Nicolas
Eu gostaria de adormecer por horas a fio. Um sono daqueles em que você e seu cérebro simplesmente apagam. Sem sonhos, sem interrupções, sem, se quer, mudar de posição durante todo o tempo que ele dure. E adivinhe só o motivo disso? Anelyn Clark!
Por mais que eu dedique todos os meus esforços à isso, eu não consigo tirar o beijo que dei nela da minha cabeça. Não consigo entender porque fiz aquilo e, mais ainda, porque diabos eu gostaria de fazer de novo e de novo e de novo, até matar a porra desse desejo. Mas não vai acontecer e eu mesmo me encarreguei disso quando pedi que ela esquecesse o ocorrido. Porém, nem mesmo eu estou conseguindo fazer o que propus.
Já passa das duas da madrugada e eu ainda não consegui pegar no sono com esses pensamentos indesejados e inexplicáveis rondando por meu cérebro e deixando meu corpo completamente inquieto.
Eu não me apaixonaria pela nerd.
Não. Com certeza não.
Eu não seria capaz...
Eu nunca me apaixonei antes.
Isso não aconteceria logo com ela que é tão diferente de mim. Tão diferente das garotas pelas quais tenho preferência. Eu não saberia lidar com isso. Muito provavelmente, tudo acabaria em um grande desastre e eu a magoaria.
Será que ela também não consegue esquecer o beijo, assim como eu nesse momento? Me deito de barriga para cima, com a cabeça apoiada sobre um dos braços e um sorriso ergue o canto da minha boca ao imaginar ela acordada pensando em mim. No meu beijo. Deixo os pensamentos que estou tentando bloquear há horas, virem de uma vez, sem resistência, e só assim, eu adormeço.
Quando acordo, saio do quarto e desço as escadas tentando esconder de mim mesmo a expectativa de encontrar Anelyn lendo em algum dos cantos da casa ou na cozinha conversando com Gina sobre a vida dela na juventude, mas não a vejo em lugar algum. Penso que ela esteja em seu quarto, envergonhada ou com raiva pelo que aconteceu na roda gigante, mas quando não consigo mais segurar a curiosidade, pergunto por ela à Gina e só então fico sabendo que ela foi para a casa de Melissa logo cedo e que passará o dia inteiro lá.
Como quem acaba de ser atingido por um balde de água fria, subo para o meu quarto e quanto mais o tempo passa, mais me irrito com a não chegada dela em casa. Será que ela está fazendo isso para evitar se encontrar comigo? Se for, por quê? Por raiva do que fiz, do que falei em seguida, ou será que é porque ela também está sentindo os pensamentos e desejos saírem de seu controle?
Não. Ela me odeia e é puritana demais pra se deixar levar somente por desejos carnais.
Aí está a explicação!
Talvez eu esteja apenas me sentindo fisicamente atraído por ela por já fazer mais tempo do que estou acostumado sem me relacionar com garota alguma. Talvez, eu haja assim com todos esses desejos diante de qualquer outra garota porque devo estar carente e necessitado. Mas só há um jeito de descobrir.
Pego as chaves do carro e deixo a mansão para trás. Paro no The Pub que não fica muito longe de casa e me dirijo ao bar. Me sento em um dos bancos altos e peço uma dose de uísque. Como frequento bastante o local, eles não pedem a minha identidade, que no caso, sempre apresento a falsa.
Ainda é cedo. Não passa das oito horas da noite, mas o movimento no bar é bastante. Analiso ao meu redor, procurando por alguma garota que me chame a atenção e logo percebo uma garota loira de cabelos cumpridos e extremamente lisos olhando para mim. Ela é obviamente mais velha do que eu, mas esse detalhe não precisa ser mencionado. De toda forma, nesses ambientes a probabilidade de conhecer apenas mulheres mais velhas é muito grande e eu já estou acostumado.
Ergo meu copo alguns centímetros do balcão, olhando para ela, e faço um gesto discreto com a cabeça para que ela se aproxime. Ela sorri e logo deixa a companhia das amigas para se juntar à mim.
