O que restou de um coração Li...

By Suelleyn

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Muitas coisas poderiam ter sido evitadas. Karen poderia não ter revelado tudo o que descobriu à polícia; pode... More

ATENÇÃO
Capa e Sinopse
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Estão curiosos?
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E P Í L O G O
Faça um coração bater mais forte
N O T A D A A U T O R A
T R I L H A S O N O R A

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By Suelleyn

Dificilmente algo que foi estritamente planejado irá sair como planejamos. Tudo bem que contar a verdade à minha sogra não foi uma coisa que eu calculei aos mínimos detalhes, mas causei o que eu não imaginava que poderia acontecer. Ela me odeia desde o momento em que interpretou a verdade como uma brincadeira de mal gosto. Eu queria tanto poder dizer ao Douglas o quanto eu o odeio neste momento! Não que eu me recuse a ajudar Dona Ana a passar por essa fase tão difícil, pelo contrário, eu adoraria poder estar a todo minuto dedicando minha atenção à ela. Minha objeção é com o fato disso ser algo que o Douglas deveria estar fazendo também. Nunca, jamais, eu vou conseguir entender como ele escolheu manter essa decisão absurda mesmo depois de saber que sua mãe não tem muito tempo de vida. Aquele cretino nem me deixou um número de telefone para que eu pudesse ligar e dar alguma notícia, seja da nossa filha, ou de sua mãe. Talvez eu não tenha dado tempo o suficiente para que isso acontecesse. Ou não. Ele sabe meu número de cor e, se quisesse saber de nós, já teria entrado em contato.

Respiro profundamente ao entrar na minha casa no meio da madrugada. Acendo as luzes e encaro cada canto do meu lar solitário, mas que me lembra que essa é uma nova etapa e que pensar nos acontecimentos que quero deixar para trás, não me levará para frente. Tiro os sapatos e os coloco ao lado da porta, onde deixei meu chinelo. É tão bom voltar a pisar em algo macio de novo! A que ponto cheguei? Um nível tão caótico de coisas boas a serem apreciadas que me levam a idolatrar um par de chinelos. Deve ser coisa da gravidez.

Meu estômago resmunga me lembrando que preciso comer, e logo. Abro a geladeira e pego tudo que possa virar um sanduíche. Entre uma mordida e outra, pego meu celular e verifico minhas mensagens. Minha mãe, Paola e Wesley estão preocupados com minha sogra. Digito que ela está estável e que amanhã saberemos melhor qual é a situação. Envio a mesma coisa para os três seguido de um desejo de boa noite, mais para não receber novas mensagens do que outra coisa. Em algum momento vou precisar desabafar com alguém sobre o que aconteceu hoje, mas agora eu só quero comer e descansar, pois meu joelho merece esse descanso. Bia e eu também.

•°• ✾ •°•

O que uma boa noite de descanso não resolve? A dor no joelho está dando uma boa folga, mas a autoflagelação, não. Impossível esquecer o olhar de desprezo que Dona Ana me lançou quando Sofia e sua mãe perguntaram o que houve. Ela preferiu esconder o que eu tinha falado. Não sei por qual motivo. Ou ela achou tão absurdo que nem mereça ser passado à frente, ou me poupou do ridículo e de novos olhares frios.

Tomo meu café da manhã admirando o dia nublado dar lugar a alguns raios de sol. Um novo dia. Uma nova chance de fazer algo valer a pena. Pelo menos mais do que ontem.

O silêncio da casa chega a me incomodar um pouco. Eu nunca fiquei em um ambiente tão silencioso antes, exceto o hospital. Quando eu ainda morava na minha antiga casa, o Théo estava sempre agitado e tentando chamar minha atenção, o que conseguia com facilidade. Nos meus dias de folga, ele não me deixava dormir até mais tarde. Latia, pulava na minha cama e lambia meu rosto até eu levantar e fazer o que ele queria: levá-lo para passear. O que era engraçado, é que era ele quem me levava. Era mais pesado que eu e praticamente do mesmo tamanho quando estava em pé, então, ele me conduzia para onde queria ir. Já até quase fui atropelada num desses passeios. Andávamos pela orla de Ipanema quando ele viu uma fêmea de bullterrier e saiu em disparada na direção dela. Quase fiquei surda com as buzinas dos carros e ônibus que passavam na hora. Saudades desse tempo.

Meu celular vibra sobre a mesa exibindo uma mensagem da Sofia.

Sofia: Bom dia. Dona Ana piorou um pouco durante a madrugada e não vai poder ir pra casa hoje.

Meu coração se despedaça em fração de segundos e minha respiração perde o ritmo.

Eu: Quero ir vê-la.

