Eu não precisaria me olhar no espelho para saber a cara patética e apaixonada que estava estampado em meu rosto ao desligar equela ligação. Puta que pariu, que noite foi essa? Eu só podia estar sonhando! Eu sei que não devia criar espectativas, que isso tudo poderia não mudar nada entre nós, mas pedir para um coração apaixonado não pulsar cheio de esperança é o mesmo que pedir para as ondas se aquietarem em um mar agitado.
Não sei como, mas até que peguei no sono rápido e sonhei a noite inteira com Waves. Na verdade era mais lebranças da nossa ultima noite do que sonhos em si, eu estava revivendo detalhadamente seu toque na minha cintuta, seu rosto molhado pela chuva, seu sorriso quando por um breve segundo pensei que ela iria me beijar… Entretanto sou despertada pelo barulho irritante do despertador do meu celular.
Indo para a escola, eu pedalava com urgencia. Nem ao menos parei para tomar o meu café da manhã, tamanha era a minha ansiedade em ve-la. Contudo, assim que tranco minha bike com o cadeado e me levanto para ir em direção a entrada da escola, sou surpreendida por Wynonna me puxando de volta.
— A gente precisa conversar. — Ela diz com o tom de voz tão serio como nunca havia ouvido antes. — Vem, me segue. — Wynonna me solta e sai andando para o campo da escola, imagino que estamos indo para debaixo das arquibancadas, onde é o nosso lugar.
Alcanço ela e a encaro, sua expressão estava tão seria quanto o tom de voz, mas seu olhar também parecia irritado. Subtamente me vem um frio na espinha. Ela soube! Waverly contou que foi eu quem deu carona para ela e logo Wynonna teve a confirmação que eu estou apaixonada por sua irmã caçula. Vai ser agora que ela vai tirar satisfação e eu vou apanhar. Sim, apanhar, pois eu não revidaria com a Wynonna.
Chegamos nas arquibancadas e ela começa a andar de um lado para o outro impaciente. Eu fico apenas a olhando sem saber o que falar e já temendo o que estaria por vir.
— Ruivinha! Bom dia! — Ouço a voz de Doc vindo atrás de mim e solto o ar aliviada por ouvir sua voz.
— Doc seu filho da mãe! — Respondo sorrindo ao me virar e abraça-lo
— Eu maneraria o carinho com ele se eu fosse você. — Diz Wynonna ja estampando sua irritação no modo de falar.
— Wynonna… — Diz Doc como um pedido.
— Por que eu sempre sou a perdida aqui? — Falo soltando Doc e olhando de um para o outro. — O que está acontecendo? Sobre o que precisamos conversar?
Doc e Wynonna trocam olhares. Era como se estivessem em uma conversa muda onde com certeza Wynonna não estava polpando os xingamentos.
— Ontem o Doc apareceu la na fazenda. — Diz Wynonna em tom de acusação.
— Idai? — Cruzo os braços.
— Idai que ele não estava sozinho. — Ela da um sorriso forçado.
Fico novamente olhando de um para o outro com as sobrancelhas unidas. Eu odiava quando além de não saber sobre o que eles estava falando, eles ainda enrolarem demais para fazer alguma explicação.
— Vocês vão me contar de uma vez o que está rolando ou vamos jogar Imagem & Ação até eu acertar? — Falo irritada.
Doc suspira, tira seu boné da cabeça e me encara com uma expressão de culpa, como se ele quisesse contar mas temia a minha reação.
— Fala de uma vez Doc! — Wynonna o apressa.
— Eu… — Ele começa mas trava.
—Você? — Incentivo ele a continuar.
— Tive que fazer um trabalho para meu tio e agora meio que acabei entrando pros negócios…
— VOCÊ O QUE? — Grito descrente do que eu acabei de ouvir.
— Ele apareceu ontem na fazenda com um dos capangas do Del Rey, o cara estava com uma bala enfiada no braço e ai Doc veio me pedir ajuda pra esconder ele no celeiro ate o Bobo ir la busca-lo. — Explicou Wynonna.
— Doc, mas o que vocês estavam fazendo? — Pergunto indgnada.
— Eu sei que eu disse para vocês que eu só estava trabalhando na oficina, longe do trabalho sujo mas… — Ele da um grunido de raiva. — Eu não sabia que eu estava sendo mandado para transportar uma carga, o Peixe era para ter ido, aquele menino menina de uma figa… — Doc aperta os punhos ameaçando o ar. — Ele sumiu e não apareceu, então o Bobo me mandou ir com o Levis ate a cidade vizinha e ai… — Ele para de falar e encosta a testa no ferro de suporte das arquibancadas fechando os olhos.
— E ai? — Pergunto.
— E ai que os caras do Clootie estava esperando por eles em um cerco na estrada e houve troca de tiros, e no meio desse tratata o viado do Levis foi atingido e para eles poderem escapar o Doc teve que atirar de volta e acabou matando um dos caras. — Wynonna termina de contar impaciente.
— Puta merda! — Falo chocada.
— Puta merda mesmo. — Concorda ela.
— E bota puta merda nisso. — Choraminga Doc.
Ele estava muito abalado, eu podia ver suas mãos tremendo agora que havia finalizado seu relato. Sem falar mais nada, me aproximo dele e lhe dou um abraço por trás, Wynonna se junta a nós e abraça nós dois pela lateral.
