda me sentindo incrivelmente ansiosa e triste, sento na poltrona oferecida por Rick enquanto que os meninos se sentam nas outras duas. Por um momento, achei que o diretor fosse falar com cada um individualmente, para confirmar as versões das histórias ou algo assim. Só tinha estado ali umas duas vezes antes de toda aquela confusão com as drogas no meu armário; no máximo tinha passado diante da porta — e não era um lugar muito receptivo, nem mesmo quando Simon me chamou para dar os parabéns por ter conseguido o grau oito, permitindo que fizesse o teste para Juilliard . O clima é geralmente pesado, remetendo a regras e castigos.
Engolindo em seco, ouço a Cowell abrindo uma das gavetas de sua mesa em formato de L e puxando um envelope. Por uma fração de segundo, vejo Jacob estremece, mas ele se recompõe tão rapidamente que fico me perguntando se ele realmente se deixando afetar. Sem entender nada do que está acontecendo, permaneço em silêncio, torcendo que, se Simon já contatou nossos responsáveis, Joana não esteja tão brava comigo por ter arrumado confusão logo no meu retorno ou que ela ao mesmo espere saber o que vai acontecer antes de me colocar de castigo outra vez.
— Devo dizer que estou decepcionado com cena que acabei de presenciar lá fora. — O diretor começa, juntando suas mãos sobre a mesa. — E profundamente irritado, aliás.
— Eu também estou. — Whitesides diz com uma careta falsa. — Espero que esses dois sejam devidamente julgados por suas ações que, se posso dizer, são dignas de expulsão.
— Não, Sr. Whitesides, você não pode dizer. E não se preocupe quanto aos seus colegas. Talvez seja mais prudente se preocupar com você mesmo. — Simon não fala nada por pelo menos um minuto, apenas me encara profundamente antes de respirar fundo. — Lauren, logo depois sua primeira visita à Orientação Pedagógica, Richard veio até minha sala lotado de dúvidas quanto ao que aconteceu no baile. Quando lhe pedi para me explicar a razão daquele comportamento, ele apenas me disse achava que não estávamos sendo justos com você.
— Eu... — Tento dizer alguma coisa, mas ele apenas levanta a mão para terminar.
— De qualquer forma, eu e Rick iniciamos uma busca pelos compradores dentro do corpo estudantil e, anonimamente, descobrimos algumas inconstâncias. — Houve um momento de silêncio na sala. Um silêncio desconfortável. — A princípio, os alunos não queriam delatar o vendedor, mas ao citar seu nome, sutilmente, eles agiam como se não fosse você. Mas não parecia fingimento, eles só pareciam confusos quanto à sua participação nesse esquema. Confusos, continuamos a procurar até que alguém me avisou de uma briga perto do ginásio. Aproximei-me sem grande alarde, então acabei ouvindo boa parte da conversa.
— Sr. Cowell... — Jacob abre e fecha a boca, umas três vezes antes de Simon virar-se para ele.
— Esta onde você, Sr. Whitesides, confessa ter armado para a Srta. Jauregui colocando as drogas, que acredito serem suas, dentro do armário dela. — Eu me espremi contra o estofado da poltrona, mordendo o lábio inferior com força. Meu Deus, nem acredito que isso está realmente acontecendo.
— Isso é um completo absurdo. — Jacob se lança para fora da poltrona com raiva cintilando nos olhos. — Como ousa me acusar dessa forma?
— Ainda se diz inocente depois de tudo o que eu ouvi, Sr. Whitesides? — Simon também se levanta, seu tom firme de voz me faz querer sumir. — Então, me diga, se eu me encontrar com os seus compradores e disser que o pegamos, qual reação você acha que eles terão?
— Pouco me importa toda essa merda. Eles armaram para mim! Você não vê que está claro o desejo deles de me ferrarem? — Encaro Jacob abismada. Como ele consegue, com tudo apontando contra ele, se fazer de inocente? — Comprimidos também foram encontrados na bolsa dela! Ela era uma das usuárias.
— Não estamos aqui para julgá-la com usuária e sim como fornecedora, o que ela não é. — Simon abre o envelope que pegou da sua gaveta e o joga sobre a mesa. — Esse é o seu resultado do teste antidoping para o time de futebol americano. Foi detectado uma grande quantidade do fármaco presente em antidepressivos.
— E? Eles não aumentam e nem alteram a minha performance, então não é proibido.
— Eu sei disso, mas o treinador me pediu para entrar em contato com sua mãe para saber se você poderia entrar em contato com seu ou sua psiquiatra para descobrir se poderia tomar as vitaminas e tônicos adequados sem prejudicar sua medicação, presumindo que você não tomaria esses remédios sem prescrição médica, certo? — A mesma sombra de terror que eu vi antes sobre os olhos de Jacob, voltam anunciando uma terrível tempestade. — O que eu não poderia imaginar era que sua mãe não fazia ideia desses medicamentos. Com uma meticulosa busca dentro do seu quarto enquanto estava na escola, sua mãe descobriu uma quantidade absurda de comprimidos num fundo falso no seu closet.