— Oi. — diz, sorrindo com simpatia. Desço do banco e a cumprimento com um beijo no rosto.
— Oi, linda. Muito prazer. Me chamo Nicolas.
— Saly.
— Me acompanha em um drink? — convido e ela aceita.
— Sabe que eu já estava dando a noite como perdida, até você aparecer? Esse lugar estava sem a menor graça. — diz, melosa e eu sorrio, dando corda.
— Ah é? Que bom que eu resolvi vir, então.
O barman entrega nossos drinks e a paquera começa a fluir entre um gole e outro da bebida doce. Sem rodeios, ela se aproxima, segurando sutilmente o colarinho da minha camisa. Ergue os olhos para os meus e morde o lábio inferior propositalmente, me provocando.
— Saly, não me provoque assim. — repreendo, mas mais como um incentivo do que realmente repreensão.
Ela dá uma risada sedutora e automaticamente, sem o menor controle, meus pensamentos voam para a risada de Anelyn quando estávamos naquele maldito brinquedo que rodopiava a uma velocidade desnecessária.
Merda!
Resolvo deixar os joguinhos de lado e ir direto ao ponto. Agarro a cintura da garota, trazendo-a para mais perto de mim, buscando sentir sua pele, seu cheiro... Coisas que a essa altura já teriam me deixando louco, mas não estão deixando. Meu corpo não responde. Não sinto nada. O impulso que me fez beijar Anelyn não se manifesta diante da loira de vestido curto que me olha com expectativa, esperando alguma atitude.
— Saly, me desculpe. Acabei de me lembrar de uma coisa que tenho que resolver. Preciso ir. — me afasto, pego a carteira e deixo em cima do balcão uma nota que é mais que suficiente para pagar pelo nosso consumo.
— M-mas...
— Desculpe. — repito e deixo o bar para trás, quase correndo.
Merda! O que diabos está acontecendo comigo?
Irritado, volto para casa. Não encontro com ninguém no caminho até meu quarto e assim que chego lá, tiro toda a minha roupa e entro por completo embaixo da água fria do chuveiro. Deixo a água acalmar as batidas nervosas do meu coração, respiro fundo, apoio as mãos na parede e abaixo minha cabeça, tentando me concentrar apenas na sensação da água caindo na minha nuca. Fico ali por um bom tempo, até sentir que aquela sensação maluca de uma quase falta de Anelyn já saiu do meu corpo. Desligo o chuveiro, me enrolo na toalha e vou até o closet me vestir.
Assim que coloco a última peça de roupa e me sento na beira da cama, a sensação volta. O caralho da sensação, acelerada e sufocante, ainda está em mim. Não adianta. Nada que eu faça vai apagar uma coisa que só tem um jeito de resolver: beijando aquela nerd o máximo que eu puder.
Saio do meu quarto, as luzes da mansão já apagadas, não é possível que Anelyn ainda não tenha voltado. Abro a porta do quarto dela sem pensar ou me importar com as consequências, mas ela não está. Praguejo baixo quando fecho a porta novamente e só não solto outro palavrão porque escuto passos suaves nos degraus da escada. Fico parado, esperando que quem quer que seja apareça logo e torcendo para que seja a nerd. Como um desejo atendido pelos céus, ela aparece.
Seu coque alto, sapatilhas seguras na mão esquerda e uma jaqueta são tudo o que eu consigo ver direito sob as sombras da noite, mas mesmo que não pudesse enxergar absolutamente nada, eu saberia que é ela ali na minha frente, pois aquele impulso de que eu falei já está aqui novamente. Caminho até ela com rapidez, duvido até que tenha si dado conta da minha presença, agarro sua cintura e tomo sua boca para mim, sentindo como se o ar voltasse aos meus pulmões depois de um longo tempo ausente.
Uso meu corpo para conduzir o dela até encostá-la na parede e levo uma de minhas mãos a sua nuca, enquanto a outra agarra sua cintura com certa força sob a jaqueta. O beijo da noite anterior, foi suave e lento porque eu não esperava fazer aquilo, eu não sabia o que estava fazendo, estava sendo guiado somente por aquele meu amigo impulso, mas este aqui... Este beijo eu quis com todas as minhas forças, eu esperei por ele o dia inteiro, eu estive em negação, mas agora estou completamente convencido de que não vou poder fugir de seja lá o que for que Anelyn tenha feito comigo.
