Novembro, 2013
Silêncio ensurdecedor. Com certeza você já escutou essa frase clichê em outras histórias né? É uma forma muito típica de descrever um silêncio desconfortável. Aliás, o que te faz pensar que essa história não é outra clichê? Você acha que o final vai ser feliz? Acha que depois de tantos anos Rafa e Bia se acertam? Talvez você tenha razão, mas também pode estar completamente maluco. O nome dado a história é End Game, o que isso te lembra além da musica da Taylor Swift? End é fim em inglês, game é jogo; a dupla interpretação fica a critério de vocês. Quer ver o copo meio cheio e pensar que end game está sendo usado como uma forma de dizer que Bianca e Rafaella são 'end game' uma pra outra? Dizer que as duas não tem outra saída senão uma a outra? Ou você quer ver o copo meio vazio e dizer que 'end game' é porque o jogo entre elas finalmente acaba? Rafaella fica com um sertanejo qualquer e Bianca se perde nas noites paulistas. Silêncio. Silêncio é a duvida e questionamento, pode também ser concentração. E eu acabei de fazer isso, agora você esta em duvida e em silêncio.
Se abrir com Manoela naquela noite no restaurante quase um ano atrás definitivamente ajudou Rafaella a seguir em frente, na medida do possível. Namorou por quatro meses um garoto que também estudava na federal com ela, o que foi legal. Tiveram diversas 'aventuras' e Rafaella se sentia um pouco mais madura depois daquele namorico. Suas verdadeiras experiencias começaram logo depois; quando se abriu mais ao mundo e experimentou de tudo; ainda mais tendo como sua principal companhia Marcela, que já estava bem entendida do assunto.
Virou e mexeu e a fofoca sobre o passado compartilhado de Bianca e Rafaella se espalhou entre as amigas. Todas elas acabaram sabendo, algumas com mais detalhes que as outras, mas absolutamente todas elas tiveram que jurar não perguntar nada a Bianca. Sabe onde isso deu né?
Enfim, já era novembro de 2013. Rafa já estava no segundo ano de faculdade e completamente apaixoanda pelo curso, mais do que esperava. Se sentia completa, na medida do possível. Ultimamente tudo vem sendo bom, mas na medida do possível. Sabia bem o que faltava.
Bianca, em São Paulo, começava a fazer sucesso. O nome da sua marca virou praticamente o seu nome, as vezes as pessoas a chamavam de 'boca rosa' ao invés de usar seu verdadeiro nome; mas ela estava ok com isso, contanto que sua marca continuasse vendendo. A empresária teve que fazer diversas contratações e expansões, já que o time que tinha ganhado no concurso agora já era pouco pra dar conta de tantas coisas. Quando conseguiu o contrato de cinco anos com a empresa ela foi a loucura: procurou os melhores profissionais dentro do seu preço e começou a investir pesado naquele sonho. Tinha poucas outras coisas pra acreditar, e isso foi seu refúgio. Em uma dessas loucuras contratou Flayslane como sua assessora. A nordestina já era sua melhor amiga, sabia de quase tudo sobre a sua vida, e era extremamente boa em descobrir informações; não via outra razão pra que a amiga não ocupasse a posição.
"Boca rosa, onde tu foi se meter, mulher?" Flay estava fazendo seu papel como assessora muito bem, e isso se provou quando Bianca sumiu do mapa, desligou o celular, e ficou por quase quatro horas incomunicável. Desapareceu tão bem que nem Flay conseguiu encontra-la. Ah, o hábito de chama-la de boca rosa veio como uma forma de irritar a carioca.
"Tô no Rio, Flay, vim ver meus pais e meus irmãos, mas relaxa que em dois dias eu já to de volta." Explicou como se aquilo não fosse nada demais, e talvez pra ela não fosse, mas pro planejamento de Flayslane definitivamente era.
