Red Wine

By azukibani

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Quão condenável é ter vinte anos de idade e apaixonar-se pela irmã de seu melhor amigo, cinco anos mais nova... More

Introdução + Personagens (opcional)
- Residência dos Mondego, 3 anos antes -
Kristine, 1.
Hayato, 1.
Kristine, 2.
Hayato, 2.
Kristine, 3.
Hayato, 3.
Kristine, 4.
Hayato, 4.
Kristine, 5.
Hayato, 5.
Kristine, 6.
Hayato, 6.
Kristine, 7.
Hayato, 7.
Kristine, 8.
Hayato, 8.
Kristine, 9.
Hayato, 9.
Kristine, 10.
Hayato, 10.
Kristine, 11.
Hayato, 11.
[OPCIONAL] - ILUSTRAÇÃO PARA O CAPÍTULO ANTERIOR
Kristine, 12.
Hayato, 12.
Kristine, 13.
Hayato, 13.
[OPCIONAL] FOTOS DE FORMATURA - PROVA DE TOGA
Kristine, 14.
Kristine, 15.
Hayato, 15.
Kristine, 16.
Hayato, 16 - pt.1
Hayato, 16 - Pt.2

Hayato, 14.

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By azukibani


Sábado - 22:13


    Eu pareço um pai de primeira viagem: é só ouvir minha bebê chorar que eu corro para satisfazer as vontades dela, e nem mesmo um bar regado a álcool é capaz de me impedir.

    Aquele solucinho quase inaudível cortou meu coração, pois além de indicar que estava visivelmente mal, também denunciava que a situação estava tão grave que ela não conseguiu disfarçar. Demonstrar fraqueza na frente dos outros era inadmissível para Kristine, e se eu fui escolhido para testemunhar aquilo, minha obrigação era largar tudo para cuidar dela.

    Mesmo sem saber o motivo do seu sofrimento, queria que ela soubesse que eu estaria ali, ao seu lado, para ajudá-la a superar o que quer que fosse.

    Se um caco de vidro cortasse seu dedinho, eu estaria lá para limpar o ferimento e aplicar o curativo.

    Se um osso do seu corpo se quebrasse, eu estaria lá para fazer os primeiros socorros e levá-la a um hospital.

    Se seu coração fosse partido... Bem, eu partiria a cara do desgraçado.

    Por isso, ávido por encontrá-la o mais rápido possível, meti-me entre os colegas de turma procurando por Benjamin, que permanecia no mesmo lugar desde o início da festa. Meu desespero era tão grande que eu nem notei os rostos que me encaravam, e sequer ouvi as vozes que saíam de suas bocas, como se todos fossem borrões insignificantes que atrapalhavam minha missão final. A única coisa que me importava era achar meu amigo, para que assim pudesse prosseguir.

    E, graças à cachaça liberada, não precisei me esforçar muito.

    Abrindo espaço no meio da multidão, dirigi-me até o homem mais animado do recinto, que parecia sóbrio mesmo após encher sua cara. A ideia de deixar Marina sob seus cuidados tentava me perturbar, até porque ele desconhecia a palavra limite quando se tratava de bebida, mas no fundo eu sabia que poderia confiar. Ainda que estivesse completamente bêbado, apoiando-se nas paredes para chegar em casa, ele era um verdadeiro cavalheiro e jamais admitiria que ela corresse qualquer perigo. Ele cuidaria dela assim que eu pedisse, a olharia como se fosse uma criancinha numa festa infantil, e, no fim, pediria um Uber para que voltasse em segurança.

    Assim, certo de que a deixaria em boas e loucas mãos, alcancei seu ombro e me aproximei, precisando aumentar o tom de voz para ser ouvido.

      Ben, preciso ir embora agora!  Gritei, demonstrando urgência.  Cuida da Marina pra mim!

    Assim que terminei de dizer a última frase, Ben virou-se e me encarou com o cenho franzido, visivelmente desconfiado. Para ele, a única razão plausível para abandonar uma comemoração daquelas seria a morte de algum familiar, então, vendo minha reação, não pôde deixar a preocupação de lado.

