Todos os dias eu vejo garotas mais fortes do que eu
Garotas mais bonitas do que eu
Garotas melhores do que eu
Eu observo de longe quem eu poderia ser
Quem eu poderia me tornar
Preso no meu sangue eu enxergo um universo alternativo em meus olhos
Um mundo tão distante que nunca poderei alcançar
Eu devo ser assim tão frágil
Os olhos me julgam e tudo que eles vêem sou eu
Eles não enxergam quem eu poderia ser
Mas nem eu enxergo isso
Eu contribuo com as falsas impressões
Fazendo com que elas não sejam apenas as primeiras
Todos olham e pensam, coitadinha
Ninguém acredita no que posso fazer
Ninguém acredita em como eu posso ser
Eu não sou nada além de uma garota dos anos 50
Não sou nada além de alguém sem força de vontade para passar os anos e entrar na modernidade
Apenas uma pobre garota que precisa ser protegida pela masculinidade
Onde ninguém poderia enxergar a independência
Afinal ela é inexistente, então tenha clemência
Ela é tão pequena que caberia em meu bolso
O que poderia fazer? Já viu seu tamanho?
Porque ela não fala mais alto?
Porque ela não se arruma melhor?
Porque ela não revida? Não luta?
Porque eu sou uma garota dos anos 50, porque eu ainda fiquei presa no passado, porque a eu de verdade ainda está distante e talvez ela nunca mais acorde, afinal sempre esteve dormindo
E agora eu apenas me escondo em minhas roupas rebeldes
Me baseando na eu que nunca retornou
Me baseando na eu que nunca deveria ter ido
Quando no final eu não passo
De um frágil caco de vidro
Mas cuidado
Talvez um dia
Você possa acabar se cortando com ele