Dois Corpos, Um Coração

By viiniiciiusp

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André passará pelo momento mais difícil de sua vida, perde alguém que se ama. Em meio à dor, um acontecimento... More

Prólogo
1. O amor é a unica coisa que nos faz sentir vivo
2. Falso brilho.
3. O começo do fim.
4. O Nosso início.
5. Os Bons Morrem Jovens.
6. Perdido em mim.
7. Um sopro de alegria.
8. De volta pra casa.
9. Trilhos.
10. Daniel.
11. Sensações.
12. Segredos.
13. Xeque-Mate.
14. Ciclo.
15. Laços.
16. Pedido.
17. Ressaca.
18. Tempestade.
19. Nós.
20. Sinais.
21. As Verdades.
22. Sangue do meu Sangue
23. Um novo caminho.
24. Incertezas.
26. Escolhas.

25. Bussúla.

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By viiniiciiusp

Tinha acabado de chegar a minha sala na empresa depois de ter passado a amanhã toda com o Cristhian, cliente que me fez ficar em Vancouver. Vi que tinha um papel em cima da mesa ao lado do computador o peguei e sorri. Era um recado do Johan agradecendo o dia e a noite que tivemos. Quando saí de casa ele ainda dormia, peguei o celular e quando pensei em mandar uma mensagem para ele apareceu uma solicitação de vídeo chamada do Hernani.

— Oi, Hernani...

— Quero lhe parabenizar!

— Pelo o que?

— Cristhian, não poupo elogios sobre você!

— Fico feliz em saber disso.

— Mas não liguei para isso, quero falar sobre outra coisa.

— Pode dizer...

— Eu preciso que você fique mais tempo por ai!

— Como? Mais tempo?

— Sim, André... Por quê? Você não pode ficar?

— Não é isso...

— Ótimo! — fique em silencio — Então eu posso contar com você na presidência?

— Pode... Claro que pode!

— Sabia que você não me decepcionaria. Agora tenho que desligar. Entro em contato com você em breve. Bom trabalho.

— Pra você também!

Ele encerrou a vídeo chamada e eu fiquei olhando para a tela do celular. Levantei e saí da sala.

— Você precisa de algo? – Lucy perguntou.

— Preciso de café...

— Tudo bem... Eu vou buscar.

— Não! Eu mesmo faço isso. Preciso pensar. Aqui em frente que vende, não é?

— Isso...

— Brigado.

Cheguei à cafeteria e me sentei em na mesa que ficava próxima a vidraça para rua. Pedi um café para moça que me atendeu e um pedaço de bolo também. Apoiei as costas no estofado da cadeira e fechei os olhos. Levei minhas mãos aos meus olhos onde fiquei fazendo movimentos leves e circulares envolta deles.

— André?

— Johan? O que você faz... Lucy.

— Aconteceu algo? — sentou na minha frente.

— Não sei... Recebi uma noticia que era pra ter me deixado feliz, mas não foi o que aconteceu — respirei fundo — Johan, eu preciso contar algo a você.

— Tudo bem...

Então comecei a contar a ele sobre o Henrique e tudo que vivemos até sua morte. Falei sobre o Daniel e tudo que tinha ocorrido entre nós. Johan me ouviu pacientemente enquanto desabafei.

— André, você passou por tantas coisas que talvez muitas pessoas não aguentariam.

— A vida sempre pôs em teste o quanto eu poderia ser forte.

Ele segurou minha mão.

— Eu já admirava você sem conhecer esse seu lado, agora eu admiro muito mais por saber quem você é.

— Brigado — apertei seus dedos — Mas agora devemos voltar — ri.

Assim que me levantei ele me abraçou.

— Você sempre pode contar comigo.

— Eu sei, Johan...

O resto do dia transcorreu normalmente.

Johan acabou me convidado para passar a virada de ano com ele e decidi aceitar! Passamos os primeiros minutos do ano transando em sua cama. Então com a minha vida profissional estabilizada eu dei o primeiro passo. No quinto dia do ano que acabava de começar pedi Johan em namoro. Quis oficializar algo que me fazia bem. Ele aceitou, mas disse que iria me pedir em namoro também naquela noite. Duas semanas depois comecei na especialização que eu queria fazer. Johan me chamou de louco quando soube, mas era o que eu queria. Trabalhava pelo dia e três vezes na semana pela noite ia para especialização.

— Então é isso, Nanda...

— Você prometeu que voltaria em um ano...

Falou após eu dizer que não voltaria mais ao Brasil como combinado.