— Isso é invasão de privacidade! — Simon dá um sorriso irônico para as palavras de Jacob, o deixando profundamente irritado.
— Então, como 1 mais 1 são 2... — Cowell guarda os papeis de volta no envelope antes de se voltar para mim e Matthew. — Jauregui, peço desculpas em nome de todo o corpo docente e estudantil pelo transtorno. Sentimos muito por tudo o que lhe foi causado desde esse mal-entendido e não se preocupe, seu histórico escolar permanece limpo e perfeito. Gostaríamos que pudesse nos perdoar pelo mal julgamento e que fique claro que faremos um retratamento oficial para você e a Sra. Jauregui.
— Eu só espero que a justiça seja feita. — O diretor acena assim como Rick.
— E você, Sr. Daddario, nós ensinamos nessa escola que a violência não resolve as coisas. Tentem, por favor, conversa próxima vez. — Assentimos rapidamente. — Estão liberados, podem ir. Sr. Whitesides, sua mãe está a caminho.
Sem nem pensar duas vezes, saio da sala de Simon como um foguete tendo Matthew logo atrás de mim tão desesperado quanto. Eu mal posso acreditar que isso acabou de acontecer. Para falar a verdade, com tantas coisas que aconteceram, eu até tinha me esquecido de Jacob, sua armação e a tentativa de me provar inocente. E então, no meu retorno depois de duas semanas fora, consigo aquilo que quis sem ter noção de que o conseguiria durante uma discussão acalorada. Tudo o que mais quero agora é me encontrar com as minhas amigas e gritar para elas que fui inocentada de toda aquela merda, mas antes que eu possa me afastar mais do que alguns metros da diretoria, ouço Matt coçando a garganta para chamar minha atenção. Hesitante, viro-me sobre os calcanhares para encontrar um garoto acanhado com ambas as mãos dentro dos bolsos da calça.
— Eu... Eu gostaria de lhe dar os parabéns. Estou feliz pela forma como tudo acabou, afinal. — Ele dá um passo para trás, escorando-se na parede. Alguns alunos passam por nós e encaram desconfiados, acho que a notícia da briga correu rápido. — Quem lhe contou?
— Troye. — Dou de ombros. — Ele me encontrou no refeitório com as meninas e me avisou sobre a discussão.
— Você não precisava ter ido até lá. Eu poderia ter lidado com ele sozinho. — Disse cruzando os braços. Não consigo engolir o riso.
— Sim, eu sei disso, não comece a me dizer como sua vida era perigosa e cheia de adrenalina em Boston, mas não fui até lá por sua causa, Matthew. — Zombo dele, fingindo indiferença. Seu tom provocativo não é nada diferente, quase posso me ouvir falando por ele, mas o que disse me irrita e eu acabo rangendo os dentes. — Qual era o seu plano, afinal? Socá-lo até ter uma confissão? Não seja tão bobo, você acabou de ver que mesmo com todas aquelas provas, Jacob não disse que era o culpado com todas as letras, e nem durante a discussão, onde não havia muitas testemunhas.
— Eu ia dar um jeito. Não queria que você se envolvesse e acabasse piorando sua situação aqui e com a Joana. — Retruca, com uma voz baixa e rouca.
— Não finja que estava pensando no que é bom para mim, Matthew. — Minha pulsação martela dentro dos ouvidos quando vejo tristeza em seus olhos esverdeados. — Eu sei que, no fundo, você estava apenas procurando por uma situação te desse um pouco de paz de espírito. O menininho gentil de Boston sabe ser egoísta, mas isso já vimos acontecendo.
— Lauren, não faça isso. — Respiro fundo cansada de toda aquela discussão. — Não finja que não sabe que me preocupo de verdade com você.
— O que você faz ou deixa de fazer, não me importa mais, Matthew. Vamos chegar a um acordo aqui e agora.
— Que acordo? — Ele ladeia a cabeça me encarando com confusão.
— Você é o melhor amigo da Camila e nós estamos juntas, então ficar discutindo não é a ideia mais inteligente do mundo. — Matt assente me dando razão. — A última coisa que eu quero é brigar com ela por sua causa e pelas coisas que fez ou deixou de fazer. Você para de agir como se fosse meu irmão de verdade e eu tento manter a paz na sua presença.
— Mas eu sou seu irmão de verdade, Lauren. — Ele tenta mais uma vez, agora se aproximando. Com as mãos erguidas, deixo claro que está passando de todos os limites. — É isso que realmente quer? Manter a distância e tratar tudo com indiferença?
— Oh, agora eu posso escolher o que quero, certo? — Matthew bufa e se afasta definitivamente. — Temos um acordo ou não? Pela Camila.
— Pela Camila. — Aperto sua mão rapidamente antes de dar-lhe as costas para encontrar minha garota no fim do corredor. Dou-lhe um sorriso grande antes abraçá-la pela cintura. No fim das contas, ela estava certa.
Tudo vai ficar realmente bem.
Corre para o próximo e último capitulo.