Anne with an e continuação da...

By RosanaAparecidaMande

288K 15K 24.2K

Gilbert Blythe estava de volta, depois de uma longa viagem que durara um ano. Queria retornar à sua fazenda... More

Capítulo 1- De volta para casa
Capítulo 2- Reencontro
Capítulo 3- Dois corações e uma só batida
Capítulo 4- Emoções em chamas
Capítulo 5- Amor nas entrelinhas
Capítulo 6- Entre a razão e o coração
Capítulo 7- A paixão que te move
Capítulo 8- À flor da pele
Capítulo 9- Por trás do arco-íris
Capítulo 10- Sentimentos à deriva
Capítulo 11- Balé secreto
Capítulo 12- Palavras ao vento
Capítulo 13- A lua por testemunha
Capítulo 14 - A voz que vem de dentro
Capitulo 15 Espelhos da Alma
Capítulo 16- Amor em quatro estações
Capítulo 17. Onde mora o seu coração
Capítulo 8 - Na sintonia do destino
Capítulo 19 - Promessas ao luar
Capítulo 20- No calor dos seus braços.
Capítulo 21 - Entre nós
Capítulo 22- Sempre no meu coração
Capítulo 23 - Prova de amor
Capítulo 24- Fogo contra fogo.
Capítulo 25 Na Magia da paixão
Capítulo 26 - Doce malícia
Capítulo 27- Em chamas
Capítulo 28- Um toque de liberdade
Capítulo 29- Clímax
Capítulo 30 - Amor e Celebração
Capítulo 31- Coisas do coração
Capítulo 32- O que te fortalece
Capítulo 33- Sonhos
Capítulo 34 - Segunda Chance
Capítulo 35- Jardim de delícías
Capítulo 36- Despedidas
Capítulo 37- Compromisso
Capítulo 38- Compartilhando sonhos.
Capítulo 39- O que te completa
Capítulo 40- Desejos do coração
Capítulo 41- Baile de Formatura
Capítulo 42- Caixinha de Lembranças.
Capítulo 43- Noite de Natal
Capítulo 44- Com o inverno na alma
Aviso
Capítulo 46- O que te inspira
Capítulo- 47- New York New York
Capítulo 48- Nosso louco amor
Capítulo 49- Eu, Você e o Mar
Capítulo 50- O brilho das estrelas.
Capítulo 51- Amor e música
Capítulo 52- Paris, a cidade do amor
Part 53- Duas almas em uma
Capítulo 55- Fantasmas no paraíso.
Capítulo 56- O Amor e a dor
Capítulo 57- Meu romance trágico
Capítulo 58- Tempestade
Capítulo 59- O preço de amar
Capítulo 60- Remando contra a maré.
Capítulo 61- Lembranças pelo caminho
Capítulo 62- Perdas e Danos
Capítulo 63- Depois da tempestade
Capítulo 64- Redenção
Capítulo 65- Infinito como as estrelas
Capítulo 66- Para o melhor ou para o pior
Capítulo 67- A esperança que nos une
Capítulo 68- O futuro em nossas maõs
Capítulo 69- Por um capricho dos deuses
Capítulo 70- Destinos entrelaçados
Capítulo 71- Orgulho de amar
Capítulo 72- O casamento dos sonhos
Capítulo 73- União perfeita
Capítulo 74- Nós dois
Capítulo 75- Nosso ninho de amor
Caítulo 76- Vida nova. velhos sonhos
Capítulo 77- Uma luz na escuridão.
Capítulo 78- Pura felicidade
Capítulo 79- Corações em chamas
Capítulo 80- Mais um desejo, outro sonho
Capítulo 81- Natal em Nova Iorque.
Capítulo 82- Apenas diga sim
Capítulo 83- Voltando as origens
Capítulo 84- Entre quatro paredes
Capítulo 85- Além da terra
Capítulo 86- Nirvana
Capítulo 87- Arco-íris dos sonhos
Capítulo 88- Amor e Chocolate
Capítulo 89- Em um dia de chuva
Capítulo 90- Duas partes de um coração partido
Capítulo 91- Dias de tormenta
Capítulo 92- Faca de dois gumes
Capítulo 93- Fogo sobre gelo
Capítulo 94- Nosso romance perfeito
Capítulo 95- Meu único prazer
Comunicado
Capítulo 97- Um só coração
Capítulo 98- Tudo de mim
capítulo 99- Minha Anne com E
Capítulo100- Dias de primavera
Capítulo 101- Sob o feitiço da lua
Capítulo 102- Surpresas que a vida trás
Capítulo 103- Um raio de sol
Capítulo 104- Um fio de esperança
História nova
Capítulo 105- A felicidade não tem preço
Capítulo 106- Paraíso Conquistado
Capítulo 108 - A um passo da felicidade
Caapítulo109- Parceiros de vida e de amor
Capítulo 110- Em um dia nublado
Capítulo 111- Matador de dragões
Capítulo 112- Por uma vida inteira a seu lado
Capítulo 113- Elos do passado
Capítulo 114- Um futuro dourado
Capítulo 115 - Sob a luz das estrelas
Capítulo 116- Príncipe Encantado
Capítulo 117- Até que a morte nos separe
Capítulo 118- Presságios
Capítulo 119- Um espinho entre flores
Capítulo 120- Um novo paraíso
Capítulo 121- Assim é o nosso amor
Capítulo 122- De alma e coração
Capítulo 123- Uma nova forma de amar
Capítulo 124- A personificação do amor
Capítulo 125- Até o último suspiro
Capítulo 126- A força do nosso amor
Capítulo 127-Entre rosas vermelhas
Capítulo 128- Rilla
Capítulo 129- Amor maior que tudo
Capítulo 130- Páginas de uma vida
Capítulo 131-Entre dois mundos
Capítulo 132- O melhor lugar do mundo
Capítulo 133- Uma noite de amor e romance
Capítulo 134- Momentos
Capítulo 135- Paixão, amor e cumplicidade
Capítulo 136 - Uma noite memorável
Capítulo 137 - Written in the stars.
Capítulo 138 - Uma mulher completa
Capítulo 139 - Um novo milagre
Capítulo 140 - Um novo Blythe
Epílogo
Agradecimentos