— Eu sei, mas as coisas não aconteceram como planejei. Talvez seja para eu ficar aqui.

Três meses depois eu estava dentro de um avião indo para Alemanha. Participaria de um congresso e aproveitaria para fechar negócios com um cliente. Quando falei ao meu pai que iria lá ele falou soltar fogos. Fiquei três dias em Berlim. Porém o melhor dessa viagem foi à volta. Chegar a casa e ser recebido pelo Johan, com seu belo sorriso não tinha nada que pagasse aquilo. Naquele ano eu acabei por abdicar minhas férias, a empresa vinha numa forte crescente e eu senti que se parasse naquele momento poderia interferi nisso. Johan acabou viajando para casa dos seus pais. Dois dias depois que ele foi, Fernanda e Guilherme chegaram em Vancouver.

— André! — gritou — Que lindo! E essa vista! Isso é muito filme Cult — virou-se para mim — Até posso imagina você sentando no sofá no inverno, tomando seu chá enquanto ver a neve caindo.

— Meu Deus... Não vou reclamar porque eu estava com saudades desses teus devaneios e também porque eu fiz isso mesmo — ri.

— E olha que ela nem dormiu na viagem — Guilherme falou pondo a mão em meu ombro — Qual é dessa barba? — riu — Você nunca gostou de ter.

— Ninguém respeitaria um jovem de vinte e poucos anos comandando um império. Como se um barba fosse mudar alguma coisa, mas enfim — ri — Tô gostando, no começo estranhei, mas agora tá de boa.

— E o trampo, Senhor Presidente adjunto?

— No começo eu apanhei e muito. Pensei muito em desistir, mas agora acho que peguei o jeito. Tô conseguido domar o bicho o que tá me deixando mais aliviado que tudo tá indo bem. Tô conseguindo dormir em paz.

— Dando tão bem que até roubo um cliente da Estrada Brasil.

— Não tenho culpa se sou irresistível.

— Me poupe, André.

Rimos.

— André! — Fernanda gritou — olha isso.

— Fernanda – falei indo em sua direção — Não estamos no Brasil, aqui as pessoas não costumam falar alto — ri — Vão pensar que você estar brigando com alguém.

— Povo chato! — revirou os olhos — Mas me diga, ali — apontou para o outro lado da rua – É o que eu estou pensando?

Forcei a vista e ri.

— Sim...

— Vamos lá? É hoje que eu arrumo meu visto permanente.

— Qual foi? — Guilherme perguntou.

— Fernanda animada com o pub que tem ali na outra esquina.

— Opa, vamos lá? — Guilherme me olhou.

— Meu Deus, vocês não estão cansados?

— Para tomar uma nunca! — Guilherme riu — Estou de férias e tenho que aproveitar.

— Ok... Tudo bem iremos lá.

— Bom, vou tomar um banho porque conhecendo a Fernanda ela vai demorar o resto da vida para sair.

Falou isso e riu.

— Idiota! — ela reclamou — Nunca tomou banho comigo pra saber se eu demoro, mas se quiser.

— Ei... Nem tenta!

— Não me quer como cunhada? — passou o dedo pelo meu corpo.

— Não! — ri.

— A idiotice é de família.

— O neném vem cá — a abracei — Não aceito vocês ficarem só duas semanas aqui.

— E eu não aceito você ter me enganado dizendo que ficar aqui só por um ano.

— Mas a intenção era, mas eu vi que seria melhor ficar.

— Mas promete que vai me visitar?

— Claro! Assim que eu tiver férias de fato irei ao Brasil — sorri.

Fernanda passou a mão no meu rosto.

— André... — falou usando um tom de voz que eu conhecia muito bem — Você...

— Fernanda... Eu não quero saber! — a interrompi — Realmente não me interessa nada que venha dele!

— Mas, André...

— Nanda, eu tô pedindo.

— Tudo bem... Você tem razão!

Veio até mim e me deu um beijo no rosto.

— Vou tomar banho para que possamos ir.

— Espero vocês aqui.

Fernanda foi para o quarto de hospedes me deixando na sala perdido em meus pensamentos. Só o fato de ela ter sugerido em falar dele havia mexido comigo. Peguei meu celular onde mandei uma mensagem para o Johan perguntando como ele estava. Fiquei vendo televisão enquanto eles se arrumavam.

— André?

— Oi, Gui...

Olhei para ele.

— A roupa tá boa?

— Tá lindo! Gato!

— Vindo de você eu acredito.

Rimos. Ele sentou-se ao meu lado no sofá.

— Agora é só esperar a Fernanda.

— Sim...

— Tá tudo bem, André?