      — O que tá rolando?!  Questionou, arregalando os olhos.

    Claro que eu não ia dizer, né? Assumir que está agindo impulsivamente por amor é muito mal visto, e eu meio que não estava a fim de enrolações. Eu cuidaria dele depois.

      — Emergência.  Contornei, dando dois tapinhas em suas costas.  Depois te explico!

    Depois eu invento uma desculpa  pensei  nem tudo precisa ser exposto.

    Dessa forma, antes que ele pudesse contestar, deixei-o para trás com suas taças e corri para longe do salão, esbarrando em alguns corpos durante o percurso. Atravessei o jardim a passos largos, convicto de que Marina ficaria imensamente chateada comigo, mas não vacilei  segui firme até o concreto do estacionamento, e só parei quando meus dedos encostaram na maçaneta do carro.

    Era isso, paguei parcelas mensais por um evento no qual não durei nem uma hora, e não senti um pingo de arrependimento. De nada adiantava ter tantas regalias se eles não estavam lá, compartilhando um momento tão especial comigo, e eu não digo isso para menosprezar meus convidados. Muito embora ambos fossem incrivelmente especiais para mim, ainda não haviam atingido o status de família, coisa que só minha santíssima trindade conseguiu.

    E se minha família precisava de mim, nada mais importava.

    Com o sangue borbulhando nas veias, adentrei ao carro e, quando percebi, o motor já estava ligado. Não me importava a quantidade de automóveis a serem driblados na saída, muito menos a distância que eu precisaria cruzar até encontrá-la, pois os obstáculos não eram nada se comparados à minha preocupação com aquela mulher. Eu queria tomá-la em meus braços e levá-la para longe do que a angustiava, e estava no caminho certo para isso.

    Com as mãos firmes no volante, afundei o pé no acelerador e iniciei a aventura, desviando dos outros veículos com maestria até que estivesse, enfim, do outro lado do arco. Deixei que alguns motoristas buzinassem em protesto, se mordendo de raiva por terem sido ultrapassados pela minha nave espacial, e avancei com um sorriso no rosto, pronto para lançar um expecto patronum no dementador que atacava minha amada lufana. Sim, nós fizemos testes online e ela é da Lufa-Lufa, enquanto eu sou da Grifinória.

    Entusiasmado e fervendo em ansiedade, continuei acelerando pelas ruas e atravessei semáforos vermelhos  tomando cuidado para não causar acidentes ou mortes , ignorando o medo de levar um batalhão de multas e acabar perdendo a carteira de habilitação. Quando fiz aquilo, repeti mentalmente o boato de que após as 22:00 h estava liberado desprezar o sinal, e acabou que era verdade mesmo: nada de multas, por incrível que pareça. A única lei de trânsito que obedeci naquela noite foi a de velocidade na autoestrada, isso porque 110 km/h já era o suficiente para mim, e eu não gostava muito da ideia de morrer.

    Dirigi insanamente por míseros 10 minutos, tomando diversos atalhos macabros e cortando os pilotos mais lentos, até vislumbrar sua rua amplamente iluminada. As luzes dos vizinhos estavam quase todas acesas, demonstrando que boa parte optara por passar o sábado em seus lares, com exceção da residência dos Mondego.

    A escuridão dominava tanto o jardim quanto o interior da casa, e as pesadas cortinas cobriam as janelas de maneira obscura, eliminando qualquer possibilidade de enxergar se alguém estava ali. Eu poderia muito bem ter me convencido de que ela havia saído, optando por chorar ao som de Love By Grace, da Lara Fabian, mas eu conhecia aquela tortinha de morango. Utilizar táticas para evitar pessoas estava se tornando hábito naquela época, então eu já sabia que isto não passava de um truque seu. Ela estava lá e ponto.

    Assim, estacionei o carro na fachada e desci às pressas, ouvindo um trecho essencial da música em minha cabeça. "I was brought here by the power of love Eu fui trazido aqui pelo poder do amor.