Capítulo 54 - As dúvidas do coração

1K 49 36
By RosanaAparecidaMande


Olá, queridos leitores. Eu estou postando excepcionalmente este capítulo hoje que dividi em dois, pois ficou imenso, e por ser um capítulo pesado, achei que ficaria melhor assim, e. Neste dois capítulos Anne nos mostra que apesar de ter superado muitas coisas, existem questões que ainda precisa resolver dentro de si para viver seu amor por Gilbert sem fantasmas que atrapalhem a vida os dois juntos. Peço que por favor, tentem não me odiar muito no final da leitura dos dois capítulos , e saibam que vou compensá-los no próximo. Eu precisei escrevê-lo assim para continuar a história da maneira como imagino, e certas coisas não podem ser deixadas de fora. Não foi fácil escrever todas essa páginas, porque amo este casal demais, mas espero que entendam meu papel como escritora, se posso mesmo me considerar assim. Todos temos fantasmas que precisam ser exorcizados, e com Anne e Gilbert não é diferente. Espero pelos comentários.Beijos.


ANNE

Anne colocou uma longa mecha ruiva atrás de sua orelha, e olhou para Gilbert que não parava de observá-la. Apesar de ele ser seu noivo, ela às vezes ainda corava com o olhar dele sobre ela. Era algo que detestava, pois não devia mais se sentir incomodada com sua aparência, pois aprendera a aceitar a cor de seus cabelos, encontrando maneiras e penteados para valorizá-lo, também não ligava mais para as sardas que cobriam cada pontinho pálido do seu rosto. Não tinha seios fartos mas eram bem feitos, e também ganhara algumas curvas que deixavam seu corpo atraente. Pensando por esse ângulo, o conjunto todo não era nada mau, mas quando Gilbert a olhava daquele jeito, suas antigas dúvidas sobre sua aparência ressurgiam, como se sentisse insegura e temesse que ele acabasse enxergando algum defeito que o fizesse olhá-la diferente, e ela tinha que admitir que sem o olhar de admiração de Gilbert por ela a deixaria arrasada. Ela não se importava se outras pessoas a chamassem de cenoura, ruiva sardenta ou órfã magricela, mas qualquer pensamento de Gilbert que não fosse favorável a ela, a faria se sentir horrível.

