- Acorda.
Que voz suave. Uma voz que faz cócegas em meus ouvidos e me faz querer abrir o olhos.
- Acorda, Jungkook.
Abro meus olhos devagar. Eu estava deitado no jardim, eu estava encharcado e ainda chovia. Meus cabelos molhados prejudicavam minha visão. Eu levantei com dificuldade, havia machucado minha perna quando caí.
Alguém havia sussurrado meu nome mais cedo, mas não tinha ninguém, eu olhava para todos os lados, mas só tinha mato, uma casa queimada e poças d'água. Caminhei até a casa, cheguei até a porta da frente e quando fui abri-la girando a maçaneta, a porta saiu na minha mão. A joguei no chão e entrei. Eu lembrava bem daquele lugar, mas parecia tão diferente quando o que sobrou foi apenas cinzas e paredes queimadas. Não tinha nem sequer um móvel que tivesse sobrevivido. Fui mancando até a biblioteca do casarão, meu lugar favorito da casa quando eu era pequeno, pelo menos quando o Jimin não estava aqui. Eu abri a porta e vi livros queimados, estantes caídas, não dava nem para dizer que eram estantes. Me aproximei do montinho de cinzas e de lá consegui achar um livro, sua capa ainda brilhava, estava inteiro.
- Jungkook - Ouvi o mesmo sussuro. Era como se a pessoa estivesse dizendo diretamente no meu ouvido, mas quando eu me virei assustado, não havia nada.
- Quem está aí?! - Segurando o livro firmemente em minha mão, saí da biblioteca a procura da voz. Algo passou rapidamente por mim, caí no chão de joelhos, assustado. - Que merda é essa?
- Jungkook. - me levantei imediatamente.
- Onde você está? - Eu olhava para todos os lados
- Aqui. - a voz vinha de um corredor, mas quando cheguei lá ele estava vazio. Eu passei por aquele corredor que me levou até uma enorme porta. Era o grande salão, onde todos morreram. - Estou aqui - a voz dizia atrás da porta. Até bateu na porta. - Venha, entre.
- Quem é você? - Disse no mesmo lugar, eu havia congelado.
- Me ajude! Me ajude!!! Dói, dói muito. Queima, Jungkook, isso queima!! - A voz gritava de agonia. Gritava e batia na porta.
- Saia agora. - Um vulto preto passou por mim.
- Quem é você?
O vulto parou de correr e ficou na minha frente. Era uma mulher, linda, muito linda. Seus cabelos eram feitos de fumaça e suas vestes também, mas seu rosto era como o meu, mas ao mesmo tempo não era.
Eu a conhecia, eu não sabia de onde eu a conhecia, mas eu lembrava daquele rosto, era um rosto que me transmitia felicidade.
- Filho... - A fantasma disse.
- Você... Eu já te vi antes?
- É normal que não se lembre, era uma criança. - Ela se aproximou e eu imediatamente dei um passo para trás. - Não precisa ter medo, Jungkook.
- Como sabe meu nome?
- Você é meu filho, como eu não saberia? Pode estar crescido, mas sempre vou reconhecer meus filhos.
- Você... Como pode estar aqui?
- Tudo que precisar saber sobre isso, está nesse livro, mas não o leia agora.
- Eu queria tanto conversar com você, queria tanto que estivesse aqui e agora está.
- Eu sei o que está sentindo meu filho, mas para tudo há uma explicação.
- Não quero estragar isso conversando sobre ele, quero falar de você e aquilo atrás da porta.
- Está tudo no livro. Eu o guardei, o protegi para que você pudesse ler.
- Como sabia que eu viria?
- Você tem uma conexão com esse lugar, sempre voltará quando precisar ou quando ele te chamar.
- A Casa me chamou?
- Sendo mais clara, a casa somos nós, as pessoas que morreram aqui são a casa, agora. Fazemos parte desse lugar.
- Então se está aqui e todos que morreram estão aqui...significa que minha irmã está aqui? A minha tia também está? - penso em Jimin.