    Eu iria até o fim do mundo por ela, enfrentaria qualquer perigo e faria de tudo para nunca vê-la chorar. Ter aceitado seu comportamento sem insistir nas respostas foi um erro, e eu não suportava mais a ideia de ser tão ausente em seus problemas. Eu sabia qual era sua verdadeira natureza, sabia que sua alma gritava por ajuda, e eu não a deixaria mais sozinha, sejam meus métodos honestos ou não.

    E foi assim, decidido e impassível, diante da porta, que percebi ter esquecido a porra da chave.

    Era inadmissível. Ela vivia ao meu alcance, às vezes até machucava minha bunda quando a deixava no bolso traseiro, e não fazia nenhum sentido eu tê-la pendurado no chaveiro do meu apartamento. Tateei os bolsos inutilmente, em busca de uma esperança, mas só encontrei minha carteira e celular. A ideia de irromper na sala como um príncipe encantado fora por água abaixo, tudo porque eu ocasionalmente faço coisas idiotas, e agora dependia da sua aceitação para poder entrar.

    Ou seja, se ela quisesse continuar fingindo que não estava lá, eu precisaria quebrar a janela.

    Respirando fundo, bati na porta suavemente e sussurrei alto o suficiente para que fosse ouvido, evitando parecer desesperado ou agressivo. Iin dayo. Ganbare! (Tudo bem. Aguente firme!)

      — Kris, sou eu.  Falei, mantendo o tom de voz ameno.  Abre aqui pra mim, por favor.

    Educação é tudo nessa vida, e nada se conquista sem ela. Tente pedir um cheeseburger numa lanchonete usando toda a sua cavalagem, mandando nos funcionários como se fossem animais, e sentirá o delicioso sabor do cuspe alheio no meio dos pães.

    Ok, mais uma vez. Kibou wo ikashitsuzukenasai (Mantenha viva a esperança).

      — Eu sei que você tá aí.  Continuei, pousando a mão sobre o batente.  Por favor, não foge de mim... Tô morrendo de preocupação.

    Silêncio. Nenhuma resposta, apenas a certeza de que usei as palavras erradas e acabei arruinando tudo.

    Merda  praguejei mentalmente  Por que ela precisa ser assim, tão difícil? Tudo bem que eu estava determinado a quebrar suas correntes, mas ela continuava plantando barreiras conforme eu avançava em sua direção. Dar murro em ponta de faca machuca, e, nesse ritmo, em breve eu precisaria amputar as mãos.

    Mas tudo bem... Mou ippo susumou (Dê mais um passo).

    Sem esperanças, decidi falar pela última vez, visto que a insistência não me levaria a lugar nenhum. Pensei com carinho, tentei ver as coisas sob seu prisma, e escolhi as palavras como um bruxo seleciona os ingredientes ideais para uma poção poderosa. Tudo feito minuciosamente, sem pressa.

    E foi certeiro.

      — Eu não vou sair daqui, tá?  Suspirei  Só... Abra quando... sentir que deve.

    Foi fatal.

    Quando terminei de falar, já preparado para sentar-me no tapete da entrada, escutei o som dos guizos de seu chaveiro. Quis dar cambalhotas de alegria, cantar o hino nacional japonês e chorar de emoção ao mesmo tempo, mas me contive e liberei somente um sorriso, que traduzia todo o meu alívio. Entretanto, o hino é tão curtinho que daria para cantá-lo naquele pequeno espaço de tempo, se eu quisesse mesmo.

    Arigatou, kamisama.

    Cada passo seu fazia meu coração saltar, e isso se dava por um único motivo - eu não sabia exatamente o que fazer quando a visse. Eu deveria consolá-la? Pedir para entrar, oferecer um chocolate quente, ou simplesmente ficar mudo? Nenhuma conduta parecia correta ou boa o suficiente, até porque decifrar seus anseios era uma tarefa árdua.

    Eu não sabia o que ela esperava de mim, mas precisava fazer valer a confiança que me foi dada quando seus dedos tocaram as chaves. Mae muki ni ne (Mantenha-se positivo).