— Sim, apenas pensando em algo.

— Algo ou alguém?

— Também...

— Como é o nome dele mesmo?

— Johan... Uma pena vocês terem vindo justamente no momento que ele entrou de férias.

— Iremos ter outras oportunidades para nos conhecermos — me olhou.

— Espero que sim...

Esperamos por mais dez minutos quando Fernanda apareceu. A noite estava agradável, preferimos ficar na parte externa. Fernanda olhava para cada detalhe como se fosse uma criança. Bebíamos cerveja enquanto conversávamos. Ela falava sobre como foi demitida após discuti com uma colega de trabalho. Guilherme ria e eu a recriminava.

— Não toma jeito mesmo!

— Ai, André você me conhece... — bebeu sua cerveja — Que horas vai tocar funk?

— Nunca! — ri — Até porque você não tá no Brasil.

— Um país sem funk não tem meu respeito.

— Te confesso que mesmo não sendo muito fã teve vezes que senti falta do funk aqui.

Algumas horas depois voltamos para casa. No outro dia combinei de mostrar a cidade a eles e de certa forma a mim mesmo. Cedo no saímos de casa. Os levei primeiramente ao Aquário de Vancouver. Fernanda ficou encantada pelo local, também devo dizer que fiquei! O local era incrível. Depois fomos ao bairro do Gastown, onde mostrei para eles o Steam Clock relógio publico que funcionava a vapor. Fernanda me fez bater uma porção de fotos dela. Acabamos almoçando pelas redondezas. Voltamos para casa no inicio da noite.

— André, tudo aqui é incrível.

— Eu sei, Nanda... — me joguei no sofá — Mas que bom que vocês gostaram.

Com eles em casa novamente me senti em um lar. Chegar no apartamento e ter alguém era bom. As duas semanas passaram rapidamente. Fernanda me abraçava mais uma vez.

— Espero você em casa, no Brasil.

— Pode deixar.

Guilherme me abraçou fortemente.

— Até a próxima, mano.

— Sim... Por favor, não demorem a voltar — ri.

E essa volta ao Brasil que eu tanto prometi sempre era adiada. Johan fez meu ano ser bom depois de muito tempo. No fim do ano nós viajamos para a Espanha onde passamos as festas de fim de ano lá. Fizemos um ano juntos e eu vi ele me fazia bem. No trabalho quanto mais eu trabalhava mais eu precisava de tempo para trabalhar. Devido a diferença de horário eu chegava a saí da empresa depois das onze da noite. E em muitas vezes aconteceu de eu marcar algum compromisso com Johan e não pode ir e o encontrar dormindo em minha cama. Me sentia mal e sempre tentava compensar de outra forma mesmo ele dizendo que entendia o motivo de eu não ir. O que mais doeu foi quando cheguei tarde em casa e vi que ele tinha decorado a casa para o meu aniversário que eu havia esquecido mais um ano. Me deitei ao seu lado na cama onde o abracei.

— Não sei como você consegue me perdoar — falei sentindo culpa.

— Eu perdoo você porque eu o amo, André.

Era a primeira vez que ele dizia de forma clara que me amava!

Estava tudo certo para Johan conhecer meus pais quando dias antes ele recebeu uma ligação que seu pai tinha sofrido um acidente. Meus pais ficaram apenas uma semana em casa, mas foi bom recebe-los mesmo que por pouco tempo. Johan voltou com boas noticias dizendo que seu pai estava bem. No fim do ano ele me convidou para ir as festas de fim de ano na casa dos seus pais. Sua mãe era uma mulher bonita, então vi de onde ele tinha recebido os seus olhos. Seu pai era tão alto quanto ele. Fui muito bem acolhido naquela família. No nosso aniversário de dois anos de namoro nós fizemos uma pequena viagem de uma semana para o Caribe. Quando fiz vinte e nove anos ele preparou jantar e chamou alguns amigos, foi uma noite especial, Johan fez ser uma noite especial! Naquele ano tanto meus pais, quanto o Guilherme ou Fernanda não vieram me visitar. Mais um ano começava, estávamos vendo as queimas do fogos na rua, fazia um frio medonho.

— Mais um ano juntos — Johan falou ao meu ouvido.

— Que possamos passar o próximo juntos!

Quinto dia do novo ano passava das onze da noite quando coloquei a chove na porta de casa. Meu corpo doía de cansaço. Quando acendi a luz e vi como a sala estava foi então que eu lembrei.

— Merda! Como você foi esquecer André?

