Sem Revisão *
Danielle Marshall
Meu celular vibrou na minha mão. Acordei assustada. Olhei no visor, 03:40h. Bocejei alto, meus olhos ainda pesados de sono. Só mais um pouquinho. Virei de lado, encontrando a silhueta de Ansel na cama. Despertei completamente.
Observei a forma adormecida dele. O que aconteceria se eu sufocasse ele? Ou ir até a cozinha e pegar uma faca? Mantive meus pensamentos para mim mesma.
Levantei da cama. Peguei minha bolsa e calcei uma sandália de tiras. Abri a porta e saí sem fazer barulho. Na cozinha eu abri os armários, pular o jantar tem suas consequências. Fiz um sanduíche de atum, comi e segui para a sala.
A recepção do prédio está vazia, exceto por um senhor lendo um jornal. Ele ergue o olhar e sorri para mim.
— Senhorita Marshall? Eu sou Marlon, e serei seu motorista.
Vou até ele devagar, bigode branco bem cuidado, o que mais me chamou atenção foi o físico dele, e as tatuagens que surgiam da gola da camisa branca. Dentes branquinhos e alinhados, o homem era um idoso muito bonito.
— Danielle por favor. Tenho que ir para o hospital central.
— Claro, vamos.
Meia hora depois chegamos no hospital. Me despedi de Marlon, um sujeito bastante agradável. Cumprimentei algumas enfermeiras, mesmo sendo de madrugada o movimento era intenso. Fui para a sala dos funcionários, tomei um banho e vesti o uniforme.
Suspirei fundo, tomei coragem e fui para a recepção, onde o pai e familiares da grávida estão. Perder um paciente sempre era um baque, ainda mais grávida.
Felizmente conseguimos salvar o pequeno Charlie, Hanna não teve a mesma sorte. Eu havia acompanhado todo os sete meses de gravidez dela, uma amiga do fundamental. A gravidez era de risco, mas a vontade de ser mãe era maior.
Cheguei na recepção, Tom levantou eufórico. Vi os pais de Hanna, o semblante preocupado.
Segurei Tom pelo braço e o puxei devagar para o canto.
— Meu filho? E minha esposa? Como estão?
A parte difícil. Seus olhos escuros encheram de lágrimas.
— Charlie foi encaminhado para a encubadora, sinto muito Tom, mas a Hanna não aguentou. Teve duas paradas cardíacas.
O homem desabou no chão. Gritei por ajuda, logo alguns enfermeiros vieram. A reação dos pais de Hanna foi pior.
Depois de dar a triste notícia eu fui ver outros bebês. Filhos são uma dádiva de Deus, tão frágeis. Pensei em Charlie, cresceria sem mãe. Mas eu sabia que Tom seria um ótimo pai.
Sorrio quando o bebê que Anna segura começa a chorar mais alto, o rosto dela está horrorizado. Anna é estagiária, começou há um mês e até hoje não se acostumou.
— Eu fico com ela. — digo para Anna. Pego o bebê com cuidado. — Vá ver se Jules precisa de algo.
— Tudo bem.
Fiquei andando de um lado para o outro, até que ela se acalmou. Olhando para a pequena bebê em meus braços senti meus olhos arderem, eu jamais poderia...
— A mãe está esperando para amamentá-la. — Jules diz sorridente. Dou a bebê para ele. — Seu turno acabou há vinte minutos. Vá para casa descansar.
Doze horas passaram rápido!
Ao andar pelos corredores do hospital senti alguém me puxar pelo braço. Fui empurrada para dentro de um quarto, girei pronta para dar um soco no idiota. Arquejei quando os lábios úmidos tocaram os meus, Antony agarrou minha cintura, nossos corpos se tornando um só.
— O quê é isso? — perguntei afastando dele.
— Senti sua falta.
O loiro sorri, o tipo de sorriso que faria qualquer mulher tirar a calcinha para ele. Eu mesma por exemplo. Porém agora não dá, tenho assuntos para resolver.
— Que tal um jantar hoje? — ele pergunta esperançoso. Por mais que Antony me ame, ele ainda não sabe o que quer. Isso no início me deixou frustrada, e com o tempo deixei de lado qualquer sentimento. Sexo e mais sexo. Coisa que ele faz muito bem.
Então lembro do toque de recolher de Ansel, temo que vamos ter uma bela discussão. Isso é estúpido, não estamos no século passado.
— Hoje não. Só quero descansar.
— Tem algo que quer me contar? — inquere. Segurei seu rosto e dei um leve beijo em seus lábios.
— Não há nada. Nos vemos amanhã.
Ele ainda tentou me segurar. Olhei para ele. Algo que Antony não gostava era de eu ter a última palavra, discutíamos muito, mesmo não tendo uma relação.
— Até mais, Antony.
Dessa vez era um Audi preto que estava a minha espera. Marlon parecia o típico bad boy americano encostado no carro. As mulheres babavam nele, e ele sorria mais ainda. Revirei os olhos dramaticamente. Toquei em seu ombro e ele virou, surpreso tirou o sorriso safado adotando uma postura mais séria. Contive uma risada.
— Então garanhão, podemos ir?
— Podemos sim!
Ele abriu a porta e entrei. Pedi para ele me deixar na floricultura. Notei quando ele ergueu as sobrancelhas e franziu a testa. Chegamos na floricultura, falei para ele voltar antes da sete para me levar de volta.
Um cliente havia feito uma remessa enorme de hemerocallis e orquídeas brancas. Para nosso sorte a estufa estava cheia, ponto para Ellie que avisou com antecedência para o jardineiro que cuida de lá. Os narcisos estão em falta, pedi uma nova encomenda de sementes. Lírios e tulipas são as mais vendidas da nossa floricultura, então investi mais nelas.
E por falar em clientes...
Dessa vez eu gargalhei por três minutos, e ao olhar para Jonathan ficava pior ainda.
— Isso não tem graça, Dani. Ela acha que eu estou traindo nosso casamento! Eu jamais faria isso.
Fungou me olhando quase chorando. Passei a mão no rosto. Ok, a coisa era séria.
— Converse com ela, explique que você a ama mais que futebol.
Dei a volta no balcão. Peguei um buquê de cravos vermelhos, escolhi um vaso delicado e as coloquei nele.
— Mas cravo é aquelas coisas de morte. Val não vai gostar.
Bufei alto. Coloquei o vaso no balcão.
— Está relacionado a morte? Talvez. Mas você pode morrer se os cravos não funcionarem. — Jonathan me olhou horrorizado. Sorri para ele. — Porém os cravos também estão relacionados à fidelidade no matrimônio.
— Tudo bem. Vou convencer ela que de que à amo mais que futebol e cerveja!
Jonathan pagou e se foi. Ellie tinha saído com o namorado assim que cheguei. Vê-la feliz e apaixonada me deixa feliz por ela.
Sentei na cadeira e fiquei olhando nas redes sociais. Coisas sobre flores e o concurso que está perto de acontecer.
O sininho da loja bateu. Levantei sorridente para atender o cliente. O sorriso esmoreceu ao ver Ansel parado a poucos metros.
— Feche tudo e vamos. — a voz demonstrando a raiva contida.
Não saí do lugar. Em poucos segundos ele contornou o balcão. Sua mão agarrando meu cabelo duramente.
— Agora!
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Beijocas e até mais