    Dessa forma, enquanto eu me esforçava para respirar, ouvi o som da chave sendo inserida na fechadura. Seus movimentos eram lentos, como os de quem pensa muito antes de fazer algo, mas não demorou muito até que o clique denunciasse que o acesso estava quase liberado. Chegou a hora.

    Com um ranger característico, a porta se abriu lentamente e revelou uma figura imensamente abatida, que nem sequer tentou disfarçar seu estado. Sua aura me atingiu como uma adaga, atravessando meu peito e girando sua lâmina sem qualquer piedade, me fazendo sangrar em comiseração. Ela me destruiu e nem percebeu.

    Com os ombros curvados, Kristine ergueu sua cabeça em minha direção, evidenciando o brilho e o inchaço que envolvia seus olhos. A pontinha de seu nariz exibia um tom avermelhado, típico de alguém que chorou muito, e os fios de cabelo grudados em sua bochecha indicavam que as lágrimas que rolaram ali não foram poucas. Sua aparência não deixava dúvidas sobre a condição emocional em que ela se encontrava, e só me restava saber o que havia ocorrido.

      — O que você tá...  Começou, com sua voz embargada e rouca.

    Então, e só então, eu soube o que fazer.

    Antes que ela pudesse continuar sua frase, deixei que meu instinto falasse por mim. Fiz algo que já estava acostumado a fazer, uma ação portadora de um poder indescritível, mas dessa vez deixei que um elemento muito importante se destacasse  meu amor.

    Era aquela a minha forma de dizer que estava ali, que não a soltaria e que estava pronto para enfrentar e dilacerar o monstro que a ameaçava. É claro que eu queria tomá-la em minhas mãos e chamá-la de minha preciosa, protegendo-a de todos que tentassem atormentá-la, mas eu não era o Gollum. E ela não era o Um Anel.

    Assim, sem hesitar e movido pelo mais sincero sentimento, agarrei seu pulso e a puxei para perto, envolvendo-a num abraço.

    Pronto, agora sim ela estava segura. Eu não admitiria que mais uma lágrima descesse de seus olhos, assim como não desistiria de colocar um sorriso em seus lábios, mesmo que isso me custasse a vida. Ela poderia tentar me expulsar, me xingar e me estapear, mas eu não cometeria o erro de deixá-la novamente. Doeu demais vê-la se afastando de mim.

    Entretanto, remando contra a seu próprio orgulho, ela acabou me surpreendendo com sua reação.

    Sem oferecer resistência, Kristine permitiu aconchegar-se em meus braços como nunca antes, aninhando suavemente a cabeça em meu peito. A terrível muralha que ela sustentava fora finalmente destruída, suas pedras foram reduzidas a pó, e tudo que estava escondido agora era nítido. Eu preciso dizer que me senti como o titã colossal chutando a Muralha Maria, e peço perdão por essa citação anticlimática num momento tão bonito da história. Perdão, sério mesmo.

    Acredito que nossos corpos nunca ficaram tão próximos como naquela ocasião, pois eu podia jurar que sentia seu coração pulsando em minha pele, como se fosse parte de mim.

    E, na realidade, ela era mesmo parte de mim. 

    O calor de sua respiração tocava meu peito, e tal sensação me fez desejar sentir aquilo sempre que me deitasse, pois não existia algo mais maravilhoso do que tê-la tão perto. A maciez de seus cabelos deslizando em meus dedos, o movimento do seu tórax ao inspirar e expirar, o doce aroma que mexia com meus sentidos... Tudo, absolutamente tudo era fantástico naquela mulher. E eu queria fazer muito mais do que simplesmente abraçá-la.

    Ai gente, sem maldade hoje, tá? Não tô falando disso que vocês estão pensando. É óbvio que seria delicioso, mas naquele momento isso nem passou pela minha mente. Estou me referindo a maiores esforços para vê-la feliz.

    Assim, como se fosse atingido por um raio, tive a melhor ideia para alcançar meu objetivo.

      — Preciso te mostrar uma coisa, meu pãozinho de mel.  Disse, ainda sem soltá-la.  Confia em mim, você vai adorar.

Sim, eu chamei ela de pãozinho de mel. E não me arrependo.

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