Sofia: Ela não sabe que estou te contando isso, disse que não era pra falar nada pra não te preocupar, mas acho que você deveria saber.

Eu: Ela é teimosa. Vou ficar aflita aqui.

Sofia: Mas ela é muito forte, tenho fé em Deus que ela vai melhorar.

Eu: Me avise se tiver mais notícias.

Sofia: Pode deixar.

Mal clico em "enviar" e uma nova mensagem chega, mas dessa vez é da Paola.

Paola: Faz um café aí que eu tô chegando.

Sorrio. Eu já teria feito o café se pudesse beber. É uma das coisas que preciso evitar durante esse período da gravidez. Me apresso com a cafeteira até que ela esteja ligada e passando o café. Vasculho a casa com os olhos à procura de algo fora do lugar, mas está tudo arrumado. Sorrio mais uma vez quando lembro que toda essa organização vai dar lugar a vários brinquedos e coisas da Bia espalhadas por cada canto. Vai ser a bagunça mais linda do mundo.

Como o dito, a campainha toca avisando que minha amiga acabou de chegar. Olhar seu semblante me acalenta ao mesmo tempo em que aflora minhas emoções. Meu tipo de força é aquele que me mantém de pé apenas quando eu estou sozinha. Quando posso me amparar em alguém, minha força desmorona e busca uma nova fonte de onde possa se munir.

— Me conta o que aconteceu — pede enquanto eu ainda a abraço como se toda a energia da qual preciso estivesse vindo dela.

— Senta — sugiro apontando para o sofá. — Vou trazer seu café e já te explico.

Dou alguns passos até o balcão onde a cafeteira está e despejo o café na xícara.

— Eu já imagino o que pode estar te deixando assim — diz ela me observando enquanto caminho em sua direção. Lhe sirvo o café e me sento ao seu lado. — Ela está nas últimas. Você tem medo de que ela morra sem saber a verdade.

— Agora é pior do que isso — ressalto e Paola me encara confusa ao bebericar o café. — Eu já falei a verdade. Só que... — faço uma pausa respirando fundo, inalando um pouco o fracasso que eu exalo agora. — Ela não acreditou em mim... Acha que eu disse isso por pena, pelo sofrimento que ela está passando.

— Filho da puta! — exclama fechando os olhos em um ato de fúria. — Ele tinha que estar aqui pra ela ver com os próprios olhos e de repente poder descansar em paz. O que você vai fazer agora?

— Eu não sei — falo com a voz embargada acariciando minha barriga no local onde Bia está se mexendo, parecendo que acordou agora e está se espreguiçando. — Dona Ana deve estar, no mínimo, me odiando. Não tem como eu tentar tocar nesse assunto de novo. Nem sei se ela ainda vai querer olhar na minha cara.

— Olha, sinceramente, eu não sei o que te dizer — diz Paola em tom de lamento à medida em que aperta as costas da minha mão. — Mas queria que você esquecesse isso por um tempo.

— Eu não sei se consigo — falo esboçando um sorriso que mascara meu desespero em meio à essa sinuca de bico.

— Vamos pelo menos tentar, tá bom? — pergunta ternamente e eu a encaro sem levar fé que posso conseguir. — Veste uma roupa leve e calça uma sandália confortável. Vamos dar um passeio.

•°• ✾ •°•

O passeio é uma tentativa de esquecer coisas ruins. A Paola é boa nisso, mas no momento em que estou, talvez seja a primeira vez que ela não vai ter sucesso nesse tipo de façanha. Nem cheguei a perguntar onde estamos indo, apenas entrei no carro e estou me esforçando para apreciar a paisagem e conversar com minha amiga como se meu mundo não estivesse ruído. Já falou várias vezes que o Wesley queria ter vindo também, mas o trabalho no salão tem sido bem intenso ultimamente. Eu compreendo e fico tranquila quanto a isso, pois sei que ele está marcando presença sempre que possível. Confesso que eu tenho os melhores amigos do mundo. Eu até diria que tenho a melhor família também, mas meu pai destruiu tudo. Me sinto distante dele, distante das minhas melhores lembranças da infância, distante de tudo. Ou eu mudei muito, ou tudo à minha volta mudou e eu não consegui acompanhar. Talvez em algum momento o mundo e eu possamos conseguir andar no mesmo ritmo e que eu possa me reconectar com as pessoas que se afastaram de mim, ou que eu afastei.

— Chegamos! — anuncia Paola me puxando dos meus devaneios. Olho em volta e não vejo um local específico ao qual se dê tanta animação, o que parece que fica estampado no meu rosto. — Calma, eu estacionei aqui porque não tem vaga em frente.

