"Na vida jamais deve-se temer o desconhecido, hoje estará celebrando o nascimento, amanhã poderá está fazendo a passagem."
Sexta-feira – 13 de março de 1998
Era uma tarde chuvosa, uma imensa multidão cruzava o centro da cidade, com expressões vazias, todos seguiam em caminhada lenta, alguns vestiam preto, outros roupas normais, no meio deles também caminhava um homem, seu nome é Leandro, ele tinha cabelos longos e uma barba grande, não sabia o que estava fazendo no meio daquelas pessoas, mas os seguiu até seu destino.
- Moça para onde estamos indo? – Questionou Leandro.
A moça nada respondeu, ele então caminhou mais adiante, sem ter como sair do meio deles, avistou um amigo que também seguia o mesmo trajeto e sorridente perguntou:
- Rodrigo, quanto tempo rapaz, sempre prometi lhe fazer uma visita, mas nunca estou disponível, e ai cara como você tá? O que é essa multidão? Para onde estamos indo? – Perguntou Leandro.
Mas Rodrigo também não respondeu, desapontado Leandro baixou a cabeça e os seguiu até o caminho final.
- Enfim chegamos ao nosso destino, agora alguém pode me dizer que brincadeira é essa? Que lugar é esse? Porque ninguém me responde nada?! – Falou Leandro aflito.
A multidão se aglomerou e o deixou sozinho, e finalmente ele reconheceu aquele lugar.
- Um cemitério? Porque estamos aqui? Quem morreu? O que deu em vocês para me ignorarem? Digam algo pelo amor de deus! – Gritou Leandro.
Aos poucos a multidão foi se dispersando e ele foi tentando segui-los, à medida que caminhava o percurso foi ficando cada vez mais longo, e quando chegou ao final para sua surpresa, os portões estavam fechados.
- Que palhaçada é essa, vamos alguém abre isso aqui! Socorro eu estou preso aqui! Abram essa merda, eu quero sair! – Suplicou Leandro. – Mas quem passava pelo lado de fora, não se importava, nem olhava e novamente ele baixou a cabeça.
Quando a noite começou a cair, Leandro viu uma sombra ao seu redor, assustado virou-se para trás e viu a figura de um homem, ele tinha uma aparência nova, também tinha cabelos longos, uma barba enorme, trajava uma capa preta, usava um chapéu cinza já desgastado pelo tempo, e vestia uma camisa surrada branca e uma calça azul, estava descalço mas seus pés não estavam sujos com a sujeira daquele lugar.
- Quem diabos é você? De onde surgiu e porque estamos aqui? – Disse Leandro assustado.
- Me diga, você é lerdo assim mesmo ou está fazendo cena? – Perguntou o homem ironicamente.
- Quem é você para falar assim comigo? Sabe quem eu sou? Eu posso ferrar você seu fodido! – gritou Leandro. – Mas aquele homem misterioso não se amedrontou e começou a falar:
- Vamos baixar o tom que não iremos chegar a lugar algum, me desculpe pelas palavras que falei antes, meu nome é Baltazar, sou o guardião deste local. – Apresentou-se.
- Um guardião? Porque um cemitério teria um guardião? Mora aqui por acaso? Que coisa mais maluca. – Disse Leandro desdenhado do que acabou de ouvir.
- Maluca porquê? Essa é a sua casa a partir de agora também, ou ainda não se deu conta de que fez a passagem. – Disse Baltazar.
- Eu morto? Só pode estar brincando comigo! Estou tão bem que posso lhe mostrar se me ajudar a sair daqui. – Disse Leandro assustado.
- Já vi que você é mais um dos que não acreditavam em nada durante seu ciclo como mortal né? Pois venha comigo, vou te mostrar o que está enterrado no túmulo onde aquela multidão estava mais cedo e você veio junto. – Disse Baltazar tentando provar o que dizia. – Mas Leandro não quis acompanha-lo e resolveu correr.
- Socorro! Alguém me tira daqui, tem um louco dizendo que estou morto, mas eu estou vivo, eu não morri. – Gritou ele.
Baltazar estava tão calmo que andou pacientemente até ele.