Era ridículo pensar que sua aparência ainda a fizesse se sentir vulnerável em alguns momentos, mas, mesmo que Gilbert dissesse que a achava linda todo o tempo, Anne se perguntava se depois de algum tempo ele ainda pensaria assim? Vivendo em Nova Iorque, onde havia mulheres tão lindas, será que ele não sentiria vontade de experimentar algo diferente?

Anne não era boba, e percebia como as garotas francesas olhavam para ele, e ela não era cega para não ver que quanto mais maduro Gilbert ficava, mais atraente ele se tornava, e ela não podia escondê-lo em seu armário e só tirá-lo de lá no dia do casamento.

Aquele ciúme a corroía por dentro, a fazia ver e sentir coisas que sua imaginação adorava criar, mas dessa vez era para atormentá-la e não para ajudá-la a fugir de seus infortúnios, e Anne odiava ainda se sentir assim, mas o que ela podia fazer? Ela confiava em Gilbert, mas, ela também sabia que as pessoas podiam mudar, começar a enxergar a vida de maneiras diferentes, e Gilbert sendo um rapaz do campo, com tantas oportunidades a sua volta não poderia mudar também? Não, ela não podia acreditar que Gilbert fosse tão volúvel que esqueceria tudo o que viveram juntos. Ele mesmo lhe dissera que ela era a outra metade de seu coração e que por isso nunca viveriam separados. Anne balançou a cabeça. O que estava pensando? Gilbert a amava e isso era tudo o que importava.

- Algum problema meu amor? – Gilbert perguntou ao notar seu olhar perdido. Estavam sentados em um bistrô em Paris, tomando chá e comendo rosquinhas de chocolate. Era o ultimo dia deles na capital francesa, e por isso resolveram sair e ver a cidade pela última vez.

- Não, eu só estava pensando.- Anne tentou sorrir, mas sem muito sucesso.

- Você parece triste. Não quer me contar que te deixou assim? - Gilbert perguntou colocando sua mão sobre a de Anne que estava descansando sobre a mesa onde estavam sentados.

- Apenas pensava que vou sentir falta desse lugar, e de todos os momentos que passamos juntos. Paris é mágica, não acha? - Ela olhou para ele com seus olhos brilhando tristemente.

- Sim, amei viver tudo isso com você, mas, não está com saudades de Green Gables, e de todos os nossos amigos? - Gilbert entrelaçou seus dedos nos dela.

- É claro que sim. Não vejo a hora de ver Matthew, Marilla e Diana, mas é que fico pensando que todo esse tempo aqui em Paris pudemos viver livres sem amarras, e fomos tão felizes.- Anne baixou a cabeça e mordeu o canto do lábio sentindo-se deprimida, e não entendia porque estava se sentindo assim

- Mas também somos felizes em Avonlea. Por que está me dizendo isso, Anne? Está acontecendo alguma coisa e você não quer me contar. Vamos, se abra comigo, não se refugie dentro de você. Isso não te fará nenhum bem. – Gilbert parecia preocupado agora, e Anne sentiu raiva de si mesma por fazê-lo se sentir assim

. – Não é nada, meu amor, de verdade. São bobagens minhas, você sabe o quanto posso ser dramática.- Gilbert não pareceu muito convencido, por isso, para fazê-lo esquecer o assunto Anne dissera:

- Vamos pagar a conta e dar uma volta pelos arredores? Mais tarde vamos jantar com tia Josephine, pois ela me disse que gostaria de ter um último jantar conosco.- Gilbert concordou ao ver que Anne parecia mais alegre.

Deixaram o bistrô e começaram a caminhar pela rua, observando os muitos turistas que passavam por ali. Não havia um só dia em que não chegassem toneladas de estrangeiros atraídos pelas muitas belezas encontradas na capital francesa.

- Sabe, Eu me surpreendi bastante com Tia Josephine, não pensei que uma mulher na idade dela fosse tão moderna e com pensamentos tão progressistas.- Gilbert olhou para Anne de maneira divertida.

- Tia Josephine é uma das pessoas mais inteligentes que conheço Tão sábia e então desprendida. Ela é uma inspiração para mim, sabia? - Anne disse abraçando a cintura de Gilbert e continuando a caminhar.

- E por que você precisaria de uma inspiração, já que é alguém tão extraordinário? Você é que serve de inspiração para muita gente.- Gilbert lhe disse apertando com suavidade sua cintura.