Fui até meu quarto e ele não estava lá. Peguei a chave e saí de casa, parei em uma pequena confeitaria que estava quase fechando. Comprei um bolo pequeno. Estacionei em frente de onde ele morava. Tive livre acesso visto que o porteiro já me conhecia. Peguei a chave que ele havia me dado, entrei no apartamento. Johan estava deitado no sofá, vendo televisão coberto pelo seu cobertor. Olhou para mim e não se moveu.

— Eu sei... Eu sou um completo idiota! Me desculpa por ter esquecido nosso aniversário.

— Tudo bem, André, eu entendo, você estava ocupado como sempre.

Levantou-se.

— Eu não tive escolha...

— Você nunca tem escolha não é? Você já parou para pensar que você sempre tá colocando a empresa em primeiro lugar? E eu não to falando por você ter esquecido o nosso terceiro aniversário de namorou ou sempre esquecer seu aniversário, ou daquela vez que você me fez esperar no restaurante e não apareceu ou das vezes que eu marquei com amigos e você não pode ir. Eu falo de você! Eu falo pelo fato de colocar sua vida pessoal em último plano por um emprego que no primeiro momento que você errar talvez não seja mais seu. Eu falo pelo fato de você não consegui voltar ao seu país de origem usando o trabalho como desculpa e nós sabermos que não é por ele que você não volta.

— Você tem todo motivo de ficar com raiva...

— Eu não estou com raiva, André, estou triste! Sinceramente eu gosto muito de você, André, e me dói ter que dizer isso, mas gente não tem futuro. Eu prefiro que a gente termine nosso namoro.

— Não, Johan...

— Você se transformou um escravo dessa empresa. Qualquer coisa que o Hernani peça você larga tudo pra fazer. Isso não faz bem, André. Eu falo isso porque realmente eu amo você, mas antes disso eu me amo e eu prefiro terminar isso agora, enquanto a gente se respeita e possa ter uma conviveu amigável do que isso acabe.

— Me desculpa, Johan...

— Eu sei que não é culpa sua! Mas preste atenção... Sua vida tá passando, quando você perceber talvez seja tarde demais para alcança-la.

Coloquei o pequeno bolo em cima da sua mesa e caminhei para a porta. Olhei para ele antes de sair. Johan era a parte boa que eu recebi de Vancouver. Eu gostei muito dele, mas apenas gostei. Tentei ama-lo de toda forma possível, mas percebi da pior forma que a gente não escolhe quem ama.

Passei grande parte da noite em claro. O que me fez chegar atrasado a empresa na manhã seguinte.

— Lucy, você pode me arrumar um remédio para dor de cabeça?

— Pois não, André.

Minutos depois ela entrou na minha sala.

— Muito obrigado!

— Eu sei que não deveria falar algo sobre isso, mas o Johan pediu demissão.

— O que? Como? Quando?

— Hoje cedo...

— Merda! — fechei os olhos — Ele não deveria ter feito isso.

— Dê esse tempo a ele, André, talvez vocês possam se entender...

Falou isso e retirou-se da sala. Meu dia foi uma merda! Não conseguia me concentrar em nada! Sair duas horas antes do habitual. Fui para casa onde passei o resto do dia na cama curtindo a bad. Dias depois fiquei sabendo que ele havia conseguido um emprego em uma empresa menor. Fiquei tentado inúmeras vezes a ir atrás dele, mas seria justo comigo e muito menos com ele tentar uma reaproximação. Decidi segui minha vida e deixa-lo que ele seguisse com a sua. Johan merecia alguém que o amasse de verdade.

Fazia quatros meses desde a última vez que eu tive noticias dele. Nesse período eu tive algumas pessoas que só serviram por uma noite. Eu não conseguia e nem queria me envolver com alguém só por ter alguém. Chegava a mais uma manhã para o trabalho estava no estacionamento quando o Richard da Logística veio até mim.

— Parabéns, André.

— Meu Deus é meu aniversário? — falei olhando para a data no celular.

— Traduza — ele falou sorrindo.

— Porque você tá me parabenizando, Richard?

— Você ainda não soube?

— O que?

— Você foi indicado ao Vancouver Comércio!

— Como? Você tá tirando com a minha cara?

— Inglês, André.

— Não é possível... Eu... Eu...

— Claro que é! — apertou meu ombro — E eu aposto minhas fichas que você ganha!

Assim que cheguei na minha sala fiz questão de ver a lista de indicados e lá estava. Li várias vezes para ter certeza. O Vancouver Comércio era a maior premiação para empresas voltadas para o mercado de comercio. Me encostei na cadeira e sorri, peguei meu celular e tratei de ligar para o Guilherme. No terceiro toque ele atendeu.

