Meu querido Senhor Mackenzie...

By JulianaVoltolini

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Naquela remota cidade da Escócia todos sabem que a senhorita Kedard é uma mulher bela, arrogante e interessei... More

Avisos
Epígrafe
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Epílogo
Agradecimentos

Capítulo 36

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By JulianaVoltolini

Ian

-- Você vai abrir um buraco no chão, Ian! -- Jamie exclama de onde está sentado com os gêmeos apoiados em seus joelhos.

-- Eu sei, mas eu não posso fazer nada, então o que você sugere que eu faça? -- pergunto, fazendo uma virada rápida e brusca no fim do corredor e voltando à passos rápidos até o início deste.

-- Eu sugiro que você faça nada sentado como um homem controlado e civilizado. -- revira os olhos.

-- Ah, claro! Assim como você estava quando Lizy deu a luz a primeira vez, não é? Se bem me lembro, você quase arrancou os próprios cabelos quando ela começou a gritar. -- acuso, e com uma sincronia perfeita um novo grito estridente atravessa as portas fechadas do nosso aposento -- Oh, céus, eu vou até lá!

     Com rapidez Jamie coloca os filhos no chão e me impede de adentrar no quarto.

-- Vai até lá para desmaiar novamente? -- pergunta rindo de mim.

-- Eu não desmaiei! -- nego veementemente -- Eu apenas tive um súbito mal estar quando vi a vag…

-- Quando viu a cegonha entrando no quarto, certo, Ian? -- Jamie me impede de continuar minha frase, apontando Robb e Owen que nos olhavam do canto, curiosos.

-- Ah. É, aquela maldita cegonha não parece lá muito boazinha. Além do mais, está demorando demais para entregar logo o bebê.

-- Isso demora assim mesmo, não se preocupe. -- Jamie tenta me tranquilizar.

-- Isso é estranho -- Owen começa -- Sofí disse que os bebês vem dos repolhos, tio Ian! Eu até procurei em nossa horta para ver se meu primo estaria lá.

-- Ah, Owen, não é nada disso! -- intervém Robb enquanto dá um tapa na própria testa, exasperado -- Você não se lembra aquele dia que espiamos uma égua do papai dar à luz? Klan disse que a bagina estava … --  sua voz cessa ao receber um empurrão do irmão e imediatamente Robb olha para o pai -- O-ou, eu não devia ter dito isso.

-- Você nos entregou, Robb! E papai vai pensar que a ideia foi minha! -- Owen cruza os bracinhos e suas sobrancelhas se franzem sobre os olhos verdes e travessos iguais aos da mãe.

-- Você tem certeza de que eles ainda tem apenas quatro anos? -- pergunto, rindo, divertindo-me um pouco com a cena hilária.

-- Meninos! -- chama Jamie, autoritário, mas vejo que segura para não rir -- O que eu disse sobre espiar as éguas dando cria? De quem foi essa ideia?

     Robb imediatamente olha para o teto enquanto Owen começa a - tentar - assoviar.

-- O quê? -- ele grita -- Sofí está nos chamando papai, até mais!

     Owen agarra a manga do casaco do irmão e ambos saem correndo e gargalhando escada abaixo.

-- Pelos deuses! O que eu vou fazer com essa duplinha peso pesado, Ian? -- Jamie ri enquanto olha os filhos descendo as escadas, como um gavião protetor pronto para acudir os filhotes caso seja necessário.

-- Não sei, Jamie... E ainda tem Clarissa que já está engatinhando e agora teremos meu filho. Que os deuses nos ajudem! Logo eles estarão em maior número do que nos! -- passo as mãos pelos cabelos, temendo a quantidade de travessuras, broncas e joelhos ralados que iremos enfrentar nos próximos anos.

     Mais um grito ensurdecedor se faz ouvir e logo Agnes sai do quarto, rapidamente vislumbro Missy entre os lençóis ensanguentados, pálida e visivelmente exausta.

-- Está tudo bem, Agnes? Onde você está indo? -- pergunto.

-- Buscar mais panos limpos. -- diz apreensiva e fecha a porta -- A senhora está sangrando muito.