- Não exagere, Gilbert.- Anne disse envergonhada.

- Não estou exagerando. Por que não se valoriza, Anne? Por que não acredita quando te digo que você é incrível?

- Eu acredito, Gilbert. Só acho que você as vezes me vê pelos olhos do amor e deixa passar os meus defeitos. – Anne disse sem graça.

- Você não tem defeitos. É perfeita para mim.- Gilbert a olhava com tanta adoração que a fez corar de novo.

- Eu tenho defeitos sim. Sou teimosa, ciumenta e tenho um gênio terrível.- Gilbert riu com gosto da maneira que ela falava de si mesma.

- Nada disso é defeito para mim. Amo sua teimosia, adoro seu ciúme, enquanto ao seu gênio, ele te deixa mais charmosa ainda.

- Você é inacreditável, Gilbert. Não é possível que não tenha nada em mim de que não goste.

- Por que você parece tão empenhada em me fazer ver seus defeitos, hoje? Será que não entende que te amo de qualquer jeito? – Ele a puxou pela cintura e a beijou de um jeito que fez Anne esquecer de todas as suas preocupações daquela tarde.

Quando chegaram na casa de Tia Josephine já era hora do jantar. Anne e Gilbert tomaram banho cada um em seu quarto e depois desceram juntos para a última refeição que fariam com Tia Josephine. Durante o jantar, a boa senhora olhou para Anne e disse:

- Querida. Já que está é a última noite que teremos juntas, eu queria te fazer um pedido.- ela pegou na mão de Anne e a ruivinha disse:

- Claro. O que quiser. – Anne disse sorrindo.

- Eu não tenho filhos, e tenho por você a mesma consideração que teria com uma filha. Então, você me daria a honra de te ajudar com seu casamento? Quero muito te dar o vestido de casamento, te ajudar com a festa e quem sabe vocês não possam voltar aqui para passarem a lua de mel? - ela disse animada.

- Seria incrível, Tia Josephine. O que acha Gilbert? - ela olhou para o noivo com um sorriso tão feliz que ele disse:

- O que quiser, Anne. O que te faz feliz também me deixa feliz. - ele sorriu.

- Bem, tia Josephine, se Gilbert aprova eu aceito..- Anne deu-lhe um beijo no rosto.

-- Meus queridos, vocês não sabem o quanto me fazem feliz.- Tia Josephine apertou a mão de Gilbert conheça mesa e abraçou Anne apertado.

- Eu te amo, Tia Josephine.- Anne disse com lágrimas nos olhos.

- Eu também te amo, minha pequena.- a velha senhora respondeu.

Foi difícil despertar no dia seguinte e se despedir de todas as coisas que fizeram parte de sua vida pelo menos por um mês. Não que não estivesse feliz por voltar para casa, mas, Paris lhe dera tanto que era quase impossível deixar tudo para trás sem chorar. Ela se acostumara a andar pelas ruas sentindo a leveza da vida tomar conta de sua alma, como se pudesse se sentir assim para sempre, de braços dados com Gilbert enquanto tinham uma daquelas conversas inteligentes que fazia a ambos gargalharem até que lágrimas chegassem aos seus olhos. Era tão bom se sentir jovem e livre ao lado de Gilbert vivendo seu amor na sua forma mais avassaladora, assim como era a paixão que queimava em seu íntimo por ele e sempre por ele.

Paris fora um sonho maravilhoso do qual estava na hora de acordar. Tinha que voltar para casa, e continuar com sua vida que não era perfeita, mas também era incrível, pois tinha seu amor no que se apoiar. A Faculdade estava lá a sua espera lhe acenando com um futuro que com toda sua alma queria viver.

Ela e Gilbert estavam tão unidos agora, e era assim que deveria ser, apesar de sua s incertezas e dúvidas bobas, sentir as mãos de Gilbert nas suas lhe dava toda a segurança que precisava. Tia Josephine tinha mesmo razão quando usara aquelas palavras para descrevê-los. O que ela tinha dito mesmo? Ah, sim, agora se lembrava, ela dissera que eles eram duas almas em uma, e era exatamente assim que se sentia.