— Eu fui indicado ao Vancouver Comércio.

— O que? Calma... Você o que?

— Meu Deus, Gui... Me desculpa eu esqueci completamente que é de madrugada ainda ai.

— Não, mano, tá tudo bem. Você foi indicado ao que?

— Vancouver Comércio é uma premiação voltada para empresas no mercado. Estou indicado a melhor presidente em exercício. Meu Deus, Gui...

— Você é o meu maior orgulho, André, nosso pai ficará orgulhoso em sabe disso. Quando vai ser a premiação?

— No próximo mês.

— Ótimo! Estarei ai com você!

E ele esteve! Não só ele como meus pais também! Fernanda não conseguiu comparece, mas minutos antes me ligou desejando sorte. A premiação ocorria um dia antes do meu aniversário. Não tinha melhor presente do que aquele! Foi uma noite especial, estava ao lado de pessoas que eram os melhores em seu respectivo setor. Eu estava me sentindo uma criança em um parque de diversões. Não ganhei, mas só o fato de ter concorrido mostrava que todo o esforço que eu fiz valeu a pena.

— Injusto você não ter ganhado meu filho — minha mãe falou.

— Mãe eu ganhei sim, vocês estão aqui comigo, o que mais eu poderia querer?

— André, hoje você me deu o maior orgulho que eu poderia receber.

— Que isso, pai, apenas fiz meu trabalho. Abdico de muitas coisas por ele, mas é meu trabalho, vivo pra ele.

— E quando você volta ao Brasil? Primeiro seria por um ano, porém tem quase quatro anos que você tá aqui, nem em suas férias você foi lá.

— Eu sei pai... Mas eu preciso estabelecer algumas coisas, deixar tudo bem encaminhado para eu poder ir para longe.

— Sua avó quer ver você, veja se dá para você ir em suas próximas férias.

— Prometo que irei tentar — sorri.

— Irei dizer a ela que você irá tentar — sorriu.

Não sei o porquê, mas aquilo que ele falou mexeu comigo, porém a verdade era que eu tinha medo de voltar ao Brasil. Mesmo não ganhado nós fomos a um pequeno pub com temática inglesa para comemorar a noite.

— Eu gostei daqui — minha mãe falou – Esse abajur ficaria ótimo na mesinha do escritório.

Nós três rios.

Aos poucos o local começou a encher, em certo momento olhei para meus pais e os vi rindo enquanto eles falavam com o Guilherme. Senti uma sensação estranha e lembrei da última frase do Johan disse antes de sair da sua casa " Sua vida tá passando, quando você percebe talvez seja tarde demais para alcança-la"

— André? — Guilherme segurou minha mão — Tá tudo bem?

— Sim! — sorri — Só pensando em algo do trabalho.

— Deixe ele um pouco de lado e foque aqui — riu — Vamos ao bar pegar mais cervejas?

— Vamos...

A fila estava um pouco grande. Guilherme estava ao meu lado, ele olhava para o celular e sorria. Meu irmão não parecia ser o mesmo que eu tinha deixado no Brasil, ele apresentava uma suavidade que me era estranha.

— André, tá tudo bem?

— O que?

— Você parece aéreo, ficou triste por ter perdido o prêmio?

— É... Talvez seja isso...

— Liga pra isso não! Você sempre vai ser meu vencedor. Olha só o que você conseguiu conquistar? Largou tudo no Brasil para tentar fazer seu nome em outro país e conseguiu. Você conquistou muito mais que qualquer outra pessoa sonhou. Tenha orgulho do profissional que você se tornou.

— É você tem razão...

— André?

Ouvi sua voz fez meu corpo tremer. Olhei para trás e vi Johan que sorriu quando me viu. Ele continuava tão bonito igual à última vez que nós nos vimos em seu apartamento quando ele decidiu terminar nosso namoro, mas de fato o que eu reparei foi no rapaz que estava ao seu lado.

— Johan? — sorri — Tudo bem?

— Tudo... Deixa eu te apresentar o Nick, meu namorado.

— OI, Nick — cumprimentei o rapaz com o meu sorriso mais sem graça que eu possuía.

— Nick, esse é o André, meu ex-chefe — olhei para o Johan no momento que ele falou isso — Meu ex-chefe louco pelo trabalho — riu ao terminar sua frase.

— Sim, sou ex-chefe dele, mas deixa eu te apresentar meu irmão, Guilherme.

— Tudo bom, cara? — Guilherme foi indiferente com ele, mas educado.