"Puta que pariu, mulher! Tu fica dois anos sem colocar os pés nessa cidade e agora tu some? Porque tu não me avisa?" Falou braba ao telefone.
Bianca definitivamente devia ter avisado a acessora que estava tirando uma folga curta, mas não queria, de forma alguma, levar a amiga pra aquele lugar que cheirava a problema. Só de pensar na possibilidade de Flayslane e ela encontrarem com Rafaella na rua ela já se sentia nervosa. Não devia temer o encontro com a mineira, mas tinha medo de enfrentar aquilo que deixou pra trás. E mais, ainda não sabia se, naquela época, amava Rafaella ou não, se queria ficar com ela ou não; e tudo isso ainda a confundia. A carioca não devia estar pensando naquilo agora.
Chegou na casa dos pais, onde morou por tantos anos, e encontrou Julinha estudando na mesa da cozinha e seus pais sentados na sala olhando TV. Eles precisavam trocar a fechadura da porta urgente, a mesma há anos.
Monica começou a chorar na hora que viu a filha parada na porta, e sem esperar mais tempo se jogou nos braços dela. Chorou mais e agradeceu a todos os deuses por finalmente ver Bianca de novo. Desde 2011 a carioca estava em São Paulo sem visitar os pais, e se não fosse por insistência deles em mandar o filho e a filha pra ver a empresária, Bianca ficaria sem contato. Claro que mandava mensagem sempre, todos os dias, e ligava com frequência, mas o que é isso perto de um abraço?
Conversaram por horas, Julia ficou muito animada de ver a irmã e contou tudo sobre a escola. A empresária amava escutar a irmã falando daquele jeito fofo, e agora com 11 anos parecia quase adulta no jeito de falar.
"Bia, vou preparar seu quarto!" Monica falou animada após o jantar.
"Não, mãe, não precisa, reservei um quarto num hotel aqui perto, vou ficar lá porque tenho algumas coisas pra resolver do trabalho." Mentiu escondendo suas verdadeiras intenções. "Reuniões amanhã cedo sabe?" Completou quando viu que Monica não estava muito convencida.
"Tá bom, mas você promete que almoça com a gente amanhã? É domingo!" Pediu. Era impossível que Bianca negasse aquele pedido tão simples. Com certeza almoçaria com a familia no domingo.
Bia pegou um taxi pro hotel ali perto e deixou a cabeça viajar por aí. Cogitou milhões de possibilidades e teve milhares de ideias, nenhuma delas relacionadas ao trabalho. Precisava pensar um pouco em outras coisas, e era isso que estava fazendo. No carro mesmo digitou uma mensagem.
Bianca: Oi! Eu tô no Rio, você quer conversar?
Sabendo que já era quase meia noite, Bia não esperou uma resposta tão cedo, mas se surpreendeu quando esperava o check in no hotel e recebeu uma resposta.
Rafa: Oi, Bia, tudo bem?
Bianca: Tudo, e tu? Então, o que acha? Eu só fico até segunda de manhã...
Rafa: Pode ser... Onde você quer se encontrar?
Bianca: Pode ser no hotel que eu tô? Te mando o endereço e se quiser podemos jantar juntas aqui amanhã.
Nem a carioca conseguia dizer se estava com segundas intenções ou não. Só queria muito ver Rafaella, depois desses dois anos, e queria pelo menos poder dizer que não fez o que fez por mal. Tinha só dezessete anos, totalmente imatura e confusa. Tudo bem que agora, com dezenove, não estava muito diferente, mas já tinha certas experiências e conhecimentos sobre si mesma que não tinha antes. Não sabia como rotular seu desejo por mulheres, ou sequer entender da onde aquilo vinha na época, mas agora ela entendia que nenhuma dessas perguntas fazia sentido.