Quantas pessoas no mundo tinham sorte de viver um amor assim? Quantas pessoas conseguiam em uma vida inteira sentir o que ela é Gilbert sentiam um pelo outro? Gilbert a fizera atingir o seu nirvana em seu estágio mais profundo, e isso por si só já era um milagre perfeito.

- Anne, meu amor. Está pronta? – era a voz suave de seu noivo chamando-a para partirem.

- Sim, já estou indo. – Ela deu uma última olhada para seu quarto magnífico, se despediu com um sorriso e abriu a porta, se juntando a Gilbert. Tia Josephine acompanhou-os até a estação e antes de embarcarem, ela beijou a ambos desejando-lhes boa viagem.

- Adeus, Tia Josephine.- Anne disse por fim quase chorando.

- Não diga adeus querida. Me dá uma sensação de que algo está terminando para sempre. Prefiro um até breve, pois ele abre as portas para muitos recomeços.- Anne apenas balançou a cabeça concordando.

Entraram no trem e se despediram com um último aceno. E Anne sentou ao lado de Gilbert no vagão sentindo-se triste por se separar de alguém que admirava com todo o seu coração, e rezava para que pudesse rever em breve aquela criatura maravilhosa.

A viagem até Avonlea não demorou muito, chegaram a estação ao amanhecer. Alugaram um carro e logo estavam em casa. Gilbert deixou Anne em Green Gables com um beijo suave em seus lábios, e quando ele se foi ela já suspirava por sua ausência. Por um mês conviveram diariamente, dormindo e despertando juntos todas as manhãs. Não ia ser fácil voltar a velha rotina de vê-lo somente nos fins de semana, mas como ainda tinham algum tempo de férias, ela deixaria para pensar nisso depois.

Ela olhou para Green Gables que brilhava naquela manhã de sol e caminhou em direção ao seu lar onde com certeza encontraria Matthew e Marilla com um sorriso de boas-vindas em seus rostos.

GILBERT

Gilbert Blythe observava a beldade ruiva sentada a sua frente que parecia completamente perdida em pensamentos. Por quais lugares distantes a mente dela estaria divagando? Ele se perguntou.

Gilbert não era tão pretensioso a ponto de pensar que ele estava nos pensamentos dela todo o tempo como ela estava nos seus, mas ele sabia que Anne tinha uma imaginação tão fértil que nesse exato momento a cabeça dela poderia muito bem estar perdida dentro de uma história inteira.

Ele não tinha a mesma facilidade que Anne de deixar a imaginação criar cenários e diálogos que o levassem para tão longe que ele conseguisse se desligar de tudo. Ele era melhor com números e lógica, embora seu raciocínio prático nunca funcionasse com Anne. Ela era complexa e desafiava sua compreensão muitas vezes, mas era tão fácil de amar. Principalmente naquele momento em que ela tocava seus próprios cabelos, mexia os lábios como se falasse de consigo mesma, depois os unia formando um biquinho que lhe lembrava um botão de rosa pronto para ser beijado.

Em momentos assim, Gilbert gostaria de ter poderes telepáticos e invadir pensamentos dela sem que ela percebesse e tivesse tempo de se esconder naquelas sombras que passavam pelos olhos dela e das quais ela nunca falava. Eles sempre partilhavam seus sentimentos e preocupações um com o outro, mas, no fundo ele sabia que nem sempre Anne lhe contava tudo, isso não o aborrecia em absoluto, mas o preocupava por que algumas vezes ela caía em um silêncio triste como agora e Gilbert não sabia o que fazer para ajudá-la.

Ele não fazia ideia do que se tratava, mas seu coração se apertava tanto em vê-la dessa maneira. Alguém tão extraordinário como ela não devia ter que passar por coisas assim. Anne era como um raio de sol na vida de tantas pessoas, principalmente na dele, e ela merecia apenas arco-íris em seu caminho. Mas, infelizmente nem sempre a vida era justa, e não havia nada que Gilbert pudesse fazer para protegê-la todo o tempo das voltas que o mundo dava. A única coisa que podia fazer era cercá-la com seu amor e ser seu porto seguro quando ela precisasse.

Aquela viagem a Paris os tinha aproximado muito mais, e eram quase uma só pessoa. Ele nunca sabia qual era o seu começo, meio e fim. Sua alma se perdia na dela e os seus corações estavam unidos como se estivessem interligados pelas mesmas batidas e sentimentos. Era difícil de se separar as partes que o compunham pois eram semelhantes demais.