— André, sempre falava de você.

— Legal...

Guilherme sabia a forma que nós havíamos terminados. Olhou para mim.

– Você acha que devemos levar cerveja para nosso pai e sua mãe?

— Acho melhor...

— Seus pais estão aqui?

— Sim... Vieram para o Vancouver Comércio.

— Não...Você foi indicado? Que maravilha, André — sorriu da mesma forma quando me recebia em casa.

— Sim, mas não ganhei — ri — Segue o jogo.

Guilherme pedia a bebida enquanto falava com ele.

— André, amanhã é seu aniversário e eu queria lhe deseja os parabéns.

— Muito obrigado, Johan, sei que seus votos são sinceros.

Peguei minha bebida e olhei para eles.

— Johan, Nick, foi um prazer rever você e conhece você, mas como o Johan falou o trabalho é minha prioridade e talvez sempre seja! — o encarei — Espero que vocês possam aproveitar a noite, assim como aproveitei a minha — sorri — Até mais.

Olhei para seu rosto sem saber que aquela seria a última vez que eu o iria ver.

— Esse era o cara?

— Sim...

Voltamos para mesa onde meus pais estavam. Meu aniversário passei o dia com eles, conhecendo Vancouver. Eles ficaram por mais dois dias e depois voltaram para o Brasil. No primeiro dia sem eles eu acordei doente, meu corpo doía por completo. Liguei para Lucy avisando que não iria trabalhar naquele dia. Desde aquela premiação algo não foi mais o mesmo, como se tudo que eu fizesse fosse de forma automática. Era a primeira vez em todos os anos de trabalho que eu fazia algo que não queria fazer, havia perdido o tesão por algo que eu sempre quis. E esse sentimento perdurou por meses. A cidade que eu aprendi amar passou a ser meu maior avesso. Passei a ficar doente com mais frequência e com isso meu rendimento caiu, cheguei a um ponto de eu não querer saí de casa para trabalhar. Estava ficando doente por aquilo sempre mais me dediquei.

Estava na minha sala na empresa depois de pensar muito eu tinha decido o que iria fazer. Através do computado fiz um vídeo chamada com o Hernani.

— André, diga, aconteceu algo?

— Hernani, eu tô pensando em voltar para o Brasil.

Falei de uma única vez sem ter o risco de mudar de ideia.

— Como? O porquê disso agora?

— Como assim o porquê disso agora? O nosso combinado seria para eu ficar aqui durante um ano. Vai fazer quase quatro anos que eu estou aqui, a empresa tá indo muito bem e eu acho que é o momento de volta.

— André, você não vai voltar.

— Como não vou voltar?

— Você não tem função alguma aqui. Já existe alguém que faz o que você faria aqui. Você tem noção que qualquer pessoa que está aqui no Brasil daria qualquer coisa para ficar no seu lugar?

— Hernani...

— André, se você escolher voltar para o Brasil eu sinto muito, mas você não fará mais parte da InterTransportes.

— Não é justo isso, Hernani. Eu dediquei quatro anos da minha vida, eu me anulei pessoalmente para fazer essa filial dar certo...

— Ótimo! Dedique cinco, sete, dez anos. Dedique sua vida interia se for preciso por aquilo que você acredita que não será perda de tempo.

Virei à cadeira e fiquei olhando para o pátio da empresa através do vidro.

— Eu reconheço tudo que você fez! Eu sempre soube que você era capaz de estar nesse cargo. Você não é mais aquele menino que entrou na minha sala anos atrás querendo uma vaga não pelo dinheiro e sim pelo desafio. Nesses anos de convivência eu aprendi a admira-lo e conhecê-lo, André. Se você chegou nesse estágio de falar que quer voltar ao Brasil é porque você quer voltar. E eu confesso que você seria minha maior perda em todos esses anos desde quando eu comecei a InterTransportes. Mas se de fato você quiser voltar ao Brasil você sabe o que isso representará.

Apoiei minhas mãos sobre minhas pernas e respirei fundo.

— Eu sei que você fará a melhor escolha.

— Brigado, Hernani — olhei para ele — Farei sim a melhor escolha. Até mais!

Me aproximei do computador e encerrei a vido chamada. Encostei-me na cadeira levando as mãos aos meus olhos.

— Parece que nós já temos a nossa escolha, André — disse a mim mesmo.

Meu tempo em Vancouver havia terminado.

Na amanhã seguinte pedi para Lucy reunir todos os funcionários no auditório dizendo que iria fazer um comunicado.