- Sua tia está lá, presa com todos, queimando eternamente. Eles vão te chamar muitas vezes para que abra, eu não posso abrir pois já não sou humana, mas você também não deve abrir. Sei que é sua tia, mas não é só ela que ficou presa lá, tem um bruxo das trevas que acidentalmente ficou preso lá, se abrir, pode morrer e pode condenar muitos outros porque o fantasma ali dentro é maligno e busca vingança.
- Quando saberei que é ele me chamando?
- Ele tentará te chamar de muitas formas. Através de sonhos ou usar seu descontrole emocional como fez hoje.
- Mais eu quis vir, quer dizer, eu precisava.
- Ele sabe que se te chamasse diretamente, você não viria. Ele te usa. Usa seus sentimentos, sua raiva e sua necessidade de espaço para te atrair. Usa sua fragilidade. Te engana. Ele usou uma voz feminina para te atrair, para você não ver o perigo, para te confortar e te enganar.
- Minha irmã... Você não disse se ela estava aqui.
- Ela não está aqui, meu filho.
- Porque você está e ela não?
- Eu morri aqui.
- Isso quer dizer que ela está viva?
- Sempre esteve.
- Onde? Onde ela vive?
- Eu não sei, mas sei que estão ligados, vocês são irmãos, não importa o que aconteça, sempre vão se encontrar.
- Você tem que me contar, como ela sobreviveu.
- Eu mandei tirarei ela daqui
- Ela estava sozinha?
- Você precisa ir agora... Vá, agora! - Os sons da porta ao nosso lado ficavam cada vez mais altos. Eram batidas de raiva e gritos de dor. Pedidos de ajuda, gritos de agonia, chamavam por mim, pediam minha ajuda, imploravam pela minha ajuda.
- Diremos o que quiser saber!
- Jungkook, não confie neles, vai embora.
- Eu voltarei, mãe, eu voltarei - Saio correndo até o jardim e lá me ponho a voar. Eu fiquei muito tempo por lá, nem sabia quanto tempo havia ficado desmaiado ou quanto tempo conversei com minha mãe, mas sabia que era noite e que já não chovia. Voei o mais rápido que pude até a casa do Jimin.
Desci devagar. Olhei a casa e lembrei de tudo, por um instante havia esquecido o motivo de ter sentido vontade de ir para lá, o fato de não querer estar aqui. Eu não queria ver o Tae, não queria conversar com o Jimin, mas agora já não tenho escolha, ele precisa saber o que aconteceu e eu preciso descobrir o conteúdo deste livro.
Entro na casa e assim que entro na casa, vejo Tae, Jimin e por algum motivo Yoongi. Quando os olhos dele encontram os meu, uma enxurrada de memórias me bombardeiam, mas as que ficam na minha cabeça são as mais dolorosas. Eu não penso no tempo em que ficamos juntos, deitados, vendo uma série e isso já era ótimo, eu não penso no dia em que fomos a um pequenique e ele ficou correndo de uma abelha que só tinha interesse em seu copo de refrigerante. Eu penso naquele vestiário, eu penso nele com aquele cara, é só nisso que penso. Quando todos me vêem, se levantam.
- Aproveita que levantou e vai embora, não quero olhar para você - Fechei os olhos impedindo as lágrimas de virem. Era uma coisa muito difícil de explicar, quem estivesse fora diria que eu estava fazendo drama e que eu não me sentia como eu demonstrava, já que não ficamos tanto tempo juntos, mas eu sentia como se aqueles dias fossem anos.
- Jungkook. - Sua voz estava embargada e eu sabia que ele havia chorado.
- Jimin, eu tenho que conversar com você, a sós. - Fui em direção às escadas. Paro assim que sinto algo me segurando. Olho para trás e vejo ele com os olhos lacrimejando. Meus olhos não estavam diferentes. - Não me olha assim, o que fez não tem perdão, vai embora, Taehyung. - Me desfiz de seu aperto e voltei a subir as escadas. Ouvi ele me chamar várias vezes e depois ele parou, ouvi Jimin dizendo que conversaria comigo. Fiquei no corredor, eu não conseguia entrar no meu quarto agora, não dava. Tinham tantas memórias lá, nossas brigas, nossa timidez, nossas risadas e nossa reconciliação.