Anne se mexeu na cadeira impaciente, como se algo a tivesse incomodando. Ela lançou um olhar pela janela, ficando de perfil para Gilbert, dando-lhe uma visão do rosto dela de tirar o fôlego. Pela primeira vez, ele quis ter algum dom artístico para pintar Anne exatamente como estava agora. Os cabelos vermelhos iluminados pela luz ambiente do bistrô, fazendo com que se parecessem com chamas ardentes. O nariz arrebitado lhe dava aquele ar petulante que ele amava, e os traços do rosto seguiam uma linha perfeita até a curva do pescoço alvo. Mas, como ele não podia depender de sua falta de talento como pintor, procurou gravar na memória aquela cena, para de lembrar quando estivesse dormindo e pudesse reencontrá-la em seus sonhos.

Ele sorriu quando ela suspirou novamente talvez pela sexta vez, continuou a contemplar aquele rosto de Madona que lhe tirava a concentração, sentiu vontade de beijá-la, mas se controlou, pois não quis perturbá-la preferindo admirá-la um pouco mais. Se Anne soubesse de seu desejo naquele momento com certeza chamaria sua atenção pelo fato de estarem em um lugar público, e ele tentaria convencê-la que o título de noivo lhe dava o direito de beijá-la onde é como quisesse. O jeito como o olhar dela pareceu se entristecer ainda mais o fez perguntar:

- Algum problema meu amor? – esperou que Anne lhe contasse o que a estava deixando tão entristecida naquele dia, pois desde que saíram de casa, ela parecia estar ausente por alguma razão que ele desconhecia, mas como esperado, ela não lhe respondeu o que ele queria ouvir. Mas ele insistiu, pois quase tinha certeza de que algo lhe estava tirando a calma naquele momento, e ela apenas respondera:

- Apenas pensava que vou sentir falta desse lugar, e de todos os momentos que passamos juntos. Paris é mágica, não acha? - aqueles olhos azuis tão tristes quase marejados por lágrimas que se escondiam por trás daqueles cílios espessos, o emocionaram demais, então, Gilbert suavizou sua voz quando disse:

- Sim, amei viver tudo isso com você, mas, não está com saudades de Green Gables, e de todos os nossos amigos?- Anne parecia relutante em falar sobre a volta dos dois para casa, por isso esperou que ela se decidisse a falar sobre suas dúvidas .Não conseguia descobrir o que a estava incomodando tanto a ponto de colocar aquela sombra no rosto dela. Ele ouviu as palavras seguintes dela com bastante atenção tentando compreender onde aquela conversa os estava levando, e ficou surpreso quando ela dissera que seu sonho de liberdade se realizara em Paris onde o amor de ambos pôde ser saboreado até a última gota sem regras ou limites impostos pela sociedade. O que fez Gilbert se perguntar qual era o sentido real daquelas palavras, será que ela quisera dizer que não estava feliz com ele? Foi por isso que perguntou:

- Mas também somos felizes em Avonlea. Por que está me dizendo isso, Anne? Está acontecendo alguma coisa e você não quer me contar. Vamos, se abra comigo, não se refugie dentro de você. Isso não te fará nenhum bem. – - Deus! Aquela conversa o estava deixando tenso. Será que algo estava acontecendo bem na frente de seu nariz e não tinha percebido até naquele instante? Mas, ela logo o tranquilizara colocando toda a culpa em sua veia dramática, depois o convidara para caminharem mais um pouco por Paris e foi o que fizeram. Ao saírem pela porta, Gilbert sentiu o a brisa fresco da tarde aliviar a tensão de seu corpo que a conversa com Anne no bistrô causara nele..

Era tão bom andar e se perder entre as pessoas que naquele momento passavam por eles em sua costumeira pressa, o que fez Gilbert se sentir descontraído de novo e comentasse com Anne suas impressões sobre Tia Josephine.