— Bem... Não seria justo com vocês se eu não fizesse isso. Eu estou deixando a presidência da filial do Canadá.

Todos começaram a falar ao mesmo tempo.

— Eu quero agradecer a todos pelo apoio desde o primeiro dia até hoje. Vocês são o nome dessa empresa, mas não são essa empresa. Nunca esqueçam disso. Meu ciclo se encerra aqui. Só quero deixar o meu muito obrigado a todos.

Em minha sala eu oficializei minha demissão ao Hernani. Ele ainda relutou, tentou argumenta para que eu ficasse, mas nada faria eu mudar de ideia. Três dias após meu comunicado eu embarcava para o Brasil. Um novo André voltava, mas os mesmo medos estavam presentes. O táxi parou em frente ao meu prédio, olhei para ele e sorri. Retirei as malas e caminhei para a entrada.

— Opa, vai para qual andar?

— Qual é, Zé, tá lembrando de mim, não? André do 401.

— André? Como o senhor tá diferente, essa barba, esse cabelo. Deixa eu ajuda-lo.

Ele veio até mim e me ajudou com as malas. Agradeci e fiquei esperando o elevador. Coloquei as malas para dentro quando ouvi alguém pedindo para segurar a porta.

— Muito obrigado! — falou o homem.

Olhei para seu rosto e vi que era o rapaz que tinha sido sequestrado. O Benjamim.

— Morador novo? – Perguntou para mim.

— Não! Eu moro no 401, mas passei alguns anos fora e estou voltando hoje.

— Ah... Você é aquele rapaz que mora com a Fernanda... André seu nome, não é?

— Sim...

O Elevador parou no meu andar.

— Eu te ajudo — Benjamim falou.

— Muito obrigado! — agradeci quando retirei a última mala.

— Seja bem vindo de volta — desejou o rapaz antes da porta se fechar.

Entrar em casa novamente depois de quase quatro anos me trouxe antigos sentimentos. O sofá azul estava lá do mesmo jeito que eu me lembrava. A mesa era nova, assim como a televisão e o quadro na parede que dava para o corredor, porém o cheiro era o mesmo que lembrava. Fechei a porta com calma e caminhei para o meio da sala, parei e olhei mais uma vez tudo envolta e sorri.

— Quem é? — pude ouvir sua voz — Quem chegou ai?

Meu sorriso aumentou olhei para a entrada do corredor quando sua imagem apareceu. Fernanda vestia uma calça jeans e estava apenas de sutiã, mas não foi seu traje que meu chamou a atenção.

— Meu Deus! — sua voz saiu assustada — Não pode ser... Você? Meu Deus, André? — sua voz saiu em quase um grito.

— Oi, Nanda...

Ela correu em minha direção e se jogou em cima de mim onde me abraçou fortemente.

— Ei... Calma...

— Eu não acredito que é você — beijou meu rosto — Porque não avisou que você viria?

— Por que não seria surpresa — ri.

Ela segurou meu rosto e ficou me olhando.

— Como eu sentir sua falta, André...

— Também senti muito sua falta.

— Foram quatro anos, quatro longos anos.

Vi uma lágrima cair de seus olhos.

— Você sabe que eu precisava desse tempo — limpei seu rosto — Foi necessário! E você foi me visitar lá também.

— Uma única vez!

— Porque quis, eu sempre disse que pagava para você ir...

— E porque você não veio? — me encarou.

— Amor? — Ouvi outra voz masculina e familiar — Tá falando com quem?

Olhei para frente quando ele apareceu.

— André? Não pode ser.

Sua encara era de espanto. Então ali eu deduzi o que estava acontecendo.

— Oi, irmão — sorri.

Guilherme veio sorrindo em minha direção e me abraçou.

— Gui... Que saudades eu estava de você, meu irmão.

— Você não disse que vinha.

— Não queria estragar a surpresa!

— Pelo amor de Deus diga que ira ficar uns dois meses no mínimo — Fernanda falou.

— Eu não voltei pra ficar dois meses. Eu voltei para ficar.

— Como? — ambos falaram.

— Eu pedir demissão! Larguei tudo para voltar para casa.

Então com calma contei a eles o que de fato me levou a tomar essa decisão.

— Eu tenho tanto orgulho de você! — Fernanda me abraçou.

— Você sabe que pode contar comigo sempre! — Guilherme falou.

— Eu sei, mas e vocês? Tão juntos? E você Fernanda, porque você não me falou que tá grávida?

— O que?

Ambos falaram e se olharam.

— Sim... Sua barriga ai.

Ambos olharam para a barriga.