— Eu não queria porra! Eu passei todo esse tempo evitando essas tretas e ai acontece essa merda. — Ele diz revoltado.
— Mas você só se defendeu. — Tento conforta-lo.
— Ruivinha, eu atirei um deles e ainda estava em um trabalho para o Bobo. — Doc diz o óbvio.
— Ele basicamente saiu do armário, só que no caso admitindo que faz parte da gangue do Del Rey. — Conclui Wynonna.
Não consigo imaginar o quanto Doc deveria estar se sentindo nesse momento. Desde que eu soube da imensa briga entre a Gangue Del Rey comandada por Bobo, o tio do Doc, e a máfia do Juiz Clooties, Doc afirmava que não queria se envolver nisso, pois o pai havia morrido por conta dessa guerra. Até o nome Del Rey ele havia tirado dos seus documentos para pode se afastar.
Ficamos mais um tempo ali abraçados, até ouvirmos o sinal da escola anunciando o início das aulas. Eu fui a primeira a soltar o abraço e Wynonna fez o mesmo em seguida, Doc estava com os olhos vermelhos, certamente havia chorado.
— Eu não vou assistir a aula hoje, não tenho nem cabeça para isso, eu nem dormi! — Diz Doc passando a mão na cabeça e colocando seu boné de volta.
— Doc, você vai acabar reprovando de novo por falta. — Diz Wynonna.
— Desculpa garotas eu… Eu… — E sem completar a frase ele sai correndo.
— DOOOC!! — Wynonna e eu gritamos juntas.
— Ele vai acabar enchendo o cu de drogas pesadas, eu vou atrás dele! — Wynonna diz ja começando a andar rápido.
— Espera, eu vou tambem! — Digo tentando acompanhar seus passos rápidos.
— É melhor não forasteira, acredite, esse vai ser um Doc bem difícil de lidar. Eu ja tenho experiência e sei o que fazer. — Ela diz colocando sua mão em meu ombro. — Vai por mim, é melhor você ficar aqui. Anote as materias pra gente, vai ser uma boa forma de ajudar. — Ela diz dando um meio sorriso. — Acho que nós duas em cima dele pode ser pior, eu vou agora, tento acalmar ele e no fim da aula você vai lá e quem sabe toque alguma voisa para ele. — Ela da uma piscadela.
— Tudo bem. — Falo por fim. — A gente se vê mais tarde, não deixe ele fazer merda.
— Esse é o objetivo. — Ela me da um sorriso e sai correndo em direção a sua moto.
As horas seguintes foram uma tortura. Prestei a atenção nas aulas o máximo que pude, porem no fim minha mente sempre voltava para Doc e minha preocupação com ele. Eu estava checando o celular de minito em minuto para ver se tinha alguma notícia, mas já estava soando o sinal de intervalo pro almoço e nada deles.
Essa seria a primeira vez desde que cheguei em Purgatory que eu iria almoçar sozinha. Confesso que eu estava bastante nervosa quanto a isso. Peguei minha bandeja e caminhei de cabeça baixa até a nossa mesa habitual e assim fiquei ao me sentar e começar a futucar a minha comida.
— Almoçando sozinha hoje? — Meu coração começa a palpitar rápido só de ouvir essa voz.
— E ai, Waves! — A cumprimento com um meio sorriso ao erguer a cabeça.
— Onde está a minha irmã e o Doc? — Ela pergunta unindo as sobrancelhas.
— Doc ta com uns problemas, Wynonna foi ajudar. — Respondo abaixando o olhar.
— O que aconteceu dessa vez? — Ela pergunta preocupada se sentando de frente para mim.
Ergo o olhar novamente e vejo que ela realmemte estava preocupada, eu queria contar para ela, mas não cabia a mim falar sobre isso.
— É coisa dele… foi mal… — Digo meio sem jeito.
Waverly ao inves de me olhar irritada ou se levantar e sair sorri para mim e da um grande gole no seu suco.
— O que foi? — Pergunto confusa.
— Você é uma amiga muito leal. —Ela diz dando de ombros e então apoia seu queixo na mão. — Espero também ser digna de tamanha lealdade. — Waves diz isso sorrindo para mim.
Ainda bem que eu nao estava comendo e nem bebendo algo nesse momento, pois eu aposto que eu teria um engasgo dos feios.
— Ei Waverly, o que ta fazendo ai? — Escuto alguém da mesa das lideres de torcida gritar.
— Vem logo Waverly! — Diz outra pessoa.
— Acho que seus amigos estão te chamando. — Digo voltando a abaixar a cabeça.
— Eu sei. — Ela diz e da uma mordida no seu sanduiche. — Mas se você não se importa, posso almoçar hoje com você? — Ela pergunta enquanto mastiga e volto a olha-la com um enorme sorriso que não consegui conter.
— Óbvio! — Respondo apressada. — Quero dizer, claro que pode, sinta-se a vontade.
— Obrigada. — Ela ri e eu rio junto.
E assim seguimos nosso almoço, não falamos mais nada, apenas comemos sorrindo e nos olhando, aproveitando a companhia uma da outra. Ao menos eu estava aproveitando a dela… E muito.
E ai pessoinhas, i'm back kkkkkkk Pra quem nao entendeu o lance das gangues e nao lembra, é so reler o primeiro capítulo de resumo que fiz. Bjs amados e obrigada por não desistirem de mim.