- Sabe, Eu me surpreendi bastante com Tia Josephine, não pensei que uma mulher na idade dela fosse tão moderna e com pensamentos tão progressistas- Anne concordara com ele dizendo que a boa senhora além inteligente lhe servia como inspiração. Mais uma vez Gilbert ficara surpreso pelo que ela dissera. Por que Anne precisaria se inspirar em alguém para ser a criatura singular e absoluta que era? Ele deixou que seus pensamentos fossem expressos em voz alta, por isso dissera:

- E por que você precisaria de uma inspiração, já que alguém tão extraordinário? Você é que serve de inspiração para muita gente. - Anne pareceu não acreditar muito no que Gilbert acabara de dizer, acusando-o de ser exagerado, o que fez Gilbert perguntar a ela por que nunca acreditava quando ele dizia o que pensava de sua personalidade única, e Anne apenas dissera que quando ele falava daquela forma, era por que ele colocava o amor deles acima de tudo ficando completamente cego aos defeitos dela que tão facilmente outras pessoas conseguiam ver, exceto ele, mas Gilbert não pensava dessa forma, e que estava dizendo exatamente o que sentia, e que não havia defeito nenhum nela já que a considerava perfeita para ele, mas Anne retrucara e dissera:

- Eu tenho defeitos sim. Sou teimosa, ciumenta e tenho um gênio terrível.- Gilbert não reprimira o riso ao ouvir a descrição que ela fazia de si mesma , e respondera :

- Nada disso é defeito para mim. Amo sua teimosia, adoro seu ciúme, enquanto ao seu gênio, ele te deixa mais charmosa ainda.

Nesse momento, Anne olhara para ele incrédula, dizendo que achava impossível ele amá-la de maneira tão absoluta, o que fez Gilbert mais uma vez se perguntar o que haveria por trás das palavras de Anne que naquele dia parecia querer se menosprezar diante dele. Ele não conseguira entender ainda o comportamento e as palavras tão estranhas dela. Mas, não quis se aprofundar mais naquela conversa que estava tornando o último dia de ambos em Paris extremamente tenso Não deviam estar apenas se divertindo? Ele encerrara a discussão dizendo que amava Anne de qualquer jeito, e a beijara tentando demonstrar com aquele gesto que nada mudaria a adoração que tinha por ela.

Voltaram para casa horas depois e Gilbert percebeu satisfeito que Anne parecia mais animada quando se sentaram à mesa com Tia Josephine para o jantar de despedida, o qual se mostrara um evento bastante feliz e prazeroso para todos, principalmente, porque a boa senhora pedira permissão a Anne para ajudá -a com os preparativos do casamento de ambos quando chegasse a hora. Anne pedira a opinião dele, e Gilbert apenas concordara, pois nunca poderia negar nada a ela, sabendo o quanto aquilo a faria feliz, e suspirou aliviado ao ver que Anne tinha voltado ao seu estado normal e não exibia mais o semblante carregado que tanto o preocupara aquela tarde.

Quando acordara no dia seguinte, Gilbert se levantara e fora até a janela, aproveitar pela última vez aquela vista maravilhosa ele tinha da torre Eiffel. Ele respirou ar fresco que entrou pelas suas narinas e o fez se sentir revigorado. Estava satisfeito por volt ar para Avonlea, bem mais do que Anne com certeza, pois apesar de aquela viagem ter superado suas expectativas, ele sabia por experiência própria que estar entre seus amigos e familiares após algum tempo ausente era a melhor sensação do mundo.

Era bom conhecer outras terras e respirar outros ares, porque isso enriquecia o ser humano, e dava-lhe a oportunidade de enxergar o mundo por outro prisma. E o que aquela experiência trouxera a Gilbert fora a certeza de que seus laços com Anne haviam se fortificado mais ainda. Passar tantos dias com ela sob o.mesmo teto, lhe dera a chance de observá-la de todas as maneiras, e o que descobrira fora que não havia ninguém no mundo que ele quisesse mais em sua vida do que Anne. E o grau de intimidade que atingiram naqueles dias não deixava dúvidas de que o sentimento que tinham um pelo outro jamais conseguiria ser suplantado por nenhum outro. Anne era a única no mundo para ele, e qualquer pessoa que dissesse o contrário estaria equivocada.

Gilbert abandonou a janela e se vestiu rapidamente, pegando sua bagagem e indo até o quarto de Anne. Ele bateu na porta e perguntou.

- Anne, meu amor, está pronta? – Ele ouviu-a responder afirmativamente, e depois abrira a porta, e olhou para ele com aquele sorriso maroto que o fez ver que tudo estava bem novamente dentro dela.