Rafaella não contou a nenhuma das amigas que planejava se encontrar com Bianca. Sabia que o incentivo de Manoela seria totalmente contrário, ainda mais que as duas estariam sozinhas no hotel da empresária. Sabia também que Marcela listaria todos os prós e contras daquele encontro, e ela não precisava saber disso. Numa lista talvez os contras sejam maiores, mas no coração de Rafaella só haviam prós. Passou quase dois anos esperando por isso, meio que escondida, mas esperava.
No domingo a tardinha ela avisou a mãe que estava indo se encontrar com Bianca, que estava no Rio. Genilda não questionou nada, afinal não sabia de absolutamente nada do que aconteceu entre as duas.
Rafaella chegou no hotel e subiu direto pro numero do quarto que Bianca tinha passado a ela. O combinado era jantarem e conversarem, só isso.
"Rafa!" Bia disse tentando transparecer naturalidade quando abriu a porta.
"Oi, Bia!" Respondeu envolvendo a mais nova num abraço. A mineira gostou de sentir os braços de Bianca em sua cintura mais uma vez.
"Quanto tempo, né? Entra, entra! A mesa tá pronta." Chamou a mais velha pra dentro do quarto e mostrou uma mesa improvisada no canto do quarto. "Daqui a pouco a comida já chega..."
"Eu não sabia que você tava podendo assim." Rafa confessou num tom de brincadeira.
"E não tô, vim pro Rio sem avisar ninguém, mas já aproveito pra resolver umas coisas de trabalho." Contou convidando Rafaella pra sentar na mesa à sua frente.
"Ah, entendi! Que legal! Tá gostando de lá?" Questionou se referindo a São Paulo.
Conversa vai e conversa vem, as duas chegaram a um assunto em comum: o que aconteceu entre as duas.
"Eu queria te pedir desculpa, por ter sido impulsiva... ter te dito tudo aquilo do nada!" Rafa se desculpou dando um sorriso sem graça. Mesmo que Manoela dissesse mil vezes que a mineira não devia se desculpar, ela ainda assim sentia que precisava fazer isso.
"Tá tudo bem, Rafa, eu só fui pega de surpresa mesmo, mas tá tudo de boa viu?" Bianca assegurou. Tudo que a mineira sentia de culpa, e de necessidade de ser desculpada, a carioca descartava. Não achava que precisava pedir desculpas a Rafaella naquele momento.
"É, acho que eu tava muito emocional..." Divagou.
"Você namorou alguém, durante esse tempo?"
"Sim, um menino e fiquei com algumas meninas..." Confessou com normalidade. Apesar de não assumida, Rafa se aceitava perfeitamente bem pra si mesma. Marcela definitivamente ajudou nesse passo, sempre assegurando que aquilo era completamente normal e que ela não devia se envergonhar.
"Ah, legal!" Bianca expressou sem saber muito o que falar. Não gostava de pensar em Rafaella namorando com outra pessoa, mas não era um sentimento de ciumes propriamente dito.
"Você namora?" Rafa devolveu a pergunta antes que aquele silêncio estranho continuasse.
"Não, eu tô aquela coisa: casada com o trabalho." Brincou fazendo a mais velha rir baixinho.
As duas continuaram conversando e trocando ideias até que o silencio tomou o quarto. Um silencio tomado de tesão acumulado, vontade de desejo. Antes que pudesse perceber, Rafaella já estava no colo de Bianca na cama e beijando a carioca de forma afoita.
Bianca estava surpresa com a forma como Rafaella a beijava, especialmente porque da ultima vez que estiveram naquelas posições a mineira sempre parava tudo. Dessa vez ela não queria interromper qualquer coisa, queria se entregar de verdade à Bianca e ter certeza de que não estava fazendo nada errado.
Estava sendo impulsiva novamente? Sim. Estava arriscando tudo que construiu nesses ultimos anos? Certamente. Estava pensando nisso? Definitivamente não.