     Como uma flecha ela segue atrás dos benditos panos e eu começo uma prece silenciosa, finalmente atendendo pedido de Jamie enquanto me sento no chão do corredor. Seis semanas atrás, quando enfrentamos a ambição e loucura de Patrik Lavin, Missy se feriu e quase entrou em trabalho de parto. Felizmente, com os litros de chás, repouso absoluto e quase dez almofadas sob seus quadris, ela conseguiu aguentar por mais seis semanas até o bebê finalmente estar pronto para nascer com segurança. Mas o médico me alertou que, talvez, Missy teria complicações.

     "Eu farei qualquer coisa. Construirei uma casa de caridade, um orfanato, uma igreja. Meus deuses, salvem a minha mulher", imploro. Então, sou invadido com lembranças das últimas semanas: Missy dormindo tranquilamente, Missy lendo meu diário de viagem com lágrimas de alegria e júbilo molhando seu rosto, Missy rindo enquanto eu conversava com o nosso bebê agitado dentro dela, e quando... Um novo grito invade a casa, totalmente diferente dos anteriores. Um choro, forte e estridente, de um bebê que toma o primeiro fôlego de vida.

-- Nasceu! -- grito me levantando e irromopo quarto adentro sem me importar com mais nada.

     Nita carrega um pacotinho de gente minúsculo, envolto num pano branco sujo de sangue. Vejo bracinhos e perninhas se agitando enquanto o choro incessante ainda se faz presente.

-- É uma menina! -- ela diz, me apontando a criança.

-- Eu já sabia! -- comemoro, mas ainda não sigo para meu bebê, sigo para Missy e acaricio seu rosto -- Você está bem, querida?

-- Estou cansada, eu só quero dormir, Ian... -- ela diz, e fecha os olhos.

     Observo o médico e a parteira que ainda mexem nela ali, e sua palidez e exaustão me apavoram.

-- Ela pode dormir? Missy, acorde! Olhe para mim! Me responda! -- a sacudo.

-- Mackenzie, se eu tivesse forças, lhe daria um tabefe agora mesmo. -- ela sussurra, ainda de olhos fechados.

-- Doutor! Me diga que ela ficará bem! Esse tanto de sangue… -- aponto a cama.

-- Isso é preocupante, mas a sujeira aqui já saiu e o sangramento está quase cessando. Então, tudo que a senhora Mackenzie precisará é de mais um pouco de repouso absoluto, boa alimentação e muito líquido. Entendido? -- o velho homem diz, me acalmando.

-- Certo, certo. Repouso absoluto, entendido. -- concordo -- Pode ficar tranquila, meu bem, vou cuidar muito bem dela.

     Mas Missy já dormia profundamente. Agora já em posse do meu controle emocional, dou-lhe um beijo na testa e levanto-me indo até o pacotinho, agora limpo, que Nita carrega até mim. Pego o embrulho no colo e sinto Lizy espiando sobre meu ombro e, num segundo, meu coração ameaça sair pelo peito. Uma coisinha enrugada dorme tão profundamente quanto a mãe, como se estivesse igualmente cansada. Fios castanhos - com um leve toque avermelhado - estão apontando para todas as direções possíveis. Sua pele branca com bochechas gordas e rosadas é tão macia que até tenho medo de feri-la ao mínimo toque. Sequer imaginar que essa menininha possa se ferir me enraivece e ali, a aninhando pela primeira vez, prometo a mim mesmo que ninguém nunca fará tal coisa.

-- Pelos deuses! Eu estou perdidamente apaixonado! -- murmuro e, tardiamente, percebo que estou chorando, e recebo tapinhas carinhosos de Lizy que funga também.

-- Eu sei bem como é, me lembro até hoje a primeira vez que olhei para você, meu menino. -- Nita se aproxima e me dá um beijo no rosto, também emocionada -- Agora saia, Lizy e eu vamos limpar sua esposa.

     Concordo e saio dali, não sem antes dar uma olhada em Missy e ver o peito dela subindo e descendo num ritmo estável. Do lado de fora, ainda observo minha filha e me abaixo para dar-lhe um delicado beijo naquela cabecinha cabeluda, tão macia, e o cheiro de jasmim invade meus sentidos.

-- Jasmim, como sua mãe... -- murmuro com ela -- Jasmine. Você gosta desse nome, querida? Combina com você.

     Como se concordasse, a bebê solta um lindo suspiro que faz meu coração se derreter. Uma tosse chama minha atenção, Jamie nos observa, visivelmente comovido.

-- Irmão, quero que conheça uma pessoa. Essa é Jasmine Mackenzie, minha filha. -- pronuncio, com minhas palavras transbordando orgulho e felicidade.