— Me desculpa. — ofego contra seus lábios quando separamos nossas bocas. Somente as bocas. Porque eu não movo um músculo para me afastar dela.
— É sério isso? — pergunta, parecendo irritada, e coloca suas mãos em meu peito, tentando ganhar distância e me encarar. — Você vai ficar me beijando assim do nada e depois pedindo desculpas até quando?
Franzo as sobrancelhas, surpreso por vê-la agir assim tão... Sincera. Sem nem mesmo ganhar seu tom avermelhado nas bochechas, coisa que sempre acontece em situações assim.
Sorrio.
— Não estou pedindo desculpas pelo beijo.
— Não? E é pelo quê então?
— Por ter pedido desculpa quando te beijei ontem e por ter te pedido pra esquecer. Eu não quero que você esqueça. — digo, encostando minha testa na dela.
— Por que você está fazendo isso? Se estiver planejando me usar ou...
— Não estou planejando nada. — a interrompo e, em seguida, a beijo mais uma vez, só então me dando conta do leve gosto de cerveja em sua boca. — Eu não planejei me apaixonar por você. — digo, sem pensar, enquanto mantenho minha cabeça encostada na dela, de olhos fechados, apreciando seu cheiro e o calor do seu corpo.
— A-apaixonar? V-você... Você está bem? Está bêbado? — seu tom é de dúvida e pura descrença.
Abro meus olhos e me afasto alguns centímetros para poder visualizar melhor seu rosto. Coloco minhas duas mãos em sua nuca e encaro seus olhos, respirando fundo.
— Eu sei que é difícil acreditar. Eu mesmo tentei negar isso à mim mesmo o dia inteiro mas... — umedeço os lábios antes de continuar. — Eu não paro de pensar em você. Eu não consigo mais beijar nenhuma outra mulher. Seu beijo me enche de coisas que eu nunca senti, que eu nem sabia que faltavam e que não consigo nem mesmo entender. Se isso não é paixão, então o que é?
— Eu não sei. Só sei que você e eu não podemos ter esse tipo de relação. Como é que fomos chegar a esse ponto?
— Me fala, o que você sente por mim? — pergunto, ignorando a pergunta dela que me fita por tempo demais. — Me fala, Anelyn. E não adianta dizer que não sente nada. Eu sei que sente.
— Como você saberia algo que eu sinto? — responde, ainda agindo rispidamente, mas com seu corpo imóvel junto ao mau.
— Pelo jeito como você retribui aos meus beijos e por você ainda estar aqui agarrada à mim. — ela me empurra, assim que menciono o segundo motivo.
— Vamos esquecer isso tudo, Nicolas. Boa noite!
— Anelyn, espera. — peço e tento alcançá-la, mas ela é mais rápida ao entrar em seu quarto e fechar a porta.
Praguejo baixo, encarando a madeira branca, mas antes que se quer me mova do lugar, a porta abre novamente, Anelyn passa por mim e pega suas sapatilhas do chão. Assim que fica de pé novamente, ao meu alcance, eu a agarro outra vez e sugo seus lábios com os meus, mas ela se afasta. Um beijo rápido, mas intenso, como os meus sentimentos por ela.
— Eu duvido que você consiga esquecer. Boa noite, Anelyn. — digo, e em seguida volto para o meu quarto.
É difícil até para mim acreditar no que acabei de fazer e, principalmente, nas coisas que acabei de falar. Mas, seja como for, eu me sinto muito melhor.
Muito mais leve.
Muito mais tranquilo.
Muito mais apaixonado.
Ela querendo ou não, eu vou fazer de tudo para conquistá-la. Não importa as consequências, eu preciso viver isso. Há muito tempo eu não tenho algo que me tire o juízo assim. Que me deixe eufórico e sem controle sob mim mesmo. Há muito tempo eu não tenho objetivo algum e agora, ela me faz querer ser diferente. E eu vou ser.
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