As duas queriam tanto consumar aquele encontro que nem se preocuparam em esclarecer qualquer coisa ou conversar sobre aquilo; o beijo aconteceu de forma natural, e o sexo foi da mesma forma. Bianca parecia extremamente experiente naquela 'arte' aos olhos de Rafaella, e a carioca pensava o mesmo da mineira. Estava atrevida e suas mãos não ficavam mais apenas paradas acariciando os cabelos da mais nova; elas viajavam por todo o corpo da outra.
Os gemidos e sussurros não eram contidos de frustração por ter que parar, e sim de uma vontade absurda. A pele de Rafaella estava ardendo em fogo, e toda arrepiada; Bianca, por outro lado, não lembrava da ultima vez que tinha se sentido tão excitada. Tudo sobre a mineira acendia uma chama na carioca, e era quase incontrolável.
O silêncio que tomou o quarto quando as duas cansaram não era desconfortável. Era um silêncio de satisfação; nenhuma das duas queria dizer nada pra evitar estragar qualquer coisa. Rafa já imaginava que conversariam sobre aquilo na manhã seguinte antes de Bianca ir embora; precisavam pelo menos colcoar os pingos nos i's.
O grande problema foi quando a mineira acordou com batidas na porta no outro dia. Olhou ao redor e não teve nem sinal de Bianca. Não via nenhum dos seus pertences, mas também não lembrava de ter visto nada na noite passada. Só podia ser a carioca do lado de fora.
Colou a camiseta que usava na noite passada e se enrolou num lençol pra atender quem batia. Respirou fundo e ajeitou os cabelos antes de abrir a porta e se deparar com um senhor de quase sessenta anos e uniforme do hotel.
"Bom dia, moça, já são onze da manhã, hora do check out. Já assinaram todos os papéis desse quarto mas ele ainda esta sendo ocupado pela senhora..." Disse levantando uma sobrancelha e encarando Rafaella friamente.
Naquele instante a mineira se sentiu suja e usada. Bianca tinha, realmente, ido embora, fugido mais uma vez. Deixou Rafaella acordar sozinha no quarto do hotel sem nem menos se despedir. Na verdade, se não fosse o senhor do hotel, Rafa ainda estaria dormindo, imaginando que acordaria com os braços de Bianca ao redor de si. Estava muito iludida.
"Ah, sim, claro, desculpa, em dez minutos já desocupo." Avisou fechando a porta sem dar chance de resposta. Estava com muita vergonha.
Vestiu a roupa rapidamente, juntou a bolsa e foi embora dali. Completamente transtornada. E desse mesmo jeito foi até o curso de Manoela encontrar a garota e despejar tudo que tinha acotecido.
"Rafa! O que você tá fazendo aqui?" A futura atriz perguntou quando viu Rafaella sentada no banco logo em frente a saída do teatro.
"Eu vi a Bia ontem, Manu." Disse tentando criar coragem pra relatar tudo.
"Rafa..."
"A gente ficou e hoje de manhã eu acordei sem ela." Disse desabando em um choro triste sob os ombros da baixinha. Queria gritar com Bianca, mas o grito estava preso, não saia. Queria xinga-la de diferentes nomes, mas não conseguia. Sua paciência, talvez, fosse seu maior defeito.
Óbvio que Bianca fugiu de novo e deixou o silêncio ensurdecedor pra trás. Não se importou com os sentimetos feridos de Rafaella, novamente, e fugiu. No voo pra São Paulo naquela manhã, a carioca questionou suas ações. Só quando já estava decolando começou a se arrepender de ter saído daquela forma. Mentiria se dissesse que não tinha sentido uma coisa diferente com Rafaella, mas como a empresária já tinha dito antes, seu foco total era no trabalho. Rafa não podia tomar seus pensamentos daquela maneira. E, assim, Bianca silenciou seus sentimentos pela mineira.
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Oioi!
Aqui acaba nossa maratona! Alguém na bad?
A Bia fez muita merda mesmo, e ainda nem começamos.