    
     Já é noite alta e Missy está dormindo há horas a fio, o que já está me deixando aflito, pois certamente, isso é muito tempo para um bebê recém nascido ficar sem se alimentar. Jasmine, parecendo ouvir meus pensamentos, começa a resmungar novamente e um instinto dentro de mim tem certeza de que a pobrezinha está faminta.

-- Minha princesinha… vamos ter que acordar sua mamãe dorminhoca, não é? -- sussurro enquanto a balanço, tentando acalmá-la, o que é insuficiente já que Jass apenas abre o berreiro.

-- Dê-me ela aqui, querido. -- a voz de Missy, ainda fraca, soa atrás de mim.

     Viro-me imediatamente e a vejo desperta, fazendo um esforço para se sentar na cama.

-- Pare! Você precisa ficar deitada! -- exclamo.

-- E como vou amamentá-la deitada, Ian? -- ela ri e termina de se sentar.

-- Eu… não sei. -- passo a mão livre pelos cabelos, frustrado.

-- Me dê minha filha logo, Mackenzie! Eu nem a vi direito ainda! -- pede, estendendo os braços.

-- Nossa filha. -- esclareço, e ela bufa mas não me contradiz -- Vamos, Jasmine, está na hora do jantar.

     Sigo até a cama e, com cuidado, passo a bebê para os braços da mãe que imediatamente abre os botões da camisola e a coloca em seu seio.

-- Ela é linda! -- Missy sussurra, acariciando a bochecha da menina que suga vorazmente o leite materno.

-- Perfeita! -- concordo admirando aquela cena.

-- Jasmine, é? Não combinamos de escolher o nome juntos? -- agora ela olha para mim, incisiva.

-- Ela tem seu cheiro. E pareceu… certo. -- explico com um dar de ombros, temendo que ela sugira outro nome.

-- Jasmine... -- ela sorri -- eu gostei. Ela vai demorar um bom tempo aqui, Ian. Venha, deite-se comigo. -- dá uma batidinha no meu lado da cama.

     Sem hesitar faço o que minha esposa me pede e a aninho em meus braços, incapaz de ficar longe dela. Longe delas. Missy deita a cabeça em meu peito e solta um suspiro satisfeito.

-- Lembra-se do nosso casamento? -- pergunto -- Eu pensei que seria o dia mais feliz da minha vida.

     Missy e eu nos casamos na casa do vigário, só eu e ela, sem convidados. Depois do que passamos com Patrik, não queríamos uma grande comemoração, então tudo que houve na cerimônia foi nosso amor.

-- Eu também pensei, mas… -- ela olha Jasmine, que parece ter dado uma pausa na mamada para descansar.

-- Isso é muito melhor. -- sussurro -- Mas eu tive tanto medo, querida...

     A aperto mais em meus braços e inalo seu perfume.

-- Por um momento eu também, mas não me permiti esse sentimento por muito tempo. Além do mais, eu nunca deixaria vocês dois sozinhos. -- essa declaração, mesmo que sem a intenção, me causa uma pontada de remorso no peito ao me lembrar que, um dia, eu as deixei. Como pude fazer aquilo? Pensar que conseguiria viver sem elas?

-- Missy, por favor me…

-- Se pedir perdão mais uma vez, eu vou socar a sua cara enquanto amamento nossa filha. -- ela me interrompe -- Eu não disse isso para afetá-lo, Ian! Não quero ter de ficar pisando em ovos com você, então por favor, esqueça aquilo. Veja isso aqui -- aponta a bebê que voltou a sugar o seio -- Jasmine é nosso futuro agora, e temos de deixar o passado no passado.

-- Eu sei. -- beijo sua boca, num toque suave -- E sabe de uma coisa? Nosso futuro será tão lindo quando nossa filha.

     Ambos admiramos Jasmine novamente, que abre os olhos, e notamos que eles carregam a promessa de terem o tom verde exuberante de Missy.

-- Veja só, ela tem meus olhos! Ah, estou tão feliz! -- suspira -- E, de alguma forma estranha, os cabelos dela são iguais aos seus, Ian.

-- Eu te disse que ela é minha filha, amor. -- sorrio e beijo os cabelos ruivos de Missy e um sentimento súbito me domina: sou o homem mais feliz da Escócia.

     Tudo isso, graças à senhorita Kedard. Ou melhor, graças à minha querida senhora Mackenzie.

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