Após o café foram para a estação e se despediram de Tia Josephine que parecia tão emocionada quanto Anne. Assim que entraram no trem, Gilbert observou que Anne parecia perdida em pensamentos novamente, mas logo ela relaxou e acabou adormecendo, permanecendo dessa maneira boa parte da viagem.

Quando desembarcaram em Avonlea, foram para casa em um carro alugado por ele e ao atingirem a fazenda dos Cuthberts, Gilbert se despediu de Anne desejando ardentemente que pudesse ficar com ela um pouco mais, pois depois de tantos dias fazendo tudo juntos, era estranho para ele ir para casa sem ter as mãos dela segurando as suas.

Gilbert chegou em casa, e imediatamente ganhou um abraço de Mary e Sebastian.

- Querido que bom que chegou. Sentimos sua falta.- Mary disse sorrindo.

- Eu também.- depois olhou surpreso a sua volta e notou que a casa estava toda enfeitada, e perguntou curioso.- Estamos comemorando alguma coisa?

- Sim, eu e a Mary vamos fazer uma festa amanhã para comemorarmos o aniversário de nosso casamento.- Sebastian explicou com um sorriso largo no rosto.

- Isso é realmente incrível. Preciso avisar a Anne.

- Eu pedi para Marilla avisá-la assim que ela chegasse. Ainda bem que você nos avisou antes quando vocês chegariam, para que pudéssemos preparar tudo com a presença de vocês aqui. Na verdade a data foi na semana passada, mas resolvemos adiar até amanhã, pois sabíamos que estariam de volta.

- Obrigado por isso, Mary. Anne ficaria chateada se não pudéssemos participar. – Gilbert a beijou no rosto e então continuou:

- Vou para o meu quarto descansar um pouco, mais tarde desço para contar a vocês tudo sobre a viagem. – Ele pegou a bagagem e começou a subir as escadas, mas antes que chegasse no último degrau Mary disse:

- Eu ia me esquecendo. Na semana passada alguns amigos seus da faculdade passaram por aqui. Parece que um deles tem parentes por essa redondeza, e como sabiam que você mora aqui, resolveram fazer-lhe uma visita.

- Amigos? - Gilbert perguntou com a testa franzida.

- Sim. Eram dois rapazes e duas moças. Um deles se chamava Jonas. Eu me lembrei por que ele tem o mesmo nome do meu sobrinho. Os outros infelizmente não consigo me recordar do nome. – Mary disse se desculpando.

- Ah, sim Jonas. – Ele disse e se lembrou que tinha dado o endereço de sua fazenda para ele caso algum dia quisesse aparecer por ali para respirar o ar fresco do campo.

- Eu os convidei para a festa. Espero que não se importe.- Sebastian disse.

- É claro que não, Bash. Eu gosto muito de Jonas. – E era verdade, apesar do comportamento de Jonas com Dora, Gilbert gostava sinceramente dele. Ele era um bom amigo e sempre conversavam muito sobre quase tudo. Não podia dizer que tinha o mesmo laço de afeto que compartilhava com Muddy, mas ele amenizava um pouco a falta que sentia da companhia do garoto a quem ele conhecia desde criança

Gilbert foi para o seu quarto, deixou a bagagem no chão e se atirou na cama. Estava tão cansado que sua cabeça pesava, pois ele não dormira quase nada na viagem de volta. Em questão de segundos seus pensamentos desapareceram de sua mente e ele adormeceu profundamente. 

Continue Reading

You'll Also Like

119K 10.1K 52
HISTÓRIA COMPLETA. Continuação da série em cartas com capítulos bônus. #7 Anne With an E (24/05) #5 Anne With an E (07/06) #1 cartas (07/10)
118K 10.2K 41
Onde Anne, futura rainha da França, e Gilbert, futuro rei da Alemanha, se encontram no casamento da irmã adotiva da ruiva, agora Duquesa Diana, e do...
304K 22.5K 111
Anne shirley Cuthbert decide sair um pouco da sua rotina no Canadá e decide fazer um intercâmbio de 1 ano na Inglaterra. Só oque ela não imaginava e...
144K 14.4K 57
•Concluída | Revisada | Capa Nova• Anne With an E é um sucesso. Mas o que acontece por trás das câmeras? Na luta para a renovação da 4ª temporada, o...