— Eu queria estar tão animada quanto você está — falo ao abrir a porta do carro.

— Você vai ficar quando a gente entrar lá — diz ela também deixando o veículo.

Decido não debater mais com ela e a acompanho pela calçada movimentada do centro da cidade. Inspiro o ar profundamente enquanto esses últimos segundos de curiosidade que percorrem minha veia se passam. Só espero que ela não tenha marcado nada com mais pessoas, pois não estou no clima para conversar e fingir que estou num paraíso astral. Os passos dela desviam para a esquerda e eu vou junto até estarmos dentro de uma loja. Não uma loja qualquer, mas uma que faz um pequeno sorriso se formar no canto da minha boca. Olho-a de lado deixando evidente que ela não poderia ter me trazido a um lugar melhor senão uma loja de roupas e móveis infantis.

— Eu sabia — fala ela constatando minha alegria. — Berço, cômoda ou guarda-roupa primeiro?

— Que tal o quarto completo? — pergunto animada.

— Garota esperta! — ela exclama dando uma piscadela.

Deixamos nos atrair pelos lindos móveis de diversas cores, formas e tamanhos. Aos poucos meu coração se preenche com algo inexplicável, tomando todo espaço que antes estava ocupado por medos, incertezas, tristezas e decepções. Não há mais lugar em mim para acomodar essas coisas. Eu ainda cometo esse erro, de me preocupar demais com coisas que não posso resolver enquanto o dia da Bia chegar ao mundo está se aproximando. Lar nós já temos, mas o quartinho dela está vazio ainda. Não totalmente, já que o carrinho de bebê que a Paola deu de presente está lá, mas na caixa para não pegar poeira. Hoje mesmo isso vai mudar. Tantas preocupações me cegaram, mas agora essa venda saiu dos meus olhos e tudo está mais claro. Já imagino perfeitamente o quartinho dela todo mobiliado e arrumadinho, só aguardando a hora que ela vai chegar.

Chego a ficar desnorteada com tantas opções de móveis. Queria poder levar tudo e experimentar em cada parede até decidir, mas isso é impossível. Acabo fazendo uma combinação do mais bonito e o que cabe no orçamento, de modo que ainda sobre dinheiro para pagar o conserto do meu carro e me virar por enquanto. Mas óbvio que não consigo enfrentar a madrinha da Bia, que bate o pé que o convite foi dela e paga tudo com cartão de crédito.

— O que eu faço com você? — pergunto achando graça da sua teimosia.

— Só me leva pra sua casa e paga uma pizza — diz ela sorrindo. — Aliás, mais de uma. Pedi urgência na montagem dos móveis e os montadores vão chegar lá quase junto com a gente.

— Nossa! — exclamo surpresa e animada ao mesmo tempo em que a abraço. — O melhor presente que você poderia me dar. Vou retribuir quando você me der um afilhado também.

— Aah, não — responde rapidamente enquanto saímos da loja — Quero curtir bastante a vida de madrinha primeiro.

Me sinto renovada. O tempo que eu estava gastando beirando à loucura tentando solucionar todos os problemas que o Douglas me deixou, posso usar montando o cantinho da única coisa boa que ele me deu.

Será que estou sendo má vendo as coisas dessa forma? Nós nos amamos de um jeito lindo, mas ele se tornou algo feio para mim por causa da forma como fui enganada. Os sentimentos bons permanecem, mas o outro lado da balança chama a minha atenção. Às vezes eu tenho a sensação de que nosso relacionamento era um pouco pesado. Mesmo não sendo a intenção dele, eu vivia em altos e baixos por ele ter escondido de mim que investigava o Ygor, o que ele poderia ter revelado desde o início. Mas nem sei se isso teria resolvido. Era intensa a forma com que o Douglas queria me proteger. Tanto que chegava a me incomodar. Era proteção ou obsessão? Era amor por mim ou adrenalina por eu ser uma isca? Então, não. Não estou sendo má. A Ana Beatriz é a minha remissão. É nela que eu vou me concentrar daqui para frente, o pai dela fazendo parte de nossas vidas ou não.

█▀▀▀▀▀▀▀▀▀▀▀▀▀▀▀▀▀▀▀█
Publiquei hoje de novo porque o capítulo de ontem deixou todo mundo depressivo, me desculpem. O momento não é dos melhores porque Dona Ana está muito mal e é inevitável que a Karen sinta isso ao cubo, por ela, pela gravidez e pela ausência do Douglas. Bom que ela tem a Paola pra dar um apoio.
Espero ter amenizado a sofrência de ontem.
Agora acho que só vai ter capítulo em 2020 kkkkk
Beijinhos 😘
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Capítulo publicado em 10/12/2019

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