Quando eu era pequena sempre via a filha da minha vizinha sofrer bullying na escola. Todos os dias ela apanhava de um grupo de garotas que insistia em persegui-la. Era uma menina fraca e pequena, diferente das que a atormentavam. Era muito injusto. Eu queria ir defendê-la, mas a minha mãe dizia que garotas bonitas não se metem em brigas, então sempre finji que não via o que estava acontecendo para não contrariá-la. Me pergunto o que ela diria se tivesse me visto segurar Corbyn para que ele não quebrasse o nariz de um dos seus melhores amigos.
— Você não deveria ter me segurado! — Exclama nervoso, e logo depois chuta algum objeto insignificante que se encontra no chão do quarto dele.
— Ele é seu amigo! Você queria que eu te deixasse quebrar a cara dele inteira? — Falo, ao gesticular desesperadamente.
Demorou alguns segundos, mas os meninos me ajudaram a separar a briga entre Corbyn e Daniel, assim que viram o sangue no rosto do segundo loiro.
— Ele te chamou de vadia e tudo mais! O que eu fiz com a cara dele foi muito pouco. — Ele anda de um lado para o outro, noto que respira ofegante.
— Ei, olha pra mim. — Chego mais perto e seguro o rosto do meu melhor amigo com as duas mãos. Seus olhos transmitem a fúria que está sentindo. — Se acalma, por favor. — Ele passa alguns segundos apenas me olhando, em seguida suspira e se senta no chão do quarto, encostado na cama.
— Corbyn, eu não gostei do que ele disse lá em baixo — Prossigo. — mas isso deve ficar entre eu e ele, vocês fazem parte de uma banda e não podem viver brigados. — Me agaicho na frente do loiro. Ele reflete por algum tempo, e então diz:
— Eu sei disso, mas não vou pedir desculpas. — Cruza os braços, como uma criança birrenta.
— Tudo bem. Só não deixe isso ir longe demais, tá?
Eu não sei o que poderia ser ir mais longe do que fazer o nariz de alguém sangrar. Entretanto...
— Eu não sei o que deu no Daniel, ele sempre foi um cara incrível e do nada falou esse monte de merda. — Suspira, decepcionado.
— Eu tenho certeza de que em algum momento ele vai se arrepender do que fez e me pedir desculpas, não fique assim. — Me arrasto um pouco e sento ao seu lado, ao passo em que toco a mão dele para passar alguma calmaria. Analiso o rosto de Corbyn, a procura de algum machucado, porém constato que ele levou a boa na briga e fico tranquila. Se me dissessem que ele tinha se metido em uma confusão desse tipo, eu riria. Isso não é do fetio dele e ele parece novinho em folha. Só acredito porque vi.
— Você pode dormir comigo hoje? — Corbyn pergunta, com olhinhos pidões iguais aos de um cachorrinho.
— Posso, mas vou ter que usar as suas roupas. — Digo e ele sorri.
Passamos o resto do dia assistindo Cosmos, um documentário em forma de série que o meu melhor amigo ama. Quando anoiteceu, Corbyn se ofereceu para ir comprar sushi, enquanto eu pude tomar um banho e coloquei um dos pijamas dele. Escolhi uma roupinha de galáxia. Ela é fofa.
— Hey, você parece uma criança vestida assim, feiosa. — Vejo o meu amigo adentrar o quarto com algumas sacolas em mãos. Abaixo o volume da televisão e o miro, com uma expressão entediada. Eu estou meio deitada, por isso não levanto para lhe dar o tapão que ele merece e só deixo passar.
Feiosa? Será que ele realmente me acha feia?
Não tem a visão boa, então.
— Foi caro? — Pergunto a respeito da comida e da bebida. Ele apenas nega com a cabeça, ao passo em que coloca os alimentos em cima da cama e deixa a sacola ao lado da mesma.
— Não se preocupe, o dinheiro que ganho sendo cantor é o suficiente pra te mimar de vez em quando. — Corbyn diz, ao que se ajeita ao meu lado, em seguida me dá a embalagem com o temaki que pedi e já abre a sua, logo depois passa a comer.
— Hm, isso é muito bom. — Digo, com a bochecha inchada por causa da comida. O loiro me olha, também com a boca cheia e concorda.
Depois de comermos, assistimos mais alguns episódios de Cosmos, até que começo a bocejar e sinto os meus olhos pesarem. O garoto ao meu lado me olha, mas eu não dou atenção e simplesmente vou caindo até estar completamente deitada na cama. Ouço o barulho da televisão cessar e tenho a sensação de que a parte da cama em que Corbyn está deu uma leve afundada, abro meus olhos e vejo ele deitado me encarando, sorrio.
— Tá olhando o que, feiosa? — Fala.
— A sua cara feia. — Rebato e ouço a sua risada.
Ele tem uma risada de menino sapeca, sabe? Que acabou de aprontar e não se arrepende.
A dualidade desse homem me assusta. Em um momento, me pego pensando em sua fofura de garoto e em outro, em como suas mãos são fortes e ficariam bem passeando pelo meu corpo.
Não canso de me auto torturar.
Abro os olhos um pouco mais e reparo em cada detalhe do rosto pequeno dele.
Dói tê-lo tão perto e não poder tocá-lo como eu desejo.
Dói saber que outras pessoas já o tiveram e eu o tenho tão pouco.
Dói muito.
Mas não há nada que eu possa fazer a respeito.
Corbyn é como tomar banho de chuva em um dia frio; eu sei que não posso cair na tentação, porque me faria mal, mas penso tanto a respeito que acabo colocando a mão para fora da janela.
— Corbs? — Chamo.
— Sim? — Por um mínimo momento, vejo seus olhos brilharem.
— Obrigada por ter me defendido. Você é a melhor coisa que já aconteceu comigo. — Em seguida, fecho os olhos e acabo caindo em um sono profundo.
Sonho com Corbyn e seus olhos azuis, que por vezes me lembram uma tempestade furiosa mas por outras, me lembram a calmaria de um lago. Um lago profundo e perigoso, mas no qual almejo mais do que tudo mergulhar.
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acho esse capítulo chatinho, mas necessário
cliche tem quase 1k 🥺
muito obrigada!
curiosidade: o nome da fanfic é escrito sem acento porque tá em inglês, não porque eu esqueci
xoxo
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