— Pera, vai dizer que vocês não viram algo que tá crescendo literalmente na cara de você?

Gargalhei.

— Você tá grávida? — Guilherme perguntou.

— Claro que não... Eu... Apenas comi demais no almoço.

— Então esse almoço vai sair daqui poucos meses — me levantei e sorri quando olhei para Fernanda – É muito você mesmo tá grávida e não saber.

— Eu... Eu...

— Fernanda, como você nunca desconfiou disso — Guilherme falou.

— Eu nunca tive sintomas nenhum, apenas minhas roupas que começaram a ficar apertadas.

— Isso é um sintoma! — rebateu ele.

— Ou pode ser o fato de você me entupir de comida.

— Ah claro! A culpa é minha...

— Sua mesmo! Você sempre vem com esse papo de "Fernanda vamos comer fora hoje"

Vi os dois discutindo com um sorriso nos lábios. Via na minha frente uma família se formando sem eles perceberem isso.

— Ai, André esse seu irmão...

Fernanda deu dois passos e parou apoiando-se no Guilherme.

— O que foi? — ele perguntou.

— Fique tonta...

— Senta aqui.

Guilherme com todo cuidado a colocou no sofá.

— Você tá bem? — perguntei.

— Sim... Apenas uma tontura.

— Acho melhor você ir a um hospital.

— Não precisa eu tô bem... Já tá passando.

— Nanda, vá ao médico — falei — Faça um exame e descubra com quantos meses você tá grávida — sorri — Meu Deus, eu vou ser tio.

Olhei para o Guilherme.

— Parabéns, papai!

O abracei.

Após discutirem mais uma vez ele a convenceu de ir ao médico.

— Vou levar essa doida ao médico quando voltarmos nós conversamos. Você deve tá cansando também da viagem — Guilherme falou.

— Sim, passar horas sentando não é algo legal e mandem notícias.

Eles saíram de casa e eu fui para o meu quarto. Ao entrar nele sorri, sentei em minha cama e vi a foto do Henrique, a peguei e fiquei olhando.

— Você ficaria feliz em saber que vai ser tio — sorri — Brigado por tudo!

Coloquei sua foto no lugar e fui tomar um banho. Estava inquieto, que acabei decidindo saí de casa. Fui passear pela orla, mas foi péssima escolha o tempo tinha fechado e dava indícios que começaria a chover.

— Será? — sorri com a ideia que tive.

Atravessei a rua indo em direção ao depois da chuva torcendo para que ele ainda existisse quando começou a cair as primeiras gostas de chuva.

— Que droga!

Reclamei enquanto era molhado pela chuva. Abaixei o rosto e comecei a andar apressadamente quando senti bater em alguém.

— Me desculpa! — falei olhando para pessoa – Eu não vi você...

Anos tinham se passado, mas eu nunca iria esquecer aqueles olhos! Seus cabelos estavam mais longos, sua barba estava maior do que eu me lembrava ser. Seu rosto estava mais maduro, mas ainda era ele.

— André?

Depois de tanto anos meu corpo estranho sua voz chamar pelo meu nome.

— Meu Deus — sorriu — Eu... Eu...

— Desculpa, eu tenho que ir.

Porém rapidamente segurou em meu braço.

Ali na minha frente estava novamente a minha maior duvida sentimental. Por um momento enquanto estive fora do Brasil eu consegui esquecê-lo. Daniel por um momento da minha vida nunca existiu.

— Será que a gente pode conversar? — falou olhando para mim.

— Desculpa, mas a gente não tem nada para conversa.

— Por favor, é só isso que eu te peço. Se depois de me ouvir, você nunca mais quiser me ver eu prometo que irei respeitar essa sua decisão — Daniel mantinha seus olhos sobre mim.

Existem coisas que acontecem em nossa vida que nós nunca iremos compreender. Daniel seria uma dessas coisas. Talvez o destino quisesse que naquele momento ocorresse esse encontro. Um encontro para que pudéssemos ter aquilo, que talvez fosse a nossa conversa decisiva.  


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Ai tá, o penultimo cap. Esse é o cap mais longo que já postei aqui. Espero que vocês gostem.

Desculpem os erros... Teve um momento que eu fiquei com a vista turva de tanto escrever.  

Bem, o último deve sair até o próximo domingo. Eu tenho basicamente uma ideia do que vai acontecer, mas eu preciso pensar com calma.  Já queria agradecer a todos vocês que me acompanharam em mais uma estória. DE VERDADE MUITO OBRIGADO! 

Votem por favor e comentem! Digam o que acharam. Mais uma vez muito obrigado! 

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