Então entrei com Jimin em seu quarto.
- O que aconteceu com vocês? Ele ficava chorando e dizendo que não conseguia falar com você, que não atendia o telefone e não estava com a Lisa ou o Yugyeom. Ele disse que te procurou em todos os lados e não te achou.
- Não estou aqui para falar dele, Jimin - Eu enxugava uma lágrima solitária que havia se atrevido a cair e fungava de minuto em minuto.
- Porque vocês dois parecem assim tão destruídos? Você tá com a roupa úmida, uma cara de choro e eu te vi mancar. O Tae veio chorando e só parou pouco antes de você entrar. - Ele estava tão confuso e frustrado que passo a mão no cabelo e o bagunçou.
- Ele me traiu, Jimin e eu vi tudo - Funguei.
- O Blue não faria...
- Pode ficar do meu lado por um minuto? Que droga! - Eu já chorava de novo.
- Mas vocês estão tão...
- Eu sei, sei que não era para ser assim, não dá para explicar.
- Você tem certeza? Ele gosta tanto de você.
- Sei que não acredita em mim e pelo jeito não está do meu lado.
- Eu acredito em você, Jungkook, mas...
- Não, Jimin, você não conhece ele. - Interrompo ele novamente. Adivinhando o que ele falaria a seguir. - E não sabe o que ele faria ou não faria.
- Sei que tem uma explicação para isso, tem que ter.
- Me ache uma explicação para duas pessoas digamos que nuas em um vestiário masculino se beijando, por que eu sinceramente acho que a situação tá óbvia. - Sento na cama tentando enxugar as lágrimas.
- Ele... Nossa - Estava sem palavras.
,- O assunto é, depois que eu vi eles, fiquei super puto e voei até minha casa. Eu não via aquele lugar a muito tempo e não foi por acaso. Acredite, eu vi o fantasma da minha mãe e ela disse que dentro do grande salão tem vários fantasmas, inclusive o de um bruxo das trevas. Ele me atraiu para lá, minha mãe disse que ele usou esse meu descontrole para me atrair, provavelmente eu fico desprotegido quando estou afetado e o Tae me fez perder a cabeça. Se eu tivesse aberto aquela porta, muita coisa ruim aconteceria, principalmente quando tem um fantasma de bruxo das trevas maligno querendo vingança envolvido na história.
- Calma, é muita informação.
- E tem mais.
- Espera, a sua mãe apareceu para você como um fantasma e disse que tem um fantasma maligno preso na casa?
- Sim e ele me atraiu, na verdade ela disse que aquela casa está cheia de fantasmas. E disse que as respostas estão nesse livro.
- Então quer dizer que sua irmã e minha mãe estão presas lá?
- Sua mãe sim, mas minha irmã não. Jimin, minha mãe disse que ela tá viva.
- É realmente muita informação.
- Eu sei, mas tudo ficará claro assim que eu ler aquele livro.
- Ela disse como sua irmã sobreviveu?
- Ela disse que a tirou de lá, mas não conseguiu terminar de explicar com quem ou como, os fantasmas estavam muito agitados - Eu disse. Ele começou a andar de um lado para o outro.
- Jungkook, não teria como ela ter tirado sua irmã de lá, a não ser que ela soubesse o que aconteceria, mas se ela soube, então foi por uma vidente, com certeza minha mãe sabia do ataque e contou para a sua.
- Não é possível, se não todos teriam se preparado para atacar, teriam sobrevivido, Jimin.
- Alguma coisa não faz sentido. - Ele ficou de um lado para o outro, pensativo.
Peguei o livro que havia jogado na cama e o abri. Era um diário, o diário da minha mãe.
- Jimin, isso é um diário. - Eu o olhei, observei ele parar e olhar para mim como quem descobriu algo.
- Se é o diário da sua mãe então...
- Então vamos saber tudo o que aconteceu antes de morrerem, vamos saber de tudo.