- Pare de gastar sua voz gritando para quem não pode te ouvir, venha logo comigo e caia na real. – Disse ele.
Leandro cansado daquela situação resolveu seguir Baltazar até a sepultura onde ocorreu o funeral mais cedo, ambos foram caminhando até uma parte mais fechada do cemitério, entre gavetas, covas e sepulturas mais sofisticadas eis que chegam no tumulo correto, coberto de pétalas de rosas, Baltazar limpou a lapide com as mãos e revelou o nome de quem estava dentro dela e causou um enorme impacto a Leandro.
- Leia você mesmo rapaz, está vendo com seus próprios olhos, não é um delírio meu, é uma realidade que ainda está difícil de você aceitar. – Disse Baltazar. – Mas Leandro ainda não estava convencido e disse:
- Que brincadeira de mal gosto, tenho certeza que foi algum de meus amigos, ah quando eu pegar quem foi vou enterra-lo pra valer, vivo ou morto. – Disse ele. – Mas Baltazar novamente tirando sarro da situação resolve falar em voz alta o que tinha escrito na lápide:
- Já que o rapaz não quer ler, eu mesmo o faço, "Aqui jaz Leandro Figueiredo, nascido em 13 de maio de 1977, morto em 13 de março de 1998", também conhecido como dia de hoje. – Falou Baltazar que então concluiu:
- Então se chama Leandro Figueiredo? Bem irei chamar só de Leandro, bem vindo a sua nova morada, no começo pode achar estranho, depois irá se acostumar. – Terminou ele.
Leandro ficou aterrorizado com o que viu, mas ainda não acreditava que havia morrido.
- Isso só pode ser um pesadelo! Tenho certeza, estou sonhando é isso que dá ficar vendo filmes de terror. – Disse Leandro. – Vendo que o rapaz ainda delirava Baltazar resolver gozar dele mais um pouco.
- Um filme de terror? Quem pensa que sou? O Freddy Krueger? Meu rapaz entenda que você fez a passagem, não pertence mais ao mundo dos vivos, mas ainda está preso dentro dele assim como eu. – Falou Baltazar.
Leandro cada vez mais atormentado com o que ouviu resolveu desafia-lo.
- Vou provar que não morri, abrirei essa sepultura e você verá que não vai encontrar nada a não ser os restos do dono dela. – Disse ele convencido.
- Eu não faria isso se fosse você, pode não gostar do que vai encontrar. – Advertiu Baltazar.
- Se diz que não vou gostar do que irei ver se abrir esse túmulo, então diga-me o que tem ai dentro pois estou muito bem vivo aqui fora. – Indagou Leandro.
- Pelo visto não quer mesmo acreditar né, pois bem fique por ai, te vejo pela manhã. – Disse Baltazar que foi embora logo depois.
A noite logo passou e o sol nasceu de novo, Leandro observava as sepulturas ao seu redor e questionava porque não via mais ninguém além de Baltazar, na sua cabeça isso comprovava a tese de que estava vivo, bem isso até os portões do cemitério se abrirem...
- Finalmente alguém lembrou que estou aqui, vou sair antes que fechem. – Falou Leandro sorridente.
Mas ele teria uma surpresa bem desagradável, ao correr em direção ao portão, acabou sendo bloqueado por uma parede invisível, sem compreender o que havia acontecido ele ficou caído no chão atordoado com a pancada, quando Baltazar aparece.
- E agora seu teimoso, está convencido da sua condição atual? – Perguntou ele.
- Estou muito confuso, como posso ter morrido, se eu sequer me lembro de como isso ocorreu e se eu morri, então porque não posso sair por ai vagando como um espirito qualquer? – Questionou Leandro.
Baltazar então resolve ajuda-lo.
- Vamos por partes, eu disse ontem que estava preso aqui, não tem como sair daqui até o dia em que finalmente irá passar para o outro lado, agora sobre a sua morte, lembre exatamente do que aconteceu três dias atrás, puxe pela memória, onde você estava? – Perguntou ele.
Leandro então começou a relembrar do que aconteceu três dias antes...